The Project Gutenberg EBook of Historia Antiga, by Unknown

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Title: Historia Antiga

Author: Unknown

Release Date: July 28, 2009 [EBook #29529]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

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Produced by M. Silva





{1}

PROPAGANDA DE INSTRUCÇÃO
PARA
Portuguezes e Brazileiros

 

BIBLIOTHECA DO POVO

E DAS ESCOLAS

HISTORIA ANTIGA

CADA VOLUME 50 RÉIS

TERCEIRO ANNO—OITAVA SERIE

Cada volume abrange 64 paginas, de composição cheia, edição estereotypada,—e fórma um tratado elementar completo n'algum ramo de sciencias, artes ou industrias, um florilegio litterario, ou um aggregado de conhecimentos uteis e indispensaveis, expostos por fórma succinta e concisa, mas clara, despretensiosa, popular, ao alcance de todas as intelligencias.

LISBOA
SECÇÃO EDITORIAL DA COMPANHIA NACIONAL EDITORA
Adm. Justino Guedes
Largo do Conde Barão, 50
Agencias: PORTO—Largo dos Loyos, 47,1.º
RIO DE JANEIRO—R. da Quitanda, 38
1900
NUMERO 58{2}

 

INDICE

 

ERRATAS IMPORTANTES
Pag. Linha Onde se lê Leia-se
11 36 elementos alimentos
12 18 Amvrão Amrão
» 27 Egypto Egypto, por meio
14 26 peccado, peccado,—
» 42 altar, um altar
» 44 estão estavam
15 38 incluindo incluido
22 6 de que do que
33 19 moisaica moysayca
52 31 tomam tomaram
53 6 impervas impervias
57 33 notas novas
58 17 seis reis

{3}

 

HISTORIA ANTIGA

 

INTRODUCÇÃO

LIMITES DA HISTORIA ANTIGA—SUA DIVISÃO—TEMPOS PRE-HISTORICOS—O HOMEM PRE-HISTORICO—EDADE DE PEDRA—EDADE DE BRONZE—RAÇAS HISTORICAS OU PRIMITIVAS—OS POVOS DA ANTIGUIDADE

 

Conforme ao que dissémos no tratadinho de Historia Universal (vol. XLVI da Bibliotheca do Povo e das Escolas), começa a Historia Antiga desde as mais remotas epochas de que possa haver-se conhecimento e prolonga-se até ao seculo V da era christan.

N'ella se comprehende a epocha da phase brilhante dos povos orientaes, a qual mais tarde esmoreceu perante a supremacia que vieram a adquirir as civilizações classicas—primeiro a grega e depois a romana—na Europa, comparativamente com os poderosos e vastos imperios da Asia e do norte da Africa. O longo periodo da Historia Antiga fecha com o desmoronamento do imperio romano.

A Historia Antiga pode dividir-se em tres periodos, cada um dos quaes se divide por sua vez em epochas principaes.

Os tres periodos são;—o dos tempos primitivos;—o dos tempos mythologicos;—e o dos tempos historicos.

O primeiro periodo comprehende duas epochas principaes: a da origem do homem, e a do diluvio e da dispersão dos homens, segundo a tradição biblica.

No segundo periodo notam-se tres epochas principaes que são:—a dos tempos idolatras, caracterizada pela fundação dos imperios da China, da Asia, do Egypto, e da Grecia, e pela{4} tendencia que os povos tinham a elevar á categoria de deuses os seus primeiros soberanos;—a dos tempos heroicos, em que appareceram grandes conquistadores, fundadores de cidades, e outros homens notaveis, que os povos, então já mais adeantados, se limitaram a considerar na categoria de heroes ou semi-deuses;—a dos tempos poeticos, ou epocha em que os prophetas e os poetas exerceram uma acção efficaz sobre o progresso da civilização, e deram a fórma poetica ás tradições e á legislação.

No periodo dos tempos historicos (aquelle de que possuimos noções mais seguras e mais positivas) são seis as epochas principaes, a saber:—a epocha legislativa, em que sobresaem quatro personagens mais notaveis: Lycurgo, Numa, Solon e Confucio;—a epocha da grande gloria da Grecia, na qual esta nação teve a supremacia da civilização na Europa, então começada a aproveitar pela expansão progressiva do Oriente;—a das conquistas dos Romanos, que se substituiram aos Gregos na dominação e na influencia, e alargaram consideravelmente a colonização até ao occidente da Europa;—a das dissenções intestinas da republica romana;—a do grande explendor do imperio romano;—a da decadencia do mesmo imperio, cujo desmoronamento põe termo á Historia Antiga, e abre com a invasão dos Barbaros do norte o periodo da Historia da Edade-Média.

Reina ainda bastante incerteza na sciencia da Historia ácêrca da verdadeira epocha do apparecimento do homem sobre a superficie da Terra. Por muito tempo foi geralmente acceito que, se tal epocha não era exactamente contemporanea das mais antigas civilizações orientaes de que temos noticia, pelo menos não era anterior ao actual periodo geologico, e que o homem sómente havia apparecido pela primeira vez n'um periodo relativamente recente e já contemporaneo da fauna e da flóra actuaes, cêrca do logar em que as tradições de differentes povos fazem demorar o berço da especie humana.

Os descobrimentos da Geologia, sciencia moderna mas já abundante em resultados definidos, têem, porêm, tirado o valor áquella noção e demonstram ser mais antiga a existencia do homem na superficie da Terra. Com os elementos que aquella sciencia lhe fornece, a Archeologia Pre-historica, de creação muito recente mas de rapidos progressos, tem chegado a adquirir o conhecimento de que o homem existia desde uma epocha muitos milhares de annos anterior á actual, tendo até chegado a ganhar n'essas remotissimas edades um certo gráu de{5} cultura, traduzido no exercicio de industria, de commercio, e ainda n'outras manifestações de actividade.

A existencia do homem primitivo, ou do homem pre-historico, ou de raças humanas de que pela Historia propriamente dita não temos conhecimento algum, é-nos revelada pelo descobrimento de instrumentos de pedra (utensilios mais ou menos grosseiramente fabricados com aquelle mineral, e affeiçoados a differentes usos) e pelo de fragmentos de peças de loiça, de armas e de differentes outros utensilios de uso domestico,—tudo em camadas de formação anterior ao actual periodo geologico.

Estes vestigios evidentes do homem pre-historico incontram-se nas excavações feitas nas camadas de terreno correspondentes ao periodo que a Geologia denomina quaternario, periodo que é o immediatamente anterior ao actual. Mais recentes descobrimentos, porêm, parecem provar que a existencia do homem é ainda anterior áquelle periodo. Excavações feitas em terrenos do periodo terciario tendem effectivamente a revelar a existencia do homem durante a formação dos mesmos terrenos. É no terreno denominado mioceno que se incontram os vestigios que levam a essa conclusão, e d'ahi provêm o nome de homem mioceno ou homem terciario ao homem que se julga ter existido no referido periodo geologico[1].

[1] Veja-se o livrinho de Geologia (vol. XXXI da Bibliotheca do Povo e das Escolas).

Não acceitam ainda todos os archeologos a existencia do homem terciario; mas a opinião que a defende vai cada dia ganhando mais terreno. O congresso de Anthropologia e de Archeologia pre-historica, que em 1880 se reuniu em Lisboa, tratou essa questão e contribuiu muito para a sua resolução definitiva, sendo importantes os dados que para isso forneceram as excavações feitas no nosso paiz e os achados n'ellas realizados pelo eminente geologo portuguez Carlos Ribeiro, ha pouco fallecido.

A Archeologia Pre-historica divide o periodo quaternario, sob o ponto-de-vista da existencia de vestigios da especie humana, em duas epochas:—a edade paleolithica, ou da pedra lascada;—e a edade neolithica, ou da pedra polida. A substancia de que são fabricados os instrumentos achados, e a perfeição relativa do seu fabrico, são os fundamentos que fornecem os caracteres distinctivos das duas edades.

Á edade paleolithica pertencem armas e instrumentos de silex, principalmente machados, talhados toscamente pela separação{6} de lascas tiradas pela percussão. Estes instrumentos tinham evidentemente por fim o cortar, e alguns, de pontas mais aguçadas, o de furar. Alguns ha, com fórma similhante á das raspadeiras, que deviam servir para preparar as pelles de animaes, com que se vestiam os primeiros homens. Os vestigios correspondentes a esta epocha pre-historica fazem crer que o modo de viver da especie humana foi então de extrema simplicidade, que eram desconhecidos os animaes domesticos e a agricultura, que os homens vagueavam pelas florestas virgens, alimentando-se com os fructos silvestres e com o producto da caça, e abrigando-se nas cavernas naturaes, cuja posse ás vezes se viam obrigados a disputar aos animaes ferozes. A alimentação dos que viviam á beira do mar ou dos lagos consistia em peixe e marisco. O estado social devia ser o mais rudimentar possivel; apenas se pode considerar n'aquella epocha esboçado o viver da familia. Aquelle modo de viver era por certo ainda mais simples e primitivo do que o dos actuaes selvagens da Nova Caledonia.

Um pouco mais perfeito foi de certo o viver na edade neolithica. As armas e os utensilios d'aquella epocha são distinctos dos da edade paleolithica por certas particularidades de fórma e pela maior perfeição do trabalho, a qual já denuncia um mais adeantado estado de educação, havendo entre os fragmentos de loiça e entre os objectos de ornato incontrados alguns que revelam uma certa industria, ainda rudimentar, mas já com algum desinvolvimento. Julga-se que n'estas epochas se practicou já o commercio, por se encontrarem n'algumas localidades substancias que eram produzidas em sitios distantes, assim como vestigios da existencia de officinas levam a crer que effectivamente a industria se delineava já com feições pronunciadas.

Aos ultimos tempos da edade neolithica pertencem os chamados kjoeckkenmoeddinger («restos de cozinha»), que são grandes aglomerações de conchas de differentes mariscos, misturadas com carvão, incontradas nas costas da Dinamarca, e tambem mais recentemente no valle do Tejo, junto a Mugem, pelo já citado geologo Carlos Ribeiro. Pertencem tambem á mesma epocha as palafittas, ou povoações lacustres, achadas pela primeira vez no lago de Zurich em 1853, e que consistem em reuniões de cabanas junto das margens dos lagos, construidas sobre base de estacaria mergulhada na agua. Nas palafittas incontram-se notaveis vestigios, que provam o relativo adeantamento da especie humana n'aquelles tempos. É assim que a existencia de cereaes demonstra que já havia{7} agricultura; a de tecidos, que a industria se tinha adeantado; a de fragmentos de animaes domesticos, um viver social em via de progresso.

A existencia de utensilios de metal nas palafittas indica que a epocha d'estas se prende chronologicamente ao começo dos tempos historicos, ou pelo menos ao periodo que precedeu a aurora das mais antigas civilizações do Oriente. Começa n'esse ponto a edade de bronze, ou aquella em que as armas e os diversos utensilios, até então construidos exclusivamente de pedra, começam a ser substituidos por outros fabricados de bronze.

A edade de bronze variou muito em duração nos diversos paizes da Europa, sendo n'alguns povos uma epocha inteiramente historica, e pertencendo, pelo que respeita a outros, á Archeologia Pre-historica. No seu todo deve considerar-se como um periodo de transição entre os tempos pre-historicos e os tempos historicos.

Os povos que figuram na Historia da Antiguidade provêm de uma das tres raças semitica, chamitica e japhetida (mais geralmente denominada aryana ou indo-européa), as quaes por isso se dizem raças historicas. A existencia d'estes tres troncos primitivos é revelada pela tradição biblica e confirmada pelas modernas investigações ethnographicas. Quando, decorrido longo periodo depois da creação do homem, Deus, offendido pelos vicios que haviam lavrado em toda a especia humana, resolveu castigál-a com o diluvio, apenas quiz que escapasse Noé, que era justo, com sua familia. Terminado aquelle cataclismo, só os tres filhos d'elle ficaram incumbidos de povoar o mundo, e cada um d'elles—Sem, Cham e Japhet—indo estabelecer-se em pontos differentes deu origem a uma raça. Sem ficou na Asia e foi o pai da raça semitica; Cham passou á Africa e originou a raça chamitica; e finalmente Japhet, estabelecendo-se no oriente da Europa, deu origem á raça japhetida, ou aryana, ou indo-europêa, assim denominada, porque na sua expansão ulterior se estendeu até ás Indias.

A raça semitica—(ou os semitas)—apparece-nos, no decorrer da Historia Antiga, povoando um vasto territorio cingido de um lado peia alta Mesopotamia e pela parte meridional da Arabia, e do outro pelas costas do Mediterraneo e pelo rio Tigre. Eram d'esta raça os habitantes do imperio da Assyria e de parte da Babylonia, os Hebreus, os Lydios e parte das populações da Syria. Presentemente esta raça está representada pelos Judeus e pelos Arabes. A sua importancia historica{8} deriva principalmente das religiões que n'ella tiveram origem e do desinvolvimento a que estas chegaram. N'ella nasceram a antiga religião moysaica, o christianismo e o mahometanismo. Na Edade-Média um ramo d'esta raça—os Arabes—, invadindo a Europa, trouxeram-lhe grande copia da sciencia grega, contribuindo assim para a civilização d'esta parte do mundo.

A raça chamitica—(ou os chamitas)—povoou na Antiguidade a Ethiopia, o Egypto e a Nubia, e incorporou-se tambem na população de Babylonia e da Arabia meridional. Na actualidade está representada pelos fellahs do Egypto, pelos habitantes da Nubia, pelos abexins e pelos tuaregs.

A raça aryana—os aryas, os indo-europeus—foi representada na Antiguidade pelos Indus, Persas, Romanos e Gregos; e actualmente está-o sendo pelos descendentes d'estes povos e pelos Germanos e Slavos. Os povos indo-europeus são os mais importantes sob o ponto-de-vista historico; extendem hoje o seu habitat desde o norte da Europa até ás margens do Ganges; é no meio d'elles que se passa o grande movimento do progresso social, e a sua expansão colonizadora extende-se até aos confins do Novo Mundo, para onde têem transplantado as maravilhas do progresso e os mais perfeitos methodos de cultura intellectual.

Ha nas tres raças historicas de que temos falado um grande numero de variedades, devidas, não só a cruzamentos, mas tambem a modificações filhas da differente acção dos climas e da diversa influencia do meio.

O estudo d'essas differentes variedades leva a uma classificação differente da que sob o ponto-de-vista historico fizemos, e baseada em caracteres anatomicos que são do dominio da Anthropologia.

Os principaes povos que figuram na Historia da Antiguidade são: os Hebreus, os Egypcios, os Assyrios e Babylonyos, os Phenicios, os Carthaginezes, os Syrios, os Persas, os Indios, os Chins, os Gregos e os Romanos. De cada um d'elles trataremos em capitulo especial.{9}

 

CAPITULO I
OS HEBREUS

A historia dos Hebreus confunde-se no seu principio com as mais antigas tradições da primitiva edade historica do homem. A mais antiga fonte em que ella se estuda é o Genesis, no qual se acham compendiadas as tradições da creação do homem e da primitiva dispersão das raças historicas, em que primeiro se dividiu a familia humana.

Segundo o Genesis, Deus, depois de ter creado o mundo, separado a terra dos mares, e povoado aquella de plantas e de animaes, creou o primeiro homem, que teve o nome de Adão, e creou-lhe logo depois para companheira a primeira mulher, que se chamou Eva. D'este primeiro par nasceram tres filhos: Caim, Abel e Seth. O primeiro, que se deu á cultura dos campos, matou por ciumes a seu irmão Abel, expatriando-se em seguida e indo fundar a cidade de Henochia, que tomou tal nome do primeiro filho (Henoch) do seu fundador. Abel exercêra o mister de pastor. Seth, o terceiro filho de Adão, teve numerosa descendencia, na qual se tornou notavel Noé, pelas circumstancias que vamos referir.

Em tal devassidão haviam cahido os homens, que Deus, como que arrependido de os haver creado, resolveu exterminál-os; mas, como Noé e sua familia conservavam vida virtuosa, no meio do viver vicioso do resto da humanidade, determinou tambem Deus fazer excepção a respeito d'elles. Mandou por isso a Noé que construisse uma arca, na qual se mettesse com a sua familia e com um certo numero de animaes de todas as especies; e, feito isso, mandou á terra o diluvio, que tudo alagou e em que pereceram todos os homens e animaes, excepto os que se continham na arca, a qual fluctuava na superficie da agua.

Terminado o diluvio, que durou quarenta dias, e tendo baixado as aguas e descoberto de novo a superficie da terra, poisou por fim a arca sobre o monte Ararat, na Armenia. Sahiu d'ella Noé, com sua familia e com os differentes animaes, e começou a cultivar a terra. Foi elle o primeiro que cultivou a vinha, fabricou vinho e com este se embriagou.

Falavam a principio todos os homens a mesma linguagem; mas o seguinte acontecimento deu origem a que entre elles{10} se multiplicassem as linguas. Tendo-se estabelecido e havendo alargado a sua occupação nas planicies de Sennaar, entre o Tigre e o Euphrates, tornaram-se orgulhosos do seu valor e poder, e conceberam o plano de construir uma torre, que chegasse ao céu. Começaram a pôr em practica o seu temerario intento; mas Deus, para castigar tamanha ousadia, confundiu-lhes as linguagens, por fórma que elles, deixando de comprehender-se uns aos outros, tiveram que abandonar a obra e que dispersar-se. A torre ficou, pois, por construir-se e denominou-se Babel, vocabulo que quer dizer: confusão. Foi aquella dispersão que deu origem á separação das tres raças, semitica, chamitica o japhetida, dos nomes dos tres filhos de Noé—Sem, Cham e Japhet.

Pouco a pouco se extinguíra na memoria dos homens a sua historia primitiva e as licções e preceitos que n'essa historia se continham. Resolveu por isso o Senhor escolher entre os descendentes de Sem uma familia, que houvesse de ser a guarda e a depositaria das antigas crenças e tradições. Essa familia foi a de Tharé, originaria de Ur (na Chaldéa), e que, por causa da falta de pastagens para os gados, havia ido estabelecer-se na cidade de Haran (na Mesopotamia). Foi alli que Deus revelou a Abrahão, filho do dito Tharé, a missão divina que lhe destinára e como resolvêra constituil-o chefe da raça predestinada ou do povo escolhido. Por mandado do Senhor fez Abrahão varias peregrinações. O Senhor abençoou-o, prometteu-lhe grande descendencia e disse-lhe que teria de sua mulher Sára, até então esteril, um filho,—o que se realizou com o nascimento de Isaac.

Deus, para experimentar a fé e a obediencia de Abrahão, ordenou-lhe que lhe sacrificasse seu filho Isaac, ao que elle sem repugnancia se promptificou, afastando-se para consummar tal sacrificio. Quando ía a descarregar o golpe, Deus lh'o impediu, detendo-lhe o braço e dando-se por satisfeito com aquella prova de obediencia.

Isaac teve dois filhos, que foram Esaú e Jacob. Este ultimo, comquanto mais novo, foi o que recebeu a benção do pae, que estava cego, e que foi inganado, julgando que abençoava Esaú. Áquella benção, obtida subrepticiamente, por conselhos e industria de sua mãe, Rebecca, e á qual estava annexo o cumprimento das promessas que Deus fizera a Abrahão, deveu Jacob o herdar o patriarchado do povo hebreu. Temendo, porêm, a vingança de Esaú, ausentou-se para a Mesopotamia, onde, depois de servir por muitos annos a seu tio Labão, casou com as duas filhas d'este, Lia e Rachel.{11}

Teve Jacob doze filhos, que são os doze patiarchas, cabeças e origens das doze tribus do povo de Israel, nome que tambem teve o mesmo Jacob. Esses patriarchas foram:—o 1.º, Ruben; o 2.º, Simeão; o 3.º, Levi (cujos descendentes foram destinados ao sacerdocio e a serem ministros do templo de Deus); o 4.º, Judá; o 5.º, Dan; o 6.º, Nephtali; o 7.º Gad; o 8.º, Azer; o 9.º, Isachar; o 10.º, Zabulon; o 11.º José; o 12.º, Benjamin.

Os mais velhos de entre elles começaram a ter inveja a José, por verem que era o mais estimado de Jacob, e porfim intentaram matál-o, lançando-o n'uma cisterna; mas, mudando de resolução, venderam-n'o como escravo a uns madianitas, que o levaram para o Egypto, onde foi comprado por Putiphar, creado de Pharaó, rei d'aquella nação. Serviu José a Putiphar com tanta fidelidade, que não se prestou a um crime para que o provocava a esposa do mesmo Putiphar. Esta, para d'elle se vingar, accusou-o aleivosamente de falso crime e por esse motivo foi elle mettido n'um carcere. Alli Deus revelou-lhe a significação mysteriosa de uns sonhos que haviam tido dois dos seus companheiros de captiveiro. Um d'estes, como Pharaó tivesse um sonho em que viu septe vaccas magras e septe espigas delgadas, que devoravam septe vaccas gordas e septe espigas fartas, indicou-o ao rei, como capaz de lhe interpretar o sonho. José explicou com effeito ao rei o sentido d'aquella visão. Surprehendido e maravilhado Pharaó com a sabedoria d'elle, elegeu-o para seu ministro, e deu-lhe grandes honras e distinções. José casou com a filha de um sacerdote de Heliopolis, da qual lhe nasceram seus dois filhos Manassés e Ephraim. Como ministro, e gozando toda a confiança do rei, organizou a arrecadação dos cereaes, de modo que, quando chegaram os septe annos de fome, symbolizados nas septe vaccas magras e nas septe espigas delgadas do sonho, o Egypto estava provido contra a escassez e ainda poude efficazmente soccorrer as povoações proximas, nas quaes se não tinham adoptado eguaes providencias.

A escassez de alimentos, que tambem se sentiu em Chanaan, terra onde com sua familia habitava Jacob, obrigou este a mandar ao Egypto seus filhos, a comprar trigo. Soube da chegada d'elles José e, sem se lhes revelar como seu irmão, obrigou-os a declarar quem eram e a deixarem em poder d'elle, em refem, a Simeão, emquanto iam a Chanaan a buscar-lhe Benjamin, o irmão mais novo.

Obrigados a voltarem ao Egypto, por causa da fome que continuava, conseguiram que Jacob, apesar da sua repugnancia,{12} deixasse ir Benjamin; e então José, dando-se a conhecer aos irmãos, entre lagrimas de alegria, mandou-lhes que voltassem a Chanaan, a buscar Jacob e toda a familia. Assim aconteceu, indo toda a familia de Jacob estabelecer-se no Egypto. Alli viveu ainda Jacob 17 annos, vindo a finar-se na edade de 147, depois de abençoar seus filhos, com bençãos mysteriosas e propheticas, vaticinando que na descendencia de seu filho Judá estaria o imperio e o governo do povo, até vir ao mundo o Messias, que havia de remir o peccado de Adão. Fallecido Jacob, ficaram residindo no Egypto seus filhos, nas terras que, em attenção a José, lhes havia dado o Pharaó, e nas quaes tiveram numerosa descendencia.

Permaneceram os Israelitas ou Hebreus no Egypto por espaço de 217 annos. No decurso d'estes, os Egypcios, desconfiando d'elles, opprimiam-n'os cruelmente, obrigando-os a trabalhos duros, e o rei mandava matar-lhes todos os filhos recem-nascidos do sexo masculino, os quaes eram lançados ao Nilo. Nascendo Moysés, filho de Amrão e de Jocabed, esta conseguiu occultál-o por espaço de tres mezes; mas, não o podendo conservar escondido por mais tempo, lançou-o áquelle rio, dentro de um cesto. Estando a filha do rei a banhar-se no rio, viu a creança, salvou-a e deu-lhe o nome de Moysés, que quer dizer: «salvo das aguas». Depois levou-o para a côrte, onde foi creado e passou a mocidade.

Deus, condoido de quanto os Hebreus soffriam entre os Egypcios, resolveu livrál-os da oppressão, fazendo-os sahir do Egypto, por meio de assombrosos milagres. Foram esses prodigios obrados por intermedio de Moysés e de seu irmão Arão, apparecendo primeiro Deus a Moysés no monte Horeb, e mandando-lhe que fosse á presença de Pharaó, a pedir-lhe que deixasse sahir do Egypto o povo de Israel. O rei, bem longe de acceder ao pedido, antes redobrou a perseguição.

Então começaram os milagres. Indo Moysés e Arão á presença de Pharaó, para lhe mostrarem como era vontade de Deus o que lhe pediam, lançou Arão na terra uma vara que levava na mão, e a vara logo se converteu em serpente. Quiseram os magos imitar a transformação, convertendo tambem outras varas em serpentes; mas a serpente em que se tornára a vara de Arão devorou todas as outras. Continuou, apezar de tudo, a obstinação de Pharaó; e Deus, para mais claro aviso e para castigo, mandou ao Egypto as dez pragas, que assolaram todo o paiz.

Essas pragas foram as seguintes: a primeira consistiu em se converter em sangue a agua dos rios e das fontes do Egypto,{13} morrendo todos os peixes; a segunda, n'uma innumeravel multidão de rans que intravam por todas as casas; a terceira, n'uma quantidade enormissima de mosquitos e de outros insectos, que tornavam a vida insupportavel; a quarta, n'uma abundancia de moscas, que perseguiam atrozmente homens e animaes; a quinta foi uma peste que matou um numero enorme de pessoas e fez tambem grande devastação nos animaes; a sexta foi uma epidemia de chagas hediondas e repugnantes, que appareciam nos corpos dos Egypcios e dos animaes; a septima, uma grande chuva de pedra, acompanhada de terrivel trovoada, ficando destruidas por ellas as arvores, plantações, sementeiras e pastos; a oitava foi o apparecimento de uma nuvem de gafanhotos, que tambem produziram incalculavel estrago nos campos; a nona manifestou-se por umas trevas muito espessas, que por tres dias escureceram o Egypto, excepto a terra de Gessen (logar em que habitavam os Hebreus, aos quaes não chegou nenhuma das pragas); a decima consistiu na morte de todos os primogenitos egypcios, desde o filho de Pharaó até ao do escravo mais humilde, e tambem na de todos os primogenitos dos animaes.

Movido finalmente Pharaó pela decima praga, consentiu que os Hebreus sahissem do Egypto. Na noite do dia 14 do mez de Nisan, que corresponde ao de março, sahiram, pois, os descendentes de Jacob da terra dos Pharaós, em tão grande numero, que só homens armados e capazes de pelejar eram mais de 600:000. Guiava-os um anjo por meio de uma columna, que de dia era formada como que de uma nuvem, e de noite era de fogo. Esta columna precedia os Hebreus e indicava-lhes o caminho atravez do deserto. Caminhavam por este, quando Pharaó, de novo indurecido, se arrependeu da concessão que fizera, mandou armar todos os seus carros bellicos e sahiu com um numeroso exercito, a perseguir e captivar outra vez o povo de Israel, que ia já perto do Mar Vermelho. Vendo-se de novo perseguidos pelos Egypcios, os Israelitas começaram a murmurar contra Moysés, por havel-os mettido n'aquelle perigo; mas este exhortou-os a que tivessem Esperança em Deus e, extendendo uma vara, que levava na mão, sobre o Mar Vermelho, as aguas dividiram-se para um e outro lado, deixando no meio um caminho enxuto, pelo qual passaram a salvo os Israelitas. Chegando os Egypcios e vendo as aguas divididas, intraram no mesmo caminho para os perseguirem; mas, estando já todos n'elle, Moysés levantou outra vez a vara sobre o mar e as aguas voltaram á sua posição natural, ficando submerso todo o exercito de Pharaó.{14}

Em memoria da sahida do Egypto, mandou Deus aos Hebreus que celebrassem perpetuamente a Paschoa, matando todos os annos e comendo com certas ceremonias um cordeiro.

Passado o Mar Vermelho, fôram elles caminhando por diversos logares até ao deserto,—onde começou o Milagre do maná. Era este um manjar delicioso que cahiu do céu durante quarenta annos, emquanto os Israelitas peregrinaram no deserto até intrarem na terra da promissão. Com elle se alimentavam, colhendo cada um diariamente uma certa medida, por fórma que, se queria guardar alguma porção para o dia seguinte, logo o manjar se corrompia. A peregrinação pelo deserto durou tanto tempo, porque assim o determinou Deus, em castigo das murmurações e falta de fé dos Israelitas á sahida do Egypto, fazendo-os retrogradar para o deserto, quando estavam já perto da terra da promissão.

Appareceu Deus a Moysés sobre o monte Sinai, e entre raios lhe deu as taboas da lei, em que estavam escriptos os dez preceitos do decalogo, e dictou-lhe as outras leis e ceremonias que queria que fossem usadas pelo seu povo. Emquanto Moysés estava sobre o Sinai—que foi por quarenta dias e quarenta noites—pediram os Israelitas a Arão que lhes fizesse um deus que adorassem e que os governasse. Annuiu elle ao pedido e fabricou um bezerro de oiro, que puzeram n'um altar e adoraram, e ao qual offereceram sacrificios. Quando Moysés desceu do monte e teve noticia d'este acto de idolatria, depois de orar ao Senhor—em desaggravo de tão grande peccado,—em signal de indignação, quebrou as taboas da lei, mandou aos levitas que matassem os Israelitas que incontrassem no caminho, calcou aos pés e reduziu a pó o bezerro de oiro, e supplicou a Deus que perdoasse ao seu povo, o que elle fez a final.

Perdoado o peccado do povo, mandou Deus a Moysés que voltasse ao cume do Sinai, com duas taboas de pedra, nas quaes foram de novo gravados os dez preceitos. Mandou depois se construisse um templo cuja guarda e governo foram confiados a Arão, irmão de Moysés, sendo os mais descendentes de Levi feitos ministros do mesmo templo, com o nome de levitas. Este templo, que era portatil, e se chamava tambem tabernaculo, acompanhava o exercito e era dividido em duas partes: na interior, que se chamava sancta sanctorum, estava a arca do testamento, e só intrava o summo sacerdote; na exterior havia um altar, em que se queimavam essencias e um candelabro com septe lumes.

Passados quarenta annos de peregrinação estavam os Israelitas{15} na terra da promissão, a cuja vista havia morrido Moysés, na edade de 120 annos e depois de ter abençoado o povo.

A terra da promissão era uma provincia da Asia, chamada hoje Palestina ou Terra Santa, que comprehendia varios reinos pequenos, conhecidos pela denominação de reinos dos Cananeus. Morto Moysés, ficou com o governo do povo Josué filho de Num, ao qual o Senhor appareceu dizendo-lhe que metesse os Hebreus na posse da terra da promissão, dividindo as terras pellas differentes tribus e familias. Josué teve que combater e vencer varios povos e reis, e que conquistar varias cidades da Palestina. Dividida esta pelos povos de Israel, obrigaram-se estes a dar a decima parte dos fructos da terra aos levitas.

Morrendo Josué na edade de 110 annos, seguiu-se-lhe o governo dos juizes, dos quaes os mais celebres foram Debora, Gedeão, Jephte e Sansão. D'este ultimo contam os livros santos que, sendo ainda muito moço e sahindo-lhe ao incontro um leão, o despedaçou logo; depois matou de uma vez trinta Philisteus; e de outra, depois de haver quebrado umas cordas muito fortes com que o tinham amarrado, matou mil Philisteus com a queixada de um jumento. N'outra occasião, incerrado pelos Philisteus na cidade de Gaza, sahindo de noite, arrancou as portas da cidade e levou-as a um alto monte. Depois d'aquellas façanhas e de outras, deixou-se inlear no amor de Dalila, á qual declarou que a verdadeira causa da sua força consistia em ser dedicado a Deus e em não lhe terem jámais cortado os cabellos; Dalila, senhora de tal segredo, fez com que Sansão adormecesse nos seus braços e, vindo os Philisteus, cortaram áquelle os cabellos, pelo que perdeu a força e foi aprizionado.

Os Philisteus, vencido assim Sansão, tiraram-lhe os olhos e trataram-n'o indignamente até que, passado algum tempo, tendo-lhe novamente crescido os cabellos, recuperou a força; e, sendo então levado pelos Philisteus ao templo de seu falso deus Dagão, para zombarem d'elle, abraçou Sansão duas columnas do mesmo templo e moveu-as com tal impeto, que o edificio abateu, morrendo esmagados quantos n'elle estavam, incluido o proprio Sansão.

O ultimo juiz que governou o povo hebreu foi o propheta Samuel, durante o governo do qual os Israelitas pediram a Deus que lhes désse um rei, o que Deus concedeu, mandando a Samuel que ungisse a Saul, como rei, e esse foi o primeiro dos reis de Israel. A principio regeu Saul, conforme ás leis e ao temor de Deus, mas depois faltou a uma e outra{16} coisa, pelo que mandou o Senhor a Samuel que ungisse como rei a David, mancebo muito valoroso, da tribu de Judá, e que havia morto o gigante Golias, que desafiava o exercito de Israel. Saul, sabendo da eleição de David, perseguiu-o e não quiz depor o poder; mas afinal, vencido na guerra contra os Philisteus, suicidou-se. Introu então David na posse pacifica do governo, comquanto tivesse que sustentar guerras contra os Philisteus, os Ammonitas, os Syrios, os Idumeus e os habitantes de Damasco, vencendo a todos estes inimigos. Preparou os materiaes necessarios para edificar um magnifico templo, que não chegou a construir por Deus lh'o haver prohibido; trasladou a arca do testamento para o seu palacio de Jerusalem, fez rigorosa penitencia por graves peccados que tinha commetido; compoz muitos psalmos em louvor de Deus; e practicou muitos outros actos de soberano justo e sabio.

A David succedeu no reinado seu filho Salomão, que foi muito sabio e sagaz, e cujo governo foi assignalado por grandes riquezas e prosperidades. Durante todo o tempo que governou, conservou em paz o reino de Israel; foi temido e respeitado pelos principes vizinhos, muitos dos quaes eram seus tributarios; as suas frotas levavam-lhe grande quantidade de oiro e de materias preciosas; floresceu o commercio em todo o paiz; e a sabedoria do rei era admirada nos reinos estranhos. Empregou Salomão grandes riquezas em edificar um templo grandioso, para a adoração de Deus, onde havia preciosissimos vasos e um grande numero de ministros do Senhor. Esse templo excedeu tudo quanto se pode imaginar de magnificente. Edificou tambem um sumptuoso palacio, para sua morada.

Antes de ter revelado a sua sabedoria em muitos livros que escreveu, mostrou-a tambem na sabia sentença que pronunciou, conhecida pelo nome de «juizo de Salomão». Teve ella a seguinte origem. Duas mulheres viviam juntas e tinham cada uma seu filho. Aconteceu morrer uma das creanças, e cada uma das mães dizia ser seu o que ficára vivo. Foram ambas ter com Salomão, para que decidisse a contenda. Decidiu o rei que se cortasse ao meio o menino disputado e que se désse metade d'elle a cada contendora. Uma das mães acceitou a sentença; mas a outra clamou que antes se désse o menino inteiro e vivo á sua rival. Assim concluiu Salomão que a verdadeira mãe era aquella que não consentia na morte da creança. Mandou por isso que esta lhe fôsse intregue.

Por espaço de muitos annos observou Salomão a lei de Deus, governando o seu povo com grande sabedoria e justiça; mas nos ultimos annos da vida prevaricou, edificando templos{17} aos falsos deuses, adorados por mulheres estrangeiras que tomou contra os preceitos de Deus. Não se sabe com certeza se chegou a arrepender-se d'este peccado, de que foi reprehendido pelo Senhor; mas julga-se que se arrependeu, compondo então o livro sagrado chamado Ecclesiastes, que figura no Novo Testamento e em que mostrou a vaidade das grandezas humanas.

A Salomão succedeu Roboão, seu filho, principe imprudente e tyrannico, que, pedindo-lhe o povo que o alliviasse dos tributos, respondeu que não só o não faria, antes os havia de augmentar e tratar os Israelitas como escravos. Vendo e ouvindo isto, dez tribus rebellaram-se contra Roboão, acclamando por seu rei a Jeroboão, homem sedicioso e impio; e só as tribus de Judá e de Benjamin ficaram na obediencia de Roboão, que se viu obrigado a fugir precipitadamente para Jerusalem.

Dividiu-se assim o reino em dois: a parte que permaneceu sujeita a Roboão chamou-se Reino de Judá, ou Judéa; a outra, que seguiu a Jeroboão, denominou-se Reino de Israel.

Jeroboão esqueceu a lei de Deus, mandou fabricar bezerros de oiro, que fez adorar como divindades, sendo assim causa da maior parte dos Israelitas cahirem em idolatria. Na mesma impiedade viveram os seus successores, os 21 reis que governaram Israel por espaço de 254 annos, findos os quaes foi o reino destruido pelos Assyrios e seu rei Salmanazar, que tomou Samaria e levou captivas as dez tribus de Israel.

No reino de Judá continuou-se a adorar o verdadeiro Deus, ainda que Roboão e muitos dos seus successores por varias vezes permittiram a idolatria; por isso foi o reino castigado pelo Senhor, que o intregou aos seus inimigos. O reino de Judá durou por 468 annos, contados do principio do reinado de David. Os peccados dos Judeus foram causa de Deus os intregar aos Chaldeus que, governados por seu rei Nabucodonosor, tomaram a cidade de Jerusalem, queimaram o templo do Senhor, e levaram os Judeus para o seu paiz. Este captiveiro chamou-se o «captiveiro de Babylonia» que durou por mais de 70 annos.

Foi dada a liberdade aos Judeus por Cyro, rei dos Médos, Persas e Chaldeus, o qual subjugou estes dois ultimos povos, ganhou varias batalhas e tomou Babylonia. Tomada esta cidade permittiu Cyro aos Judeus que regressassem á sua patria, o que se effectuou sob o mando do summo pontifice Josué e de Zobadel. Mal chegaram a Jerusalem, o seu primeiro cuidado foi a re-edificação do templo, a qual não poderam logo{18} levar a effeito por lh'o impedirem os Samaritanos, conseguindo por fim concluil-a Zorobabel, mediante o auxilio de Dario I. por pouco durou a independencia dos Hebreus. As reformas de Esdras, nas quaes se comprehendia a prohibição de casamentos com mulheres de outras nações, e a dissolução das familias até então constituidas contra esse preceito, originaram um scisma, em que parte do povo se reuniu aos Samaritanos, ficando a nação muitissimo infraquecida. Aproveitando este estado, subjugaram os Persas a Judéa, cuja historia desde então até á conquista de Alexandre se confunde com a das outras provincias humildes, sujeitas ao dominio d'aquelle imperador. Continuou a rivalidade entre os Judeus e os Samaritanos, aos quaes os primeiros não permittiam a intrada no templo de Jerusalem. Os Judeus não constituiam assim já um povo, mas uma simples communidade religiosa ou uma casta sacerdotal, isolada no meio das outras populações do grande imperio persa.

Realizada a conquista d'este imperio em tempo de Dario Codomanno, submetteu-se a Judéa ao conquistador, sem resistencia; por morte de Alexandre foi governada successivamente por Laomedonte e pelos reis do Egypto e da Syria. Com os Machabeus chegou a recobrar a sua independencia, sendo Aristobulo proclamado rei; mas repetidas guerras civis deram logar á intervenção dos Romanos na Palestina, chegando Pompeu a intrar em Jerusalem, que ficou desde essa epocha em estado de incompleta servidão.

Por fim realizou-se a annexação da Judéa aos dominios de Roma, sendo Herodes incarregado do governo d'ella pelo imperador Augusto; mais tarde augmentaram as dissensões e rixas, que desde o principio houvera entre Judeus e Romanos, o que levou Nero a mandar Vespasiano, seu general, para reduzir completamente á obediencia a Judéa. A conquista d'esta foi interrompida pelo regresso de Vespasiano a Roma, para assumir o governo imperial, e só veio a ser ultimada pelo imperador Tito, que foi em pessoa á Palestina com um exercito de 60:000 homens. Á vista do exercito romano, applacaram-se as contendas civis que havia em Jerusalem, e esta cidade defendeu-se durante muito tempo, com um denodo verdadeiramente heroico, contra o inimigo que a cercava. Por fim cahiu a ultima obra de defesa, a cidade foi invadida, e o templo incendiado. Os Judeus, perdida toda a esperança, mataram suas mulheres e filhas e suicidaram-se em seguida, preferindo isso a intregarem-se com vida aos Romanos. A tomada de Jerusalem deu-se no anno 70 da era christan. O{19} povo Hebreu perdeu, desde então e para sempre, a sua unidade politica, apezar de continuar até hoje a existir disperso pelo mundo, com os caracteres particulares da sua raça e da sua religião.

Já depois de submettida a Judéa aos Romanos, mas antes da tomada de Jerusalem, nasceu perto d'esta cidade, em Bethlem, Jesus Christo, quatro annos antes da era actual (ou era christan).

 

CAPITULO II
OS EGYPCIOS

As populações que primitivamente habitaram o valle do Nilo foram subjugadas, ou compellidas para o sul, por um povo vindo da Asia pelo isthmo de Suez. Passou-se isto em tempo anterior aos mais antigos monumentos historicos. Aquelle povo conquistador, que alli se estabeleceu, veio a constituir o que na Historia Antiga é conhecido pela denominação de povo egypcio.

Nada ao certo é conhecido quanto ao governo primitivo dos Egypcios, que se presume ter sido nos primordios theocratico ou sacerdotal. Parece provavel que aquelle paiz tinha chegado já a um certo estado de civilização e estava bastante povoado pela epocha de 2000 annos antes da era de Christo. Segundo Herodoto, foi Menés o fundador da monarchia egypcia, a qual durou 1663 annos, desde a sua origem até á conquista do Egypto por Cambyses. O dominio d'aquella monarchia limitou-se primeiro a Thebas, cidade fundada pelo mesmo Menés, e aos seus arredores; mas este monarcha accrescentou consideravelmente o seu territorio, construindo diques para impedir que o Nilo continuasse a alagar os seus campos marginaes. Nos terrenos assim conquistados ao rio, e na extremidade do delta d'este, edificou uma cidade grande e importante, que teve o nome de Memphis.

Dos seculos que se seguiram ao reinado de Menés apenas ha vestigios muito obscuros na Historia. Reinaram durante elles differentes dynastias, a mais notavel das quaes foi a quarta, de que foi fundador Snervu, e que se denominou «a dynastia dos Pharaós». Os tres Pharaós immediatos successores de Snervu foram Cheops, Khavrá e Mycerino, que se tornaram{20} celebres por haverem mandado construir as tres grandes pyramides, que foram destinadas a servir-lhes de tumulos. Situadas na planicie de Gyzeh, na margem esquerda do Nilo, a breve distancia de Memphis, são aquellas pyramides os mais notaveis monumentos da civilização egypcia. A de Cheops tem 147 metros de altura, a de Khavrá 138, e a de Mycerino 66. A mais alta foi construida em 30 annos, por 100:000 homens, que eram substituidos de seis em seis mezes.

Os reis de outra dynastia, a duodecima, tornaram-se notaveis pelas grandes obras hydraulicas que imprehenderam no Nilo, construindo um grande numero de canaes, para distribuirem as aguas pelas differentes regiões do sólo, afim de lhes augmentar a fertilidade e de prevenir as inundações.

Mais tarde, reinando Timaos, um povo originario da Asia (os Hyksos ou Pastores) invadiu o Egypto, cuja antiga civilização destruiu. A invasão, comtudo, não se extendeu além do delta do Nilo e do baixo Egypto. A parte, de que Thebas era capital, escapou á dominação dos Hyksos que porfim foram expulsos do paiz por Amenophis Thetmosis, descendente dos antigos reis do Egypto.

Entre os reis que succederam a este, houve notavel (alêm de outros) M[oe]ris que executou differentes obras muito importantes, no numero das quaes figura o famoso lago que tomou o nome d'elle, e que foi destinado a receber as aguas do Nilo, quando a sua grande abundancia ameaçasse o Egypto de ser totalmente inundado. Este lago fornecia agua, por um grande numero de canaes, a differentes zonas que fertilizava.

Tornou-se tambem muito notavel o rei Sesostris (Ramsés-Meiamun), que foi o primeiro que armou uma esquadrilha; bateu-se com os Arabes, que subjugou, e outrotanto fez aos Lydios e Ethiopicos. Imprehendeu a conquista da Asia; e, tendo deixado seu irmão Danao no governo do reino, bateu e derrotou os Assyrios, os Medos, os Scythas e os Phenicios; submetteu a Thracia, a Colchida, e chegou até ás margens do Ganges. Deixou por toda a parte inscripções, commemorando as suas victorias. Regressando aos seus estados, dedicou-se a promover o progresso das artes, felicitou o povo com uma paz duradoura, e accrescentou ás suas glorias militares a de ter fundado instituições politicas e promulgado leis de geral utilidade. Tendo cegado na velhice, não poude resistir a essa infelicidade e suicidou-se. Os Egypcios, gratos á sua memoria, ergueram-lhe templos, nos quaes lhe prestavam as mesmas honras que aos seus deuses. Por esse tempo tinha chegado o Egypto á phase do seu{21} maior esplendor. Tempos depois começou a pronunciar-se a sua decadencia, que as perturbações intestinas contribuiram bastante para precipitar. A Ethiopia proclamou a sua independencia; e os povos da Syria, sempre insubordinados e irrequietos, negaram-se a pagar os tributos. A unidade nacional veio a quebrar-se, e o paiz dividiu-se em vinte pequenos estados independentes. As rivalidades entre estes differentes estados levou-os a admittirem no seu seio os estrangeiros, cuja intrada até alli fôra sempre vedada no Egypto. Foi então que os Ethiopes e os Assyrios disputaram o paiz e fizeram conquistas que, comquanto não fossem duradouras, comtudo apressaram bastante a ruina da nação. Depois de expulsos aquelles dois povos, o Egypto ficou sendo governado outra vez por principes independentes. No delta do Nilo havia doze d'estes principes, os quaes constituiram uma confederação, formada dos seus estados, a que se chamou dodecarchia. Um d'aquelles principes, porêm, chamado Psammeticho I, derrubou á mão armada os outros principes e restabeleceu a unidade nacional. Durante o reinado d'este monarcha, ainda o Egypto se ergueu um pouco da sua decadencia e pareceu querer voltar ao seu antigo esplendor e grandeza; floresceram de novo as lettras, as bellas-artes e a industria; e continuaram outra vez um pouco as grandes obras de irrigação que estavam—havia muito—suspensas. Sustentou-se no throno durante 47 annos a dynastia de Psammeticho; no reinado de um dos seus descendentes, Amasis, teve o Egypto uns annos de certa prosperidade, a que logo poz termo a conquista persa, realizada por Cambyses. Desde esta até á conquista por Alexandre Magno medeiam dois seculos, durante os quaes os Egypcios tiveram politicamente uma existencia miseravel. Com a conquista pelos Romanos, depois da morte de Cleopatra, incerra-se a Historia Antiga do Egypto, que durou uns cincoenta seculos, e na qual se contam 34 dynastias.

Gosou sempre de grande fama a civilização dos Egypcios durante o periodo da Historia Antiga. Os proprios Gregos chegaram a gabar-se de que muitos dos seus philosophos e legisladores tinham ido á terra do Nilo instruir-se nas sciencias ou na arte de governar. Comtudo, fez-se em tempo uma idéa muito exaggerada do estado a que a sciencia havia chegado no Egypto. Attribuem-se a este povo conhecimentos mathematicos, e especialmente astronomicos, muito adeantados; mas não é averiguado que os possuisse em tal desinvolmento,—e bem poucos vestigios existiam d'elles, quando{22} alli foram da Grecia, Eudoxio e Platão. A religião, as artes e a philosophia, é que floresceram muito notavelmente n'aquelle paiz. As ruinas innumeraveis de que todo o seu sólo está coberto, bastariam para attestar o grande estado de esplendor a que elle chegou. A historia das artes apresenta alli muito mais caracteres de certeza do que a das sciencias. Os monumentos, as ruinas, os templos, os palacios, os colossos, que nem a acção do tempo nem a do homem puderam ainda destruir, dão conhecimento do elevado grau de perfeição até onde os Egypcios levaram a cultura das artes; mas, de todos os monumentos do Egypto, os mais assombrosos são sem duvida as pyramides (construcções colossaes que se vêem ainda em differentes pontos, e das quaes as tres mais notaveis são as de que atraz falámos).

O antigo governo do Egypto era theocratico; reinavam alli os sacerdotes em nome dos deuses. Os proprios reis estiveram quasi sempre sujeitos ao poder sacerdotal, que se mantinha principalmente por effeito da severa distincção das castas. Os sacerdotes constituiam a primeira d'estas, á qual se seguia a dos guerreiros, depois a dos interpretes, e a dos trabalhadores (divididos ainda estes em diversas classes, que nunca se confundiam). A todo o egypcio era prohibido sahir da condição em que nascêra e abraçar profissão que não fosse a de seu pae.

 

CAPITULO III
OS ASSYRIOS E BABYLONIOS

O imperio assyrio no principio apenas comprehendeu o territorio situado a leste do rio Tigre; mais tarde veio a ser formado por todo o territorio que ficava entre aquelle e o Euphrates, e comprehendeu, juntamente com a Assyria propriamente dita, a Chaldéa, a Mesopotamia, a Babylonia e differentes paizes tributarios. A Chaldéa foi, como o Egypto, um dos primeiros paizes em que começou a desinvolver-se com certo grau a civilização; os Chaldeus e os Babylonios passam por ser os primeiros povos que fizeram descobrimentos astronomicos; deve-se-lhes a divisão do anno em 365 dias, 6 horas e alguns minutos. É muito incerta a chronologia da historia dos Assyrios: segundo os livros santos, a fundação de Babylonia e{23} de Ninive realisou-se pelo seculo XXII antes de Jesus Christo, Nemrod foi fundador da primeira e Assur da segunda. Nada certo se sabe sobre a historia dos povos que habitaram aquellas cidades e ainda outras, anteriormente ao tempo de Belo que, por 1780 antes de Jesus Christo, creou o imperio da Assyria, reunindo o reino de Babylonia com o de Ninive.

Nino, successor de Belo, alliou-se com os Arabes, derrotou os Armenios e os Medos, estendeu o seu dominio por grande parte da Asia, e levou as suas conquistas desde o Egypto até ás Indias. Augmentou consideravelmente a cidade de Ninive, que dotou com palacios e outros edificios sumptuosos. Depois de tomar a cidade de Bactres (capital da Bactriana), casou com Semiramis, viuva do governador da mesma cidade e uma das mulheres mais bellas d'aquelle tempo, da qual teve um filho chamado Ninias. Pela morte de Nino, ficou Semiramis herdeira do imperio, que augmentou com conquistas novas; subjugou a Arabia, o Egypto e a Lybia; illustrou o seu reinado não sómente por grandes acções militares, mas tambem pela administração do paiz e pelas assombrosas construcções, das quaes ainda hoje existem ruinas muito notaveis. Tornou Babylonia uma cidade magnifica e grandiosa, cingiu-a com uma muralha de 15 leguas de circumferencia, de altura consideravel, e com cem portas de bronze em toda a sua extensão. Era tão larga essa muralha que sobre ella podiam passar quatro carroças a par. Construiu tambem Semiramis uma ponte magnifica sobre o Euphrates (rio que atravessava a cidade) e em cada uma das extremidades d'ella dois palacios. Um d'estes era a habitação ordinaria da rainha e deposito das consideraveis riquezas que esta recebia de todas as provincias do imperio; o outro, incimado por oito torres de consideravel altura, era um templo consagrado a Belo, e em cujo interior Semiramis tinha mandado collocar estatuas de oiro, de quarenta pés de altura, representando varias divindades. Todo o interior do templo era cheio de baixos-relevos com grande valor artistico, de magnificas estatuas e de vasos de oiro e de prata primorosamente trabalhados. A cidade era muito bella e cortada de lindas ruas e praças, ornadas de opulentos palacios; mas o que sobretudo maravilhava eram os jardins estabelecidos em terraços elevados sobre o Euphrates e sustentados por abobadas de altura prodigiosa. Ornados das mais bellas arvores, inriquecidos com abundancia das mais vistosas flores, eram cortados de limpidos arroios, alimentados por agua levada áquella altura por meio de aqueductos e de apparelhos ingenhosissimos. Davam ingresso no jardim suberbas escadarias,{24} ornadas de estatuas e de vasos preciosos, em que vegetavam as mais raras flores e arbustos de todos os paizes então conhecidos.

Na construcção d'aquellas muralhas e de outras com que opulentou Babylonia, empregou Semiramis 2.000:000 homens durante muitos annos. Immortalizou-se aquella rainha, não só n'isso, mas tambem na sabia administração que exerceu nos seus estados e na organização dos seus exercitos, em que reinou sempre a disciplina mais rigorosa e mais severa e que ella em pessoa commandou muitas vezes.

Tendo-se ausentado no commando de uma expedição destinada a alargar os limites dos seus estados, soube que na capital se estava urdindo uma conspiração para a depôr e substituil-a no governo por seu filho Ninias. Não quiz ella conservar pela força o throno, que ninguem lhe poderia disputar; e, intregando voluntariamente o governo ao filho, absteve-se de punir os conspiradores, e retirou-se do mundo. A população surprehendida e maravilhada pelo seu subito desapparecimento—que considerou sobrenatural—erigiu-lhe templos e prestou-lhe honras divinas.

Ninias foi apenas um simulacro de rei. Passou a vida na ociosidade e na indolencia, e foi o primeiro que estabeleceu o governo do serralho. Seguiram-se-lhe trinta e tres reis que nada fizeram pelo bem do paiz e de que a Historia apenas faz menção. O ultimo foi Sardanapalo, cujo nome ficou lendario e serve para caracterizar os soberanos que põem de lado os cuidados da governação, para se darem tão sómente á ociosidade e aos prazeres physicos. Sardanapalo, indolente e crapuloso, estabeleceu a sua residencia em Ninive, onde passava a vida mettido n'um palacio, cercado de mulheres, cujos habitos e adornos imitava, deixando em Babylonia o governo intregue a valídos que de tudo dispunham. Nunca visto de seus subditos, sempre incerrado no palacio, onde passava as noites em libações e folgares, não lhe importavam nada os negocios publicos, e só tratava de esconder aos olhos dos subditos os seus ignominiosos habitos. Um dia Arbaces, governador da Média, surprehendeu-o no meio de um grupo de mulheres impudicas, trajando como ellas. Indignado por ver que tantos valorosos Assyrios estavam sujeitos a um monarcha desprezivel, revelou aos seus amigos os vergonhosos habitos de Sardanapalo, ligou-se com Belesis (governador da Babylonia), e ambos foram pôr cerco ao rei no proprio palacio em que habitava. Depois de tenue resistencia, Sardanapalo reduzido a circumstancias extremas, quiz apagar com um esforço supremo{25} de coragem a memoria da sua vergonhosa vida. Mandou accender n'um dos pateos interiores do palacio uma grande fogueira, na qual se queimou com suas mulheres, seus escravos e seus thesouros.

Dos restos do imperio assyrio assim desfeito, formaram-se tres grandes reinos: o de Babylonia, o da Média, e o de Ninive ou da Assyria propriamente dita. De Babylonia tornou-se rei Belesis, que transmitiu o poder á sua dynastia, na qual só houve notavel o rei Nabonassar, que deu o seu nome a uma era especial começada no anno 747, e sob cujo governo a astronomia fez grandes progressos. Mais tarde cahiu Babylonia em poder dos reis de Ninive.

Na quéda de Sardanapalo, o principal promotor d'ella, Arbaces, ficou senhor do reino da Média, e tentou concentrar alli a supremacia assyria sobre o resto da Asia. Deu certas franquias liberaes aos Medos, os quaes por si mesmos trataram de fazer leis, dividiram-se em seis tribus, e crearam juizes para lhes dirimirem os pleitos. Depois da morte de Arbaces, elegeram elles para rei a Dejoces, um dos seus juizes, que fundou a cidade de Ecbatane, onde se estabeleceu com sua familia e seu erario, e concentrou a parte mais importante da população, constituindo alli a capital da Média. Aquella cidade, pela sua opulencia e pelos seus monumentos, tornou-se em breve tão celebre como Babylonia e como Ninive.

Dejoces teve por successor a Phraorto, ao qual succedeu seu filho Cyaxaro I, que conquistou a Persia. Desde então a historia da Média confunde-se com a do segundo imperio assyrio. Sobre a parte do antigo imperio assyrio, de que Ninive era capital, ficou reinando, por morte de Sardanapalo, Nino o Moço. Os seus successores tentaram reunir aos seus dominios Babylonia, o que chegaram a conseguir em tempo de Assar-Haddon. Entre os reis de Ninive, houve notaveis: Phul; Teglath-Phalasar, que conquistou Damasco; Salmanazar, que subjugou os Israelitas (como atraz vimos); e o terrivel Sennacherib. Reinando Sarac, Nabopolassar (governador da Babylonia) ligou-se com Cyaxaro I, rei dos Medos, e ambos foram pôr cerco a Ninive. Esta cidade foi tomada depois de uma sangrenta batalha, e completamente destruida. Assim acabou, depois de 1:800 annos de existencia, esta celebre e opulenta cidade. Nabopolassar tomou o titulo de rei da Babylonia, que se appropriou de toda a importancia e vantagens que desfructava Ninive e se tornou a capital do segundo imperio assyrio.

Nabuchodonosor succedeu a seu pae Nabopolassar, tonando-se{26} celebre pela conquista do reino da Judéa e pela tomada de Jerusalem (cujos habitantes levou captivos para Babylonia) e por se haver apoderado da Phenicia e destruido a cidade de Tyro. Balthazar foi o ultimo rei do segundo imperio assyrio que, subjugado por Cyro, cahiu no dominio dos Persas.

A civilização dos Assyrios e Babylonios foi uma das mais notaveis, não só da Antiguidade Oriental, mas tambem de toda a Historia Antiga. Ao passo que vão progredindo os estudos historicos e que se vão descobrindo novos monumentos, vai-se pondo cada vez mais em relevo a influencia que aquelles povos exerceram no Oriente e na cultura intellectual das populações da Grecia. A civilização dos Assyrios e a dos Babylonios apresentam-se-nos como uma só, quer isso fosse devido á commum origem dos dois povos, quer á mutua transmissão de conhecimentos e de usos nos tempos historicos, podendo dizer-se que havia então homogeneidade de meio. Apenas differem em pontos, a que os differentes caracteres dos dois povos imprimiam feições especiaes. Os Assyrios, por exemplo, eram sobretudo guerreiros, corajosos e intrepidos, incançaveis nos exercicios mais violentos e conquistadores insaciaveis; os Babylonios, comquanto tambem fossem bons soldados, tinham menos tendencia para a guerra de conquista, o que em parte dá a razão de ter sido tão pouco duradoiro o seu dominio. Os Babylonios representaram um papel muito importante no commercio da Asia. Na industria, elles e os Assyrios adeantaram-se consideravelmente, chegando a notavel perfeição, sobretudo no que tocava a tecidos preciosos, a ourivesaria, a loiça, a esmaltes, etc. De esculptura deixaram os Assyrios obras de alto valor e merecimento artistico, sempre admiradas e tidas como objectos de grande estimação.

 

CAPITULO IV
OS PHENICIOS

Os Phenicios foram um dos povos mais notaveis da Antiguidade Oriental; mas, apezar d'isso, escasseiam bastante os documentos historicos directos da sua civilização. A Phenica comprehendia apenas uma estreita faixa de terreno, entre as faldas do monte Libano e o mar Mediterraneo. N'aquella apertada{27} zona teve a sua evolução um dos movimentos civilizadores da Antiguidade, cuja influencia se sente de modo consideravel na Historia Antiga e chega ainda até nós, por meio do alphabeto, pelos Phenicios inventado e propagado.

Os Phenicios são geralmente considerados como um povo pertencente á raça chamitica, tendo grandes affinidades com as tribus cananéas que, uns vinte e quatro seculos antes de Christo, se estabeleceram, disseminando-se, nos valles do Jordão e do Oronte, e nas margens do Mediterraneo. Comtudo elles falavam uma lingua da familia dos semitas, muito similhante á dos Hebreus,—e as suas relações com os povos semiticos da Palestina foram sempre muito estreitas.

Em nenhuma epocha da sua historia apparecem os Phenicios com uma unidade nacional caracterizada, como os povos de que anteriormente tratámos. Viveram sempre em cidades separadas, com chefes independentes, de jurisdicção limitada a certa porção de territorio. Era o ultimo limite da descentralização governativa. Comtudo sempre uma cidade exerceu hegemonia entre todas as outras povoações phenicias. As duas cidades que, como grandes centros politicos e commerciaes, exerceram successivamente essa hegemonia foram Sidon e Tyro. D'ahi provêm a divisão da historia da Phenicia em dois periodos: o sidonio e o tyrio.

No primeiro periodo, Sidon (que foi a mais antiga das cidades phenicias de que ha memoria nos livros dos historiadores) exerceu a supremacia da influencia sobre as demais populações, organizou grandes expedições maritimas e teve um grande movimento de expansão colonizadora. Thutmés I, rei do Egypto, fez acceitar pelos Phenicios a sua suzerania; mas esse facto foi-lhes antes util do que prejudicial, porque lhes proporcionou a faculdade de commerciarem no Egypto, passando a estabelecer feitorias nas cidades do delta, e chegando até a terem uma colonia sua estabelecida n'um bairro especial de Memphis, por elles exclusivamente habitado. N'essa epocha navegaram por todo o oriente do Mediterraneo, e chegaram até Chypre, sendo com o auxilio d'elles que esta ilha ficou submettida ao dominio dos Egypcios. As suas tendencias e habitos commerciaes levaram-n'os á ilha de Creta, á Cilicia e até ao Mar-Negro, estabelecendo por toda a parte colonias e feitorias. No Occidente alargaram-se pelo littoral do norte da Africa e estabeleceram colonias nos territorios em que hoje existem as regencias de Tripoli e de Tunis. Cruzando-se alli com a população indigena, deram origem ao povo dos liby-phenicos, que chegaram a adquirir importancia{28} na Antiguidade. Pelo interior da Asia extenderam as suas relações commerciaes até ao rio Tigre e á Arabia.

Pelo seculo XIII antes da era christan os Phenicios de Sidon tinham chegado ao maximo estado de adeantamento e de influencia. Foram então victimas dos Philisteus, que se haviam estabelecido entre a Phenicia e o Egypto. Sidon foi tomada e destruida por estes; e a hegemonia phenicia passou depois para Tyro, começando então o segundo periodo da historia d'este povo.

N'esse novo periodo, Tyro, succedendo a Sidon como centro do dominio colonial dos Phenicios, elevou-o bem depressa ao auge da prosperidade. A direcção, porêm, que imprimiu ao movimento de expansão colonizadora teve que ser diversa. As populações gregas tinham-se ido desinvolvendo pelas duas margens do mar Egeu, e não só obstaram a que os Phenicios fossem por alli estabelecendo novas colonias, mas chegaram a desalojál-os de algumas posições adquiridas. Por isso os Tyrios tiveram que abandonar aquelle caminho e trataram de espalhar-se para os lados do occidente do Mediterraneo, que ainda estava desimbaraçado. Foi assim que se occuparam em estabelecer colonias e feitorias na Sicilia, na Sardenha, na Corsega, em Malta, nas ilhas Baleares, nas costas da Gallia, e nas da peninsula iberica, ao mesmo tempo que na margem meridional do mesmo mar alargaram tambem os seus dominios, fundando as cidades de Utica e de Hippona. Por fim, transpuseram o estreito hoje chamado de Gibraltar, indo fundar estabelecimentos pela costa occidental da Europa, onde se suppõe que chegaram ás costas da Gran-Bretanha, e indo tambem para o sul, onde talvez chegassem a aportar ás ilhas Canarias e ás de Cabo-Verde.

Então o poderio phenicio chegou ao maximo esplendor e teve a sua edade de oiro. Reinava Hirão I, que foi contemporaneo dos reinados de David e de Salomão nos Hebreus. Com estes reis teve elle alliança e por tal modo promoveu a grandeza phenicia, que a influencia d'esta chegou a sentir-se consideravelmente em Jerusalem, onde Astarte (uma divindade dos Phenicios) teve culto, sendo esse um dos actos de idolatria, com que por vezes os Israelitas offenderam a Deus.

Logo depois se começou, porêm, a manifestar a decadencia da Phenicia. Duas causas poderosas concorreram para ella: as luctas civis dentro de Tyro, com successivas revoluções, e os progressos das navegações e da colonização dos Gregos que vieram a deslocar as dos Phenicios. N'uma d'aquellas resoluções, que occorreu durante a menoridade do rei Pygmalião,{29} foi assassinado o regente do estado e teve que expatriar-se sua viuva Elisa, que com os seus partidarios foi para a Africa, onde fundou a cidade de Carthago. Esta Elisa é a rainha que figura com o nome de Dido na Eneida de Virgilio.

A diminuição do dominio no exterior e a fraqueza do poder no interior, fizeram que a Phenicia fosse successivamente invadida pelos Assyrios, pelos Babylonios e pelos Egypcios. Do dominio d'estes tres povos passou depois ao dos Persas, a que se submetteu voluntariamente, e porfim veio a ser conquistada por Antigono, um dos generaes de Alexandre Magno, que a assediou com uma numerosa frota e a venceu, passando ella ao dominio d'aquelle imperador, que substituiu na Asia a dominação dos Persas.

 

CAPITULO V
OS CARTHAGINEZES

Crê-se geralmente que a cidade de Carthago foi fundada, (como acima dissémos) por Dido, pelos annos 888 antes da era christan; comtudo ha quem affirme que ella havia sido edificada antes, pelos annos 1059, por uma colonia phenicia de Tyro.

Seja como fôr, o que é certo é que os Carthaginezes apparecem-nos, pelos annos de 540 antes de Christo, constituindo já uma republica de certa importancia. N'essa epocha alliaram-se com os Etruscos e forneceram-lhes trinta navios para o ataque da Corsega.

A republica de Carthago tinha um senado e duas assembléas populares, que elegiam os magistrados incarregados da administração civil e os generaes incumbidos do commando dos exercitos. O senado era formado por todos os cidadãos notaveis por sua edade, nascimento, riqueza ou merito pessoal.

Carthago, nas suas guerras, empregava unicamente soldados extrangeiros assalariados, para não despovoar a republica que occupava apenas uma limitada área de 75 leguas quadradas, e para que os seus cidadãos não abandonassem o commercio, que era a fonte da riqueza e do poderio do estado. A Numidia e a Hespanha forneciam-lhe a sua cavallaria;{30} a Gallia, a Liguria e a Grecia, a sua infanteria; e as ilhas Baleares, os seus fundibularios, tão notaveis pela destreza.

Os Carthaginezes foram senhores da Sardenha; tiveram estabelecimentos seus na Hespanha e na costa da Sicilia. Eram habeis e ousados navegadores,—o que, junto á vantajosa posição geographica de Carthago, foi causa do seu ingrandecimento e riqueza.

Durante dois seculos viveram em paz com os Romanos, com os quaes celebraram tratados, que estabeleciam os limites reciprocos da navegação e regulavam o commercio entre aa duas republicas. Mas a crescente prosperidade de Carthago começou a inspirar inveja aos Romanos, e esse sentimento mais tarde ou mais cedo devia accender a guerra entre as duas nações. Foi o que succedeu.

Tendo-se originado guerra na Sicilia entre os Mammertinos e Hierão (rei de Syracusa), pediram os primeiros soccorro aos Romanos, emquanto Hierão recorreu ao auxilio dos Carthaginezes. Tal foi a causa das guerras entre Carthaginezes e Romanos, conhecidas pelo nome de guerras punicas (do latim P[oe]eni, que a principio queria dizer «Phenicios», mas que mais tarde se ampliou em significação, comprehendendo os Carthaginezes). Houve tres guerras punicas designadas por sua ordem chronologica: primeira, segunda e terceira.

A primeira guerra punica durou do anno 264 a 241 antes de Christo. N'ella os Romanos, comquanto muito menos prácticos do que os Carthaginezes na arte de navegar, começaram por uma brilhante victoria naval. Perto das ilhas de Lipari, batteram a frota de Carthago e metteram-n'a a pique. A frota romana era commandada por Duilio Nepote, a quem por isso Roma ergueu uma estatua. Cornelio Scipião, general romano, expulsou os Carthaginezes da Corsega e da Sardenha. E Regulo, depois de tomar Chypre, chegou triumphante deante de Carthago; mas, vencido por sua vez por Xantippo (general lacedemonio que fôra em soccorro dos Carthaginezes), foi aprisionado. Inviado, sob palavra, a Roma para que negociasse a troca dos prisioneiros, Regulo aconselhou, pelo contrario, o senado a que não intrasse em taes negociações,—pelo que, voltando a Carthago, soffreu morte cruel.

Metello, outro general romano, expulsou os Carthaginezes da Sicilia; mas, emquanto isto se passava, a frota romana, commandada por Claudio Pulcher, era completamente destruida junto de Lilybea. Por fim, depois de uma grande victoria dos Romanos, commandados pelo consul Luctacio, sobre os Carthaginezes sob o mando de Amilcar, celebrou-se{31} a paz com a condição dos segundos cederem aos primeiros todas as ilhas situadas entre a Italia e a Africa e pagarem-lhes durante dez annos um tributo annual de 2:200 talentos.

A segunda guerra punica teve a seguinte origem. Os Carthaginezes, para compensação das perdas soffridas em resultado da primeira guerra, trataram de alargar os seus dominios na peninsula hispanica. Amilcar Barcas subjugou uma grande parte d'ella e Asdrubal edificou Carthagena. Os Romanos, que não podiam ver com bons olhos o novo ingrandecimento dos seus rivaes, começaram a inquietar-se com aquellas conquistas e exigiram dos Carthaginezes que firmassem tratados, pelos quaes se obrigassem a não extender as suas conquistas alêm do Ebro e a respeitarem Sagunto, que era alliada de Roma. Mas Annibal, filho de Amilcar, depois de se haver apoderado de varias outras povoações, poz cêrco a Sagunto e deatruiu-a. Isso foi motivo para a segunda guerra punica.

Annibal, tomando a offensiva, invade a Italia e ganha differentes victorias, chegando Roma (não obstante o talento do pro-dictador Fabio) a estar seriamente ameaçada. Mas o senado de Carthago hesitou em mandar a Annibal os soccorros pedidos; este teve que procurál-os na Sardenha, na Sicilia e na Macedonia, e mandou ir da Hespanha seu irmão Asdrubal com um novo exercito de Hespanhoes e de Gaulezes. A desorganização, a heterogeniedade d'estes elementos, e a sua indisciplina, valeram aos Romanos nas apertadas circumstancias a que haviam chegado. Alêm d'isso o soccorro levado por Asdrubal não poude chegar ao seu destino, porque aquelle general, detido no caminho por um exercito romano sob o mando dos dois consules, teve que dar-lhe batalha em que morreu, sendo desbaratada toda a sua gente.

Entretanto Publio Scipião com um exercito romano passou a Africa e foi cercar a propria cidade de Carthago. Annibal teve que deixar a Italia para acudir em soccorro da capital da sua patria, e alli foi derrotado nas planicies de Zama. Passou-se isto no anno 202 antes da era christan. Esta victoria de Scipião poz termo á segunda guerra punica.

No seu regresso a Roma, Scipião foi alvo das mais esplendidas ovações, e deram-lhe o cognome de Africano.

Depois da paz de Zama, pode dizer-se que a existencia de Carthago foi uma lenta agonia. Massinissa, rei da Numidia, expoliou-a de muitas povoações e de grande extensão de territorio; os Carthaginezes appellaram para Roma, porque Massinissa era alliado dos Romanos; mas o senado de Roma, promettendo-lhes{32} justiça, deixou que aquelle rei permanecesse na posse dos territorios de que se tinha apoderado. Para apparentar uma arbitragem, inviou Catão a Carthago; mas este, vendo a cidade rica e prospera, sentiu reviver o odio contra a rival de Roma. E voltando, sempre terminava os seus discursos no senado pela phrase, que ficou celebre: delenda Carthago («deve ser destruida Carthago»). Tendo os Carthaginezes repellido um novo ataque de Massinissa, Roma pretextou que houvera violação do tratado de paz de Zama e declarou a terceira guerra punica, que, depois de varia sorte, terminou por um cêrco a Carthago, no qual os Carthaginezes foram reduzidos pela fome. Scipião Emilio, o segundo Africano, general romano, tomou a cidade e arrazou-a. Commissarios do senado de Roma tomaram posse do territorio carthaginez e fizeram d'elle uma provincia romana, com o nome de Africa. Foi isto no anno 146 antes de Christo.

 

CAPITULO VI
OS SYRIOS

Nada se conhece ao certo dos tempos primitivos da historia da Syria. A historia dos seus reis confunde-se inteiramente n'aquella epocha com a dos monarchas assyrios. Até ao desmembramento dos estados de Alexandre, a Syria foi successivamente invadida pelos reis de Ninive, pelos de Babylonia, pelos Persas em tempo de Cyro, e finalmente pelo dito Alexandre. Depois da morte d'este, Nicator Seleuco (um dos seus generaes) começou a fundação do grande reino da Syria, appellidado tambem «reino dos Seleucidas» do nome do seu fundador. A Nicator Seleuco succedeu no throno Antiocho Soter, que bateu os Bithyneos, os Macedonios e os Galates.

O rei mais celebre da Syria foi Antiocho, cognominado o Grande. Depois de ter conquistado a Judéa, a Phenicia e diversos outros paizes, concebeu o plano de submetter ao seu dominio as cidades livres da Grecia asiatica, Lampsaco, Smyrna e outras. Pediram estas cidades soccorro aos Romanos, e estes inviaram embaixadores a Antiocho, convidando-o a que deixasse aquellas cidades em paz e a que restituisse a Ptolomeu Philadelpho o territorio que por conquista lhe tinha tirado. Antiocho respondeu, declarando guerra aos Romanos. Seguiu-se uma lucta em que aquelle rei foi vencido por Scipião{33} o Asiatico, que só lhe concedeu a paz depois d'elle haver dado satisfacção aos Romanos. Mais tarde Antiocho Epiphanes usurpou a Demetrio o throno da Syria; teve varias guerras com os extrangeiros e tomou Jerusalem. N'aquella cidade mandou matar grande numero de habitantes, roubou os vasos sagrados do templo; e, voltando á Syria, deixou a Judéa governada, em seu nome, por seus generaes, que exerceram muitas perseguições contra os Judeus. Ordenou por uma lei que todos os povos sujeitos ao seu imperio usassem as mesmas superstições gentilicas seguidas n'este; e, depois de ter profanado o templo de Jerusalem, mandou n'elle collocar uma estatua de Jupiter Olympico. Por medo das perseguições, muitos Judeus abandonaram o culto do verdadeiro Deus e lançaram-se no seio da idolatria; outros, fieis ás suas crenças e ás suas leis, soffreram por isso tormentos crueis. Alguns d'estes tornaram-se muito notaveis, pela sua corajosa resistencia ás ordens do conquistador, e pelo valor com que soffreram o martyrio. O velho Eleazar, varão de mais de 90 annos, foi apresentado em Antiochia ao rei Antiocho, como réu de observar a lei moysayca e de não querer sacrificar aos falsos deuses. Não sendo possivel obrigál-o a comer das carnes prohibidas nem a fingir que o fazia, foi cruelmente martyrizado. Septe irmãos, conhecidos pelo nome de «Irmãos Machabeus», juntamente com sua mãe, que os exhortava á perseverança na lei e na fé, soffreram os mais atrozes supplicios até expirarem, desprezando as promessas e as ameaças com que o rei os queria vencer.

Mathatias (sacerdote da tribu de Levi), sendo já de edade muito avançada, matou a um israelita que na sua presença, obedecendo ás ordens de um soldado de Antiocho, ia para Sacrificar aos falsos deuses, e em seguida matou tambem o mesmo soldado. Feito isto, retirou-se com seus cinco filhos Judas Machabeu, João, Simão, Eleazar e Jonathas; e, juntando os Judeus que ainda seguiam o verdadeiro Deus, foi restabelecendo por toda a parte o verdadeiro culto e derrubando os altares e estatuas dos falsos deuses. Cahindo doente, recommendou á hora da morte aos filhos que com as armas defendessem a patria e a religião contra os tyrannos. Judas Machabeu tomou logo o commando das tropas; e, com grande valor, foi lançando fóra da Judéa os Syrios. Venceu varios generaes de Antiocho em differentes batalhas, e reparou e purificou o templo de Jerusalem. Morreu entretanto Antiocho; e, ainda depois d'isso, Judas Machabeu proseguiu na guerra contra os Syrios, dos quaes libertou completamente a Judéa.

O ultimo rei da Syria foi Antiocho II. No seu tempo, o reino{34} da Syria, que tinha durado por 238 annos, cahiu em poder de Roma, da qual ficou sendo uma provincia.

 

CAPITULO VII
OS PERSAS

É extremamente obscura e confusa a historia dos Persas anterior a Cyro, que viveu no seculo VI antes da era christan. Está intimamente ligada á dos Médos.

Cyro era filho de Cambyses, rei da Persia, tributario dos Médos, de cujo rei Cyaxaro II era sobrinho.

Pela morte de Cambyses e Cyaxaro, Cyro succedeu-lhes nos governos e reuniu o obscuro reino da Persia ao da Média. Sob o seu governo, foi a Persia um grande imperio, ao qual estiveram sujeitos a Grande Asia, a Asia Menor, a Syria e a Arabia.

A Cyro succedeu seu filho, tambem chamado Cambyses. Sob o mando d'este soberano ainda mais cresceu o poderio da Persia, que se accrescentou com a conquista do Egypto. A causa da guerra entre as duas nações foi Cambyses ter pedido a Amasis (rei do Egypto) sua filha em casamento, e este, inganando-o, ter-lhe inviado, em vez d'ella, a filha de Apriés. Para tirar vingança de tal affronta, Cambyses introu no Egypto, incontrou-se perto de Pelma com o exercito egypcio, commandado por Psammenito (filho e successor de Amasis), batteu-o e desbaratou-o. Depois apoderou-se de Memphis e de Sais; e em seguida imprehendeu a conquista da Ethiopia. Para isso seguiu o curso do Nilo até Thebas, e d'alli destacou 50:000 homens do seu exercito para irem combater os Ammonitas e queimar o templo de Jupiter; mas aquella gente, tres dias depois da sahida de Thebas, ficou toda sepultada nas areias do deserto, levantadas e revoltas por um tremendo furacão. Tambem Cambyses se viu impedido de continuar a sua marcha sobre a Ethiopia, por haver perdido, em resultado do calor e de privações de todo o genero, as tres quartas partes do seu exercito e por ter depois soffrido uma horrivel fome, durante a qual os soldados se devoravam uns aos outros.

Cambyses no principio mostrára-se no Egypto com disposições para usar de uma politica de conciliação para com os{35} vencidos, chegando a adoptar os titulos e os trajos dos antigos Pharaós, e fazendo-se iniciar nos mysterios de Osiris. Porém, depois do mallogro das suas tentativas contra a Ethiopia e contra os Ammonitas, mudou completamente de systema e mostrou-se animado de grande intolerancia e ferocidade. Saqueou e incendiou as cidades e os templos; mandou assassinar os sacerdotes do boi Apis, o qual por sua propria mão apunhalou; destruiu por toda a parte as imagens dos deuses; e por fim sahiu do Egypto para se recolher á Persia. Quando chegou á Syria, rebentou a revolta do falso Smerdis, um impostor que se inculcava como o irmão de Cambyses (que este assassinára logo nos primeiros tempos do seu reinado). Apressou-se em ir desmascarar o rebelde que usurpava o nome de seu irmão, que elle sabia estar morto; mas, ferindo-se n'uma perna ao montar a cavallo, d'esse ferimento lhe resultou a morte, succedida logo depois da intrada na Persia.

Herodoto e outros historiadores pintam este Cambyses como um monstro de ferocidade, e contam d'elle varios feitos atrozes, como o de ter assassinado com um ponta-pé dado no ventre a sua irman Meroé (com quem tinha casado, conforme ao uso da Persia, e que d'elle estava gravida).

Morto Cambyses, succedeu-lhe no throno o falso Smerdis, que continuou a fazer-se passar por seu irmão, e que era simplesmente o irmão de um mago, a quem estava incumbida a administração do palacio real. Conseguiu reinar oito mezes; mas, passados elles, septe dos mais poderosos chefes persas urdiram uma conspiração, desmascararam-n'o, deram-lhe a morte, e acclamaram rei o mais illustre entre elles (Dario, filho de Hystapes).

No reinado de Dario os Babylonios revoltaram-se, e foram reduzidos á obediencia pelo estratagema de um official persa chamado Zopiro que, havendo mutilado voluntariamente o rosto, foi persuadir os Babylonios de que tinha sido victima da crueldade de Dario. Admittido na cidade, abriu as portas ao exercito persa. Dario intentou depois subjugar os Gregos; inviando contra elles um numeroso exercito, commandado por seu genro Mardonio, exercito que foi desbaratado por Milciades na planicie de Marathona. Quando Dario tinha apparelhado novo exercito e se dispunha para segunda expedição, foi surprehendido pela morte.

Seu filho Xerxes, que lhe succedeu, poz-se á frente d'aquelle numeroso exercito, cuja força alguns historiadores elevam a 1.700:000 homens, e de uma esquadra de 1:200 navios,{36} dirigiu-se a atacar a Grecia para vingar a derrota de seu pae em Marathona; mas foi completamente derrotado na batalha de Salamina, e teve que tornar a passar o Hellesponto. No anno seguinte, novo exercito, commandado por Mardonio e inviado com egual intento contra a Grecia, foi desfeito junto de Platéa por Pausanias (general da Lacedemonia), e por Aristides. Xerxes veio a morrer assassinado, no vigessimo anno de governo, por Artabano (capitão da sua guarda). Succedeu-lhe seu filho Artaxerxes que, constrangido por Cimon (filho de Milciades), que o venceu perto de Chypre, teve que dar a liberdade aos Gregos da Asia.

Depois d'elle reinou Dario II, que se alliou com Sparta contra Athenas; e a este succedeu Artaxerxes Mnemon, cujo irmão, Cyro o Moço, se revoltou contra elle, com o concurso de tropas gregas, terminando a revolta pela batalha de Cunaxa, em que aquelle principe foi morto, facto a que se seguiu a celebre «retirada dos dez mil» picturescamente descripta pelo historiador Xenophonte.

Pela paz de Antalcidas os Gregos da Asia tornaram a cahir sob o jugo dos Persas—cujo imperio se ia, comtudo, progressivamente infraquecendo. O ultimo rei foi Dario Codomano, no principio de cujo governo foi a Persia invadida pelas tropas de Alexandre Magno, o qual, nas tres batalhas de Granico, do Isso, e de Arbella, destruiu todo o poder d'aquella nação, que na ultima d'ellas se rendeu á discreção do vencedor.

Durante seis seculos permaneceu a Persia confundida no immenso imperio dos Parthos; mas, no anno 228 da era actual, Artaxerxes, filho de um simples soldado, tendo-se elevado pelos seus meritos ás mais altas dignidades, levantou os Persas contra Artabano, ganhou diversas victorias e, sendo acclamado rei, fundou o segundo imperio persa. Depois de haver reinado treze annos, com muito discernimento e prestigio, morreu, legando a corôa a seu filho Sapor. Este devastou a Mesopotamia, a Syria e a Cilicia; e ter-se-ia tornado senhor de toda a Asia, se Odenato, rei de Palmyra e alliado dos Romanos, não tivesse obstado á continuação das suas victorias e conquistas. Aprisionou o imperador romano Valeriano ao qual, depois de o conservar por algum tempo captivo, mandou esfollar em vida. Sapor foi, por sua vez, vencido por Odenato; e, tendo regressado aos seus estados, foi pouco depois assassinado. Depois d'estes acontecimentos foi successivamente infraquecendo o segundo imperio persa. No seculo IV da era christan Sapor II tornou a fortalecêl-o com suas conquistas,{37} mas por pouco durou essa epocha de renascimento. O imperio recahiu bem depressa, e a decadencia foi progredindo até ao momento em que no seculo VII a Persia foi subjugada pelos Arabes.

Os Persas foram celebres no tempo de Cyro pela sua austeridade e pela sua coragem. As creanças (segundo conta Platão) recebiam uma educação propria para d'ellas formar bons cidadãos, uteis á patria. Até á edade de dezesete annos permaneciam fóra da casa paterna, intregues a educadores, especialmente incumbidos de lhes inocularem no espirito os dictames da coragem e da virtude.

O imperio era dividido em provincias, governada cada uma por um satrapa, que recebia directamente ordens do rei. Era tida em especial consideração a agricultura, e muito honrados os que a exerciam; os cultivadores mais activos e laboriosos eram recompensados e admittidos uma vez em cada anno á mesa do soberano. A administração da justiça estava confiada a varões sabios e prudentes, e os juizes que prevaricavam eram punidos com a pena de morte. A legislação não se limitava a comminar penas contra os crimes e delictos; tratava tambem de os evitar, inspirando o horror ao vicio e o amor á virtude.

Os Persas eram monotheistas; adoravam uma só divindade, que era Mithra (o Sol); os emblemas da omnipotencia do Creador eram entre elles os fogos sagrados, mantidos com o maior respeito e solicitude. Os magos, ou sacerdotes, eram homens notaveis pelo seu saber, pela sua gravidade e pela austeridade da sua vida; eram os sabios e os jurisconsultos da nação.

Depois da epocha de Cyro, intregaram-se os Persas a todos os excessos de devassidão; dissolveu-se a disciplina do exercito; os grandes da nação abandonaram a existencia viril, que os distinguia, e cahiram na inacção e na ociosidade, o que foi uma das principaes causas da decadencia e da quéda, do imperio.{38}

 

CAPITULO VIII
OS INDIOS

Dá a Geographia a denominação de India a uma extensa peninsula, situada ao sul da cordilheira do Himaiaya, que é uma das de maior altitude no mundo. Divide-se a peninsula em tres regiões differentes:—1.ª, o Hindustão propriamente dito, constituido pelo territorio das duas bacias do Indo e do Ganges;—2.ª, o Deccan, peninsula situada ao sul d'aquella região e que termina no cabo Comorim;—3.ª, a India central, constituida pela zona de planaltos, que se extende, do occidente para o oriente, desde o mar de Oman até ao golpho de Bengala.

As populações que habitam a vasta peninsula indiana podem classificar-se do seguinte modo:—a raça aryana, ou hindú (Gujarati, Bengali, etc.), que é a que predomina no Hindustão; a raça dravidica (Tamul, Telinga, Karnataka, etc.), predominante no Deccan; os restos das raças primitivas (Ghond, Bhilla, Kolaria, etc.), estabelecidos nas diversas regiões da India central.

A historia da raça aryana divide-se em quatro periodos, que podem chamar-se: vedico, epico, brahmanico e buddhico.

No periodo vedico, e em epocha que não pode determinar-se com precisão, uma parte do grupo dos Aryas orientaes destacou-se, constituiu uma nação á parte (os Hindus), que se dirigiu para o valle de Cabul (antigamente, Kubha), atravessou o rio Indo e extendeu-se pelas campinas de Pendjab (antigamente, Panchanada).

Grande numero dos hymnos que figuram no celebre Rig-Veda referem-se a factos, que se passaram n'este primeiro periodo historico, caracterizado pela immigração e pelo primitivo estabelecimento da raça aryana em terras da India. Quando esta raça alli chegou, incontrou o territorio occupado por differentes populações que, ou eram aborigenes, ou pelo menos tinham longo tempo de habitação n'aquellas paragens. Parte d'estas populações foi absorvida e assimilada pela raça invasora; outra parte foi pouco a pouco destruida em luctas porfiadas de seculos. A principio os Aryas não formavam uma nação unica, mas conservaram-se por muito tempo{39} divididos n'um certo numero de tribus, as mais notaveis das quaes foram a dos Bharatas, a dos Iksuakus e a dos Pauravas, que chegaram ainda independentes até ao periodo historico seguinte, e vieram a ser troncos das poderosas dynastias que então se estabeleceram em terras do Hindustão.

Durante todo o periodo vedico o viver dos Hindus teve a natureza pastoril, e a sua organização sociologica distinguiu-se pelo caracter patriarchal. Ainda entre elles não havia o regimen das castas, que só mais tarde veio a apparecer.

O periodo epico ou heroico decorreu desde que os primeiros hindus intrados na India passaram o rio Sarasuati até que, deslocando-se progressivamente, chegaram á foz do Ganges. Este periodo foi caracterizado pela immigração continuada e pelas luctas entre os que primeiro tinham occupado uma localidade e os que, vindo mais tarde, os obrigavam a abandonal-a e a progredir na immigração.

Deu-se durante este periodo um curioso phenomeno historico. Chegando os primeiros hindus á peninsula indiana, por muito tempo limitaram a sua occupação a uma zona de territorio que tinha por limite oriental o rio Sarasuati. Novas tribus, descendo tambem o valle de Cabul, obrigaram as primeiras, que tinham começado a estabelecer-se nas planicies de Pendjab, a abandonar as posições primitivas e a ir successivamente immigrando de localidade em localidade. Isto deu como resultado o phenomeno de uma enorme massa de população a deslocar-se, com movimento lento e secular ao longo de uma vasta região, até que esse progredir parou na imboccadura do Ganges.

Estas deslocações successivas originaram grandes guerras entre as differentes tribus; e não só essas luctas, mas tambem as que houve entre os Hindus e os povos que primitivamente occuparam aquelles territorios, assignalaram todo o periodo epico. A mais antiga das luctas conhecidas entre as tribus aryanas é designada na Historia por «guerra dos dez reis», e deu-se entre a tribu dos Bharatas (cabeça de uma confederação de dez nações, que tinha por chefe o celebre Vishuamitra) e a tribu dos Tritsus (a que presidia o egualmente celebre Vasista). Esta ultima tribu havia passado o Sarasuati antes da das dez nações; e depois, tendo occupado territorio, oppunha-se á passagem d'ella, que ia invadir-lh'o. Por occasião d'aquella guerra, conseguiu deter o movimento dos rivaes; mas mais tarde viu-se obrigada a ceder o logar perante o impeto, cada vez mais irresistivel, de novas ondas de população que invadiam a India.{40}

Ao passo que as tribus invasoras iam occupando definitivamente territorios e iam assentando posições, iam-se formando dynastias. As duas mais importantes d'este periodo foram: a chamada Solar, que reinou sobre os Tritsus ou Kosalas e teve a sua capital em Ayodhia; e a Lunar, que reinou sobre os Bharatas e teve a sua capital em Hastinapura. Entre dois ramos da dynastia Lunar houve uma tremenda guerra; foi entre os Kurus e os Pandus. Depois de varias phases que a grande lucta apresentou, os Kurus foram por fim inteiramente desbaratados pelos Pandus, que ficaram reinando em Hastinapura. Com esta guerra terminou o periodo epico ou heroico.

No periodo brahmanico os Pandus, vencidos os Kurus, ficaram constituindo uma poderosa dynastia, á qual foi facil, com o andar dos tempos, subjugar as diversas populações aryanas que occupavam aquella região. Formada assim uma grande e opulenta nacionalidade, em breve esta se sentiu naturalmente animada de tendencia expansiva, mandando successivas expedições a colonizar o Deccan, o qual tentou conquistar arrancando-o ás nações dravidicas, que até então o haviam occupado. A historia d'estas guerras deu assumpto ao grande poema indio o Ramayana que tem por thema fundamental a conquista do sul da India e da ilha de Lanká (hoje Ceylão) pelos Aryas. Nada, porêm, positivo se apura n'aquelle poema com respeito aos factos intimos da referida guerra,—porque o caracter do Ramayana é inteiramente mythico; e só um grande esforço de interpretação chega a explicar os seus episodios e a significação dos seus personagens.

Alêm d'aquellas expedições, o interesse historico d'este periodo da historia antiga da India concentrou-se todo na nova constituição social que n'esta despontou e se veio a firmar e radicar com o tempo. A classe dos guerreiros, que até então fôra a primeira em categoria e consideração, cedeu o logar á dos sacerdotes, que ficou sendo a aristocratica e preponderante. O regimen que desde aquella epocha dominou na India, e que ainda hoje alli tem profundas raizes, é o chamado regimen das castas. Por esse regimen a sociedade é dividida na India em quatro classes, religiosa e intransigentemente fechada cada uma d'ellas a elementos extranhos, e dispostas hierarchicamente na fórma seguinte:—1.ª a dos brahmanes ou sacerdotes;—2.ª a dos kshatrias ou guerreiros;—3.ª a dos vaishias ou commerciantes;—4.ª a dos sudràs (a infima) ou dos servidores. Esta ultima julga-se que provêm dos restos da população aborigene, que os Aryas não poderam anniquilar nem assimilar, e que so admittiram no seu corpo social com aquella{41} fórma e aquelle mister degradantes. No chamado «Código de Manu» está expressa e formulada esta fórma do regimen estabelecido na sociedade indiana.

Ao periodo brahmanico succedeu o periodo buddhico, que fecha a historia antiga da India. N'este periodo a theocracia brahmanica soffreu um grande abalo e teve que defender-se em lucta porfiada. No seculo VI antes da era de Christo appareceu na India um homem de talento extraordinario, que era ao mesmo tempo um propagandista audacioso e infatigavel. Chamava-se Çakya-muni, era filho de um rajah de um paiz vizinho do Nepaul, e teve o cognome (pelo qual ficou eternizado na Historia) de Buddha (ou sabio). Philosopho de temperamento, aos vinte e nove annos de edade abandonou o palacio paterno, as riquezas e o direito á realeza para viver no deserto, investigando a verdade. Nove annos depois, fortalecido o espirito com as meditações da solidão, voltou ao povoado; e começou a pregar nova doutrina ás multidões, reunidas ao acaso. Por toda a parte orava,—expondo os seus principios, (quer nas povoações, quer nos campos) á gente de todas as condições sociaes. Servia-se na sua predica, de parabolas (o mesmo systema que depois foi seguido por Christo). Apresentava a principio a sua doutrina como uma simples reforma; mas ella tendia á ruina completa do brahmanismo, substituindo ao regimen das castas o principio da egualdade de todos os homens perante a lei moral, e ás falsas virtudes prégadas pelos brahmanes a práctica do bem. Ás promessas de salvação (isto é, da união com a essencia divina) só concedida pela religião antiga aos brahmanes, substituia a capacidade, para todos os homens, de gozarem da bemaventurança, ganha por seus meritos e virtudes. Rompia com o privilegio da casta dos brahmanes, para chamar ao sacerdocio os pobres e os mendigos que quizessem dedicar-se á vida religiosa. A sua doutrina admittia seis elementos de perfeição, que eram: a sciencia, que devia ter por objecto distinguir os verdadeiros dos falsos bens; a energia, que devia consistir na resistencia contra os nossos maiores inimigos, os prazeres dos sentidos; a pureza, que era a victoria adquirida por aquella resistencia; a paciencia, que consistia em soffrer os males imaginarios e os transitorios; a caridade, laço de união entre os homens; a esmola, como consequencia necessaria da caridade.

Tão sympathica e tão santa doutrina, que tantos pontos de similhança tem com a de Christo, não podia deixar de fazer, como fez, um proselytismo enorme.

Assim prégou até aos oitenta annos, respeitando sempre a{42} ordem estabelecida, e proclamando (como o fez mais tarde Christo) que aos principes se devia dar o que lhes era devido. Por sua morte, os discipulos reuniram os principaes discursos d'elle e convocaram o primeiro concilio buddhico, em que tomaram parte 500 religiosos. Depois de septe mezes de discussão, esse concilio assentou na fórma do culto e no corpo das doutrinas, o que tudo ficou mais precisado em segundo e terceiro concilio, que se reuniram, um no seculo V e o outro 150 annos antes de Christo.

Por fim os brahmanes, conhecendo o perigo eminente que já corria a religião antiga e o edificio social, que elles haviam construido, e á sombra dos quaes viviam e desfructavam commodidades, honras e distincções, começaram uma lucta feroz contra o buddhismo, chegando a desincadear contra os seus proselytos uma atroz perseguição. Entre outros anathemas, prégavam os brahmanes: «Que desde Ceylão até ao Himalaya, coberto de neve, os buddhistas sejam exterminados. Quem poupar a creança ou o velho, soffra a pena de morte». Esta perseguição deu resultado na India, que voltou toda ao brahmanismo; mas o buddhismo espalhou-se no Thibet (que é hoje o seu centro), na Mongolia, na China, na Indo-China e em Ceylão. N'estes paizes conta ainda muitos milhões de seguidores, sendo comtudo poucos os que practicam as doutrinas e os preceitos de Buddha na sua pureza.

A civilização indiana, toda com caracter religioso, não primou nem pelo progresso das sciencias nem pelo das artes. Em sciencia, só a da grammatica e da linguagem se desinvolveu consideravelmente; da arte só ficaram monumentos grandiosos nas proporções, mas de pouca belleza artistica. Prosperaram, porêm, algumas industrias entre os Indios.

 

CAPITULO IX
OS CHINS

Não se conhece a duração da sociedade chineza, á qual as suas tradições maravilhosas attribuem 80:000 a 100:000 annos de existencia. O que é certo é que o povo chinez é muitissimo antigo, havendo nas suas tradições mais ou menos certas conhecimento de factos anteriores 3:500 annos a Christo,—e,{43} desde o seculo XXVI da mesma era, historia positiva que apresenta seguidos annaes.

Ignora-se completamente quaes foram a origem e o modo de formação dos Chins, habitantes do Celeste Imperio ou Imperio do Meio. Até ao seculo XXII antes de Christo os imperadores eram electivos; d'aquella epocha em deante estabeleceu-se o principio heriditario na successão, modificado n'um ponto (e era que os grandes do imperio podiam escolher entre os filhos do soberano defuncto o que julgassem digno de succeder-lhe).

O imperador Yu foi fundador da dynastia dos Hia, que durou quatro seculos e que acabou no meio de grandes desordens e de uma atroz tyrannia. A segunda dynastia, a dos Chang, foi fundada por um principe de merecimento superior cujas virtudes foram celebradas por Confucio, e veio a acabar como a anterior, sendo o seu ultimo representante um tyranno abominavel, desthronado por Wu-Wang, principe de Tehéu, que contra elle se revoltou. Este, tomando o governo, reorganizou o antigo «tribunal da historia», cujos membros gozavam de inamobilidade, que lhes assegurava a independencia. Durante esta dynastia os reinos feudatarios da China, que já desde antiga data existiam, augmentaram até ao numero de 125, e na China constituiu-se um verdadeiro feudalismo. Este, porêm, acabou em perfeita anarchia; o imperador chegou a absoluta impotencia, e um dos seus feudatarios offereceu sacrificio ao céu (prerogativa exclusiva do soberano), e prendeu no palacio o ultimo imperador d'aquella dynastia. Começou nova dynastia, a dos Thsin que, destruindo todos os pequenos principados, reconstruiu com sua unidade e poderio o grande imperio. Um imperador d'ella, Chi-Hoang-Ti, concluiu aquella transformação, abriu grande numero de estradas, perfurou montanhas e, para impedir as correrias dos Tartaros nomadas, mandou construir a grande muralha, que mede 2:500 kilometros de comprimento. Tornou-se porêm, tristemente celebre pela perseguição dos lettrados e pelo incendio dos livros. Na sua enorme vaidade, queria que tudo datasse do seu reinado e pretendeu assim apagar os vestigios do passado. Não poude, felizmente, matar todos os sabios, nem destruir todos os livros. A monarchia chineza, que n'aquella data foi perturbada por tão violento e insensato reformador, voltou depois á sua tradicional quietação; os sabios recuperaram a sua influencia; e o paiz augmentou consideravelmente em prosperidade. Mas depois, minada por vicios de dissolução interior, não teve força para resistir ás invasões{44} dos Mongoes que, transpondo a grande muralha, foram causa da divisão da China em dois reinos, separados pelo rio Azul, e nos quaes houve differentes dynastias, que todas tiveram uma existencia obscura. Li-Ang tornou a reunil-os no anno 618 da era actual; mas não conseguiu robustecer o imperio restaurado, de modo que pudesse resistir ás repetidas Invasões mongolicas. Estas invasões continuaram durante a Edade-Média, e são já estranhas ao assumpto do presente livrinho.

É a civilização da China uma das mais antigas que se conhecem; mas, apezar d'isso, é a que menos tem progredido ou, melhor diremos, a que por maior decurso de tempo tem permanecido estacionaria. Tem sido causas d'esse estacionamento o temperamento proprio da raça chineza, a sua fórma de governo, a sua religião e o isolamento em que a nação se tem conservado a respeito do resto do mundo.

A fórma de governo tem sido sempre como que patriarchal. O imperador é simultaneamente soberano e pae de todos os seus subditos, que de um extremo a outro do imperio formam uma unica familia, sem distincção de castas ou hierarchias. As doutrinas de Confucio têem contribuido principalmente para conservar ás instituições chinezas a sua estabilidade.

Confucio viveu no seculo VI antes de Christo. Os seus livros, sendo como que o evangelho do Imperio Celeste, são estudados por todos os que têem que sujeitar-se aos exames que habilitam para os titulos litterarios e para o exercicio dos cargos publicos. Confucio não foi legislador, nem teve auctoriade para promulgar leis; mas ensinou a «sabedoria». E na práctica das doutrinas por elle professadas assenta todo o edificio politico e religioso na China.

Segundo elle, a moral dos antigos sabios, que é a da verdadeira e eterna sabedoria, consiste na observancia das tres leis fundamentaes das relações entre o soberano e os subditos, entre o pae e os filhos, e entre o marido e a mulher; e tambem em practicar as cinco virtudes capitaes (que são: a humanidade, isto é, uma caridade universal para com todos os individuos da nossa especie sem distincção; a justiça, que dá a cada um o que lhe é devido, sem favorecer um em prejuizo de outro; a conformidade aos ritos prescriptos e aos usos estabelecidos, a fim de que os que formam a sociedade tenham uma maneira commum de viver, e participem todos de eguaes vantagens e de eguaes incommodos; a rectidão, ou a inteireza de espirito e de coração, que faz que cada um busque a verdade, sem se deixar offuscar pelo interesse, proprio ou{45} alheio; a sinceridade e boa fé, ou a lisura e confiança, que exclue toda a dissimulação e toda a falsidade, quer nos actos quer nas palavras).

Os seus principios religiosos fundamentaes são os seguintes. O céu é o principio universal, a origem fecunda de que todas as coisas procederam. Os nossos antepassados, d'elle oriundos, foram a origem das gerações seguintes. Dar ao céu testemunhos de agradecimento é o primeiro dever do homem; mostrar gratidão aos antepassados é o segundo. É por isso que Fou-Hi estabeleceu ceremonias em honra do céu e dos antepassados.

 

CAPITULO X
OS GREGOS

Na Antiguidade, a Grecia propriamente dita era apenas uma região constituida por uma pequena porção de territorio do continente europeu, e pela peninsula que na bacia Oriental do Mediterraneo termina o mesmo continente, entre o mar Jonio ao occidente e o mar Egeu (hoje denominado Archipelago) ao oriente. Tambem pertenciam á Grecia as numerosas ilhas que ha nas proximidades d'aquella região. As diversas populações que na Grecia vieram a ter importancia historica derivaram-se todas da raça aryana, da qual constituiam um grupo especial (o hellenico). Este grupo, pela brilhante civilização que no seu seio se elaborou, constitue um dos mais nobres da historia, e formou uma individualidade distinctissima atravez dos seculos.

Na obscuridade dos primitivos tempos, parece que os primeiros habitadores da Grecia foram os Pelasgos e os Jonios. Os primeiros povoaram com suas tribus a Asia Menor, a Grecia e a Italia, lançaram n'estes paizes os primeiros fundamentos da civilização, e por toda a parte deixaram nos seus monumentos provas eternas da sua actividade e das suas poderosas aptidões. Desappareceram, porêm, sem que sobre o seu destino ulterior haja tradição segura.

Quando a Grecia apenas sahia do estado selvagem, vieram (segundo antigas tradições) colonias dos paizes mais civilizados da Asia e da Africa trazer-lhe os conhecimentos das artes uteis e uma religião mais pura. Foi assim que Cecrops,{46} oriundo do Egypto, desimbarcou na Attica, reunindo os habitantes d'ella em diversas povoações, das quaes Athenas veio a ser a capital; ensinou-lhes algumas culturas, promulgou as leis do casamento e instituiu o tribunal do Areopago, destinado a julgar os pleitos. Do mesmo modo na Beocia, Cadmo introduziu o alphabeto phenicio e edificou Cadméa, emtorno da qual se elevou mais tarde a cidade de Thebas. Dano introduziu em Argos algumas das artes do Egypto; e Pelops, phrygio, estabeleceu-se na Elida, d'onde a sua raça se espalhou por toda a peninsula que d'elle tirou o nome. O acontecimento dominante d'aquella epocha foi a invasão dos Hellenos que do norte da Grecia, sua primeira habitação, se derramaram por todas as outras partes da peninsula, á custa dos Pelasgos que foram absorvidos pela população invasora.

Apoz esta epocha primitiva seguiram-se os tempos heroicos, em que homens de grande valor physico percorriam a Grecia, para a libertar dos salteadores, dos oppressores e dos animaes selvagens. Passando a sua vida a combater todos os flagellos, aquelles heroes recebiam dos povos agradecidos as honras de semi-deuses; mas muitas vezes abusavam da sua força e das suas vantagens pessoaes. Entre outros foram notaveis Hercules e Theseu. Tambem ficaram nas tradições poeticas: os Argonautas e a sua viagem aventurosa até á Colchida, em busca do vellocino de oiro; os septe chefes que foram cercar Thebas, infamada pelos crimes de [OE]dipo e pelas dissenções entre seus filhos; o sabio Minos; etc.

Foi n'este periodo que se deu a guerra de Troya. Esta cidade era a capital de um poderoso reino estabelecido no noroeste da Asia Menor e o ultimo resto do dominio dos Pelasgos. O celebre Páris, filho de Priamo (rei de Troya), fez uma viagem ao Peloponeso e d'alli furtou e levou para a sua patria Helena, mulher de Meneláu (rei de Esparta ou Lacedemonia). Pedindo-a depois o marido e os mais Gregos aos Troyanos, estes negaram-se a intregál-a, pelo que lhes foi por aquelles declarada a guerra. Quasi toda a Grecia com seus principes foi a esta expedição, levando por general supremo o rei Agamemnon. Ás ordens d'este principe iam Achilles (capitão de grande valor), Ajax Tellamonio, Ajax Oileu, Diomedes, Menesteu, Ulysses (rei de Itaca), e Nestor (varão de edade já muito avançada). Foi posto cêrco a Troya; mas durante quasi dez annos não houve batalha decisiva. Troya, defendia-se e parecia disposta e habilitada a continuar a defender-se com vantagem, não obstante a falta de Heitor, que a commandava e que morreu ás mãos de Achilles.{47} Os Gregos usaram por fim de um estratagema; fingiram retirar-se, deixando no campo, como presente, um gigantesco cavallo de madeira, que os Troyanos recolheram dentro de suas muralhas. Mas no corpo do animal occultavam-se os mais bravos d'entre os Gregos, que assim se introduziram na cidade, cujas portas abriram ao resto do exercito. Desse modo cahiu Troya, sendo Priamo assassinado ao pé dos altares. Os principes gregos que não haviam morrido na lucta, voltaram a caminho da sua patria; mas grandes infelicidades os esperavam. Uns morreram na viagem; outros, como Ulysses, andaram muito tempo desviados do caminho por ventos adversos; outros (como Agamemnon) ao chegarem aos seus paizes, incontraram os thronos occupados por usurpadores, de que foram victimas; outros, emfim, viram-se obrigados a ir estabelecer habitação em regiões longiquas, como Diomedes e Idomeneu.

Toda a historia d'esta epocha está tão eivada de fabula, que é quasi impossivel apurar-se a verdade.

Os oitenta annos que se seguiram á guerra de Troya foram todos occupados por dissenções intestinas, que derrubaram as antigas dynastias, e transferiram a preponderancia para as mãos de novos povos. Estas revoluções, e outras que mais tarde houve, deram logar a varias correntes de emigração; e ao longo das costas da Asia Menor, da Africa, da Sicilia, e da Italia, formou-se uma nova Grecia, que cresceu e prosperou, e por muito tempo foi mais rica do que a metropole. Foi assim que os Gregos se estabeleceram em Smyrna, Phocéa, Epheso e Mileto (na Asia Menor); em Cyrena (na Africa); em Messina e Syracusa (na Sicilia); e em Taranto, Napoles e Sybaris (na Italia). Nas colonias da Asia, em contacto com as velhas sociedades do Oriente, começou a evolução civilizadora, de que Athenas veio a ser mais tarde o brilhantissimo fóco.

Mas, apezar de tão grande dispersão da população grega, apezar da divisão da Grecia em tantos estados, a grande familia hellenica conservou a sua unidade nacional, pela communidade da lingua e da religião, pela celebridade de alguns oraculos (o de Delphos principalmente, ao qual concorria gente de todos os pontos do mundo grego), e por algumas instituições geraes que conservavam estreitos os laços moraes das populações entre si.

Entre 800 e 700 annos antes de Christo, houve de notavel na Grecia o apparecimento das leis de Lycurgo. Este personagem nasceu em Esparta. A viuva do rei Polydecto, seu irmão,{48} offereceu-lhe com a sua mão de esposa o throno de Esparta, com a condição d'elle matar seu sobrinho Charilaus. Recusou-se a isso Lycurgo; e, como os grandes do reino se mostrassem contra elle irritados pela sabia administração que usára como regente, durante a menoridade do sobrinho, resolveu exilar-se e viajou por muito tempo, estudando a legislação dos outros povos e voltando a Lacedemonia, depois de uma ausencia de dezoito annos, com o intento de fazer adoptar reformas importantes nas leis do reino. A pythonisa de Delphos apoiou com a sua auctoridade religiosa as reformas propostas; e os Espartanos, fatigados das suas dissenções intestinas, que laceravam o estado, acolheram-n'as favoravelmente.

As leis politicas de Lycurgo mantiveram as relações estabelecidas entre os Espartanos, como povo dominador, e os Laconianos, como povo subjugado. Regularam os direitos da realeza distribuidos por duas casas soberanas; os do senado, composto de varões de edade superior a sessenta annos; os da assembléa geral, que podia acceitar ou regeitar as propostas feitas pelo senado ou pelos reis; enfim, os dos ephoros, magistrados annuaes, que administravam a justiça. As suas leis civis são muito mais notaveis e de muito maior alcance; e tiveram por fim estabelecer a egualdade entre todos os cidadãos. Para chegar a tal fim, dividiu elle as terras em 39:000 porções (30:000 para os Laconianos e 9:000 para os Espartanos). Para manter a egualdade entre os cidadãos, Lycurgo prohibiu o luxo e a moeda de oiro e de prata; e instituiu as refeições publicas, em que reinava a maior frugalidade. Vedou aos Espartanos o commercio e a cultura das artes e das lettras, sujeitando-os todos a eguaes exercicios physicos, com a mira de formar cidadãos robustos para a defesa da patria. Ao mesmo fim era dirigida a educação das creanças, que mais pertenciam ao estado do que á familia; a creança que nascia disforme, matavam-n'a.

Acabadas por esta legislação rigorosa as discordias interiores, e robustecida assim Esparta, concluiu esta a conquista da Laconia e imprehendeu a do Peloponeso. Combateu a tribu dorica dos Messenios, com a qual teve duas guerras, (uma que durou vinte annos e a outra dezesepte). As victorias n'estas luctas alcançadas deram grande nomeada aos Espartanos, que no seculo VI antes da era christan eram considerados como o primeiro povo da Grecia.

Pelo mesmo tempo florescia tambem Athenas, comquanto os defeitos da sua organização social déssem origem a grande mal-estar interior e a repetidas perturbações. A grande{49} desegualdade dos haveres tinha dado origem á formação de duas classes: a dos eupatridas, ou senhores das terras, e a dos thetas, ou servos que as cultivavam. Além d'estas duas havia ainda a dos escravos propriamente ditos.

A morte de Codro, ultimo rei dos Athenienses, deu logar a estabelecer-se uma nova fórma de governo. Os dois filhos d'elle, Medon e Nileu, disputaram entre si a corôa. Os Athenienses, que tinham sido sempre muito ciosos da sua liberdade, aproveitaram este ensejo para a reivindicarem completamente; declararam que depois de Codro não havia ninguem digno do titulo de rei e puzeram á testa da republica um primeiro magistrado a que deram o nome de archonte, e cuja auctoridade era muito limitada. Durante mais de tres seculos foi esta magistratura vitalicia e hereditaria; no fim d'esse tempo tornou-se electiva, e as funcções de archonte foram limitadas a dez annos. Mais tarde ainda, o poder foi distribuido por nove archontes, cujo mandato durava um anno. D'ahi provieram grandes dissenções, divisões de partidos, rivalidades e desordens.

Para obviar a tantos males viu-se que era necessario fazer leis, que fossem superiores a todas as magistraturas. Foi escolhido para as formular Dracon, homem de virtudes austeras e que gosava da estima geral. Dracon apresentou um codigo de leis de tal severidade, que revoltaram os espiritos mais exigentes e que não puderam ser executadas. Como novas dissenções puzeram em novo perigo o estado, recorreu-se a Solon, varão illustrado e de grande patriotismo, a quem foi dada a missão de fazer as necessarias leis e organizar uma constituição fundada em principios racionaes e estaveis.

Dividiu Solon o povo em quatro classes, segundo o rendimento de cada um. Os cidadãos das tres primeiras classes eram os unicos que podiam exercer cargos publicos; os da quarta, composta da infima plebe, eram admittidos a votar nas assembléas publicas, das quaes se excluiam os estrangeiros. Decretou a pena de morte contra todo o archonte que se embriagasse, e declarou excluido da tribuna e indigno de falar ao povo todo o homem de vida depravada. Estabeleceu que os archontes se informassem da occupação de todos os cidadãos e que declarassem infames os que persistissem na ociosidade, depois de por ella terem soffrido tres condemnações. Decretou que o estado sustentasse até á edade de vinte annos todos os filhos dos cidadãos que morressem no serviço da patria. Das leis draconianas apenas conservou as que eram{50} dirigidas contra os assassinos. Não fez lei penal contra o parricidio, porque não julgou possivel que tal crime se commettesse em Athenas. Para tornar duravel a sua legislação, fêl-a gravar toda em pranchas de madeira, e depois sahiu de Athenas por algum tempo para ir estudar a sabedoria das antigas nações do Oriente.

Quando regressou, notaveis acontecimentos o esperavam. Os partidos tinham re-apparecido e das luctas entre elles tinha surgido a tyrannia de Pisistrato, o qual, sem abolir a constituição, exercia tal influencia, que dominava todos os magistrados. Pisistrato duas vezes foi expulso do poder e de Athenas; mas duas vezes conseguiu recuperar o governo, que por fim conservou até á morte. Depois d'esta succederam-lhe seus dois filhos Hipparco e Hippias, que governaram conjunctamente; mas em seguida houve novas e continuadas dissensões, até ao tempo de Themistocles, no qual a Grecia, ingrandecida com as conquistas de Milciades e arvorada já em verdadeira potencia maritima, viu ainda o seu poder naval accrescentado com 200 navios, mandados construir com o producto das minas de prata de Laurion.

Foram esta armada poderosissima, e o valor e pericia dos seus generaes, que salvaram a Grecia das expedições contra ella organizadas por Dario e Xerxes, de que já falámos no capitulo VII d'este livrinho.

Foi sobre todos notavel na Grecia o periodo d'estas guerras e o tempo que se lhes seguiu. Appareceram então distinctissimos generaes, e excellentes estadistas; e o povo grego, não obstante o seu animo irrequieto e o seu espirito sedicioso, parece que reprimiu todos os ardores que podiam ser prejudiciaes á causa publica, para só dar livre curso a todas as tendencias conducentes ao ingrandecimento da patria e á sua victoria contra os ataques dos inimigos.

Por esta epocha appareceu Pericles—homem de tal merito, que deu o seu nome ao seculo em que viveu e em que a Grecia foi o grande fóco da civilização do mundo.

Era filho de Xanthippo, o vencedor de Mycale. Educado pelos sabios mais notaveis do seu tempo, mostrou-se desde a adolescencia muito instruido em todos os ramos do saber humano. Apesar de estar pelo seu alto nascimento destinado a ser chefe do partido aristocratico, que no começo da vida d'elle tinha a maior influencia em Athenas, esposou a causa do povo, fazendo-se chefe do partido democratico. Fez reformas profundas, em que cerceou as attribuições dos altos poderes do estado em beneficio do povo. Em virtude d'essas reformas,{51} todas as funcções publicas, ainda as mais elevadas, ficaram sendo accessiveis aos cidadãos mais humildes, contanto que a sorte ou a eleição a ellas os chamassem.

Como o imperio sujeito á pequena cidade de Athenas fosse demasiado vasto, para que ella pudésse mantêl-o sujeito, Pericles expediu numerosas colonias que não formaram, como as anteriores, cidades independentes da metropole, mas sim fortalezas e estabelecimentos militares que mantinham na sujeição a Athenas os paizes onde existiam.

Não teve Pericles sómente em vista a grandeza e o poderio de Athenas; cuidou tambem da gloria d'ella. Chamou para alli todos os homens eminentes que então havia na raça hellenica, os quaes todos para lá concorreram, como para a capital da intelligencia. Celebravam-se alli festas esplendidas, que attrahiam enorme concurso de todas as povoações gregas.

Athenas chegou assim a ser um dos mais intensos fócos de civilização que o mundo tem visto. Ao lado do eminente vulto de Pericles, viram-se então alli brilhar: Sophocles e Euripedes, dois dos maiores poetas tragicos conhecidos; Lysias, orador eloquentissimo; Herodoto, narrador admiravel; Aristophanes, o maior poeta comico da Antiguidade; Phidias, o mais illustre dos seus artistas; Apollodoro, Zeuxis, Polygnoto e Parrhasios, pintores bastante celebres; Anaxagoras e Socrates, philosophos notabilissimos. Ainda depois d'estes vultos de primeira ordem vieram Eschylo, Thucydides, Xenophonte, Platão e Aristoteles. Athenas teve por aquella epocha, a honra de ser não só a «mestra da Grecia», como lhe chamaram, mas tambem a mestra do mundo.

Depois de vencida a batalha de Salamina, tinha-se Athenas collocado á frente de uma confederação dos gregos insulares e asiaticos, afim de proseguir na guerra contra os Persas; mas tendo-se os sitiados cançado de combater, havia ella acceitado os seus tributos em vez de contingentes militares e continuára por si só a sustentar a lucta, no interesse commum. Depois da guerra, continuou a cobrar os mesmos tributos, pretextando que precisava estar prompta para impedir uma nova invasão. Os alliados, com o tempo, intenderam que era duro estar a pagar para as festas e para os monumentos de Athenas; e queixaram-se. As suas queixas, porêm, foram duramente repellidas, pelo que elles dirigiram as suas supplicas a Esparta. Esta, ciosa sempre da grandeza e das glorias de Athenas, procurou formar uma liga continental, cujas forças oppuzesse ás das cidades maritimas e insulanas sujeitas aos Athenienses. A principio houve só hostilidades{52} parciaes; mas mais tarde tornou-se geral a guerra, depois do ataque de Platéa (alliada dos Athenienses) pelos Thebanos (alliados de Esparta). Essa lucta é conhecida pela designação de «guerra do Peloponeso».

Durante dez annos correu esta guerra, com vantagem ora para uma ora para outra das contendoras, até que Nicias assignou um tratado de paz, que tem o seu nome. A paz, porêm, contrariava os calculos de Alcibiades, que contava com a guerra para se elevar; por isso propoz este a expedição á Sicilia, que teria sido bem succedida, se elle, accusado de sacrilegio, não fosse privado do commando do exercito. Alcibiades retirou-se então para Esparta, d'onde dirigiu duros golpes contra a sua patria. Os Athenienses puzeram cêrco a Syracusa; mas, em resultado da pouca energia de Nicias, tal cêrco terminou pela destruição da esquadra e do exercito atheniense, cujos chefes foram mortos pelos Syracusanos e os soldados reduzidos á escravidão. Este desastre foi um enorme golpe para Athenas.

Comtudo a guerra continuou; e os Athenienses ainda por vezes obtiveram vantagens, que obrigaram Alcibiades a fugir de Esparta. Entretanto em Athenas rebentou uma revolução, na qual a democracia foi sacrificada a um conselho superior composto de 400 membros, que substituiu o senado, e a uma reunião de 5:000 cidadãos escolhidos, que substituiu a assembléa do povo; mas pouco depois um exercito que operava em Samos fez uma contra-revolução, restabelecendo o governo democratico e acclamando Alcibiades. Este foi chamado a Athenas, e com a sua vinda restabeleceu-se a auctoridade do povo. Os Athenienses ganharam duas batalhas navaes no Hellesponto, uma grande victoria, tanto em terra como no mar, em Cyzica, e por fim tomaram Byzancio. Estas victorias foram, porêm, o resultado de um grande esforço, que exhauriu o resto da vitalidade de Athenas.

Cyro o Moço, que buscava a alliança de Esparta, para arrancar a seu irmão Artaxerxes II a corôa da Persia, forneceu a Lysandro, que governava em Esparta, grandes recursos para levar a cabo a guerra. Com este auxilio, os Espartanos derrotaram os Athenienses em Egos-Potamos; e pouco depois Athenas foi tomada, as suas fortificações arrazadas, a sua marinha reduzida, desorganizado o seu exercito e abolida a constituição democratica, que principalmente concorreu para a sua grandeza e para a sua gloria.

A hegemonia grega passou para Esparta, que não soube usar d'ella com a mesma habilidade e esplendor com que o{53} fizera Athenas. Cyro o Moço levou por deante o seu plano com o auxilio dos Espartanos, avançou até ao pé de Babylonia, onde ganhou a batalha de Cunaxa; mas foi morto, e á sua morte seguiu-se a retirada chamada «dos dez mil» a que já nos referimos, operada atravez de 400 leguas de terreno, pelas montanhas impervias da Mesopotamia e da Armenia até ao Mar-Negro. O exito d'esta retirada revelou o infraquecimento do grande imperio persa; por isso, poucos annos depois o espartano Agesilau, resolveu conquistál-o. Chegou a reunir grandes forças e muitas allianças, mas o seu plano ficou frustrado, porque os Persas tiveram artes de suscitar guerra interior no seio da propria Grecia. Por sua instigação, Corintho, Thebas e Argos formaram uma liga, em que intraram tambem Athenas e a Thessalia. Agesilau, regressando da Asia, conseguiu vantagens em terra, restabelecendo o dominio de Esparta; mas o atheniense Conon, commandante de uma frota phenicia, arrancou-lhe das mãos o dominio maritimo e com o oiro dos Persas, restaurou as fortificações de Athenas.

Esparta, inquieta pelo renascimento da sua rival, inviou mandatarios á Persia, a tratar com ella dos meios de lhe intregar os gregos da Asia, acceitando todas as condições. Era o resultado do abatimento moral e da depravação que tinha ganhado a raça hellenica. Destruiu algumas cidades e perseguiu diversas populações sujeitas a Athenas, até que os seus excessos tiveram um castigo. Um dos seus generaes surprehendeu e tomou á falsa fé Cadmea, cidadella de Thebas, que era então alliada de Esparta. O thebano Pelopidas, á frente de alguns proscriptos, libertou, porêm, a sua patria, e reuniu n'uma alliança commum todas as cidades da Beocia. Tendo os Espartanos mandado contra estes povos colligados um exercito, Epaminondas desbaratou-o na batalha de Leuctras, levando a guerra até ao seio do Peloponeso. Abriu caminho até aos muros de Esparta, na qual, comtudo, não poude intrar; mas, para a conter em respeito, edificou aos seus lados Megalopolis e Messena, dois optimos pontos fortificados. Esparta procurou por toda a parte alliados contra estes novos dominadores da Grecia; mas Epaminondas em activa guerra sustentou firme a dominação de Thebas, dominação que veiu a cahir com elle, morto no meio da sua victoria de Mantinéa.

Poucos annos depois, Filippe da Macedonia, tendo libertado o seu paiz do jugo e da influencia dos extrangeiros, quiz ingrandecêl-o, accrescentando-lhe a Grecia. Tomou e submetteu differentes povoações, com que foi augmentado o seu imperio, observando-se por toda a extensão da Grecia uma{54} grande falta de energia e um fraco espirito de resistencia. Só os Athenienses velavam pela patria commum, guiados pelo grande cidadão e grande orador Demosthenes, que nas suas eloquentes orações mostrava os planos ambiciosos de Filippe. Mas Athenas não poude sustentar por si só, durante longo tempo, uma lucta tão desegual, e por fim teve que firmar, por conselho do proprio Demosthenes, um tratado de paz com o rei da Macedonia.

Emquanto Athenas, descançando na fé d'este tratado, se abandonava ás festas e ás suas occupações ordinarias, Filippe transpoz as Thermophylas, penetrou na Phocida, e conseguiu ser adimittido no conselho amphictionico. Os Athenienses salvaram ainda Perintho e Byzancio, ás quaes Filippe seria obrigado a levantar os cêrcos. Á voz de Demosthenes, que não cessava de lhes mostrar os perigos, nas suas immortaes Filippinas, os Athenienses e os Thebanos, esquecendo a sua mutua rivalidade, reunem os seus exforços para opporem ao inimigo commum; mas o seu exercito, commandado por generaes inhabeis e talvez vendidos ao oiro de Filippe, foi desbaratado n'uma grande batalha na planicie de Cheronéa. Depois d'esta batalha, Filippe propoz-se captar a sympathia dos Gregos, que tratou com as maiores blandicias, e conseguiu ser por elles nomeado generalissimo das tropas destinadas a marchar contra a Persia. Para preparar esta grande expedição voltou a Macedonia, onde foi assassinado por Pausanias durante a celebração dos jogos olympicos.

Succedeu-lhe seu filho Alexandre com vinte e um annos de edade. Tendo os barbaros, que seu pai subjugára, tomado as armas, elle, para lhes estorvar os movimentos, levou o seu exercito até ao Danubio, passou este rio n'uma noite e derrotou os rebeldes. Julgando os Thebanos aquelle ensejo propicio para se libertarem dos Macedonios, apoderaram-se da cidadella, cuja guarnição degollaram. Alexandre reuniu logo um exercito, com que introu na Beocia, exigindo d'elles que lhe intregassem os auctores da revolta. Como lh'os recusassem, deu-lhes batalha, destroçando-os e tomando Thebas; que saqueou e destruiu.

Os Athenienses, receando então haver incorrido na colera de Alexandre, mandaram-lhe emissarios a implorar clemencia. Este usou para com elles de generosidade, da qual comtudo esperava tirar partido para os seus planos de conquista; pacificou a Grecia e reuniu em Corintho deputados de todas as republicas hellenicas, que o nomearam general em chefe de uma expedição contra os Persas. Para levar d'esse modo a effeito{55} o plano de seu pae, confiou o governo da Macedonia e da Grecia a Antipater e partiu com um exercito de 30:000 homens de infanteria e 5:000 de cavallaria, á conquista da Persia, onde então reinava Dario Codomano.

Então começou para Alexandre uma serie de victorias e de conquistas, que constituem uma verdadeira epopéa. Introu na Phrygia depois de atravessar o Hellesponto sem difficuldade; na passagem do Granico, defendida por um exercito persa de 100:000 homens de infanteria e mais de 10:000 de cavallaria, derrotou este, apoderando-se depois de Sardes, que era a chave da Alta-Asia. Epheso, Mileto, Halycarnasso e todas as cidades da costa da Asia intregaram-se-lhe.

No anno seguinte, para se oppor á continuação das suas conquistas, levantou Dario um grande exercito e resolveu levar a guerra ao coração da Macedonia. Memnon, seu general em chefe, á testa da expedição, tomou as ilhas de Chio e de Lesbos. Alexandre não quiz intregar ao acaso de um combate naval a gloria até alli alcançada; abandonou aos Persas o dominio do mar e fez convergir todos os seus exforços para se apoderar dos portos e cortar toda a communicação entre o exercito inimigo e a Grecia. Tendo subjugado a Lydia, dirigiu-se para a Pamphylia sem incontrar obstaculos; atravessou a Cappadocia, foi á Cilicia e a Tarso, d'onde partiu ao incontro do exercito de Dario, que derrotou nos desfiladeiros do Isso. A mãe, mulher e filhos de Dario cahiram em seu poder e Alexandre tratou-os com a maior generosidade. Apoderou-se depois da Phenicia, e tomou Tyro depois de septe mezes de cêrco. Subjugou em seguida a Judéa, e tomou Damasco, onde estavam os thesouros de Dario. Intentou destruir Jerusalem, por lhe haver recusado viveres; mas desistiu do seu proposito, em presença das supplicas que lhe dirigiu o summo sacerdote Jaddo.

Da Judéa dirigiu-se para o Egypto, onde bastou a sua presença, para que todas as povoações se lhe intregasem. Foi até á imboccadura do Nilo, onde lançou os fundamentos da cidade de Alexandria. Incaminhou-se para o Alto-Egypto, penetrou no deserto e chegou até ao oasis em que estava estabelecido o templo de Jupiter Ammon, e onde os sacerdotes lhe concederam o titulo de «filho de Jupiter».

Do Egypto voltou á Asia e penetrou na Armenia, indo ao incontro de um terceiro exercito de Dario, que derrotou, apezar da grande superioridade numerica d'este, intrando triumphante em Babylonia. Esta victoria tornou-o senhor do grande imperio persa; e elle, para segurar as suas conquistas, marchou{56} em persiguição de Dario que foi morto por um traidor do seu proprio exercito, Besso, em Ecbatana.

Alexandre tomou sob a sua protecção a familia de Dario; marchou contra Besso, que se fizera proclamar rei em Bactriana, apoderou-se d'elle e mandou-o matar. A posse do mar Caspio e as estradas militares que abriu para Herat e para Nichapur patentearam-lhe as communicações com todos os differentes pontos da Persia.

Depois de ter assentado tão vasto dominio, resolveu passar á India. Atravessou o Indo, alliou-se com o rei Daxilo e subjugou differentes estados vizinhos d'este. Adeantou-se até ao interior da India, onde edificou diversas cidades, e preparava-se para atravessar o Hyphaso, quando as suas tropas, fartas de tão longo exilio e de tanta peregrinação, se recusaram a seguil-o e lhe pediram para voltar á patria. Alexandre annuiu a este desejo. Depois do seu regresso, ainda subjugou os Oxidracos e outros povos, percorreu a Média, e introu em Ecbatana, onde falleceu o seu favorito Ephestion.

Voltando a Babylonia, foi alli alvo do maior triumpho. Recebeu embaixadores de todas as partes do mundo, acolhendo com especial agrado os da Grecia. Quiz fundir os Gregos e os Persas n'um só povo, por meio de allianças e de colonias, e espalhou por todo o Oriente as idéas, a litteratura e a civilização da Grecia. Durante um anno elaborou esses planos, mas não poude pôl-os em execução, porque veiu a morrer aos 39 annos de edade, no anno 324 antes de Christo.

Fallecido Alexandre, os Macedonios, depois de alguns dias de contestações e de jogo de intrigas e de ambições, escolheram para rei a Arideu; mas bem depressa se desfizeram d'elle, bem como da familia de Alexandre. Os generaes, que haviam sido d'este, trataram de apoderar-se das conquistas que elle fizera, e a partilha foi origem de uma guerra que veio a terminar com a batalha de Ipso.

Emquanto os successores de Alexandre disputavam entre si as conquistas da Asia, a Grecia intentou recuperar a sua liberdade. Demosthenes, que ficára sendo o inspirador do patriotismo e do partido nacional, promoveu a guerra da independencia, que acabou por um desastre. O grande orador sendo proscripto, invenenou-se no exilio. Com esta morte toda a esperança se perdeu. Ainda Arato conseguiu restaurar a antiga confederação das cidades de Achaia; e essa confederação ia talvez extender-se, para formar uma barreira perante as ambições da Macedonia. Mas Esparta, que se tinha novamente elevado sob o governo de Cleomenes, correu a imbargar-lhe{57} o passo. Cleomenes foi vencido; porêm os Macedonios, que tinham auxiliado os Acheus contra elle, ficaram outra vez preponderantes. Os Romanos começam a inquietar-se com essa preponderancia, resolvem intervir, ganham a batalha de Cynocephalo, dissolvem a confederação achaica, e declaram livres todas as cidades da Grecia. Estas regosijam-se com o facto, sem comprehenderem que os Romanos dividiam para dominar e absorver. Conheceram tarde o seu erro; e, quando quizeram reconstruir a confederação e se armaram para resistir aos Romanos, estes venceram a batalha de Leucopetra, junto de Corintho; esta cidade foi queimada pelo consul Mummio, que commandava o exercito de Roma; a Grecia foi declarada provincia romana, e o povo que a habitava, e que tão brilhante papel representára na civilização do mundo, foi absorvido na grande massa das populações sujeitas ao dominio de Roma. Ficou a Grecia sendo governada por um pretor, nomeado annualmente pelo senado romano. Só Athenas conservou até ao tempo do imperador Vespasiano uma constituição republicana.

 

CAPITULO XI
OS ROMANOS

A Italia, como a conheciam e designavam na Antiguidade, era constituida pela peninsula alongada, existente no sul da Europa, que se prolonga com direcção sueste entre os mares Adriatico e Tyrrheno e na extensão de 800 kilometros. Tambem lhe pertencia a Sicilia (ilha d'ella separada por um pequeno estreito), bem como a vasta planicie que se extende até á base dos Alpes (que é atravessada pelo rio Pó e cuja metade superior era conhecida pelo nome de Gallia Cisalpina). Aos pés das montanhas da Sabina, iam incontrar-se as ferteis planicies do Lacio e da Etruria, sobre as margens do rio Tibre. A alguma distancia da sua confluencia com o Arno, passa este rio entre novas collinas, duas das quaes—o Janiculo e o Vaticano—dominam a sua margem direita e as outras estão sobranceiras á esquerda. Foi alli que se edificou Roma.

Durante muito tempo, e apezar da preponderancia que a população e os estabelecimentos do Lacio adquiriram, conservou-se a peninsula dividida em diversas nacionalidades, estabelecidas{58} nas seguintes regiões do territorio; Liguria, Etruria, Campania, Lucania, Apulia, Samnio, Umbria, etc. A unidade politica da Italia peninsular sómente veio a realizar-se depois de um grande numero de tentativas e de esforços continuos e pertinazes de Roma, para vencer as nacionalidades autonomas locaes, que eram muito ciosas dos seus direitos o da sua independencia.

Roma deve ter sido primitivamente uma colonia de Alba-Longa, cidade que pertencia á confederação do Lacio. Ignora-se, porêm, ao certo como se fundou, quaes os elementos a que deveu origem, e as circumstancias que se deram nos seus primeiros tempos. A historia verdadeira da sua primeira epocha é ainda hoje ignorada, porque como historia verdadeira não pode considerar-se a collecção de fabulas e de tradições maravilhosas e inverosimeis, que antigos historiadores colheram das lendas e das crendices populares.

A historia dos septe reis de Roma passa por ser uma lenda em que figuram: 1.º rei, Romulo, que com seu irmão Remo edificou no monte Palatino a cidade de Roma; 2.º rei, Numa, monarcha religioso inspirado pela nympha Egeria; 3.º rei, Tullo Hostilio, que destruiu Alba-Longa, depois da guerra entre Horacios e Curiacios; 4.º rei, Anco Marcio, que foi o fundador de Ostia; 5.º rei, Tarquinio o Antigo, vencedor das cidades latinas do Tibre superior; 6.º rei, Servio Tullio, o legislador, amigo do povo; 7.º rei, Tarquinio o Soberbo, tyranno abominavel que foi expulso pelos Romanos, sendo com essa expulsão abolida a realeza.

Contam os antigos historiadores nos seguintes termos a fabula da fundação de Roma. Romulo e Remo eram filhos do deus Marte e de Rhea Silvia (filha de um rei de Alba), que fôra feita vestal (para não poder casar nem ter descendencia) por seu tio Amulio que derrubou seu pae do throno. Sabendo Amulio do nascimento das duas creanças, mandou-as lançar ao Tibre; mas a pessoa incarregada de as deitar ao rio, por compaixão deixou-as na margem, d'onde um pastor as recolheu, sendo ellas, segundo uns, amamentadas por uma loba, e segundo outros pela mulher do pastor, que dizem se chamava Lupa (Loba).

Quando chegaram a homens, Romulo e Remo reuniram grande numero de aventureiros, vagabundos e descontentes; e com elles tiraram o throno a Amulio, restituindo-o a seu avô materno Numitor, que d'elle havia sido desapossado. Feito isto, foram fundar uma cidade no sitio em que haviam sido creados,{59} e essa cidade foi Roma. Passou-se isto no anno 753 antes de Christo.

Romulo mandou matar a Remo com o pretexto de que este, saltando por um vallado (que foi a primeira muralha de Roma), pretendêra zombar d'elle. Povoou a nova cidade com homens dos povos vizinhos que a si attrahiu; e, como não houvesse mulheres para com elles casarem, mandou fazer umas festas publicas, para as quaes convidou os Sabinos, e ás quaes concorreram estes em grande numero com suas familias. Em meio dos festejos os Romanos roubaram as mulheres aos Sabinos, fazendo-os fugir. Ao rapto das Sabinas seguiu-se uma guerra entre os dois povos, a qual não teve grande duração, porque as proprias raptadas, então já casadas, intervieram para fazer a paz entre os maridos e os paes e irmãos.

A fabula narrada como causa da expulsão de Tarquinio o Soberbo e da abolição da realeza em Roma é a seguinte. Contam que tendo Sexto Tarquinio (filho do rei) injuriado em seu pudor a Lucrecia (mulher do nobre Collatino), esta convocára todos os seus parentes e os outros nobres da cidade para lhes pedir vingança e em seguida se suicidára. D'ahi resultou uma revolução, capitaneada por Collatino e por Lucio Junio Bruto, sendo expulso Tarquinio, abolida a realeza e estabelecida a fórma republicana. Esta revolução foi toda feita pelos patricios, e por isso a republica ficou nas mãos d'elles e com feição aristocratica. O governo foi confiado a dois consules, sendo os primeiros os dois auctores da deposição de Tarquinio, Bruto e Collatino. Refere-se este acontecimento ao anno 509 antes de Christo.

Tiveram pouco depois os Romanos que sustentar uma guerra contra Parsenna, rei da Etruria, que os atacou para restabelecer no poder a Tarquinio. O exercito de Persenna chegou a tomar o Janiculo e a acampar junto dos muros de Roma, pretendendo reduzil-a pela fome; mas foi repellido pelos Romanos com grande denodo, e Persenna veio depois a tornar-se amigo e alliado de Roma.

Os Tarquinios continuaram ainda a fazer guerra á republica até á morte de Aruns (filho de Tarquinio) que succumbiu ás mãos de Bruto. Este fôra ferido mortalmente por Aruns e, concitando todas as suas forças e energia, matou-o, cahindo sem vida sobre o seu cadaver.

Annos depois Manlio (genro de Tarquinio) suscitou contra Roma a guerra, chamada dos Latinos. Estes chegaram a approximar-se da cidade com um exercito numeroso. O povo romano recusava-se a tomar as armas se os nobres ou patricios,{60} que os opprimiam, não o desobrigassem das suas dividas e não lhe tornassem melhor o viver. Representava que era elle que fazia a guerra, mas que as vantagens e as honras eram todas para os ricos e nobres. Estes promptificaram-se a adiar a exigencia das dividas, mas não a dál-as por findas. Em tal apuro, por consenso mutuo, creou-se um magistrado supremo, denominado dictador, com poder absoluto por seis mezes e incarregado de conciliar todos os interesses. Para esse cargo foi escolhido Largio que, fazendo-se acompanhar de 24 lictores armados de machados, apparecia em toda a parte, obrigando todos a intrar na ordem, sob ameaça de morte. O povo amedrontou-se perante esta energia, fez-se o alistamento, e o exercito marchou contra os Latinos. Estes pediram um armisticio, que lhes foi concedido; e Largio exonerou-se da dictadura. Reappareceram mais tarde os Latinos; mas Aulo Posthumio, nomeado dictador, foi ao seu incontro, vencendo-os n'uma batalha decisiva em que ficaram mortos Tito e Sexto, filhos de Tarquinio o Soberbo.

Tendo depois os Romanos guerras com os Volscos e os Equos, foi Cincinnato incarregado do commando do exercito. O lictor que ia dar-lhe noticia da nomeação, incontrou-o com a charrua a arar o campo. Cincinnato largou a cultura, poz-se á frente do exercito, e, em quinze dias, derrotou os inimigos. Alcançada a victoria, o heroe voltou ao trabalho da sua cultura agricola, que deixára interrompido. Coriolano, que se vira obrigado a sahir de Roma, em resultado de dissenções civis entre os tribunos da plebe e os patricios, aos quaes aquelle pertencia, lançou-se no partido dos Volscos e recomeçou com elles a guerra contra os Romanos. Vencido, porêm, pelas supplicas de sua mulher e de sua mãe, retirou-se e recolheu ao paiz dos Volscos que (segundo alguns) o assassinaram.

Seguiu-se a guerra contra os Veientes,—um dos povos etruscos, inimigo eterno dos Romanos, que todos os annos renovava as hostilidades. Os Fabios, familia nobre de Roma, offereceram á republica um concurso poderoso e extraordinario, fazendo por si sós uma guerra particular contra os Veientes; mas foram horrivelmente derrotados, ficando os trezentos patricios, que compunham este pequeno exercito, todos mortos junto a Cremera. Notaveis victorias vingaram, porêm, depois esta derrota; differentes generaes romanos ganharam grandes batalhas e se apoderaram das praças fortes do inimigo. Os Veientes eram tão poderosos que, cercados na sua cidade, defenderam-se durante dez annos dos Romanos, os quaes haviam jurado não voltar a Roma sem haverem tomado{61} a valorosa povoação dos Veientes. O juramento cumpriu-se e a cidade foi tomada.

Por esse tempo Roma tratou de aperfeiçoar as suas instituições e a sua legislação, adoptando algumas das leis vigentes na Grecia. Crearam-se os decemviros, para exercerem o poder em vez dos dois consules. As leis que adoptaram de Athenas foram pelos Romanos gravadas em doze tábuas, o que lhes originou a designação de leis das doze tábuas. Teve pouca duração a instituição dos decemviros, que foi por sua vez substituida pela de dois consules. Esta substituição fez-se por exigencia do povo, cançado da tyrannia dos decemviros e dos excessos dos nobres. O povo ainda obteve outra victoria: estabeleceu-se que os consules tanto pudessem ser eleitos entre os patricios como entre a plebe, e que se pudessem fazer casamentos entre individuos de differentes classes sociaes.

Seguiram-se outras guerras, de algumas das quaes tratámos atraz, em differentes capitulos, a proposito dos outros diversos povos, como a de Tarento, a de Pyrrho, a de Syracusa, as tres guerras punicas, a dos Corinthios, e a da Hespanha, que os Romanos submetteram tambem. Todas estas guerras tiveram como resultado dar a Roma uma vastissima dominação no mundo.

Assim, no anno 130 antes de Christo, dominava ella desde o littoral da peninsula iberica até ao centro da Asia Menor. Estava sujeito ao seu dominio quasi todo o antigo mundo.

Mas a conquista de tão vastos e tão ricos paizes tinha tido sobre os costumes dos Romanos uma influencia desastrosa. Tinham estes renunciado á sua antiga simplicidade e tinham aberto as portas ao luxo. Os nobres tinham-se tornado crapulosos e perdularios; o povo, accessivel á venalidade. D'ali proveio a decadencia que a pouco e pouco produziu a ruina da republica e da liberdade.

Catilina, um nobre romano, eivado de todos os vicios da sua classe, aproveitando-se da ausencia dos exercitos, que estavam na Asia combatendo contra Mithridates, concebeu o negro plano da perda da patria, tendo por cumplices alguns dos seus mais nobres compatriotas. Incontrou porêm a opposição patriotica dos consules Cicero e Antonio; o primeiro, nos seus eloquentes discursos, punha em evidencia as conspirações do traidor e concitava contra elle o patriotismo da plebe; o segundo marchou contra o exercito com que Catilina vinha, da Etruria sobre Roma e desbaratou-o. Catilina foi morto no combate.{62}

Novas calamidades esperavam, porêm, a republica romana. No meio do excessivo poderio e da dissolução dos costumes, quando Roma celebrava as victorias alcançadas por Pompeu no Oriente, a grande influencia e o grande prestigio d'este general despertou a inveja de outros generaes e outros nobres ambiciosos, como Metello, Crasso e Cesar.

Aspirando Cesar a ganhar poder, Crasso a augmentar o seu, e Pompeu a conservar o que possuia, facil foi aos tres ambiciosos combinarem-se para se apoderarem da republica. Distribuindo elles a sua força commum, Cesar assenhorou-se da Gallia, Crasso da Asia, e Pompeu de Hespanha; cada um tinha um grande exercito sob as suas ordens, por fórma que o imperio do mundo ficou assim dividido entre aquelles tres dominadores. Mas a concordia que apparentavam entre si era unicamente o resultado do receio que cada um d'elles tinha dos outros. Morto Crasso, bem depressa se rompeu a harmonia entre Cesar e Pompeu. Este, apoiado pelo senado, intimou Cesar para que abandonasse o seu governo e o commando do seu exercito. Cesar, em vez de obedecer, marchou sobre Roma e fez sabir d'ahi Pompeu e todos os seus partidarios. Seguia-os até á Hespanha, onde bateu todos os logar-tenentes de Pompeu, e passou depois á Grecia, onde se incontrou com este na Thessalia, perto de Pharsalia. Vieram ás mãos os exercitos de um e outro, a victoria ficou indecisa; mas, tendo-se afastado Pompeu do campo,—o seu exercito, perdendo a força moral, foi completamente destroçado.

Pompeu viu-se obrigado a refugiar-se no Egypto, onde foi assassinado no momento de desimbarcar, por ordem de Ptolomeu. Depois de em Africa bater Juba, que sustentára o partido de Pompeu, e de derrotar os filhos d'este em Hespanha,—Cesar recolheu a Roma, onde foi recebido com grande ovação, e onde sobre sua cabeça foram accumuladas as maximas honras.

Bem depressa se urdiu, porêm, uma conspiração contra a sua vida. Foram auctores d'ella Bruto, Cassio e outros patricios; e Cesar morreu sob o punhal de Bruto.

Livres os Romanos de Pompeu e de Cesar, parecia que iam recuperar a antiga liberdade; mas Sexto Pompeu, reclamando os bens de seu pae, tornou-se o flagello do mar; Octavio, procurando vingar Cesar, soprou a guerra na Thessalia, e Antonio amotinou o povo contra os assassinos de Cesar, fazendo com que elles fossem expulsos de Roma.

Antonio, Lepido e Augusto constituiram-se em triumvirato para vingar a morte de Cesar. Octavio e Antonio marcharam{63} contra Bruto e Cassio, que sustentavam o senado, e deixaram Lepido em Roma. Incontraram-se os dois exercitos inimigos na Thessalia; a victoria esteve a principio indecisa; mas depois Cassio, sendo repellido, persuadiu-se de que o mesmo tinha acontecido a Bruto e suicidou-se. Isso produziu a derrota de Bruto, que tambem se matou, para não cahir nas mãos dos inimigos.

A harmonia entre os triumviros não se manteve muito tempo. Lepido foi desterrado para uma ilha, onde morreu. Antonio e Augusto desavieram-se e romperam hostilidades, acabando a contenda pela batalha de Accio. Antonio, vencido, suicidou-se; e o Egypto foi reduzido a uma provincia romana.

Doze annos depois de se haver constituido o triumvirato, viu-se Octavio senhor absoluto do grande imperio romano. Depois de ter estabelecido a paz na terra e no mar, fechou o templo de Jano, em signal de paz geral. Senhor de tudo, tendo nas suas mãos a força militar, investido nas funcções de todas as magistraturas do estado, apezar de conservar as formulas republicanas, tomou o titulo de imperador, com o nome de Augusto. Pouco depois, declarou que ia intregar os poderes nas mãos do senado e do povo; mas, tendo disposto convenientemente as coisas, obteve que, em nome do bem publico, lhe conservassem o poder por mais dez annos.

Não tendo filhos que pudessem ser herdeiros do imperio, declarou como tal a Tiberio Nero, que adoptou por filho. Deu o commando de oito legiões, inviadas ao Rheno, a Germanico Cesar, filho de Druso, e fez com que Tiberio o adoptasse. Veio a morrer na edade de 76 annos.

Foi no seu reinado que, no anno 753 da fundação de Roma, nasceu Jesus Christo em Bethlem, cidade da Palestina.

O imperio romano tentou continuar o dominio universal. Succederam-se uns aos outros os imperadores, muitos dos quaes foram tyrannos, e muitos morreram assassinados. O imperio foi successivamente infraquecendo. Tres invasões lhe deram o ultimo golpe: a dos Wisigodos, a dos Vandalos e a dos Hunos. Por morte do imperador Theodosio, o imperio fôra dividido entre seus dois filhos: Arcadio teve em partilha o imperio do Oriente; Honorio o do Occidente. Foi este o que cahiu perante a invasão d'aquelles Barbaros, no anno 476 da era christan, fechando com esse acontecimento a Historia Antiga. O imperio do Oriente logrou acompanhar ainda o periodo historico da Edade-Média.

 

FIM{64}

 

 

 

 

Os Mysterios da Inquisição

POR

F. Gomes da Silva

Obra illustrada a côres

POR

MANUEL DE MACEDO E ROQUE GAMEIRO.

Sob o titulo Os Mysterios da Inquisição condensam-se variadissimos factos historicos, desentranham-se os horrores d'epochas passadas, escalpellam-se figuras d'outros seculos, investigam-se particularidades estupendas, encadeiam-se acontecimentos dispersos e tenebrosos, enaltecem-se as grandes virtudes, faz-se rebrilhar a verdade, e põem-se em relevo todas as personagens que entram n'este grande drama, em que vibram commoções da maior intensidade e affectos do mais exaltado amor.

O romance Os Mysterios da Inquisição constará de 3 volumes de grande formato. A distribuição será feita semanalmente em fasciculos de 3 folhas ou 24 paginas com uma gravura a côres pelo preço de 60 réis, ou em tomos de 15 folhas ou 120 paginas com 5 gravuras por 300 réis.

Para as provincias a distribuição é feita em tomos de 300 réis ou em fasciculos quinzenaes de 48 paginas e 2 gravuras por 120 réis.

Precioso brinde a todos os Srs. assignantes

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all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
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1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
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to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
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License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

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electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
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Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
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request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
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1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
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- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
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     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
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     and discontinue all use of and all access to other copies of
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     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH F3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
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written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
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providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need, are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at http://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
http://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
business@pglaf.org.  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at http://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit http://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations.
To donate, please visit: http://pglaf.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.


Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     http://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
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