Project Gutenberg's Ultimatum, by Álvaro de Campos and Fernando Pessoa

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org


Title: Ultimatum

Author: Álvaro de Campos
        Fernando Pessoa

Editor: Fernando Pessoa

Release Date: April 23, 2014 [EBook #45461]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK ULTIMATUM ***




Produced by Gonçalo Silva. This file was made using scans
of public domain works from the National Library of Portugal
(http://purl.pt).






Cover

ULTIMATUM

DE
Alvaro de Campos
SENSACIONISTA
(Separata do PORTUGAL FUTURISTA)
Editor:
Fernando Pessoa
1917

Tipografia P. MONTEIRO
R. do Mundo, 57 — LISBOA
Preço:
2 centavos

ULTIMATUM

de Alvaro de Campos

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fóra.

Fóra tu, Anatole France, Epicuro de pharmacopeia homeopathica, tenia-Jaurès do Ancien Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do seculo dezesete, falsificada!

Fóra tu, Maurice Barrès, feminista da Acção, Châteaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da patria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu commercio!

Fóra tu, Bourget das almas, lamparineiro das particulas alheias, psychologo de tampa de brazão, reles snob plebeu, sublinhando a regua de lascas os mandamentos da lei da Egreja!

Fóra tu, mercadoria Kipling, homem-practico do verso, imperialista das sucatas, epico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa immortalidade!

Fóra! Fóra!

Fóra tu, George Bernard Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intellectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti proprio, Irish Melody calvinista com lettra da Origem das Especies!

Fóra tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, sacca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!

Fóra tu, G. K. Chesterton, christianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialectica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocinios!

Fóra tu, Yeats da celtica bruma á roda de poste sem indicações, sacco de pôdres que veiu á praia do naufragio do symbolismo inglez!

Fóra! Fóra!

Fóra tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em characteres gregos, “D. Juan em Pathmos” (solo de trombone)!

E tu, Maeterlinck, fogão do Mysterio apagado!

E tu, Loti, sopa salgada, fria!

E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!

Fóra! Fóra! Fóra!

E se houver outros que faltem, procurem-os ahi pra um canto!

Tirem isso tudo da minha frente!

Fóra com isso tudo! Fóra!


Ahi! Que fazes tu na celebridade, Guilherme Segundo da Allemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!

Quem és tu, tu da juba socialista, David Lloyd George, bobo de barrete phrygio feito de Union Jacks?!

E tu, Venizelos, fatia de Pericles com manteiga, cahida no chão de manteiga para baixo?

E tu, qualquer outro, todos os outros, assorda Briand-Dato-Boselli da incompetencia ante os factos, todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intellectual!

E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados pra baixo á porta da Insufficiencia da Epocha!

Tirem isso tudo da minha frente!

Arranjem feixes de palha e ponham-os a fingir gente que seja outra!

Tudo de aqui pra fóra! Tudo de aqui pra fóra!

Ultimatum a elles todos, e a todos os outros que sejam como elles todos!

Se não querem sahir, fiquem e lavem-se!


Fallencia geral de tudo por causa de todos!

Fallencia geral de todos por causa de tudo!

Fallencia dos povos e dos destinos — fallencia total!

Desfile das nações para o meu Desprezo!

Tu, ambição italiana, cão de collo chamado Cesar!

Tu, “esforço francez”, gallo depennado com a pelle pintada de pennas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)

Tu organização britannica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o principio da guerra!

(It's a long, long way to Tipperary, and a jolly sight longer way to Berlin!)

Tu, cultura allemã, Sparta pôdre com azeite de christianismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialoide de servilismo engatado!

Tu, Austria-subdita, mixtura de sub-raças, batente de porta typo K!

Tu, Von Belgica, heroica á fôrça, limpa a mão á parede que fôste!

Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desopprimida porque se partiu!

Tu, “imperialismo” hespanhol, salero em politica, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!

Tu, Estados Unidos da America, synthese-bastardia da baixa-Europa, alho da assorda transatlantica, pronuncia nasal do modernismo inesthetico!

E tu, Portugal-centavos, resto de Monarchia a apodrecer Republica, extrema-uncção-enxovalho da Desgraça, collaboração artificial na guerra com vergonhas naturaes em Africa!

E tu, Brazil, “republica irmã”, blague de Pedro Alvares Cabral, que nem te queria descobrir!

Ponham-me um panno por cima de tudo isso!

Fechem-me isso á chave e deitem a chave fóra!

Onde estão os antigos, as fôrças, os homens, os guias, os guardas?

Vão aos cemiterios, que hoje são só nomes nas lapides!

Agora a philosophia é o ter morrido Fouillée!

Agora a arte é o ter ficado Rodin!

Agora a litteratura é Barrès significar!

Agora a critica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!

Agora a politica é a degeneração gordurosa da organização da incompetencia!

Agora a religião é o catholicismo militante dos taberneiros da fé, o enthusiasmo cosinha-franceza dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas christãos, dos intuicionistas catholicos, dos ritualistas nirvanicos, angariadores de annuncios para Deus!

Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!

Suffoco de ter só isto á minha volta!

Deixem-me respirar!

Abram todas as janellas!

Abram mais janellas do que todas as janellas que ha no mundo!


Nenhuma idéa grande, ou noção completa ou ambição imperial de imperador-nato!

Nenhuma idéa de uma estructura, nenhum senso do Edificio, nenhuma ansia do Organico-Creado!

Nem um pequeno Pitt, nem um Goethe de cartão, nem um Napoleão de Nürnberg!

Nem uma corrente litteraria que seja sequer a sombra do romantismo ao meio-dia!

Nem um impulso militar que tenha sequer o vago cheiro de um Austerlitz!

Nem uma corrente politica que sôe a uma idéa-grão, chocalhando-a, ó Caios Gracchos de tamborilar na vidraça!

Epocha vil dos secundarios, dos approximados, dos lacaios com aspirações de lacaios a reis-lacaios!

Lacaios que não sabeis ter a Aspiração, burguezes do Desejo, transviados do balcão instinctivo! Sim, todos vós que representaes a Europa, todos vós que sois politicos em evidencia em todo o mundo, que sois litteratos meneurs de correntes europeias, que sois qualquer cousa a qualquer cousa neste maelström de chá-môrno!


Homens-altos de Lilliput-Europa, passae por baixo do meu Desprezo!

Passae vós, ambiciosos do luxo quotidiano, anseios de costureiras dos dois sexos, vós cujo typo é o plebeu Annunzio, aristocrata de tanga de ouro!

Passae vós, que sois auctores de correntes sociaes, de correntes litterarias, de correntes artisticas, verso da medalha da impotencia de crear!

Passae, frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer ismo!

Passae, radicaes do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorancia por columna da audacia, que tendes a impotencia por esteio das neo-theorias!

Passae, gigantes de formigueiro, ebrios da vossa personalidade de filhos de burguez, com a mania da grande-vida roubada na dispensa paterna e a hereditariedade indesentranhada dos nervos!

Passae, mixtos; passae, debeis que só cantaes a debilidade; passae, ultra-debeis que cantaes só a fôrça, burguezes pasmados ante o athleta de feira que quereis crear na vossa indecisão febril!

Passae, esterco epileptoide sem grandezas, hysteria-lixo dos espectaculos, senilidade social do conceito individual de juventude!

Passae, bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cerebro de origem!

Passae á esquerda do meu Desdem virado á direita, creadores de “systemas philosophicos”, Boutroux, Bergsons, Euckens, hospitaes para religiosos incuraveis, pragmatistas do jornalismo metaphysico, lazzaroni da construcção meditada!

Passae e não volteis, burguezes da Europa-Total, parias da ambição de parecer-grandes, provincianos de Paris!

Passae, decigrammas da Ambição, grandes só numa epocha que conta a grandeza por centimiligrammas!

Passae, provisorios, quotidianos, artistas e politicos estylo lightning-lunch, servos empoleirados da Hora, trintanarios da Occasião!

Passae, “finas sensibilidades” pela falta de espinha dorsal; passae, constructores de café e conferencia, monte de tijolos com pretensões a casa!

Passae, cerebraes dos arrabaldes, intensos de esquina-de-rua!

Inutil luxo, passae, vã grandeza ao alcance de todos, megalomania triumphante do aldeão de Europa-aldeia! Vós que confundis o humano com o popular, e o aristocratico com o fidalgo! Vós que confundis tudo, que, quando não pensaes nada, dizeis sempre outra cousa! Chocalhos, incompletos, maravalhas, passae!

Passae, pretendentes a reis parciaes, lords de serradura, senhores feudaes do Castello de Papelão!

Passae, romantismo posthumo dos liberalões de toda a parte, classicismo em alcool dos fetos de Racine, dynamismo dos Whitmans de degrau de porta, dos pedintes da inspiração forçada, cabeças ôcas que fazem barulho porque vão bater com ellas nas paredes!

Passae, cultores do hypnotismo em casa, dominadores da visinha do lado, caserneiros da Disciplina que não custa nem cria!

Passae, tradicionalistas auto-convencidos, anarchistas deveras sinceros, socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar! Rotineiros da revolução, passae!

Passae eugenistas, organizadores de uma vida de lata, prussianos da biologia applicada, neo-mendelianos da incomprehensão sociologica!

Passae, vegetarianos, teetotalers, calvinistas dos outros, kill-joys do imperialismo de sobejo!

Passae, amanuenses do “vivre sa vie” de botequim extremamente de esquina, ibsenoides Bernstein-Bataille do homem forte de sala de palco!

Tango de pretos, fôsses tu ao menos minuete!

Passae, absolutamente, passae!


Vem tu finalmente ao meu Asco, roça-te tu finalmente contra as solas do meu Desdem, grand finale dos parvos, conflagração-escarneo, fogo em pequeno monte de estrume, synthese dynamica do estatismo ingenito da Epocha!

Roça-te tu e roja-te, impotencia a fazer barulho!

Roça-te, canhões declamando a incapacidade de mais ambição que balas, de mais intelligencia que bombas!

Que esta é a equação-lama da infamia do cosmopolitismo de tiros:

(VON BISSING)/(BELGICA) = (JONNART)/(GRECIA)

Proclamem bem alto que ninguem combate pela Liberdade ou pelo Direito! Todos combatem por medo dos outros! Não tem mais metros que estes millimetros a estatura das suas direcções!

Lixo guerreiro-palavroso! Esterco Joffre-Hindenburguesco! Sentina europeia de Os Mesmos em scisão balofa!

Quem acredita nelles?

Quem acredita nos outros?

Façam a barba aos poilus!

Descasquetem o rebanho inteiro!

Mandem isso tudo pra casa descascar batatas symbolicas!

Lavem essa celha de mixordia inconsciente!

Atrelem uma locomotiva a essa guerra!

Ponham uma colleira a isso e vão exhibil-o para a Australia!


Homens, nações, intuitos, está tudo nullo!

Fallencia de tudo por causa de todos!

Fallencia de todos por causa de tudo!

De um modo completo de um modo total, de um modo integral:

MERDA!

A Europa tem sêde de que se crie, tem fome de Futuro!

A Europa quer grandes Poetas, quer grandes Estadistas, quer grandes Generaes!

Quer o Politico que construa conscientemente os destinos inconscientes do seu Povo!

Quer o Poeta que busque a Immortalidade ardentemente, e não se importe com a fama, que é para as actrizes e para os productos pharmaceuticos!

Quer o General que combata pelo Triumpho Constructivo, não pela victoria em que apenas se derrotam os outros!

A Europa quer muitos d'estes Politicos, muitos d'estes Poetas, muitos d'estes Generaes!

A Europa quer a Grande Idéa que esteja por dentro d'estes Homens Fortes — a idéa que seja o Nome da sua riqueza anonyma!

A Europa quer a Intelligencia Nova que seja a Fórma da sua Materia chaotica!

Quer a Vontade Nova que faça um Edificio com as pedras-ao-acaso do que é hoje a Vida!

Quer a Sensibilidade Nova que reuna de dentro os egoismos dos lacaios da Hora!

A Europa quer Donos! O Mundo quer a Europa!

A Europa está farta de não existir ainda! Está farta de ser apenas o arrabalde de si-propria! A Era das Machinas procura, tacteando, a vinda da Grande Humanidade!

A Europa anseia, ao menos, por Theoricos de O-que-será, por Cantores-Videntes do seu Futuro!

Dae Homeros á Era das Machinas, ó Destinos scientificos! Dae Miltons á Epocha das Cousas Electricas, ó Deuses interiores á Materia!

Dai-nos Possuidores de si-proprios, Fortes Completos, Harmonicos Subtis!

A Europa quer passar de designação geographica a pessoa civilizada!

O que ahi está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!

O que ahi está não pode durar, porque não é nada!

Eu, da Raça dos Navegadores, affirmo que não pode durar!

Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!

Quem ha na Europa que ao menos suspeite de que lado fica o Novo Mundo agora a descobrir? Quem sabe estar em um Sagres qualquer?

Eu, ao menos, sou uma grande Ansia, do tamanho exacto do Possivel!

Eu, ao menos sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!

Ergo-me ante o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!

Eu, ao menos, sou bastante para indicar o Caminho!

Vou indicar o caminho!

ATTENÇÃO!

Proclamo, em primeiro logar,

A Lei de Malthus da Sensibilidade

Os estimulos da sensibilidade augmentam em progressão geometrica; a propria sensibilidade apenas em progresão arithmetica.

Comprehende-se a importancia d'esta lei. A sensibilidade — tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possiveis — é a fonte de toda a creação civilizada. Mas essa creação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funcciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a fôrça da obra resultante.

Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influencia insistente do meio actual, é, nas suas linhas geraes, constante, e determinada no mesmo individuo desde a sua nascença, funcção do temperamento que a hereditariedade lhe infixou. A sensibilidade, portanto, progride por gerações.

As creações da civilização, que constituem o “meio” da sensibilidade, são a cultura, o progresso scientifico, a alteração nas condições politicas (dando á expressão um sentido completo); ora estes — e sobretudo o progresso cultural e scientifico, uma vez começado — progridem não por obra de gerações, mas pela interacção e sobreposição da obra de individuos, e, embora lentamente a principio, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estimulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pae não transmitte ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.

Temos, pois, que a uma certa altura da civilização ha de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estimulos — uma fallencia portanto. Dá-se isso na nossa epocha, cuja incapacidade de crear grandes valores deriva dessa desadaptação.

A desadaptação não foi grande no primeiro periodo da nossa civilisação, da Renascença ao seculo XVIII, em que os estimulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estimulos, por sua propria natureza, eram de progresso lento, e attingiam a principio apenas as camadas superiores da sociedade. Accentuou-se a desadaptação no segundo periodo, que parte da Revolução para o seculo XIX, e em que os estimulos são já sobretudo politicos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estimulo muito mais vasto. Cresceu a desadaptação vertiginosamente no periodo desde meados do seculo XIX á nossa epocha, em que o estimulo, sendo as creações da sciencia, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa atraz os progressos da sensibilidade, e, nas applicações practicas da sciencia, attinge toda a sociedade. Assim se chega á enorme desproporção entre o termo presente da progressão geometrica dos estimulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão arithmetica da propria sensibilidade.

De ahi a desadaptação, a incapacidade creativa da nossa epocha. Temos, portanto, um dilemma: ou morte da civilização, ou adaptação artificial, visto que a natural, a instinctiva falliu.

Para que a civilização não morra, proclamo, portanto, em segundo logar,

A Necessidade da Adaptação Artificial

O que é a adaptação artificial?

É um acto de cirurgia sociologica. É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar, pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estimulos.

A sensibilidade chegou a um estado morbido, porque se desadaptou. Não ha que pensar em cural-a. Não ha curas sociaes. Ha que pensar em operal-a para que ella possa continuar a viver. Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirurgica, embora envolva uma mutilação.

O que é que é preciso eliminar do psychismo contemporaneo?

Evidentemente que é aquillo que seja a acquisição fixa mais recente no espirito — isto é, aquella acquisição geral do espirito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e isto por trez razões: (a) porque, por ser a mais recente das fixações psychicas, é a menos difficil de eliminar; (b) porque, visto que cada civilização se fórma por uma reacção contra a anterior, são os principios da anterior que são os mais antagonicos á actual e que mais impedem a sua adaptação ás condições especiaes que durante esta appareçam; (c) porque, sendo a acquisição fixa mais recente, a sua eliminação não ferirá tão fundo a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo deposito psychico.

Qual é a ultima acquisição fixa do espirito humano geral?

Deve ser composta de dogmas do christianismo, porque a Edade Media, vigencia plena d'aquelle systema religioso, precede immediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa civilização, e os principios christãos são contradictados pelos firmes ensinamentos da sciencia moderna.

A adaptação artificial será portanto expontanente feita desde que se faça uma eliminação das acquisições fixas do espirito humano, que derivam da sua mergencia no christianismo.

Proclamo, por isso, em terceiro logar,

A intervenção cirurgica anti-christã

Resolve-se ella, como é de ver, na eliminação dos trez preconceitos, dogmas, ou attitudes, que o christianismo fez que se infiltrassem na propria substancia da psyche humana.

Explicação concreta:

1. — Abolição do dogma da personalidade — isto é, de que temos uma Personalidade “separada” das dos outros. É uma ficção theologica. A personalidade de cada um de nós é composta (como o sabe a psychologia moderna, sobretudo desde a maior attenção dada á sociologia) do cruzamento social com as “personalidades” dos outros, da immersão em correntes e direcções sociaes, e da fixação de vincos hereditarios, oriundos, em grande parte, de phenomenos de ordem collectiva. Isto é, no presente, no futuro, e no passado, somos parte dos outros, e elles parte de nós. Para o auto-sentimento christão, o homem mais perfeito é o que com mais verdade possa dizer “eu sou eu”; para a sciencia, o homem mais perfeito é o que com mais justiça possa dizer “eu sou todos os outros”.

Devemos pois operar a alma, de modo a abril-a á consciencia da sua interpenetração com as almas alheias, obtendo assim uma approximação concretizada do Homem-Completo, do Homem-Synthese da Humanidade.

Resultados d'esta operação:

(a) Em politica: Abolição total do conceito de democracia, conforme a Revolução Franceza, pelo qual dois homens correm mais que um homem só, o que é falso, porque um homem que vale por dois é que corre mais que um homem só! Um mais um não são mais do que um, emquanto um e um não formam aquelle Um a que se chama Dois. — Substituição, portanto, á Democracia, da Dictadura do Completo, do Homem que seja, em si-proprio, o maior numero de Outros; que seja, portanto, A Maioria. Encontra-se assim o Grande Sentido da Democracia, contrario em absoluto ao da actual, que, aliás, nunca existiu.

(b) Em arte: Abolição total do conceito de que cada individuo tem o direito ou o dever de exprimir o que sente. Só tem o direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o individuo que sente por varios. Não confundir com “a expressão da Epocha”, que é buscada pelos individuos que nem sabem sentir por si-proprios. O que é preciso é o artista que sinta por um certo numero de Outros, todos differentes uns dos outros, uns do passado, outros do presente, outros do futuro. O artista cuja arte seja uma Synthese-Somma, e não uma Synthese-Subtracção dos outros de si, como a arte dos actuaes.

(c) Em philosophia: Abolição do conceito de verdade absoluta. Creação da Super-Philosophia. O philosopho passará a ser o interpretador de subjectivites entrecruzadas, sendo o maior philosopho o que maior numero de philosophias expontaneas alheias concentrar. Como tudo é subjectivo, cada opinião é verdadeira para cada homem: a maior verdade será a somma-synthese-interior do maior numero d'estas opiniões verdadeiras que se contradizem umas ás outras.

2. — Abolição do preconceito da individualidade. — É outra ficção theologica — a de que a alma de cada um é una e indivisivel. A sciencia ensina, ao contrario, que cada um de nós é um agrupamento de psychismos subsidiarios, uma synthese malfeita de almas cellulares. Para o auto-sentimento christão, o homem mais perfeito é o mais coherente comsigo proprio; para o homem de sciencia, o mais perfeito é o mais incoherente comsigo proprio,

Resultados:

a) Em politica: A abolição de toda a convicção que dure mais que um estado de espirito, o desapparecimento total de toda a fixidez de opiniões e de modos-de-ver; desapparecimento portanto de todas as instituições que se apoiem no facto de qualquer “opinião publica” poder durar mais de meia-hora. A solução, de um problema num dado momento historico será feita pela coordenação dictatorial (vide paragrapho anterior) dos impulsos do momento dos componentes humanos d'esse problema, que é uma cousa puramente subjectiva, é claro. Abolição total do passado e do futuro como elementos com que se conte, ou em que se pense, nas soluções politicas. Quebra inteira de todas as continuidades.

b) Em arte: Abolição do dogma da individualidade artistica. O maior artista será o que menos se definir, e o que escrever em mais generos com mais contradicções e dissimilhanças. Nenhum artista deverá ter só uma personalidade. Deverá ter varias, organisando cada uma por reunião concretizada de estados de alma similhantes, dissipando assim a ficção grosseira de que é uno e indivisivel.

c) Em philosophia: Abolição total da Verdade como conceito philosophico, mesmo relativo ou subjectivo. Reduccão da philosophia á arte de ter theorias interessantes sobre o “Universo”. O maior philosopho aquelle artista do pensamento, ou antes da “arte abstracta” (nome futuro da philosophia) que mais theorias coordenadas, não relacionadas entre si, tiver sobre a “Existencia”.

3. — Abolição do dogma do objectivismo pessoal. — A objectividade é uma media grosseira entre as subjectividades parciaes. Se uma sociedade fôr composta, por ex., de cinco homens, a, b, c, d, e e, a “verdade” ou “objectividade” para essa sociedade será representada por

(a+b+c+d+e)/5

No futuro cada individuo deve tender para realisar em si esta media. Tendencia, portanto de cada individuo, ou, pelo menos, de cada individuo superior, a ser uma harmonia entre as subjectividades alheias (das quaes a propria faz parte), para assim se approximar o mais possivel d'aquella Verdade-Infinito, para a qual idealmente tende a série numerica das verdades parciaes.

Resultado:

a) Em politica: O dominio apenas do individuo ou dos individuos que sejam os mais habeis Realizadores de Medias, desapparecendo por completo o conceito de que a qualquer individuo é licito ter opiniões sobre politica (como sobre qualquer outra cousa), pois que só pode ter opiniões o que fôr Media.

b) Em arte: Abolição do conceito de Expressão, substituido por o de Entre-Expressão. Só o que tiver a consciencia plena de estar exprimindo as opiniões de pessoa nenhuma (o que fôr Media portanto) pode ter alcance.

c) Em philosophia: Substituição do conceito de Philosophia por o de Sciencia, visto a Sciencia ser a Media concreta entre as opiniões philosophicas, verificando-se ser media pelo seu “caracter objectivo”, isto é, pela sua adaptação ao “universo exterior”, que é a Media das subjectividades. Desapparecimento portanto da Philosophia em proveito da Sciencia.

Resultados finaes, syntheticos:

a) Em politica: Monarchia Scientifica, anti-tradicionalista e anti-hereditaria, absolutamente expontanea pelo apparecimento sempre imprevisto do Rei-Media. Relegação do Povo ao seu papel scientificamente natural de mero fixador dos impulsos de momento.

b) Em arte: Substituição da expressão de uma epocha por trinta ou quarenta poetas, por a sua expressão por (por ex.), dois poetas cada um com quinze ou vinte personalidades, cada uma das quaes seja uma Media entre correntes sociaes do momento.

c) Em philosophia: Integração da philosophia na arte e na sciencia; desapparecimento, portanto, da philosophia como metaphysica-sciencia. Desapparecimento de todas as fórmas do sentimento religioso (desde o christianismo ao humanitarismo revolucionario) por não representarem uma Media.


Mas qual o Methodo, o feitio da operação collectiva que ha de organizar, nos homens do futuro, esses resultados? Qual o Methodo operatorio inicial?

O Methodo sabe-o só a geração por quem grito, por quem o cio da Europa se roça contra as paredes!

Se eu soubesse o Methodo, seria eu-proprio toda essa geração!

Mas eu só vejo o Caminho; não sei onde elle vae ter.

Em todo o caso proclamo a necessidade da vinda da Humanidade dos Engenheiros!

Faço mais: garanto absolutamente a vinda da Humanidade dos Engenheiros!

Proclamo, para um futuro proximo, a creação scientifica dos Superhomens!

Proclamo a vinda de uma Humanidade mathematica e perfeita!

Proclamo a sua Vinda em altos gritos!

Proclamo a sua Obra em altos gritos!

Proclamo-A, sem mais nada, em altos gritos!

E proclamo tambem: Primeiro:

O Superhomem será, não o mais forte, mas o mais completo!

E proclamo tambem: Segundo:

O Superhomem será, não o mais duro, mas o mais complexo!

E proclamo tambem: Terceiro:

O Superhomem será, não o mais livre, mas o mais harmonico!

Proclamo isto bem alto e bem no auge, na barra do Tejo, de costas para a Europa, braços erguidos, fitando o Atlantico e saudando, abstractamente o Infinito!

Alvaro de Campos.


de Alvaro de Campos

Opiario e Ode Triumphal

(in Orpheu 1)

Ode Maritima

(in Orpheu 2)

Saudação a Walt Whitman

(in Orpheu 3 a apparecer em Outubro 1917)

Nota do Transcritor:

Inconsistências que pareceram ser claramente erros tipográficos foram corrigidas; quaisquer outros erros ou inconsistências foram mantidos como na edição original.

Algumas frases foram destacadas pelo uso de um tipo letra ligeiramente diferente na edição original, aqui são apresentadas em negrito.






End of Project Gutenberg's Ultimatum, by Álvaro de Campos and Fernando Pessoa

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK ULTIMATUM ***

***** This file should be named 45461-h.htm or 45461-h.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
        http://www.gutenberg.org/4/5/4/6/45461/

Produced by Gonçalo Silva. This file was made using scans
of public domain works from the National Library of Portugal
(http://purl.pt).


Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties.  Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark.  Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission.  If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy.  You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research.  They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks.  Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.



*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License available with this file or online at
  www.gutenberg.org/license.


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS', WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation information page at www.gutenberg.org


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at 809
North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887.  Email
contact links and up to date contact information can be found at the
Foundation's web site and official page at www.gutenberg.org/contact

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org

Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit www.gutenberg.org/donate

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations.
To donate, please visit:  www.gutenberg.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For forty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.

Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.

Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.