The Project Gutenberg eBook, Uma visita ao primeiro romancista portuguez em S. Miguel de Seide, by Alberto Pimentel

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

Title: Uma visita ao primeiro romancista portuguez em S. Miguel de Seide

Author: Alberto Pimentel

Release Date: January 31, 2011 [eBook #35130]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-15

***START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK UMA VISITA AO PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ EM S. MIGUEL DE SEIDE***



E-text prepared by Pedro Saborano



 


 

 

 

ALBERTO PIMENTEL

 

UMA VISITA

AO

PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ

EM

S. MIGUEL DE SEIDE

 

 

 

 

PORTO
LIVRARIA PORTUENSE DE LOPES & C.ª—EDITORES
119—Rua do Almada—123
1885

 

 

 

 

 

 

ALBERTO PIMENTEL

 

UMA VISITA

AO

PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ

EM

S. MIGUEL DE SEIDE

 

 

 

 

PORTO
LIVRARIA PORTUENSE DE LOPES & C.ª—EDITORES
119—Rua do Almada—123
1885

 

 

 

 


PORTO—IMPRENSA PORTUGUEZA—BOMJARDIM, 181

 

 

 

 {3}

UMA VISITA

AO

PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ

EM S. MIGUEL DE SEIDE

 

Eram onze horas da manhã. Acabava, na egreja de Santo Thyrso, a missa do dia. Para o largo do mosteiro vinham sahindo os ranchos dos homens e das mulheres do campo; algumas senhoras, poucas. A manhã tinha estado fresca, segundo me disseram, mas eu perdi a manhã, pela simples razão de ter perdido a noite no arraial da Senhora das Dôres, na Trofa, aonde condescendentemente me deixei arrastar. Quando sahi de casa, seguido pelo criado que levava de redea a garrana, o sol descobria. A consciencia de não ter nascido fadado para cavallarias altas, obrigou-me a ir a{4} pé até um sitio que julguei propicio para me lançar a cima do sellim sem grande concurso de publico.

O criado dizia-me que não conhecia besta melhor do que a garrana.

—Muito fiel! accrescentava elle, inspirando-me confiança, e descendo os estribos.

Para além da ponte, cavalguei.

Pareceu-me que effectivamente a garrana tinha apreciaveis prendas de caracter; entreguei-me á sua lealdade, e posso asseverar que não foi desmentida, durante todo o dia, por nenhum incidente desagradavel.

É a besta mais honrada com que tenho lidado. O criado tinha razão.

—A que horas estaremos em S. Miguel de Seide?—perguntei eu ao Bernardo do João de Deus, nome e alcunha do meu companheiro, para estabelecer dialogo, visto que a garrana não podia, por um erro da natureza, conversar comigo.

—D'aqui a uma hora, n'este passo, respondeu elle. De Landim lá, é um instante.

Landim! repeti eu mentalmente.

Estava, pois, nos vastos dominios romanticos de Camillo, no proscenio florido das suas Novellas do Minho, uma das{5} quaes se intitula O cego de Landim. Á minha direita ficava Monte Cordova, de cuja bruxa o eminente romancista escrevera a commovente historia.

O sol descobrira de todo; os seus raios, como flechas de oiro, cahiam sobre os campos, doirando-os. O calor principiava a ser intenso.

O criado ralhou comigo amoravelmente.

Que se eu me tivesse levantado mais cedo, ponderava elle, não apanharia tamanha calma. E depois podia ser que eu não estivesse habituado. Finalmente, accrescentára que o sr. visconde, prevenido da minha visita, de certo me teria esperado para o almoço.

Que me importava a mim a calma, por maior que fosse? Eu ia vêr, abraçar aquelle que sempre fora para mim o mais dedicado dos mestres, e o melhor dos amigos. O acaso que durante alguns annos nos juntara, separara-nos um dia: elle ficara quasi sempre no Minho; eu vivia em Lisboa. Havia já dez annos que nos não avistaramos. Por isso, ainda que se tornasse preciso um grande sacrificio, de boa vontade eu o teria feito para comprar a felicidade{6} de estar alguns momentos em S. Miguel de Seide.

O caminho não me sahira tão cruel como eu esperava. A breve trecho havia arvores que déssem sombra. Em torno de mim, para qualquer lado que lançasse os olhos, a vegetação era opulenta, feracissima. Os meus pulmões fortificavam-se com delicia n'um bom banho de oxygenio. E, por antithese, lembravam-me os saguões e as escadas dos predios da baixa, em Lisboa, onde se respira um ar mephitico, que asphyxia. De longe a longe, uma casa e um parreiral; os cachos pendentes da latada davam na vista ao criado, que observava:

—Vão amadurecendo bem, graças a Deus!

E tirava o chapeu, respeitosamente, em homenagem ao Creador dos homens e dos cachos.

Um ou outro cão vinha ladrar-nos ao muro do quintal.

Bernardo, todo embevecido na contemplação da novidade, dizia-me que reparasse nas ramadas, onde as travessas de madeira teem sido substituidas por fios de arame.{7} Uma innovação recentemente introduzida no Minho.

—Isto—o arame—observava o Bernardo, dura a vida de um homem.

O calor ia apertando, mordendo. Eu, de quando em quando, aproveitava a sombra de uma arvore para accender um cigarro. A garrana, com uma grande deferencia pelas minhas commodidades e pelos meus vicios, esperava pachorrentamente que eu embrulhasse o cigarro e o accendesse. Eu, em compensação, para ser grato, sacudia-lhe as moscas com a ponta da vergasta. E não se pense que me custava pouco esta retribuição amavel da minha parte: as moscas, enxotadas da garrana, vinham para mim. Uma mordeu-me no pescoço com a mesma gana com que o teria feito á cavalgadura, em igual sitio.

Confundiu-nos! o diabo da mosca!

O Bernardo pedira licença para despir a jaqueta. Já não podia aguental-a com o calor. Ás vezes tirava o chapeu, e limpava-se. A sua cara escorria ressumbrações de suor. Não obstante, o Bernardo acompanhava a garrana com o seu passo largo e firme, de caminheiro intrépido e experimentado.{8} Eu disse-lhe que sentia haver-lhe dado incommodo em dois dias consecutivos, porque na vespera fôra elle de Santo Thyrso a Seide, por ordem minha, com uma carta para o visconde de Correia Botelho, a fim de me certificar de que o encontraria no dia seguinte.

—Isto não é nada, respondeu o Bernardo. Pelo S. Thiago fui ao Porto e vim, no mesmo dia.

E com o corpo lançado para diante, meneiando os braços n'uma oscillação de pendulo, continuava a acompanhar intrepidamente a garrana, não suando menos do que ella.

Elle ia-me nomeando os sitios por que passavamos:

—Isto aqui é a Fonte da Gallega.

E mais adiante:

—Isto aqui é a egreja da Lama. Uma freguezia pequenita.

Eu perguntava:

—Landim ainda fica muito longe?

—Não, senhor; é ali adeante.

E, para me distrair, por conhecer que eu tinha pressa de chegar, armava conversa:{9}

—Hontem, quando vim trazer a carta ao sr. visconde, topei perto de Landim uma grande bicha.

—Uma cobra?

—Pois é mesmo. Tomava toda a largura da estrada. Eu não gosto de encontrar aquellas bichas. Não trazia nada comigo, por isso parei para a deixar passar.

—Ella viu-o?

—Ella viu-me, mas foi-se andando. Enfiou por entre umas pedras da parede, e desappareceu.

E após um breve silencio:

—Estes bichinhos, disséra o Bernardo apontando para o chão, onde um formigueiro enorme mourejava, não são tão maldosos. A bem dizer, tirante a alma, fel-os Deus mais amigos do trabalho do que alguns homens.

Parei a garrana, e olhei.

Era uma alluvião de formigas que punha uma nodoa preta e ondulante á orla da valeta.

Ainda na vespera, estando eu junto á estação de Vizella, á espera do comboio que devia descer de Guimarães, tinha sido impressionado por uma d'estas obscuras scenas{10} de realismo campestre em que os pequenos insectos avultam na grandeza da sua humildade... Fôra tambem uma formiga o protogonista silencioso d'esse rapido drama, em que eu figurei de comparsa e em que fiquei pensando o bastante para extrahir d'elle o elevado ensinamento, que agradeci á natureza, visto que tendo de esperar alguns momentos, julguei que nada poderia haver ali que os occupasse utilmente.

E emquanto o comboio não chegava, uma serie de pensamentos imprevistos fôra alinhando-se metricamente no meu espirito e acolchetando-se, pensamento a pensamento, pela attracção mysteriosa da consonancia.

Esses versos, que só teem o merito unico da espontaneidade casual, inspirados e principiados junto á estação de Vizella, eram horas depois concluidos, postoque não limados. Como recordação da minha viagem ao Minho, cujo fim principal fôra a visita á quinta de S. Miguel de Seide, tomo a liberdade de offerecel-os á sr.ª D. Anna Augusto Placido, como rustica oblata deposta por um romeiro sincero no altar da amizade antiga. Intitulam-se:{11}

    A FORMIGA

Oh! que grande cobardia
Esta em que eu ia cahindo!
Pobre formiga, fugia!
Com que pressa ia fugindo
Toda cheia de canseira,
Por haver roubado da eira
De loiro trigo um só bago!
E eu de entretido que ia
Por um triz que a não esmago!

Sem querer, era cobarde.
Mas juro por minha fé
Que passava mal a tarde
Se lhe tenho posto o pé.

Que a formiga é tão activa.
Tão mansa e laboriosa,
Do seu trabalho captiva,
Do seu viver cuidadosa!
Passa e não deixa um vestigio!
Não mancha as folhas da rosa!
Chega mesmo a ser prodigio
Que um tão pequenino insecto
Que se arrasta aos pés da gente,
Trabalhe tão diligente,
Tão delicado e discreto!

Ha insectos bem maiores
Que vivem na mandriice,
São panreas, são mandriões,
E dizem co'os seus botões
Que o trabalhar é tolice.{12}

A cigarra é cantadeira,
Não faz nada a descuidosa.
Por mais que a gente a condemne.
Até o bom Lafontaine
Lá lhe chamou preguiçosa.
Nem assim se envergonhou!
Vive inda entregue á cantiga!
Canta, cantará, cantou...
E talvez até que diga
Vendo a formiga cansada,
Tão activa e carregada:
«Ora a tola da formiga!»

Mas a formiga, coitada!
Tão pequenita, que até
De qualquer criança o pé
A deixa logo esmagada,
Vae lidando a sua lida,
Soffrendo a sua canseira:
Aqui vence uma barreira
—Alguma hervinha mimosa!—
Ali transpõe um barranco,
Uma montanha altrerosa,
—Qualquer seixosito branco!

Corre risco de afogar-se
No oceano temeroso
De qualquer gota de orvalho!
Eu, quando a vejo arrastar-se
No seu lidar canseiroso,
Bemdigo n'ella o Trabalho.

E escuto uma voz amiga
Que me diz, vendo-a passar:
«Tu és irmão da formiga
«Na condição do lidar.»{13}

O mundo é vasto, é enorme
E os grandes formam-n'o todo!
O rico descansa e dorme
Tendo delicias a rodo.
D'esta rêde de grandeza
Só rompe o espesso tecido
O pobre que na pobreza
Fôr do mais pobre doído.

Lida a formiga, trabalha
E á força de trabalhar
Consegue que a dura malha
Ceda para ella passar.

«O que tu tens feito é isto.
—Diz da consciencia a voz sã,
Sempre sincera e amiga—
«Deixa passar a formiga,
«Que a formiga é tua irmã.»

«Grande gloria o vencel-a
«Quando co'um bago de trigo
«Vae passando carregada!
«Vaidade! havia de tel-a
«O grande que te esmagasse
«Na tua lide suada!»

Deixae que a formiga passe
Evitando o mar-orvalho
E a cordilheira-pedrinha.
A formiga é o Trabalho...
Poupai-a, se ella caminha.{14}

Sem querer, era cobarde,
Mas juro por minha fé
Que passava mal a tarde
Se lhe tenho posto o pé.

Mais adiante ouvimos o estrondo de morteiros ao longe.

O Bernardo explicou:

—É alguma romariasita em Villa Nova (Famalicão).

Passado o Pinheiro Torto, avistamos, finalmente, as torres do mosteiro de Landim.

—Ainda bem! disse eu.

—D'aqui a Seide é um pulo.

—Desconfio sempre, objectei, da rapidez dos pulos que os senhores dão cá pela provincia.

—Não, senhor. Estamos aqui, estamos lá.

—Que tempo?

—Um quarto de hora, quando muito.

No topo de uma calçada, das Mesuras se chama ella, levanta-se o mosteiro de Landim. Eu não podia perder tempo a vêr a egreja; mas disse-me depois Camillo que nada tinha de notavel.

Ao passarmos n'um vasto carvalhal{15} sombrio, o Bernardo do João de Deus explicou:

—Aqui, pela senhora das Candeias, a dois de fevereiro, faz-se um mercado que mette gente em barda. E todo esse povoleo vae cahir além n'aquella venda a comer e a beber.

Olhei. Á porta de uma taberna, sentados á sombra de uma ramada, quatro homens conversavam na sorna placidez dos ocios domingueiros. É a Casa Havaneza do sitio—com menos tabaco, mas talvez com mais animação: a venda do José Maria, successor do Fanha.

Que fresca e encantadora graça a d'um grupo de crianças, todas ellas loiras e sujas, que brincavam a uma sombra, á beira da estrada, no sitio das Campas! Se as lavassem, se as penteassem, ficariam mais fidalgas; mais bellas e graciosas, não.

O calculo do Bernardo fôra excedido no duplo. Tinha passado cêrca de meia hora, quando elle me disse:

—O senhor vê aquellas casas? Pois a quinta de Seide fica logo ao pé.

Senti precipitar-se no meu coração uma onda de sangue; era a commoção da alegria.{16}

Desembocamos, finalmente, n'um largo sobre o qual abre o portão azul da quinta de S. Miguel de Seide. O arvoredo espreita para fóra por cima do muro. Ladeámos a casa, de dois andares, pintada de amarello, e entramos pela porta de serviço, onde um criado me esperava.

Passei ao vasto pateo, que vi de relance, para subir a escada de pedra, que uma trepadeira de cachos brancos enflora, e uma copada acacia assombreia.

Esta acacia tem uma historia triste. Fora plantada pelo melancolico Jorge, o filho mais velho de Camillo, que eu ainda conheci ao collo da ama, e que momentos depois ia vêr.

Haverá pouco mais de um mez que todos os jornaes do paiz reproduziram duas quadras de Camillo, as quaes foram publicadas na Alvorada, periodico litterario de Villa Nova de Famalicão. N'essas duas bellas estrophes, que se devem considerar como morbida phantasia de um espirito desalentado, ha uma referencia maviosa a esta frondosa acacia que o Jorge plantára aos oito annos de idade:{17}

Á porta do sepulcro, ainda volto a face
Para vêr-te chorar, ó mãe do filho amado,
Que vê como n'um sonho, a scena do trespasse...
Sorver-lhe o eterno abysmo o pae idolatrado.

Talvez que elle, a sonhar, te diga: «Mãe, não chore,
Que o pae ha de voltar»... Quem sabe se virei?!
Quando a Acacia do Jorge ainda outra vez inflore
Chamae-me, que eu de abril nas auras voltarei.

O visconde de Correia Botelho, ouvindo a minha voz, viera receber-me, acompanhado pelo sr. Espinho, seu hospede, á porta da casa do bilhar.

—É uma visita posthuma! dissera elle, abrindo para mim os braços affectuosamente.

Dei-me pressa em protestar contra esta phrase devida ao desalento de um trabalhador infatigavel, que ha mezes se acha condemnado á inercia por um deploravel accidente que lhe nublou os olhos já cansados de uma diuturna applicação.

Para os que amam o trabalho, os ocios forçados são cansativos e molestos. Pareceu-me ser esta a maior enfermidade de Camillo actualmente. Se elle podesse trabalhar, escrever um dos seus bellos romances em quinze dias, como tantas vezes fizera,{18} se conseguisse por esse meio arrancar-se á intuscepção meditativa em que o seu espirito se concentra, tel-o-iamos de novo forte na sua fraqueza, robusto no seu cansaço.

Mas uma pertinaz nebrina teima em ennevoar-lhe a visão; é de esperar porém que a medicina consiga debellar este incommodo e restituir o eminente romancista á sua banca do trabalho, que lá está saudosa no escriptorio de Seide, recordando a quem a vê que nem menos de cincoenta e dois romances foram escriptos ali.

Ao lado de Camillo, compartindo os seus soffrimentos com uma dedicação heroica, acompanhando-o com uma solicitude extremosa de carinhos, destaca o vulto esculptural d'essa intelligente e formosa senhora que tão bem soube comprehender a grande alma de Camillo nas sublimes melancolias dos seus dias nublados e nas vibrantes alegrias dos seus dias ridentes.

Jorge, o filho mais velho de Camillo, é um espirito dado a vagas tristezas; mas atravez de um véo de lagrimas, que ás vezes lhe marejam nos olhos e nas palavras, descobre-se um talento omnimodo, rico especialmente{19} de aptidões artisticas. Jorge é poeta, é prosador, é musico e desenhista. Eu devo-lhe a amabilidade de me ter offerecido muitos dos esboços que enchem a sua pasta; alguns d'elles teem subido valor, porque são o retrato a crayon dos personagens creados por seu pae no Eusebio Macario: o Fistula, o Barão do Rabaçal, o Abbade de S. Thiago de Faya, a Troncha, o proprio Eusebio.

Nuno, o viuvo, tem vinte annos: é o pae da innocente criança cuja prematura morte deixou aberto no coração do visconde de Correia Botelho o vácuo profundo da saudade.

Camillo fallara-me da sua querida netinha—a candida flôr que durara o que duram as rosas, apenas uma aurora.

—Aqui estou, dissera Camillo, na solidão da aldeia, rodeado de arvores melancolicas, e de pensamentos tão melancólicos como as arvores. É notavel, acrescentara, a febre de saudade com que o meu espirito vae, pelo passado dentro, á procura de pessoas que são já mortas, e com as quaes aliaz eu tive ligeiras relações litterarias ou pessoaes. É revolvendo memorias que o{20} meu espirito trabalha e descansa... Tudo isto faz profundamente triste esta casa, onde prematuramente se apagou o unico raio de sol que podia rarefazer as trevas.

É ainda ao periodico Alvorada que eu vou procurar estancias lacrimaveis do avô saudoso e angustiado. Duas quadras—tambem duas quadras—de uma belleza peregrina, que só a saudade de um anjo póde inspirar:

Parecia dormitar: tinha morrido.
Pedi que a não levassem no caixão;
Que a deixassem mirrar e desfazer-se
Como a flor se desfaz sem podridão.

Teimaram em levar-m'a, e eu cingi-a
Ao peito que se abriu pela pressão;
Depois pude escondel-a, e tenho-a morta
No meu despedaçado coração.

Aproveitei o ensejo de dizer-lhe:

—Para os que nunca deixaram de o lêr, e o sabem comprehender, meu bom amigo, não passa despercebido esse novo caudal de sentimento que dá aos seus escriptos mais recentes o encanto dolorido de uma saudade vaga e vaporosa como um subtil aroma que se derrama pelo ambiente da{21} memoria... Pois bem, aproveite esta nova phase do seu poderoso talento, as tintas deliciosas que uma copiosa revivescencia de sensibilidade põe n'este momento na sua palheta de artista, e escreva um romance de amor, sem preoccupações de enredo, ouvindo-se a si proprio; condense n'um livro, que deve sahir encantador, todas essas fragrancias que se perdem no silencio meditativo do seu espirito...

—Não posso, respondeu Camillo, não poderia arrancar sensações de mim proprio sem um esforço fatigante. Um trabalho d'essa ordem deixar-me-ia exhausto de forças. Eu sentia os meus romances, e foram muitos os que escrevi. Só d'aquella banca, que ali está, sahiram cincoenta e dois.

Conversavamos no escriptorio, que fica no segundo andar. É uma sala vasta, luminosa: tres ou quatro largas janellas abrem sobre a quinta.

N'este mesmo andar tem Camillo o seu quarto de cama. A ramagem da acacia do Jorge e a folhagem da trepadeira combinam-se para coar atravez de esmeraldas uma penumbra suave.

No primeiro andar ha duas salas: a do{22} bilhar em que se encontram retratos de familia; o retrato de Herculano, e o de D. Frei Bartholomeu dos Martyres, desenhado pelo Jorge;—e a casa de jantar, cujas janellas dão para o pateo, a que já tive occasião de me referir, sem comtudo pagar o meu feudo de gratidão, como devia, ao pecegueiro frondoso cujos bellos maracotões eu agradeci, ha annos, nas chronicas que por esse tempo escrevia para o Diario Illustrado.

Fica perto do predio, e á esquerda do portão de entrada, o monumento que a proprietaria d'esta agradavel vivenda ali mandara erigir em honra de Castilho. Essa singela pyramide de granito, sombreada de copadas arvores, tenho-a aqui reproduzida, diante de mim, tambem pelo lapis de Jorge.

Foi penetrado de commovido respeito que eu li a inscripção posta n'esse simples monumento, tão eloquente na sua simplicidade:{23}

 

ANTONIO
FELICIANO
DE
CASTILHO
PRINCIPE
DA LYRA
PORTUGUEZA
ESTEVE
N'ESTE LUGAR
EM 15 DE JULHO
DE 1866.
MANDOU ERIGIR
ANNA PLACIDO

E na face que fica voltada para o muro:

COM
OS SEUS
DISCIPULOS
THOMAZ RIBEIRO
EUGENIO
DE CASTILHO,
J. C. VIEIRA DE CASTRO,
C. C. BRANCO.

Castilho assistiu á inauguração do seu proprio monumento, e os filhos de Camillo,{24} então duas crianças, offereceram ao poeta venerando, em seu nome, a corôa poetica que para essa commovente festa de familia entretecera a lyra enthusiastica de Thomaz Ribeiro:

Por entre cantos e flores
chegaste, rei da poesia,
como um clarão d'alegria
jorrando em mansão d'amores.

Onde ha rei, ha sceptro e solio!
Rei, vimos trazer-te a c'rôa.
Tens maior côrte em Lisboa,
não tens melhor capitolio.

Somos de troncos robustos
os loiros, os tenros gomos.
Das flores surgirão pomos?
Se Deus regar os arbustos!

Porque és grande, hão de os vindoiros
dar-te a sagração dos hymnos;
porque és bom para os meninos,
toma esta c'rôa de loiros.

Nossa c'rôa e nossas flores
guarda em saudosa memoria;—
o monumento é da gloria;
a c'rôa é só dos amores.{25}

Vaes partir! leva-a comtigo,
e jura por teus carinhos
que, em nós já sendo homenzinhos,
serás nosso mestre e amigo.

Que de recordações melancolicas a inscripção do monumento e os versos de Thomaz Ribeiro fizeram accordar na minha alma!

Castilho, o poeta ali coroado n'aquella apotheóse tão modesta e tão gloriosa, vi-o eu descer ao seio da terra, que elle tanto amava—no seu pantheismo intuitivo de cego ariolo—ao cahir de uma tarde serena e triste, no cemiterio dos Prazeres, em Lisboa.

Rodrigues Cordeiro, com a voz entrecortada de lagrimas e soluços, dissera-lhe, em nome de todos aquelles que o amavam como mestre e amigo, o extremo adeus. Depois, a pedra do jazigo cerrou-se, a barreira da eternidade ergueu-se.

A noite descia lentamente.

As crianças das escolas da capital, que tinham ido acompanhar ao cemiterio o cadaver d'aquelle que para ellas inventara o Methodo repentino, d'aquelle que as ensinara a gorgeiar o alphabeto—porque Castilho{26} reconhecera que os pequenos precisam ser educados como se foram passaros—as crianças, dizia eu, tendo mais a intuição do que a consciencia da perda enorme que acabavam de soffrer, retiravam arregimentadas, duas a duas, em longas filas, com os olhos no chão, n'um silencio triste e n'um passo cadenciado.

Pouco tempo antes, e em mais de uma noite, eu acompanhara Castilho ao camarote n.º 19 do theatro de D. Maria durante as representações do Tartufo. Logo que o panno cahia, desciamos ao palco a passar os intervallos no camarim do actor Santos, que o visconde de Castilho muito apreciava. Castilho, um morto! Santos, um cego! Estas maguadas recordações travam-se no meu espirito como os élos de uma cadeia de saudades que o confrangem.

Eugenio de Castilho nunca o vi; está algemado ao leito ha muitos annos. Mas correspondi-me com elle por intermedio de seu pae, do Porto para Lisboa, quando emprehendeu publicar um jornalsinho litterario, que me parece ter-se chamado a Folha dos curiosos, e me pedia versos que eu lhe mandava, orgulhoso do pedido.{27}

Vieira do Castro, talvez o mais desgraçado de todos, conheci-o pela primeira vez no Porto, na sala da sociedade Patria e familia, durante um sarau litterario em que eu ousei, na sua presença, e na de todo um auditorio muito selecto, recitar um pequeno discurso que ahi corre impresso entre a minha insignificante bagagem de escriptor.

Elle habitava n'esse tempo o antigo mosteiro de Moreira, a dois passos do Porto, e publicava o opusculo A Republica. Era casado e feliz. Chamava-se-lhe então o primeiro orador portuguez, successor de José Estevam. Tinha sido deputado, creio mesmo que o era. Seria ministro de qualquer pasta no dia seguinte. E quando todos esperavam vel-o chegar aos conselhos da corôa, vimol-o partir para o degredo, depois de haver tropeçado no cadaver da esposa que assassinara.

O desgraçado assistira á sua propria queda, que fôra das mais estrondosas em que a curiosidade publica se tem cevado.

O meu thema, as Flores, era um pretexto para fallar do amor. Procurei provar, com mais imaginação do que sciencia, que{28} as flores se entendiam amorosamente como as almas. As senhoras applaudiam. Os homens sorriam. Vieira de Castro, sempre poeta, abraçara-me. E eu, no dia seguinte, dei uma pessima lição em botanica elementar ao professor Almeida Pinto, do lyceu.

Os filhos de Camillo foram homenzinhos, segundo a phrase de Thomaz Ribeiro. Hoje são homens. Mas Castilho já lhes não alcançára o penujar do buço. E se elle vivesse ainda, talvez que o melancolico Jorge, concentrado e sonhador, entendesse melhor do que ninguem, por os amigos silencios da lua, em S. Miguel de Seide, alguma trova do Amor e melancolia que o poeta Castilho viesse de Lisboa ali recitar n'aquellas sombras placidas que aprenderam a venerar o seu nome em torno do monumento singelo.

Thomaz Ribeiro, o eloquente interprete dos filhos de Camillo na aurea côrtesinha litteraria que Castilho encontrara em S. Miguel de Seide, é em 1885 como era 1866 um poeta cuja inspiração roça as azas pela lagoa sombria da politica sem afundar-se, do mesmo modo que as andorinhas, pelas{30} calmas da canicula, esvoaçam sobre a corrente de um rio sem mergulhar.

Logo que pôde desbragar-se de uma pasta, respira em verso. N'este momento está saboreando o goso da liberdade litteraria no seu periodico As Republicas, em que os relampagos da poesia rasgam luminosamente o horisonte caliginoso do artigo de fundo. Não contente de poetar elle proprio, apadrinhou o alvitre de abrir oiteiro semanal onde versejadores adventicios concorram a glosar trovas populares, como esta:

Vi-te sahir mar em fóra,
Ceguei, olhando esse mar,
Porque me disseste:—espera!
Se não tinhas de voltar?

E o mais é que, pelo prestigio da sua auctoridade, consegue tentar aquelles mesmos que, na milicia de Apollo, estão relegados a segunda reserva. Tentei-me eu, e sou d'esses. Mas já que este livrinho é de memorias para a velhice, fique mais esta guardada no archivo da saudade:{30}

    GLOSAS

(A THOMAZ RIBEIRO)

Vi-te sahir mar em fóra,
E a saudade que eu senti
Rasgou-me o peito n'ess'hora
Em que chorava por ti.
A ausencia tem tantas maguas,
Tão soffrida heroecidade,
Tanto resiste quem chora,
Que eu puz os olhos nas aguas
E, sem morrer de saudade,
Vi-te sahir mar em fóra.

Ceguei olhando esse mar
Pleito de ondas e de abrolhos.
Mas que importa a luz dos olhos,
Se não tenho a quem olhar?...
Tanto a vista me prenderam
As ondas que tu sulcavas,
Que os olhos escureceram
No rumo em que navegavas.
E assim por ti a chorar,
Ceguei olhando esse mar.

Porque me disseste: espera!
Na hora extrema, derradeira,
Se já veio a primavera,
Se já floriu a amendoeira,
E tu não voltaste ainda?!
Se este mal era sem cura,
Se tinha de ser infinda
A dôr que me dilacera,
A ausencia que me tortura,
Porque me disseste: espera?!{31}

Se não tinhas de voltar,
Melhor eu morresse alli;
Que mais valia acabar,
Que ter de viver sem ti.
Não ha força que resista
Á dôr que nunca descança.
Tivesse eu perdido a vista,
Mas não perdesse a esperança.
Bem feliz acabaria
Alli, á beira do mar,
Se soubesse o que seria,
Se não tinhas de voltar.

Ás quatro horas da tarde, a amabilissima auctora da Luz coada por ferros perguntava-me se eu, sacrificando os meus habitos lisbonenses, seria capaz de jantar áquella hora.

—Em Seide, respondera Camillo, janta-se sempre.

Fomos para a meza, em cujo plateau verdejavam as fructas mais escolhidas da quinta, e em cujo ambiente os acipipes succolentos de uma boa cosinha de provincia punham os aromas de um excellente jantar.

Camillo estivera silencioso durante alguns momentos. Mas eu procurara envolvel-o na conversação. Fallava-se dos seus romances. É difficil escolher o melhor entre os bons; mas eu pretendi negar a primasia do Romance de um homem rico, por{32} saber, desde muito tempo; que Camillo o prefere ao Amor de perdição. Todos nós desejavamos fazel-o interessar pelo assumpto. Foi pois em defeza do Amor de perdição que eu pugnei.

—O Amor de perdição, observara finalmente Camillo, tem lacunas que eu proprio reconheci, e não quiz preencher. Disse-o por essa occasião ao dr. Marcellino de Mattos. Mas o meu proposito foi não alterar a veracidade dos acontecimentos que se encadeavam na dramatica biographia de meu tio Simão Botelho. Escrevi sobre a tradição, respeitando-a como um evangelho de familia. No Romance de um homem rico tive um ponto de vista artistico, planeei e architectei, colori em vez de photographar. Eis aqui a razão da minha preferencia dada ao Romance de hum homem rico sobre o Amor de perdição.

Não me dispensei comtudo de recordar a profunda impressão que este ultimo romance produzira em todos os corações moços d'aquelle tempo ou nos que pelo amor rejuvenesciam. Desvelavam-se as noites na febre da leitura, e reliam-se as paginas mais sentimentaes nas horas de namorada{33} tristeza. Cada qual pedia para si a corôa de espinhos de Simão Botelho, de Thereza ou de Marianna, a auréola da poesia nas angustias do amor. Amar é soffrer. E aquelle livro fallava pelos que soffriam. Se a tua dôr te afflige, faze d'ella um poema, disse Goethe. Ora aquelle romance de Camillo era o poema em que se fundiam as dores de todas as almas excruciadas pelo amor; era o romance de tres, e o poema de todos.

No recolhimento das Orphãs, a S. Lazaro, uma das pobres meninas ali encarceradas entre as grades de ferro que nos ultimos annos foram sensatamente arrancadas, lia o Amor de perdição, a occultas da regente, entreabrindo a gaveta da sua cómmoda apenas o bastante para alcançar com a vista o espaço de uma pagina. Lia de pé, e fechava com sobresalto a gaveta quando sentia passos. O livro nunca foi surprehendido, mas as lagrimas que a leitura originava, muitas vezes o foram. A regente, D. Maria das Dores, via chorosos os olhos da menina, e perguntava-lhe porque chorava.

—É que estou triste, respondia a educanda.{34}

Mas as tristezas dava-lh'as a leitura fortuita do romance de Camillo.

Favorecia-me na apologia do Amor de perdição o voto auctorisado da intelligente e illustrada dona da casa, que depois nos recordou a belleza do romance O Esqueleto. Eu citei por minha vez A agulha em palheiro, e a Sereia, romance que tem para mim um valor especial, porque reune para a minha saudade os nomes de Camillo Castello Branco e José Gomes Monteiro. O primeiro capitulo é baseado sobre um artigo de Monteiro ácerca do antigo theatro lyrico do Porto, no Corpo da Guarda.

Accresce que o meu exemplar da Sereia tem uma historia curiosa. Na capa, sobre o titulo, ha uma pequena mancha de tinta, que tomou a forma caprichosa de um polygono estrellado. Um dia, sem que eu soubesse como, desappareceu-me da estante; foram baldados todos os esforços para encontral-o no meu escriptorio. Querendo preencher a falta da Sereia na collecção das obras de Camillo, resolvi-me a comprar um novo exemplar. Mas a suspeita de ter sido roubado, fazia com que eu relanceasse a vista por todos os romances portuguezes{34} que encontrava á venda nas lojas de livros em segunda mão.

Passaram mezes, e um dia, n'uma d'essas lojas, na rua Augusta, encontrei um exemplar da Sereia. Tirei-o da estante: era o meu! Na capa amarella, sobre o titulo, o polygono estrellado, o borrão! Perguntei quanto custava. Trezentos reis, respondeu o alfarrabista. Paguei sem discutir. Depois de ter pago, perguntei-lhe:

—Lembra-se de quem lhe vendeu este livro?

O alfarrabista quedou-se a evocar as suas recordações.

Mas devo suppôr que não poude lembrar-se.

Depois de jantar, viemos sentar-nos nos bancos do pateo. A tarde estava serena; as folhas das arvores immoveis. O visconde de Correia Botelho, fumando o seu charuto, conversava animado. Lembrei-lhe que fosse passar o inverno em Lisboa, entre os muitos amigos e admiradores que ali tem. O clima, menos rigoroso que o do norte, deve convir aos seus padecimentos. Camillo não repelliu o alvitre. Mas o projecto de viagem ficou para segunda leitura, quando{35} eu voltasse a Seide para despedir-me. Comprometti-me gostosamente a fazel-o, e espero cumprir.

A tarde declinava n'uma suavidade dormente. Os passaros cantavam no arvoredo da quinta, n'uma festa de lyrismo primitivo. Junto ao monumento de Castilho condensava-se uma sombra silenciosa, como se as aves não poisassem n'aquelle recinto senão para chorar o poeta que as cantara.

Eram horas de partir. Os meus amaveis hospedeiros, e os seus hospedes, vieram acompanhar-me ao portão da quinta. O visconde procurara apoio no meu braço, ao passo que a sr.ª D. Anna Placido colhia para mim algumas flores do seu jardim,—recordação inestimavel da minha visita a Seide.

Fóra do portão esperavam respeitosamente o Bernardo do João de Deus e a garrana. Ambos pareciam satisfeitos: elle porque trazia mais vinho verde no estomago, ella porque tinha menos moscas no pescoço. As moscas do Minho já eu disse que são formidaveis, porque lhes senti, por endosso da garrana, a dolorosa ferroada. O vinho verde de S. Miguel de{36} Seide é de se lhe tirar o chapeu, mesmo para que o chapeu não caia da cabeça caso a gente se tenha desmandado nas libações. É excellente e, por ser encorpado, deve trepar:—pelo menos, o Bernardo do João de Deus foi d'esta opinião.

Antes de montar, pedi a Camillo que se não risse da minha impericia de cavalleiro.

—Quem lhe dera essa garrana no Chiado! dissera jovialmente Camillo.

—Piedade! exclamei eu sobre o sellim.

A garrana, comprehendendo melhor as minhas intenções do que as minhas esporas, partiu.

Eu parti com ella, e o Bernardo do João de Deus na alheta de ambos.

Em Landim, na venda do José Maria, conversavam os mesmos quatro homens.

De algumas casas subia placidamente o fumo do lar accêso para a ceia. Em outras, ouvia-se fallar mulheres, chorar crianças. Alguma cabeça loira, sentindo os passos da garrana, vinha espreitar á janella.

Pouco adiante das Campas, dois bois corpulentos, largamente armados, pastavam em liberdade, com o ar de estarem já bem fartos de pascigo.{38}

Á medida que nos aproximavamos de Santo Thyrso, iamos encontrando os ranchos dos romeiros que voltavam do arraial da Trofa. A viola minhota, chuleira e folgasã, cadenciava a caminhada n'um andamento militar, como os rufos de um tambor regulam o passo largo e unisono dos soldados de um destacamento em marcha. O tocador, pendida a cabeça sobre o peito, sacudia a mão direita fortemente pelas cordas, n'um repenicado estridulo. O caminho de ferro de Bougado alliviara os romeiros da fadiga da jornada. Iam frescos como se tivessem bebido menos e descansado mais.

Que diriam os benedictinos de Santo Thyrso se podessem resuscitar, e, debruçados no muro da cêrca, vissem desenrolar-se por sobre o arvoredo fronteiro a pluma ondulante do fumo da locomotiva?!

Elles viveram ali entrincheirados entre a villa, que engrandeciam, e o rio, que os deliciava. De um lado, as moçoilas carnudas e carnaes; do outro, os rouxinoes devaneiadores da beira d'agua. De portas a dentro, a cosinha e o coro. Tudo aquillo{39} era d'elles, os frades, senhores suzeranos das localidades que povoavam,—directa e indirectamente. O caminho de ferro é um invasor audacioso, que passa esmagando e rompendo. Os frades, se agora podessem ouvir-lhe o silvo triumphal, gritariam á d'el-rei contra o progresso, apitariam contra a machina a vapor.

No relogio dos destinos humanos ha uma hora providencialmente marcada para tudo o que principia e acaba. De modo que, por uma sabia organisação superior á nossa intelligencia, tudo principia e acaba quando deve principiar e acabar. Ao frade que comboyava as almas para o ceu, succedeu opportunamente a locomotora que passa comboyando passageiros para Guimarães. Deus é grande!

Era noite fechada quando entrei em Santo Thyrso. Valeu-me a escuridão ao desprimor da gineta. Não havia espectadores, e a garrana alargava o passo, contente de se vêr perto de casa. Apeei, entregando a chibata ao Bernardo do João de Deus, que me perguntou:

—E que tal, a garrana? Não dizia eu que era segura?{40}

—Mais seguro do que isto, respondi, só o Banco de Portugal.

Elle não entendeu; por isso, riu.

E eu recolhi-me com as gratas recordações d'esse dia agradabilissimo que passei na quinta de S. Miguel de Seide, sob o tecto hospitaleiro do primeiro romancista portuguez, entre pessoas queridas, e memorias saudosas de que tanto haviamos fallado.

Santo Thyrso, 21 de agosto de 1885.

 

Alberto Pimentel.

 

 

 

 

LIVRARIA PORTUENSE E PAPELARIA

DE

LOPES & C.ª SUCCESSORES DE CLAVEL & C.ª

EDITORES

119—RUA DO ALMADA—123

PORTO


Alberto Pimentel

(NO PRELO)

Senhor D. Miguel I—a sua vida e o seu tempo.

Rainha sem reino—estudo historico do seculo XV.

Idylios dos reis—poema.

Julio Lourenço Pinto

Esthetica naturalista—estudos criticos, 1 volume nitidamente impresso em magnifico papel, 700 réis.


Ernesto Pinto d'Almeida

O Sonho de Camões—poema posthumo, edição de luxo. Não desmentindo em nada a gloria e o merecimento litterario do fallecido poeta portuense Ernesto Pinto d'Almeida, antes vem agora este poema dar-nos uma medida maior do seu estro poetico, 1 volume nitidamente impresso, 300 réis.


Narciso José de Moraes

Manual de citações camoneanas—indicador utilissimo dos melhores conceitos e aphorismos do sublime cantor, Luiz de Camões, indispensavel ao estudante e ao novel escriptor portuguez, 1 volume, 200 réis.


Alberto Correia

Trémulos—um livro de primorosos versos, com o retrato do auctor, edição de luxo, 1 volume brochado, 500 réis. (Envia-se franco de porte pelo correio).


J. Leite de Vasconcellos

Balladas do Occidente—um volume brochado, 500 réis.


Preço... 200 réis

 

 


***END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK UMA VISITA AO PRIMEIRO ROMANCISTA PORTUGUEZ EM S. MIGUEL DE SEIDE***

******* This file should be named 35130-h.txt or 35130-h.zip *******

This and all associated files of various formats will be found in:
http://www.gutenberg.org/3/5/1/3/35130

Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you do not charge anything for copies of this eBook, complying with the rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation of derivative works, reports, performances and research. They may be modified and printed and given away--you may do practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is subject to the trademark license, especially commercial redistribution.

*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
http://www.gutenberg.org/license).


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS,' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at http://www.gutenberg.org/fundraising/pglaf.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
business@pglaf.org.  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at http://www.gutenberg.org/about/contact

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org

Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit http://www.gutenberg.org/fundraising/pglaf

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations.
To donate, please visit: http://www.gutenberg.org/fundraising/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.

Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.

Each eBook is in a subdirectory of the same number as the eBook's
eBook number, often in several formats including plain vanilla ASCII,
compressed (zipped), HTML and others.

Corrected EDITIONS of our eBooks replace the old file and take over
the old filename and etext number.  The replaced older file is renamed.
VERSIONS based on separate sources are treated as new eBooks receiving
new filenames and etext numbers.

Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

http://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.

EBooks posted prior to November 2003, with eBook numbers BELOW #10000,
are filed in directories based on their release date.  If you want to
download any of these eBooks directly, rather than using the regular
search system you may utilize the following addresses and just
download by the etext year.

http://www.gutenberg.org/dirs/etext06/

    (Or /etext 05, 04, 03, 02, 01, 00, 99,
     98, 97, 96, 95, 94, 93, 92, 92, 91 or 90)

EBooks posted since November 2003, with etext numbers OVER #10000, are
filed in a different way.  The year of a release date is no longer part
of the directory path.  The path is based on the etext number (which is
identical to the filename).  The path to the file is made up of single
digits corresponding to all but the last digit in the filename.  For
example an eBook of filename 10234 would be found at:

http://www.gutenberg.org/dirs/1/0/2/3/10234

or filename 24689 would be found at:
http://www.gutenberg.org/dirs/2/4/6/8/24689

An alternative method of locating eBooks:
http://www.gutenberg.org/dirs/GUTINDEX.ALL

*** END: FULL LICENSE ***