The Project Gutenberg eBook of Descripçaõ sobre a cultura do Canamo ou Canave

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Title: Descripçaõ sobre a cultura do Canamo ou Canave

Author: M. Duhamel du Monceau

Translator: José Mariano da Conceição Velloso

Release date: September 23, 2009 [eBook #30068]
Most recently updated: January 5, 2021

Language: Portuguese

Credits: Produced by Pedro Saborano

*** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK DESCRIPÇAÕ SOBRE A CULTURA DO CANAMO OU CANAVE ***


 

DESCRIPÇAÕ

SOBRE

A CULTURA

DO

CANAMO,

OU

CANAVE.

Sua colheita, maceraçaõ n'agua, até se pôr no estado para ser gramado, ripado, assedado.

TRADUZIDA, E IMPRESSA
POR ORDEM

DE SUA MAGESTADE.

 

 

 

 

LISBOA,

Na Offic. de JOAÕ PROCOPIO CORREA DA SILVA,
Impressor da Santa Igreja Patriarcal.
ANNO M. DCC. XCVIII.

 

{3}

DESCRIPÇAÕ
SOBRE
A CULTURA
DO
CANAMO,
OU
CANAVE.

 

§ I.

Qual he o temperamento do ar, que convem milhor ao Canamo.

O Canamo naõ cresce tambem nos paizes quentes, como nos climas temperados, e se cria muito melhor nos Paizes frigidissimos, como o Canada, Riga, &c.: os quaes produzem abundancia de Linho, que he o melhor. Se emprega todos os annos huma grande quantidade do Canamo de Riga, em França, em Inglaterra, e principalmente em Hollanda.{4}

 

§ II.

Qual he a terra, mais propria para o Canamo.

He preciso para o Canamo huma terra branda, facil de lavrar, e hum pouco ligeira: porém fertil, e bem estercada. Os terrenos seccos naõ saõ proprios para semear o Canamo: porque naõ cresce muito nelles: antes pelo contrario he sempre baixo, e o linho, que produz, he ordinariamente lenhoso, o que o faz duro, e elastico: todos estes defeitos saõ consideraveis, principalmente para fazer as maiores cordagens, como veremos adiante.

Com tudo nos annos chuvosos he melhor semeallo nos terrenos seccos, do que nos terrenos humidos: porém estes annos saõ raros, assim se deve semear ordinariamente á borda d'hum regato, ou d'algum souto, cheio d'agua, de sorte, que a agua esteja muito perto, sem que produza innundaçaõ; estas terras saõ muito procuradas.

 

§ III.

Dos Estrumes proprios para temperar a terra dos Linhos.

Todos os adubos, que fazem a terra leve saõ proprios para a producçaõ do Canamo: por conseguinte, o estrume de cavallo, d'ovelha, de pombo, o lodo das capoeiras se devem preferir ao estrume de boi, e de vacca, e naõ sei se por acaso se deve usar também, para estrumar os Linhaes de barro, chamado marne.

He preciso estrumar todos os annos os linhaes,{5} antes da lavoura do Inverno, para que o estrume tenha tempo de se consumir, durante esta estaçaõ, e para que se misture mais intimamente com a terra, quando se fazem as lavouras da Primavera.

O estrume dos pombos he o unico, que se espalha nas ultimas lavouras, para se tirar delle melhor proveito: com tudo quando a Primavera he secca, se deve temer, que o estrume venha a queimar a semente, o que naõ succederá, se se espalhar no Inverno; porém neste caso he melhor deitar mais estrume, porque, fazendo o contrario, resultaria menos proveito.

 

§ IV.

Das Lavouras, que se devem dar aos Linhaes.

A Primeira, e a mais consideravel destas Lavouras, se deve dar nos mezes de Dezembro, e Janeiro: ha Pessoas, que costumaõ fazella com a charrua, lavrando a terra por traços, ou regos, outros a costumaõ fazer com a enchada, formando com ella regos, para que as geadas do Inverno amoleçaõ melhor a terra; ha tambem outros, que a fazem com a pá de ferro, com a qual se fazem os valados; este modo he sem contradicçaõ melhor, que os outros; porém he mais dilatado, e mais trabalhoso; pelo contrario a Lavoura da charrua he a mais expedita; porém menos proveitosa.

Na primeira se deve preparar a terra para effeito de receber a semente, lavrando-a duas, ou tres vezes, de quinze em quinze dias, ou de tres em tres semanas, e depois disto, se deve alizar o terreno.{6}

Deve-se observar, que estas Lavouras se devem, ou se podem fazer como aquella, que se faz no Inverno com a charrua, enchada, ou com a sobredita pá.

Finalmente, quando estas Lavouras saõ feitas, e que ficaõ alguns torrões, se devem pilar com huns malhos; porque he preciso, que todo o terreno do Linhal esteja taõ unido, e taõ movel, como o canteiro d'hum Jardim.

 

§ V.

Do tempo, e da maneira de semear a Linhaça.

Costuma-se semear a Linhaça no mez de Abril, alguns a semeaõ quinze dias mais cedo, que os outros, e todos correm differentes perigos; porque aquelles, que a semeaõ muito cedo, devem summamente temer as geadas da Primavera, que causaõ grande prejuizo ao Canamo, novamente nascido; e aquelles que semeaõ muito tarde, devem temer as seccuras, que impedem algumas vezes o nascimento do Canamo.

A Linhaça se deve semear espessa, porque, sendo semeada ralla, viria a ser o Canamo muito grosso, a casca muito lenhosa, e a fibra muito dura, o que he hum grande defeito; com tudo quando a linhaça se semea muito espessa, ficaõ muitos pés pequenos, e abaffados pelos outros, o que he tambem hum inconveniente; he preciso pois observar hum meio, e ordinariamente os Linhaes naõ saõ rallos, senaõ quando perece huma parte da linhaça por causa das geadas, da seccura, ou quaesquer outros accidentes.

Assim se deve observar, que a linhaça he{7} huma semente oleosa; porque estas sortes de sementes, se fazem rançosas com o tempo, e entaõ naõ nascem; por conseguinte he preciso fazer de sórte, que senaõ semeie mais, que a linhaça da ultima colheita; porque quando se semeia aquella, que tem dous annos, muitos grãos naõ nascem, e se for mais velha, nascerá muito menos.

Logo que se semeia a linhaça, he preciso enterralla, esta operaçao se faz com huma grade, se a terra foi lavrada com a charrua, ou com hum ansinho, se foi lavrada com a enchada, ou pá.

Além desta precauçaõ he preciso guardar com cuidado o Linhal, até que a linhaça esteja inteiramente nascida: por causa da quantidade de passaros, e principalmente de pombos, que o destroem extraordinariamente. He verdade, que os pombos naõ esgravataõ, nem outros muitos passaros, e naõ fazem damno aos grãos de trigo, que se achaõ cubertos de terra; porém damnificaõ muito a linhaça, ainda que esteja bem cuberta; porque a differença, que ha entre estas duas sementes, he que os grãos de trigo naõ sahem da terra juntamente com a herva, que produzem; porém a linhaça sahe inteiramente com a pequena planta, que produz, e he neste tempo, que os pombos, e outros passaros lhe causaõ grande damno: porque, em comendo o graõ da linhaça, arrancaõ a planta, e a destroem absolutamente.

Os camponezes costumaõ fazer fugir os passaros com espantalhos, e fazem guardar os Linhaes por seus filhos. Estas precauções naõ saõ sufficientes, quando os Linhaes saõ muito grandes, e que os pombos estaõ famintos; porque tenho visto pessoas muito robustas, e ligeiras, e tambem alguns cães desamparar o Linhal, por{8} estarem excessivamente cançados: porém este trabalho naõ dura muito tempo; porque quando tem lançado muitas folhas, naõ he preciso guardar os Linhaes.

 

§ VI.

Do cuidado, que se deve ter com o Linhal até a sua colheita.

Os Linhaes, que custaõ muito trabalho até ao nascimento da linhaça, naõ daõ trabalho algum, até ao tempo da colheita, assim he preciso entreter sómente os fossos, e impedir que os animaes os naõ damnifiquem.

Com tudo quando as seccuras saõ grandes, ha camponezes, que costumaõ regar os seus Linhaes, porém he preciso, que sejaõ pequenos, e que a agua esteja perto, excepto que se possaõ regar por immersaõ, como se pratica em alguns lugares.

Temos dito, que aconteciaõ algumas vezes accidentes á linhaça, que faziaõ o Linhal rallo, e temos tambem observado, que entaõ o Canamo era grosso, ramalhudo, e incapaz de produzir boa fibra; neste caso he preciso sachallo para tirar maior fructo do Linhal, e para impedir, que as más hervas suffoquem o Canamo.

 

§ VII.

Colheita do Canamo macho.

No principio de Agosto os pés do Canamo, que naõ tem semente, aos quaes o vulgo chama Canamo femea, e que nós chamamos macho, principiaõ a fazer-se amarellos na parte superior,{9} e brancos na inferior, o que he hum signal evidente d'estarem capazes de se arrancarem; entaõ as mulheres entraõ no Linhal, e arrancaõ todos os pés machos: dos quaes fazem feixinhos, que põem por ordem no chaõ, tendo grande cuidado de naõ damnificar o Canamo femea; porque deve ficar na terra algum tempo mais, para acabar de amadurecer a sua semente.

Depois de ter arrancado o Canamo macho, se fórma delle feixesinhos; deve-se tomar cuidado, que as plantas, que os fórmaõ, sejaõ de hum igual comprimento pouco mais, ou menos, e que todas as raizes sejaõ iguaes, finalmente cada feixesinho se deve atar com hum raminho de Canamo.

Depois disto se deve expor ao Sol para fazer seccar as folhas, e as flores: quando saõ seccas se fazem cahir, batendo cada feixinho contra o tronco de huma arvore, ou contra huma parede, e se ajuntaõ varios destes feixesinhos, para formar delles outros maiores, e transportallos para o lugar, aonde se devem deitar de molho.

 

§ VIII.

Como se deve curtir, ou deitar de molho o Canamo.

O Lugar, aonde se costuma curtir o linho Canamo, he hum fosso, que deve ter dezoito, ou vinte e quatro pés de comprimento, doze, ou dezoito de largura, e tres, ou quatro de profundidade, o qual se deve encher de agua, que se transporta para o dito lugar de alguma fonte proxima, e se houver occasiaõ, seria melhor introduzir no dito fosso por meio de algum aqueducto,{10} para evitar algum trabalho, quando o fosso está cheio, se deve deixar hum lugar livre, para que a superficie da dita agua se possa vasar.

Ha varias pessoas, que, desprezando este modo de curtir o Canamo, fazem sómente hum simples fosso á borda de hum rio: ha outras, que o molhaõ, mettendo-o no mesmo rio: finalmente quando as fontes, e os rios estaõ muito longe, o costumaõ curtir nos fóssos cheios de agua; ou nas lagoas.

Quando se quer curtir o Canamo, se põem em ordem no fundo d'agua, cobrindo-o com huma pouca de palha, sobre a qual se põem alguns pedaços de páo, ou de pedra para segurar o Canamo.

O Canamo se deve deixar neste estado até que a casca, que produz a fibra se despegue facilmente do tallo, que se acha no meio da planta, a qual se deve visitar de tempo em tempo, para ver se a dita casca se despega com facilidade do dito tallo, e quando se despegar facilmente, se deve tirar do fosso, donde se acha.

A operaçaõ, de que fallamos, naõ somente serve para fazer cahir a casca do Canamo, mas tambem para atenrar, e afinar a fibra; para melhor comprehender como a agua produz este effeito, he preciso ter huma idéa da disposicaõ organica de huma aste do dito Canamo: assim a vou dar o mais breve, que for possivel.

As astes do Canamo saõ ocas inteiramente, e cheias de huma tenra medulla: sobre esta medulla ha hum páo tenro, e quebradiço, que se chama tallo, ou cana, sobre o qual se acha huma casca bastantemente delgada, composta de fibras, que se estendem ao comprimento da aste: esta casca está bastantemente pegada á dita cana, e as fibras longitudinaes, de que a dita casca he{11} composta se ajuntaõ humas, e outras por meio d'hum tecido vessicular, ou celular; finalmente tudo isto se acha coberto d'huma finissima membrana, que se póde chamar epiderme.

O metter o Canamo na agua naõ he para outra cousa mais, senaõ para que a casca se despegue da cana mais facilmente, para destruir a epiderme, e huma parte do tecido celular, que ligaõ juntamente as fibras longitudinaes. Tudo isto se produz por hum principio de podridaõ; por cuja causa senaõ deve ter muito tempo na agua; porque entaõ naõ somente a epiderme se corromperia, mas tambem prejudicaria as fibras longitudinaes, e naõ teria força alguma: pelo contrario quando o Canamo naõ fica na agua o tempo necessario, a casca está pegada ao tallo, e a fibra fica dura, e elastica, sem se poder nunca afinar perfeitamente, assim se deve observar hum meio, que consiste naõ sómente no tempo, que deve estar de molho, mas tambem

I. Na qualidade d'agua; porque he melhor curtir o Canamo n'agua encharcada, e turva, que naquella, que corre, e que he clara.

II. No calor do ar; porque he mais util curtillo, quando faz calma, do que quando faz frio.

III. Na qualidade do Canamo: porque aquelle, que se cria em huma terra branda, e humida, e que se colhe algum tanto verde, se curte mais depressa, que aquelle que se cria em huma terra forte, e secca, e que se deixa amadurecer muito.

Finalmente, quando o Canamo está pouco tempo n'agua para se curtir, a fua fibra he melhor; por cuja causa senaõ deve curtir senaõ no tempo quente, e quando os Outonos saõ frios, ha pessoas, que guardaõ o Canamo femea para a{12} Primavera seguinte, para entaõ se curtir: ha alguns, que julgaõ ser melhor curtillo n'agua encharcada, e mórta, do que n'agua viva.

Mandei curtir o Canamo em differentes aguas, e achei mais suave aquelle, que tinha sido curtido n'agua encharcada, do que aquelle, que foi n'agua corrente: porém a fibra, que se tira do Canamo, curtido n'agua encharcada, adquire huma cor desagradavel, que lhe naõ causa verdadeiramente prejuiso algum; porque se faz branca com facilidade; porém esta cor desagrada, e faz-lhe perder a venda, assim se deve fazer passar pelo meio do lugar aonde o Canamo se curtio, huma pequena corrente d'agua para renovar aquella, que anticipadamente se deitou no fosso, e para prevenir, que senaõ corrompa: cheguei a curtir o Canamo estendendo-o sobre hum prado, como fazem as lavadeiras, quando querem córar a roupa; porém este modo de curtir he muito custoso, e além disso a fibra tem pouca differença daquella, que se curtio segundo o methodo.

Fiz tambem a experiencia de mandar ferver o Canamo n'agua com a esperança de o curtir em pouco tempo; porém tendo fervido mais de dez horas, o tirei d'agua, e fazendo-o seccar, achei, que se naõ podia tascar. He verdade, que mandando-o eu tascar, estando ainda molhado, e quente, a casca se despegava facilmente: porém ficava, como huma fita, e naõ se tendo destruido o tecido celular, as fibras longitudinaes ficavaõ juntas humas com outras, de sorte que naõ se podendo separar era impossivel affinar bem a fibra; pelo referido se mostra evidentemente, que senaõ póde terminar o tempo, que o Canamo ha de ficar n'agua, porque a qualidade do Canamo,{13} d'agua, e temperamento do ar affroixaõ, ou precipitaõ esta operaçaõ. Alguns julgaõ, que o Canamo está bastantemente curtido, quando a casca se despega facilmente da cana, e isto ajuda muito aos Lavradores, que cultivaõ esta planta, a naõ lhe darem, senaõ o gráo de curtidura, que he preciso; com tudo se enganaõ algumas vezes, e me parece, que ha Provincias, aonde se costuma curtir mais tempo, do que em outras. Naõ posso deixar d'advertir, que deve haver muita cautella em naõ curtir o Canamo em certas aguas, aonde se achaõ alguns pequenos bichos, chamados lagostins, porque roem o Canamo, e a fibra fica quasi perdida.

 

§ IX.

Da colheita do Canamo Femea.

Quando tratámos do Canamo macho, dissemos, que se devia deixar ainda algum tempo na terra o Canamo femea, para que a sua semente acabasse d'amadurecer: porém esta dilaçaõ faz amadurecer muito o Canamo femea, e faz tambem, que a sua casca, venha a ser muito lenhosa, donde se segue que o linho, que se tira da dita planta; he mais grosseiro, e mais tosco, que aquelle, que se tira do Canamo macho; assim quando se vir, que a semente está bem formada, se deve arrancar o Canamo femea do mesmo modo, que se arranca o macho, do qual se devem formar feixesinhos, e polos na mesma ordem, que dissemos acima.

Em alguns Paizes se costuma acabar de amadurecer a linhaça, mettendo o Canamo femea em algumas covas redondas da profundidade d'hum{14} pé, e de tres, até quatro de diametro, e pondo no fundo destas covas os feixesinhos de Canamo bem unidos huns com os outros de modo, que a linhaça fique para baixo, e a raiz da planta para cima, e atando os feixesinhos do Canamo com ligaduras de palha, para ficarem bem juntos, e lhe lançaõ ao redor toda a terra, que se tinha tirado das covas, para que as cabeças do Canamo fiquem bem abaffadas.

As cabeças do Canamo se aquecem com o auxilio da humidade, que se contém na dita cova; do mesmo modo que se aquece hum montaõ de feno verde, ou hum montaõ d'esterco: este calor acaba d'amadurecer a linhaça, e a dispoem para sahir da sua casca mais facilmente.

Quando a linhaça está madura, o Canamo se tira fóra da cova, porque criaria bolor, se o deixarem mais tempo na cova, do que he necessario.

Em alguns Paizes, aonde ha muito Canamo, o naõ costumaõ enterrar do modo, que acabo de dizer; porém costumaõ pôr os feixesinhos em tal ordem, que ficaõ cabeça com cabeça, e alguns dias depois tiraõ a linhaça do modo, que vou dizer.

 

§ X.

Da Colheita da Linhaça.

Aquelles que tem pouco Canamo, costumaõ estender hum panno no chaõ para receber nelle a sua semente, outros alimpaõ, e preparaõ hum lugar bem unido, no qual estendem o Canamo, pondo as cabeças d'hum mesmo lado, e depois disto as batem ligeiramente, com hum páo, ou com hum mangoal: esta operaçao faz cahir a linhaça, a qual costumaõ pôla de parte, para{15} semear na Primavera seguinte, porém como fica ainda muita linhaça nas cabeças do Canamo, esta se tira, penteando as ditas cabeças com os dentes d'hum instrumento, chamado ripador, e por meio desta operaçaõ se faz cahir ao mesmo tempo as folhas com a linhaça, tudo misturado juntamente: costuma-se guardar tudo isto em hum montaõ alguns dias, e depois se estende ao Sol para se seccar: finalmente tudo aquillo se bate depois de secco, e se alimpa a linhaça, joeirando-a, ou passando-a por hum crivo: esta segunda semente serve para fazer óleo de linhaça, e para nutrir as aves domesticas. Finalmente se costuma levar o Canamo ao lugar, onde se curte, para se preparar do mesmo modo, que o Canamo macho.

 

§ XI.

O que he preciso fazer para tirar o Canamo do lugar, aonde se deitou de molho.

Quando se tirar o Canamo do fosso, aonde se curtio, se devem desatar os feixesinhos para effeito de se seccar, estendendo-os ao Sol ao longo de hum muro, ou em hum lugar, em que naõ haja absolutamente humidade: deve-se ter muito cuidado de virar os ditos feixes de tempo em tempo, e quando o Canamo estiver bem secco, se deve pôr outra vez em feixes, e transportallos para a casa, onde se quer recolher em lugar secco, até que o queiraõ tascar.

N. B. Esta Obra he precursora de outra maior, em que se continuará esta Memoria, que he de M. Duhamel, e se dará tudo o mais que se tem escripto a este assumpto, até entrar na cordearia.

 

 

FIM.