The Project Gutenberg EBook of Effeitos do Hypnotismo, by A. Armando

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org


Title: Effeitos do Hypnotismo

Author: A. Armando

Release Date: December 16, 2008 [EBook #27543]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK EFFEITOS DO HYPNOTISMO ***




Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)






 

A. ARMANDO


EFFEITOS DO HYPNOTISMO

COMEDIA ORIGINAL EM 1 ACTO

Representada pela primeira vez no Theatro Recreativo da Lapa, em 27 de Abril de 1890, e depois n'outros theatros sempre com geraes applausos.

 

 


PREÇO 120 RÉIS


 

 

LISBOA
Deposito—Livraria Bordalo
42, Travessa da Victoria, 1.º
1891

PERSONAGENS

VENCESLAU DAS NEVESCarlos Braga.
ELVIRA, sua filhaD. Isabel Ficke.
FELISBERTO, estudanteM. Alfredo.
ANACLETO, ajudante de pharmaciaA. Armando.
GERTRUDES, criadaD. Jesuina Saraiva.
SIMPLICIO, criadoJ. Caldeira.
UM GUARDA NOCTURNOHyppolito Flor.

Lisboa—Actualidade

ACTO UNICO

(Sala bem mobilada em casa de Venceslau. É noite)

Scena I

GERTRUDES E DEPOIS SIMPLICIO

Gertrudes (arrumando os moveis).—Como anda tudo em desarranjo! tambem não admira, parece que Rilhafolles se mudou cá para casa. O patrão com a mania do hypnotismo. Desde que fomos á Trindade ver a tal sessão, que não pensa n'outra cousa. O Simplicio, o creado, ás contas com a musica, constantemente de trombone na mão a atordoar-nos os ouvidos. A menina Elvira sempre triste e a chorar. O pae quer casal-a á força com o seu pupillo, um tal Felisberto que está a estudar em Coimbra, e tem, segundo diz o patrão, uma fortuna de mais de dez contos de réis. A menina, porém, morre de amores pelo visinho da pharmacia, o sr. Anacleto, um excellente rapaz, muito intelligente e muito amavel, mas que para o patrão tem um grande defeito: é pobre... (Entra Simplicio a tocar trombone, sem ver Gertrudes). Ai! que susto que você me metteu!...

Simplicio.—Eu não lhe metti nada, menina Girtrudes!

Gertrudes.—Eu não digo! não larga nunca o trombone... Você não tomará juizo uma vez?...

Simplicio.—Ó menina Girtrudes não diga arestas... A musica é o incanto dai alma... Vocêmecê não conhece os grandes maiestros, o Azul... ou o Azul, não... o Verde. O Offenbaca... etc., e etc. É para chegar á altura delles que eu estudo de dia e de noite e vou todas[4] as semanas dar lição com o mestre da phylarmonica do Poço do Bispo. Quer a menina entrar tambem para a phylarmonica do Poço do Bispo?...

Gertrudes—Ora não seja tolo! Para o poço precisava você ir, mas era com uma pedra ao pescoço. Era melhor que você aprendesse a ler e a escrever para não fazer tantas asneiras quando vae ás compras. Ainda hoje a menina lhe disse que trouxesse meio kilo de azeitonas de Elvas, e você trouxe das outras.

Simplicio.—Olha que grande cousa... Não havia na Praça azeitonas d'Elvas e truxeas de outra terra... Se você não fosse dizer á menina já ella o não sabia... Parece-me que as azeitonas não trazem letreiro que diga se são d'Elvas ou não...

Gertrudes.—Pois você não sabe, seu alarve, que as azeitonas d'Elvas são verdes e as outras pretas?

Simplicio (muito espantado).—Ah! são verdes!... então são parentas do grande maiestro... elle tambem era verde...

Gertrudes.—Cale a bocca e não diga mais tolices.

Simplicio.—Não me chame tolo, menina Girtrudes, olhe que eu afino!...

Gertrudes.—Ahi vem a menina, para o fazer desafinar...

Scena II

OS MESMOS E ELVIRA

Elvira (entrando).—Estás aqui, Gertrudes, preciso fallar-te. (a Simplicio). Vae lá para dentro.

Simplicio.—Sim, senhora, (ap.) Vou ver se apanho o sol. (Sae)

Elvira.—Sou muito infeliz, Gertrudes.

Gertrudes.—Seu pae continua a teimar no casamento com o pupillo?

Elvira.—E ainda mais, agora como anda com a mania do hypnotismo, quer á viva força hypnotisar-nos a todos, e mandou vir o Felisberto para aqui passar as férias. Diz elle, que, como esse rapaz é estudante ha de perceber alguma coisa de hypnotismo e poderá illucidal-o sobre o modo de nos hypnotisar.[5]

Gertrudes.—O patrão tem macaquinhos no sotão!

Elvira.—Por mais que eu lhe diga que não amo esse rapaz, teima sempre em que hei de casar com elle.

Gertrudes.—E que ha de a menina fazer?

Elvira.—Era isso mesmo que eu vinha perguntar-te. Tu que me és tão dedicada, has de descobrir um meio de me livrar d'esse maldito Felisberto.

Gertrudes.—Eu?... (pensando) Ah! já sei! Diga-me uma coisa, o sr. Felisberto julga que a menina o ama e annue ao casamento, não é verdade?

Elvira.—Sim, porque meu pae é quem dita as cartas e tem-me obrigado a dizer sempre o que não sinto e que o meu coração repelle.

Gertrudes.—Muito bem, n'esse caso, está tudo remediado...

Elvira.—O quê, tens alguma ideia?

Gertrudes.—Mas uma ideia de alto lá com ella!

Elvira.—Dize, dize depressa.

Gertrudes.—O pupillo de seu pae chega breve a Lisboa?

Elvira.—Hoje mesmo, no comboyo das 9 horas.

Gertrudes.—Perfeitamente, trata-se em primeiro logar de conseguir que seja eu a primeira pessoa com quem elle falle.

Elvira.—E depois?

Gertrudes.—E depois... é simples. Como elle é bastante simplorio, apesar de ser estudante, eu facilmente o convencerei, que para se tornar mais agradavel aos olhos do seu tutor, deve mostrar-se muito entendido na sciencia do hypnotismo e dizer mesmo que é capaz de hypnotisar a menina...

Elvira (com susto).—A mim?

Gertrudes—Sim, a menina ou qualquer outra pessoa.

Elvira.—Mas não comprehendo...

Gertrudes.—É facil. O patrão fica muito contente com esta confissão, visto que actualmente todo elle é hypnotismo. Ha de pedir ao pupillo que proceda a uma experiencia. Elle, ainda aconselhado por mim, escolhe de preferencia a menina para a experiencia.

Elvira.—Mas, eu...

Gertrudes.—Presta-se a isso, depois de mostrar uma certa hesitação. Elle começa a fazer uns certos gatimanhos... a menina adormece, elle julga que isto é para agradar ao sr. Venceslau...[6]

Elvira.—Mas...

Gertrudes.—Qual mas, nem meio mas; depois a menina continua a dormir... a fingir, já se sabe... e não acorda nem á mão de Deus Padre. O sr. Felisberto vê-se em maus lençoes para conseguir tornal-a a si, a menina não cede... ainda mesmo que elle a assopre... dorme sempre... O patrão impacienta-se. Eu começo a fazer uma lamuria de mil diabos:—ai! a minha rica menina que fica hypnotisada para sempre! O patrão grita. O pupillo de seu pae arranca os cabellos... E quando todos estão no cumulo do desespero...

Elvira—Que fazes tu?...

Gertrudes.—Que faço?... Salvo a situação lembrando o sr. Anacleto, que é só quem póde salvar a menina, fazendo-a acordar...

Elvira.—E Anacleto?...

Gertrudes.—O sr. Anacleto estará de combinação comigo e virá logo que o chamem, mostrando-se, é claro, um sabio em hypnotismo, depreciando o mais possivel o tal sr. Felisberto... E, feito o milagre... porque a menina acordará logo que o sr. Anacleto lhe ordene... o patrão ha de necessariamente consentir no seu casamento com aquelle que a menina ama... repellindo com indignação o tal hypnotisador das duzias!...

Elvira.—Oh! mas isso tudo é muito arriscado... E se meu pae descobre que o illudimos?

Gertrudes.—Qual descobre, respondo pelo bom resultado de tudo.

Elvira.—Vê lá, Gertrudes, em que te mettes?...

Gertrudes.—Descance que não ha de haver novidade. Vou lá abaixo á botica prevenir o sr. Anacleto e volto depressa, porque o sr. Felisberto não deve tardar, e é forçoso que eu falle com elle primeiro que o patrão, aliás vae-se tudo quanto Martha fiou!... Até já.. (Sae pelo F.)

Scena III

Elvira ().—É uma excellente rapariga esta Gertrudes, oxalá que o seu estratagema dê bons resultados, (sae D. B.)[7]

Scena IV

Venceslau (só, entrando a ler o Diario de Noticias).—«E finalmente conseguiu fazer fallar uma menina que era muda de nascença.» (falla) É maravilhoso!... sublime!.. E não poder eu conseguir o mesmo... Tambem ainda não procedi a uma experiencia séria. Minha filha não se quer prestar, a creada diz que se vae embora se eu teimar em hypnotisal-a... e quem diabo hei de eu hypnotisar?... Ah! se fosse no tempo da minha defunta esposa, que Deus lá tenha por muitos annos e bons sem a minha companhia! Ah! se fosse n'esse tempo, hypnotisava-a a ella!

Scena V

O MESMO E SIMPLICIO

Simplicio (entrando a tocar trombone sem reparar em Venceslau).—Não consigo chegar ao sol!...

Venceslau.—Hein! que é isso? Pois tu vens para aqui tocar trombone?...

Simplicio. (cae de joelhos em frente de Venceslau, abraçado ao trombone).—Ah! patrão, perdoe, mas como não estava aqui ninguem...

Venceslau.—Então eu não sou ninguem, bruto?

Simplicio.—Bruto, sim senhor, patrão... é isso mesmo... é o que eu sou... eu devia tel-o visto e não o vi... Mas que quer, a musica... o trombone... tiram-me a vista dos olhos...

Venceslau.—Vou pôr-te no andar da rua, não posso aturar-te mais, já toda a visinhança se queixa do teu trombone ...

Simplicio.—Oh! meu rico patrão, meu patrão rico, não faça o que diz, eu juro por esta... (quer fazer uma cruz com as mãos e deixa cair o trombone?) Ai! O meu rico trombone... juro não tornar a tocar senão aos domingos quando forem dias santos...

Venceslau.—Então os domingos não são sempre dias santos, estupido?

Simplicio.—Para mim, não sr.; quando o patrão não me deixa sair são dias de semana...[8]

Venceslau.—Está bom, vae para casa do diabo...

Simplicio.—Não sei onde mora...

Venceslau (tendo uma ideia).—Ah! espera ahi. (ap.) E se eu o hypnotisasse a elle?... ah! que grande ideia... experimentemos... (alto a Simplicio.) Tu queres que eu te perdoe e consinta que continues a tocar trombone?

Simplicio.—Se quero, o trombone, é o meu incanto...

Venceslau.—Bem, então has de fazer o que eu te mandar.

Simplicio.—Prompto, patrão, diga que eu cá estou.

Venceslau.—Bem, senta-te aqui. (indica um fauteuil)

Simplicio.—O quê? assentar-me na cara do patrão... isso é que não...

Venceslau.—Senta-te aqui n'este fauteuil, já te disse.

Simplicio.—N'esse fotoi-lhe... é que eu não assento... O assento...

Venceslau.—Então, despeço-te.

Simplicio.—Despedir-me... isso nunca... assento... assento...

Venceslau.—Vá, depressa. (Simplicio vae a sentar-se e cae no fauteuil.)

Simplicio.—Ih! como isto é mole!...

Venceslau.—Agora, cerra os olhos.

Simplicio.—Cá estou a serrar. (ap.) Que demonio quer elle fazer?

Venceslau (comsigo).—Está quasi hypnotisado... Agora vou ver se me responde. (ao ouvido de Simplicio) De que gostas tu mais?

Simplicio (dando um salto?)—Não me grite aos ouvidos, patrão, que eu não sou surdo.

Venceslau.—Que alarve, é bruto até depois de hypnotisado!

Simplicio.—Qual hypotismado nem meio hypotismado... eu estou mas é assentado... assentado é que eu estou...

Venceslau.—Calas-te ou não te calas?

Simplicio.—Bem, cá estou calado.

Venceslau.—Vou provocar-lhe o somno hypnotico... agora... está quasi a dormir... (n'este momento Gertrudes entra e pára a ver o que se passa.)[9]

Scena VI

OS MESMOS E GERTRUDES

Gertrudes (ap.)—Olá! o patrão a hypnotisar o Simplicio... agora quero ver isto...

Venceslau.—De que gostas tu mais?

Simplicio.—De tocar trombone... (Gertrudes pega no trombone que Simplicio tem deixado ao F. em cima d'uma cadeira, toca e sáe rapidamente.)

Venceslau e Simplicio (assustados.)—Ai! (Simplicio, ao levantar-se bate com a cabeça na cara de Venceslau.)

Venceslau.—Irra, que me tiraste um olho!

Simplicio (correndo a pegar no trombone.)—Mas como demonio tocou o meu trombone?...

Venceslau.—Como tocou? foi o hypnotismo... camelo!

Simplicio (admirado.)—Hein? pois o trombone tocou sem ninguem lhe tocar? É assombaroso!... (tocam a campainha, Simplicio dá um salto). Ai!

Venceslau.—Talvez seja o meu pupillo. (a Simplicio) Vae abrir, e se fôr o sr. Felisberto, que chega de Coimbra, encaminha-o para aqui, e diz-lhe que espere que eu vou preparar-me para o receber. (Simplicio não se mexe) Então, tu vaes ou não?

Simplicio.—Eu, não sr.

Venceslau.—Não vaes, porque?

Simplicio.—Pois o patrão não vê que é ainda o hypotismo... (tocam outra vez.)

Venceslau (correndo atras de Simplicio.)—Oh! Cavallo, vaes ou não vaes?

Simplicio.—Lá vou, patrão, lá vou abrir a porta ao hypotismo... (ap.) Que hypotismo tão massador! (sae.)

Scena VII

Venceslau (só.)—Agora vou mudar de fato para receber o meu pupillo e futuro genro, (sae E. B.)[10]

Scena VIII

FELISBERTO, SIMPLICIO, DEPOIS GERTRUDES (do F.)

Felisberto (fallando com Simplicio?)—O meu tutor está bom?

Simplicio.—Um pouco hypotismado...

Felisberto.—Hein?

Simplicio.—Olhe, ahi vem a Girtrudes que póde explicar-lhe melhor. (ap.) Eu vou ver se apanho o sol. (sae).

Gertrudes (entra F.)—Olha o sr. Felisberto por cá, então como passou?

Felisberto.—Menos mal.

Gertrudes.—E os seus estudos, bem; approvado nos exames?

Felisberto.—Bem, bem approvado... não... estive quasi a sel-o, mas afinal reprovaram-me.

Gertrudes.—Ih! como o patrão vae ficar zangado comsigo!

Felisberto.—Oh! mas é que eu não lhe digo a verdade, era o que faltava. Para elle me diminuir a mesada ou não me dar a mão da menina Elvira, que eu amo tanto.

Gertrudes.—Pois para conseguir isso tudo, precisa agradar muito ao patrão, aliás é capaz de dar o dito por não dito. E o senhor fica a chuchar no dedo a respeito de noiva...

Felisberto.—Oh! hei de fazer todo o possivel para agradar ao meu tutor. Principiarei por dizer-lhe que fui approvado nos meus exames.

Gertrudes.—Isso não basta, é preciso muito mais.

Felisberto.—Muito mais?

Gertrudes.—Sim, por exemplo: ser hypnotisador.

Felisberto (admirado.)—Hein? Mas que diabo é isso, já ha boccado o Simplicio me disse que o meu tutor estava um pouco hypotismado!... Não percebo nada.

Gertrudes.—Pois o sr. não sabe que está em Lisboa um celebre doutor hespanhol que dá sessões de hypnotismo no salão da Trindade?

Felisberto.—E depois?

Gertrudes.—E depois o sr. Venceslau quiz que nós fossemos com elle assistir ao tal hypnotismo e agora o verás,[11] metteu-se-lhe aquillo na mioleira e não pensa noutra coisa. Já hypnotisou o Simplicio e tambem me quiz hypnotisar a mim, mas eu não consenti...

Felisberto.—Mas que tem o meu casamento com o hypnotismo?

Gertrudes.—Tem tudo. Para agradar ao patrão, precisa mostrar-se hypnotisador, dizer que tem estudado muito sobre isso, que já tem feito experiencias, e que está prompto a fazel-as diante do seu tutor, escolhendo até para objecto das suas experiencias a menina Elvira.

Felisberto.—Pois eu hei de fazer experiencias com a minha noiva, diante do pae?...

Gertrudes.—Assim é preciso... se não quizer ver ir o casamento por agua abaixo...

Felisberto.—Oh! isso, jámais, em tempo algum... E a menina Elvira prestar-se-ha á experiencia?...

Gertrudes.—Se presta... se ella ama-o loucamente...

Felisberto.—Loucamente! Oh! céus! que felicidade!

Gertrudes—E foi ella até que se lembrou da experiencia... O sr. Felisberto mandal-a-ha sentar n'uma cadeira, começará a fixar os seus olhos nos d'ella, a apertar-lhe as mãos, em summa, imitará o melhor possivel um hypnotisador verdadeiro... A menina finge-se adormecida e responderá a tudo que o sr. lhe perguntar.

Felisberto.—E depois?

Gertrudes.—Depois o patrão fica muito contente e trata de casal-os o mais breve possivel para possuir um genro hypnotisador.

Felisberto.—És uma rapariga esperta.

Gertrudes.—Ora, isso são favores.

Felisberto.—Crê que não te has de arrepender em ter concorrido para a minha felicidade. Hei de gratificar-te bem em podendo dispor da herança de meu pae.

Gertrudes.—Eu não trabalho por interesse e só o que desejo é ver a menina Elvira muito feliz. Sinto passos. Talvez seja o patrão. É bom que não nos veja juntos, poderia desconfiar. Eu vou dizer á menina que está tudo combinado, e o sr... hypnotise-a bem...

Felisberto.—Descança, não farei tolice.

Gertrudes.—Até logo. (ap. rindo) É mais tolo do que eu pensava!... (sae D. B.)[12]

Scena IX

FELISBERTO SÓ, DEPOIS VENCESLAU

Felisberto.—Que mania tão esquisita a do meu tutor!... Oxalá que eu seja mais feliz com o hypnotismo do que fui com a mathematica...

Venceslau (entra.)—Oh! meu querido pupillo, como estimo ver-te em minha casa. Então chegaste bem? (abraça-o.)

Felisberto.—Perfeitamente. E o meu estimavel tutor está como parece? e sua filha continua a passar bem?

Venceslau.—Todos de saude. Mas, dize-me, como vaes tu com os teus estudos? fizeste exame, sahiste bem?

Felisberto (atrapalhado.)—Sim, fiz tres exames... e sahi em todos...

Venceslau.—Approvado?...

Felisberto.—Sim, foi isso mesmo. (ap.) Se elle percebe que minto!

Venceslau.—Folgo immenso. Mas mudando de assumpto, desejo interrogar-te sobre uma coisa que me tem feito andar a cabeça a rasão de juros!

Felisberto (ap.)—Temos hypnotismo pela prôa! (alto) Falle, meu caro tutor.

Venceslau.—Dize-me, nos teus estudos, porque tu has-de ter estudado muito para sahires approvado em todos os exames?

Felisberto.—Oh! muito, tinha noites em que não dormia... (ap.) Senão 9 horas!...

Venceslau.—E n'esses estudos não aprendeste nada sobre esse grande phenomeno incomprehensivel...

Felisberto.—Qual phenomeno... o phyloxera?

Venceslau.—Não, o hypnotismo...

Felisberto.—O hypnotismo, ora se tenho aprendido, e tenho-me até dedicado a um estudo especial sobre essa insondavel sciencia...

Venceslau (muito admirado.)—Sim, é certo?

Felisberto.—Tão certo como eu ter sido approvado nos meus exames.

Venceslau.—Oh! então não ha nada mais certo. E já tens feito algumas experiencias?

Felisberto.—Immensas experiencias.

Venceslau.—E com bom resultado?[13]

Felisberto.—Optimo, optimo resultado... a ponto de causar o pasmo e a admiração dos meus collegas!

Venceslau (abraçando-o).—Oh! Felisberto! tu vens do ceu aos trambulhoes! Tu vaes fazer-me um favor... um favor maior que o Pan-Tarantula...

Felisberto.—Diga, diga, meu caro tutor, eu estou prompto para tudo.

Venceslau.—Tu vaes proceder a uma experiencia na minha presença?

Felisberto.—Oh! meu tutor da melhor vontade, tanto mais que isso é para mim a coisa mais facil d'este mundo. E diga-me, quem se presta ás minhas experiencias, é mesmo o meu tutor?

Venceslau.—Eu não, eu quero ver acordado.

Felisberto.—Então, quem hade ser?

Venceslau (pensando).—Eu sei.. o Simplicio, talvez?

Felisberto.—Não serve...

Venceslau.—Não serve, porque?

Felisberto.—Tem a mania da musica e a musica não se dá com o hypnotismo...

Venceslau.—Oh! n'esse caso, só se for minha filha, porque a Gertrudes, essa não se presta... é muito esquiva, já o sei.

Felisberto.—Pois seja sua filha... deve dar um excellente exemplar... Queira chamal-a...

Venceslau.—Vou já... (pensando) Mas ouve lá... a experiencia á noite não terá perigo?... são mais de dez horas e talvez fosse melhor irmo-nos deitar e deixarmos isso para amanhã depois de almoço...

Felisberto.—A menina Elvira com a barriga cheia... o meu tutor não sabe o que diz... isso poderia ser-lhe fatal... E demais, á noite o somno vem sempre com mais facilidade... nada, deve ser agora e vou dispor tudo para isso.

Venceslau.—Bem, assim o queres, seja agora; tu que és hypnotisador lá tens as tuas razões. Volto já. (sae).

Scena X

FELISBERTO, DEPOIS ELVIRA E VENCESLAU

Felisberto.—Vou metter-me numa camisa de onze varas... eu que nunca li uma linha sobre hypnotismo... fazer-me assim[14] de pé para a mão um sabio... E se a pequena adormece a valer... e eu não sou capaz de a acordar... ora, qual historia, se ella está de combinação e adormece a fingir... não ha perigo algum... Ah! ahi vem o meu tutor e a minha noiva. Vamos, coragem e atrevimento...

Elvira (entra com o pae).—Sr. Felisberto, como está?

Felisberto.—Eu bem, e a sr.ª D. Elvira?

Elvira.—Menos mal, (troçando d'elle) com muitas saudades suas!...

Felisberto.—Oh! como sou feliz! (aperta as mãos de Elvira).

Venceslau.—Então, Felisberto, sempre estás disposto a dar uma sessão de hypnotismo?

Felisberto.—Se isso é do agrado da minha noiva!

Elvira.—Não sei bem, sempre tenho medo que haja perigo... Se o sr. me adormece para sempre?...

Felisberto.—Oh! não receie... tenho estudado a fundo essa maravilhosa sciencia e conheço-lhe todos os segredos... Posso fazer com que o somno lhe dure muito ou pouco, a meu bello prazer... (ap.) Isto é que é mentir...

Elvira.—Oh! n'esse caso, se o sr. responde pelo resultado, estou prompta a fazer a vontade a meu pae.

Venceslau.—Sim, Felisberto é um rapaz estudioso e como se tem dedicado particularmente a este phenomeno, ha de fazer tudo o que quizer.

Felisberto.—Vamos então dar principio. (colloca um fauteuil no meio da casa) A menina aqui. (colloca outro a distancia) O meu tutor ali. Não ha ninguem que queira assistir? São sempre convenientes os espectadores...

Venceslau.—Só se fôr o Simplicio e a Gertrudes?

Felisberto.—Pois sim, que venham.

Venceslau (chamando).—Gertrudes! Simplicio! (entram os dois, Simplicio traz o trombone escondido atraz das costas).

Scena XI

OS MESMOS, GERTRUDES E SIMPLICIO

Gertrudes (da D. B.)—O sr. chamou?

Simplicio (da E. B.)—Foi o sr. ou o hypotismo que me chamou?[15]

Felisberto.—Sentem-se aqui muito calados (Gertrudes senta-se—A Simplicio que fica em pé) Não ouviste, senta-te.

Simplicio.—Nada, eu estou bem em pé, muito obrigado, não se incommode. (Felisberto empurra Simplicio para um fauteuil, Simplicio cae e bate com as costas no trombone) Ai! que lá arrombei o trombone...

Felisberto—Cala-te!

Simplicio (examinando o trombone)—Mas é que custou...

Felisberto.—Calas-te ou não?

Simplicio (continuando)—Seis tostões...

Felisberto.—Oh! fallador!... (vae para bater-lhe).

Simplicio.—Não bata, não bata... que o dar doe... Vou estar callado que nem um gato (ap.) em janeiro...

Felisberto.—Bem, veremos, (a Elvira) Vou começar. (finge hypnotisar Elvira) É um excellente exemplar, está quasi, mesmo quasi... Agora recommendo o maximo silencio a todos os espectadores...

Simplicio.—Eu cá não digo nada...

Venceslau.—Silencio!

Felisberto—Qualquer indiscripção pode ser fatal... Está hypnotisada, queiram ver. (todos vão ver).

Venceslau.—É maravilhoso!... hypnotisada tão rapidamente!...

Simplicio.—Talvez não dormisse bem de noite...

Felisberto.—O que é a ignorancia!... Vozes de burro não chegam ao ceu!... Todos para os seus logares... Agora vou obrigal-a a fallar... (colloca-se á direita de Elvira) Sabe quem está á sua direita?

Elvira.—Sei...

Felisberto.—Quem é?

Elvira.—Um idiota!

Simplicio.—É o sr. Felisberto...

Felisberto (um pouco atrapalhado).—Cala-te, não percebeu bem. Vou perguntar outra vez. Perguntei quem estava á sua direita?

Elvira.—Já disse, um idiota!...

Felisberto (zangado).—Hein? um idiota? (ap) Que quer isto dizer?

Venceslau.—Então, não te zangues, talvez os hypnotisados[16] não lessem o Manual de Civilidade. Pergunta-lhe outra coisa; por exemplo: quantos exames fizeste e se saiste approvado?

Felisberto (com medo).—Não sei se isso...

Venceslau.—Pergunta, pergunta.

Felisberto (contrafeito).—Então lá vae. (ap) Não sei o que sinto. (alto) Sabe quantos exames eu fiz?

Elvira.—Sei que fez trez e ficou reprovado em todos...

Felisberto.—Oh! é falso! (ap) Como adivinhou ella?

Venceslau.—Já vejo que continua a não atinar.

Felisberto (muitissimo atrapalhado).—Não sei explicar...

Venceslau.—Se me dás licença, agora vou eu interrogal-a...

Felisberto (querendo oppôr-se).—O melhor é terminar...

Venceslau.—Não, só uma pergunta e nada mais. (a Elvira) Dize-me, sabes quem eu sou?

Elvira.—É meu pae.

Venceslau.—Oh! agora acertou. (a Elvira) E dize-me, que viste tu hoje de mais notavel?

Elvira.—O seu pupillo a beijar a Gertrudes!

Venceslau.—Hein? Pois tu beijaste a minha creada?

Felisberto (afflicto).—Eu não beijei nada... é falso... pode interrogar... (indica Gertrudes).

Gertrudes.—Beijou, sim, senhor, e se eu não fujo tão depressa... não sei o que me faria mais...

Felisberto (sem perceber nada).—Oh! ceus! que quer isto dizer?... não quero mais hypnotismo... acorde, Elvira... acorde...

Venceslau.—Não se mexe...

Felisberto.—Acorde... acorde...

Venceslau.—Meu Deus! estou com medo!...

Felisberto.—Então, acorda ou não? (ap. a Elvira) Para graça já basta...

Gertrudes (a chorar) Ai! ai! que a minha rica menina fica hypnotisada para sempre!...

Felisberto (ap).—Valha-me Deus! Querem ver que a hypnotisei a valer? (alto) Vão buscar um leque.

Simplicio (indo buscar um abano).—Prompto. O leque do fogão.

Felisberto.—Soprem todos... (elle abana Elvira, os outros sopram-lhe a cara).[17]

Venceslau (a chorar)—Ai! que matou a minha filha! Elvira! Elvira!

Simplicio (fazendo grande lamuria).—Ih! ih! ih! povre menina... morrer assentada n'uma cadeira... que morte tão affrontarosa!...

Felisberto (cada vez mais assustado?)—Façam bulha, muita bulha, a ver se assim...

Simplicio—Ah! quer bulha, então espere... (toca trombone. Todos batem com as cadeiras e fazem toda a bulha possivel).

Felisberto—Toquem, toquem todos... (todos imitam diversos instrumentos, batem á porta do F.)

Venceslau.—Bateram. Vão abrir a ver se é alguem que salve a minha filha. (Simplicio vae abrir. Apparece um guarda nocturno).

Scena XII

OS MESMOS E O GUARDA NOCTURNO

Guarda.—Que bulha é esta?... Os senhores estão doidos? Está a visinhança toda alvoraçada!... Parece que se mudou para aqui alguma phylarmonica...

Venceslau.—Ai! Valha-me pelas chagas de Christo!

Guarda.—Mas que foi, que foi? (vendo Elvira) Uma mulher desmaiada?

Venceslau.—Foi este estupido do meu pupillo que hypnotisou minha filha... e agora não consegue acordal-a...

Guarda.—E que se ha de fazer?

Venceslau.—Eu não sei, não sei...

Gertrudes (ap.)—É occasião! (alto) Sei eu...

Venceslau.—Tu?...

Gertrudes.—Sim, eu... conheço quem é capaz de acordal-a n'um instante...

Venceslau.—Mas corre, corre... Dou tudo pela vida de minha filha!...

Gertrudes.—Não é preciso correr muito, mesmo aqui da janella... (corre á janella) Sr. Anacleto, sr. Anacleto, a menina está muito mal...

Anacleto (fóra.)—Ahi vou, ahi vou já...

Simplicio (ap.)—Então os boticairos é que tiram o hypotismo?...

Venceslau.—Mas quem é esse Anacleto?[18]

Gertrudes.—O ajudante da pharmacia cá debaixo, rapaz muito intelligente e... olhe, elle ahi está...

Scena XIII

OS MESMOS E ANACLETO

Anacleto (entra.)—Onde está a menina Elvira?

Gertrudes.—Ali, n'aquelle fauteuil quasi morta...

Anacleto (correndo a Elvira e tornando-lhe o pulso?)—Ella está mas é hypnotisada... e quem foi o audacioso que a hypnotisou sem ter conhecimento algum d'esta maravilhosa sciencia?

Simplicio.—O audaçacioso foi o sr. Felisberto, (indica-o).

Anacleto.—O sr.?

Felisberto.—Mas eu lhe explico...

Anacleto.—Não admitto explicações... o que o sr. precisava era ir já para o Governo Civil...

Guarda.—E cá estou eu para o acompanhar...

Venceslau.—Asseverou-me que conhecia a fundo a sciencia do hypnotismo!...

Anacleto.—É inacreditavel tanta audacia!...

Felisberto.—Mas, eu, cumpre-me explicar-me...

Anacleto.—Cale-se, senhor, e deixe-me salvar esta infeliz menina que seria victima da sua estupidez... se não me chamam tão depressa...

Venceslau (alegre.)—Não ha então perigo?

Anacleto.—Para mim não existem perigos... Posso fazel-a acordar em eu querendo... basta um pequeno sopro...

Venceslau.—Veja se encontra outro meio, que isso de sôpros não me cheira... (tapa o naris.)

Simplicio.—Pois sim, sim, assopre-a e verá... eu até já a abanei, e ella nada.

Felisberto.—Quem tem a culpa d'isto tudo... é... (vae para indicar Gertrudes.)

Anacleto (interrompendo-o.)—Cale-se, cale-se, se não quer que eu o hypnotise para sempre... como o sr. ia fazendo a esta menina...

Venceslau.—Mas acorde-a, acorde-a, estou ancioso por ouvir minha filha...

Anacleto.—Já vae, já vae, primeiro quero proceder a uma pequena experiencia para provar a esse charlatão que[19] valho muito mais do que elle... (a Elvira) Diga-me, sabe quem a hypnotisou?

Elvira.—Foi um parvo...

Simplicio (dando palmas.)—Muito bem, muito bem...

Felisberto (querendo bater-lhe.)—Ah! atrevido... Mas, sr. Venceslau, repare que estão abusando...

Venceslau.—Cale-se, já se lhe disse...

Simplicio.—Parece que é surdo!...

Guarda.—Talvez seja melhor leval-o até á esquadra...

Anacleto (a Elvira.)—Agora, diga-me, quer casar com o parvo?...

Elvira (fingindo-se assustada.)—Oh! nunca! nunca! Antes morrer!

Anacleto.—É extraordinario o pavor que lhe causa esse alfenim...

Felisberto (correndo para elle.)—Senhor!

Guarda (detendo-o)—Silencio, quando não... (leva a mão á espada?)

Anacleto (a Elvira.)—E com quem quer casar?

Elvira.—Com aquelle que conseguir acordar-me d'este somno invencivel!...

Anacleto (soprando-lhe a cara.) Oh! acorde, então...

Elvira (acordando rapidamente.)—Ah! aonde estou? aonde estou? (todos applaudem Anacleto, menos Felisberto.)

Venceslau.—Nos meus braços, minha filha!... (abraça-a)

Elvira.—Meu pae! meu pae! (vendo Felisberto e fingindo um grande medo) Oh! aquelle homem! aquelle homem quer-me mal...

Felisberto (querendo explicar-se.)—Mas repare que eu...

Elvira (fugindo d'elle.)—Não se chegue, não se chegue...

Venceslau.—Sae d'aqui, sae d'aqui...

Felisberto.—Não sahirei sem uma explicação... Foi essa creada que...

Venceslau.—Não quero explicações...

Simplicio. (com importancia.)—Nós não queremos explicações...

Venceslau. (ao guarda.)—Queira acompanhar esse rapaz ao hotel de Veneza e que lhe arranjem um quarto, aqui tem dinheiro para pagar esta noite, amanhã mando-o outra vez para Coimbra. (dá dinheiro ao guarda)

Felisberto.—Mas, meu tutor...[20]

Guarda—Homem, venha a bem, quando não... (empurra-o.)

Simplicio (empurrando-o.)—Cale-se e vá para Veneza... (sae o guarda levando Felisberto aos empurrões.)

Scena XIV

OS MESMOS, MENOS FELISBERTO E GUARDA

Venceslau.—Emquanto ao sr. não sei como hei de pagar-lhe...

Anacleto.—Facilmente... Concedendo-me a mão de sua filha...

Venceslau.—Ella... porém..

Elvira.—Eu amo ha muito este senhor...

Venceslau.—Bem, seja, mas com uma condição...

Elvira e Anacleto.—Qual?

Venceslau.—É que hão de ficar vivendo em minha casa... quero ter sempre um hypnotisador a meu lado...

Anacleto.—Está dito, havemos de fazer experiencias em familia...

Venceslau.—E viva o hypnotismo!...

Anacleto, Elvira e Gertrudes.—Viva!

Simplicio.—Um viva sem hymno não vae bem... (começa a tocar o hymno no trombone.)

Venceslau.—Oh! descarado!... (vae para bater em Simplicio.)

Simplicio.—(fazendo-lhe signal que não bata, recita com valsa na orchestra):

Não me bata, meu patrão
Peço por Nosso Senhor,
Que eu prometto ir aprender
A ser hypotismador.
Quero depois a Girtrudes,
Uma vez hypotismar
P'ra ver se ella não acorda
Quando eu a fôr assoprar!...
E convido desde já
Com todo o patriotismo...
A virem aqui gosar
Essa sessão d'hypotismo...

CAE O PANNO

A. ARMANDO

PUBLICADO

Scena intima, monologo em verso, 2.ª edição, 100

O que eu sei!... cançoneta desempenhada pela actriz Mercedes Blasco, 100

A nota do banco, monologo em verso, 2.ª edição, 100

O meu desgosto, cançoneta com musica do Meu amigo Banana, 100

A PUBLICAR

Ociosidades, primeiros versos, 200

A. Armando e F. Pinto

PUBLICADO

A mala de viagem, monologo em verso recitado pelo actor Carlos Santos, 100

O vestido de chita, monologo em verso, 100

O veterano, monologo em verso, 100

Typ. Machado, Rua dos Douradores, 21






End of the Project Gutenberg EBook of Effeitos do Hypnotismo, by A. Armando

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK EFFEITOS DO HYPNOTISMO ***

***** This file should be named 27543-h.htm or 27543-h.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
        http://www.gutenberg.org/2/7/5/4/27543/

Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)


Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties.  Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark.  Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission.  If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy.  You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research.  They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks.  Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.



*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
http://gutenberg.org/license).


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH F3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at http://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
http://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
business@pglaf.org.  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at http://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit http://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations.
To donate, please visit: http://pglaf.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.


Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     http://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.