The Project Gutenberg EBook of Suicida, by Camilo Castelo Branco

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org


Title: Suicida

Author: Camilo Castelo Branco

Release Date: January 17, 2008 [EBook #24339]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK SUICIDA ***




Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)






SUICIDA


PORTO
Typographia de A. J. da Silva Teixeira
Cancella Velha, 63
1880


Camillo Castello Branco



SUICIDA

Cada suicida é um poema sublime de melancolia.

Balzac.





Livraria Internacional
de
Ernesto Chardron, Editor
PORTO E BRAGA

1880

[5]

ELISA LOEVE-WEIMAR

A senhora, que teve este nome, suicidou-se com um tiro, no Porto, no dia 30 do mez passado[1].

D'entre os meus escriptos de ha doze annos reproduzo um que a toda gente, com certeza, esqueceu, tirante o coração d'aquella que hoje é morta.

Dizia assim:

A Formosa das Violetas

Julio Janin, no folhetim do Jornal dos Debates de 30 de março do corrente anno (1863), escreveu [6] o seguinte: «No anno da graça de 1836, o mez de abril correu aprazivel e delicioso; e no mez de maio resoaram canções que farte. Ora, a ponto de expirar o mavioso abril e repontar o maio (apenas são volvidos vinte e sete annos e tres revoluções!) as turbas afanadas e curiosas acotovelavam-se no vestibulo do theatro da Porte-Saint-Martim. O já então popular e glorificado author de Henrique III, de Antony, de Ricardo de Arlington, da Torre de Nesle e de Angelo, n'aquella noite, puzera em scena um mysterio em que figuravam anjos e demonios. Agrupados á porta do theatro, muitos rapazes d'aquelle tempo cediam o passo á multidão azafamada, divertiam-se a vêl-a enthusiasmada, e notavam os homens conhecidos, os homens celebres, uns no começo, outros no termo da sua carreira. Eis senão quando todos os olhos convergiram sobre um soberbissimo trem, uma berlinda de Erhler, ajaezada á Brune, e tirada por uma parelha de enormes urcos inglezes, sahidos das cavallariças de madame la Dauphine. Um espadaúdo cocheiro, e um alentado hungaro de sete palmos de altura, afóra o pennacho, todo broslado de galões de ouro, completavam a equipagem que parou de súbito á porta do theatro. E, aberta logo pelo keiduque a portinhola, cahidos estrondosamente os degraus da berlinda, vimos apear um elegante moço.

[7]

«Não tinha ainda trinta annos; vestia com requintado esmero; gravata branca e luvas amarellas; estatura corpulenta e formosamente conformada; cabelleira clamistrada; bocca um tanto grande, mas graciosa; olhar ardente, e altiva compostura no aspecto. No braço do mancebo apoiava-se a leve mão de uma senhora, juvenil como elle, anciosa de volitar por sobre o espaço intermedio. Que linda ella estava com o seu vestido de primavera! Violetas na mão, violetas como adorno no chapéo de palha, ondulante faxa a tira-collo, calçada com extremada perfeição de botinas gaspeadas de cinzento e escarlate. Formosa e esbelta a mais não ser! A impaciencia tirava por ella; e o irmão caminhava a passo mesurado, com aquelles ares de homem que em si escuta a fada benigna da suprema fortuna. Exornavam o peito do cavalheiro as mais variegadas côres da pedraria dos ornatos e condecorações. Era barão em França, marquez em Hespanha[2], e socio do club dos fidalgos florentinos. Contava-se--e era verdade--que o somenos utensilio dos seus aposentos era de ouro: o seu lavatorio era de ouro armoreado, e dourada a sua camara. E, todavia, creiam-me, se quizerem: a sensação que nos causou foi a da admiração [8] sympathica; inveja, não. N'esta França, attenta e alheada nos apparecimentos de cada dia, taes como, de manhã, As orientaes, depois A carnagem de Missolonghi de Eugenio de Lacroix; ao meio dia, os discursos de Thiers; á noite, a opera de Meyerbeer; no dia seguinte, um romance de Balzac, uma canção de Alfredo de Musset,--entre nós, aquelle mancebo tinha, de pouco, revelado Hoffmann e os seus contos. Escrevia elle rapido, pouco e bem. Sabia inglez como um diplomata, e allemão como um philosopho. Pertencia n'aquelle tempo á nascente redacção do Jornal dos Debates, e chamava-se Loeve-Weimar».

Até aqui Julio Janin.

*

Nos arrabaldes de Londres, em uma quinta de delicias, quantas póde imitar da natureza a arte britannica, vivia, n'aquelle tempo, um portuguez que a intolerancia politica expatriára em 1828. A fortuna commercial dava-lhe desvelados amigos para o espirito, optimos convivas para a mesa e gentis mulheres para o coração. O nosso patricio, encarreirado prosperamente no trafico mercantil, assentou que lhe era dever acudir aos desterrados pobres; e assim, [9] quantos portuguezes se soccorriam de sua valia encontraram franco e inexhaurivel aquelle coração de ouro, e o ouro das suas gavetas. Os convivas habituaes da sua mesa eram um jurisconsulto dos mais celebrados em Londres, e um portuguez de excellentes qualidades, nosso ministro actualmente na côrte de Madrid[3].

Um dia, porém, os contubernaes sahiram do encantador abrigo do emigrado, porque eram de mais em alegrias, cuja dôce poesia está no resguardo e recolhimento de dous. O portuguez fôra o preferido d'aquella «formosa das violetas» que Julio Janin relembra no seu folhetim. M.elle Elisa Loeve-Weimar, a irmã do nacionalisador de Hoffmann em França, do barão, do marquez, do fidalgo florentino, casára com o nosso patricio, que era então um rapaz alegre como a felicidade, descuidado do futuro como criança a brincar entre flôres, todo expansibilidade em olhos e palavras do muito bem querer que lhe exuberava do coração.

Coração e nome são ainda os mesmos n'aquelle homem, vinte e sete annos depois. Porém, ha de reconhecer-se hoje o festejado e amado noivo da irmã de Loeve-Weimar n'aquelles cabellos brancos e fronte [10] avincada do jornalista portuense? Aqui vol-o apresento agora: estendei a mão áquella mão liberal que muitos infelizes beijaram. Abraçai José Joaquim Gonçalves Basto, e sentireis pulsar o melhor e mais infeliz dos corações!

*

Infeliz!... Com tão prospera monção ao entrar em bonançoso mar? Amado por aquella peregrina dama, cujo espirito cultivado em Paris e Londres competia com a distincção da belleza?

Infeliz, sim, e porque não? A desgraça, quando colhe de sobresalto os seus predilectos, quebra os elos da corrente que parecia forjada por esforço de virtudes domesticas para os duradouros contentamentos do amor. Compraz-se ella em abater e rasourar ao nivel das baixas condições os mais altos espiritos.

Gonçalves Basto, decorridos dous annos de esposo e pai, foi vencido na lucta com imprevistas calamidades commerciaes. Empobreceu. Sahiu de Inglaterra, e repatriou-se com a sua familia. De repente, e o mais logicamente que o puderam fazer, os amigos desampararam-o, desobrigando-se da divida, esquecendo o credor. Permaneceu, com tudo, leal no infortunio um que se mantivera desprendido na prosperidade: [11] era José Vieira de Carvalho, moço portuense abastado, instruido e bom. Deliberára Vieira fundar um jornal de parceria com Antonio Bernardo Ferreira, e com o actual deputado e integerrimo caracter, o snr. Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães[4]. Fundaram a Coalisão, cuja redacção e responsabilidade aceitou Gonçalves Basto. Os proprietarios, porém, a pouco e pouco se desligaram de compromissos, declinando sobre o redactor o encargo de sustentar intellectual e materialmente o jornal. Gonçalves Basto, extincta a Coalisão, fundou o Nacional, faz hoje dezoito annos.

Entretanto, José Vieira, rico e celibatario, antevendo o proximo termo da vida, annuncia que a sorte dos filhos de Gonçalves Basto está segura nos seus haveres. Morre em Paris, e o testamento é roubado em beneficio de parentes remotos.

Na contra-revolução de 1846, Gonçalves Basto, ao serviço da Junta do Porto, foi nomeado commandante d'um batalhão de artistas. Reprime a indisciplina, e dá no campo o exemplo da coragem um tanto insubordinada, porque espingardeava os hespanhoes que transpunham as fronteiras do norte, quando a Junta lhe ordenára que respeitasse a intervenção. E, n'este [12] entretanto, a familia do jornalista, esposa e tres filhos, bellissimas e adoraveis crianças, viviam da gratificação mensal do commandante: Dez mil reis............

*

José Joaquim Gonçalves Basto envelheceu cortado de lancinantes dôres; porém, duas vezes tão sómente lhe vi o rosto lavado de lagrimas: foi ao resvalarem-lhe dos braços á sepultura dous filhos. A pobreza cerra-o de perto ha quinze annos; e elle como que tem minas de diamantes na mais risonha philosophia que ainda vi! É sempre com um sorriso que vos elle diz: «Não tenho nada». A desgraça tem d'estes sorrisos que são, a dentro do peito, unhas de ferro.

E ella, a «formosa das violetas,» de 1836, a irmã do barão em França, do fidalgo em Florença e do marquez em Hespanha? Elisa Loeve-Weimar vai, algumas vezes, ao cemiterio da Foz, onde vicejam umas flôres plantadas por sua mão sobre a sepultura de um dos seus filhos. Alli, de certo lhe esquecem as pompas e as vaidades de sua brilhante mocidade. Aquelle cômoro de terra separa esta mãi das gloriosas presumpçoes da irmã do fastuoso litterato, da formosa que o principe dos folhetinistas francezes recordava vinte e sete annos depois com as calorosas expressões [13] d'uma saudade que parece o reflexo do amor. Que tem que vêr no cemiterio da Foz aquella Nióbe com a sua belleza preconisada em Paris? Ai! formosura! flôr d'um dia, queimada pelo gear de uma noite! E tu, talento! flamma esplendente que mais nos cerras a escuridão, quando nos não alumias a vereda por onde o infortunio nos assalta! Ó santa de todas as dôres de mulher que é mãi! quem saberá contar as cruzes do teu calvario? quaes almas, sequer, se inquietam, pensando o que foste, o que és, e que paragem final te assignalou o destino!

*

Meu caro Basto, releva ao teu amigo de dezeseis annos o vir elle dizer dos teus infortunios em face d'uma gente que os ha de lêr por ser isto em folhetim e ageitado á guisa de romance. Quando entrei n'esta vida dolorosa das letras, achei-me comtigo. Encontrei-te n'este tormento de Sisypho e ahi te vejo ainda agora a rolar o penedo. Se ás vezes paras um instante na ladeira, é para contemplares como a estupidez e a infamia trazem avassallados os fiscaes da republica, e como elles galgam arreiados de placas e fitas, em quanto tu vaes descendo á margem do rio da morte, olhando em ti, e antevendo próximo o dia em que não terás um pão para repartir com tua familia. [14] Ha trinta annos que esperas e trabalhas por affecto á patria e por forçada violencia de operario d'esta galé. Deves ter desmaios de angustia quando em ti reparas e não vês homem que possa dizer-te: «Soffri e lidei tanto como tu, e recebi dos governos do meu paiz a retribuição de igual desprezo». Lucta, meu amigo; e, quando mais não puderes, vinga-te morrendo como o soldado do padre Vieira, e vai saber nos segredos da divina Providencia que mal devias fazer à patria e aos teus concidadãos para que elles te beneficiassem».

*

Algum tempo depois, José Joaquim Gonçalves Basto, quando o circulo de ferro da penuria se apertava, encontrou a mão poderosa de um ministro que lh'o partiu. A salvadora chamava-se a Justiça, e o ministro era o snr. Fontes Pereira de Mello.

*

Ora, como em 30 de setembro d'este anno se suicidasse, no Porto, com um tiro, a minha «formosa das violetas», pareceu-me apropositada a ampliação e complemento do meu folhetim de 1863.

Elisa Weimar nasceu em Paris em 1805. O barão Nemi Loeve-Weimar, seu pai, era allemão, oriundo [15] de israelitas. Exercera funcções importantes na côrte de Luiz XVIII. Em 1814, quando o exercito prussiano infestou o territorio francez, a familia Loeve-Weimar retirou para Hamburgo. O futuro nacionalisador de Hoffmann seguiu alguns annos a carreira commercial; depois, apostatou do judaismo, converteu-se á fé catholica, e regressou a Paris, ao mesmo tempo que M.elle Elisa foi completar em Londres a sua educação litteraria.

Conhecedor dos idiomas e litteraturas do norte, o moço escriptor alistou-se vantajosamente de par com os litteratos de mais voga. Entrou seguidamente na redacção do Album, da Revue encyclopedique e do Figaro. Muitos livros allemães desconhecidos em França trasladou-os elle com estylo seductor; e da litteratura d'além-Rheno publicou em 1826 um compendio. Traduziu depois, com excellente exito, romances de Vander-Velde, Contos de Zschokke, de que auferiu renome e dinheiro a granel. Na Revista de Paris, cujo fundador foi, publicou novellas e artigos de esthetica. Em 1830 substituiu no Tempo o celebrado Imbert na redacção dos folhetins theatraes, e excedeu-o na graça mordente e na dicacidade engenhosa. A pujança do critico era tal que um empresario e director da opera lhe deu sociedade nos lucros do theatro, a fim de o amaciar e polir com o attrito do ouro. «É inutil acrescentar, diz um biographo, [16] que, no conceito do folhetinista, o modo como era dirigida a scena lyrica não deixava nada a desejar».

Volvido um anno, solicitou-o a Revista dos dous mundos para escrever a «chronica politica». N'esta ardua missão houve-se com rara fortuna e dexteridade, flagellando os personagens mais graduados. Os ministros galardoaram-lhe a satyra, enviando-o diplomaticamente á Russia com uma missão temporaria e especial ao imperador Nicolau.

Esta enviatura acresceu ás despezas dos negocios estrangeiros 60:000 francos annuaes: era cara a mordaça. Regressando a Paris, foi nomeado consul de França em Bagdad.

A revolução de 1848 esbulhou da brilhante posição o apostata da republica mal rebuçada; quando porém Loeve-Weimar chegou demittido a Paris, já a reacção vingou repôl-o na diplomacia, indemnisando-o da injustiça com o consulado geral de Caracas (America do Sul). Chegado á capital da republica de Venezuela, Loeve-Weimar, receando a febre amarella, pediu licença, e veio a Paris requerer a transferencia para o consulado geral de Lima, que lhe foi dado.

Preparava-se para a viagem quando a morte o arrebatou em Paris no dia 7 de novembro de 1854.

Acrescenta o biographo em phrases pouco funerarias: «A morte é de crêr que o apanhasse com [17] as madeixas encaracoladas em papelotes; porquanto o seu trajar, o apontado da sua pessoa, e mormente os esmeros que punha na sua cabelleira loura, lhe haviam sido a constante preoccupação da vida. A tal respeito, se conta que o primeiro dividendo que recebeu na empresa lyrica, empregou-o na compra de um vestido completo de velludo escarlate lavrado que lhe custou 25:000 francos. É o que faria, nem mais nem menos, uma lorette! Não custa, pois, a crêr que elle, sempre narcisando-se e sempre rapaz, acabasse, já em annos outoniços, por esposar uma estrangeira rica. Luiz Filippe fizera-o barão. Um dia, deu-lhe na veneta de abrir o seu brazão de fresca data em um manto de arminho com a corôa de duque; fez-se, pois, enducalisar, mediante dinheiro, pelo governo hespanhol. Afóra as obras já referidas, deixou Scenas contemporaneas, publicadas com o pseudonymo de Comtesse de Chamilly. O livreiro Ladvocat tambem imprimiu em 1840, sob o titulo homerico de Népenthès, uma selecta de seus artigos de jornaes e revistas».

Um dos admiradores mais exaltados de Loeve-Weimar foi o insigne Philarète Chasles, professor do Collegio de França, ha pouco mais d'um anno fallecido, com reputação europêa. Nos seus Estudos sobre a Allemanha no xix seculo, publicados em 1861, recorda-se de Loeve-Weimar, no capitulo intitulado [18] Os tres magos do norte. Um dos tres magos era o nacionalisador de Hoffmann.

São estas aproximadamente as palavras de Philarète Chasles: «... Vêde-me este personagemzinho[5] franzino e louro, gracioso e fino, melodioso e sardonico, taful, garrido, esbelto, refinadamente casquilho. Casou romanticamente. Assim se casavam quasi todos os litteratos do nosso tempo. É Loeve-Weimar, aquelle que escreveu o Népenthès, e collaborou na Revista dos dous mundos com o doutor Véron, Charles Nodier e commigo. Acabou por ser em Bassora ou Badgad não sei que sultão oriental bochechudo, pantafaçudo, enojado, somnolento e amodorrado. Este pintalegrete, este chasqueador, aliás amabilissimo, que foi o adail, o porta-bandeira do motim litterario de 1815, não nascera para contemplações absortas nem aventuras grandiosas. O salão do seculo XVIII era a mais frizante moldura da sua vida e o theatro que mais lhe quadrava à indole. Procedia de Champfort, de Champcenetz e de Cazzotte. Tinha o desempeno social, o conhecimento dos homens, a flexibilidade, a solercia. Como Congrève, pavoneava-se de [19] não ser homem de letras. Arreda! Não que a tinta suja os dedos...

«Delatouche introduzira Hoffmann, e Loeve-Weimar nacionalisára-o francez. Loeve arregaçou os punhos, adelgaçou-lhe as grosserias, recobriu as côres dubias, encurtou as demasias, elidiu os destemperos, amenisou as asperezas e recompoz, sob pretexto de versão, um novo Hoffmann, que deu brado em Paris. Inventou-se então uma palavra para tamanho exito: o fantastico... A França morreu de amores por Hoffmann falsificado por Loeve e apregoado por Koraff...»

*

Ahi está o que sei do irmão da suicida.

Esta senhora, quando eu a conheci em 1849, mostrava ainda uns traços esmaecidos de belleza rara. Representava trinta e cinco annos, tinha quarenta e quatro, e redigia uma folha em francez, cujo titulo me esqueceu. Collaborava n'esse semanario ameno o consul de França Mr. d'Estrées, que pereceu no naufragio do vapor Porto, em 1852. Eram tres os seus filhos, lindos e louros como ella e como o pai. Gonçalves Basto havia sido um homem gentilissimo. Dava ares de inglez, e nascera em Cabeceiras de Basto, [20] onde florece uma raça de homens celtas esculpturaes, e de mulheres fortes, raça callaica, ás quaes sobejam as exigencias musculosas da estatuaria.

N'aquelle tempo, ouvi dizer que a paz domestica do proprietario e collaborador do Nacional não era invejavel. De feito, Gonçalves Basto alimentava-se nos restaurantes, desculpando a irregularidade insalubre e estouvanada d'este viver parisiense com a faina jornalistica.

Elisa era mãi extremosa. Quando lhe morreu o terceiro genito, a criança mais angelical que ainda vi--uma menina de nove annos,--a mãi, n'um impeto de desvario, fugiu para a Foz com os outros dous filhos, e alfaiou elegantemente uma casinha contigua ao cemiterio, que então se andava construindo. Uma das primeiras lapides que alli se assentaram cobriu o cadaver d'um dos dous filhos. Este menino, se bem me recordo, era afilhado de Lamartine.

Visitei com frequencia esta senhora n'esse anno de luto e desesperação. Era solidamente instruida. Lia os livros portuguezes com rara intelligencia. Achava os romances peninsulares fastidiosos como a Côrte na aldêa de Rodrigues Lobo. Dizia que nós apenas tinhamos um céo azul com uma bonita lua, e na terra muitas flôres e ribeiros crystallinos que nos inspirassem; mas que o romancista carece de sociedade viva, com as suas boas e ruins paixões. E [21] acrescentava que Portugal era geographicamente obrigado a ser um alfobre de lyristas.

Mostrou-me o seu album de autographos. Os mais preciosos dera-lh'os o irmão, que se carteára com parte dos seus contemporaneos illustrados. Tinha-os de alto valor historico, escriptos por Maria Antoinette, por Luiz XVI, por Chateaubriand, por M.me de Staël, pelos estadistas das grandes tradições. A sua livraria era pequena, e quasi toda ingleza. Não sabia o allemão; tencionava porém estudal-o, quando serenasse a tempestade que ainda rugia á volta da sua alma articulando-lhe os nomes dos filhos. Foi ella quem me deu o Adolpho, romance de Benjamin Constant, e me disse: «Leia-o em quanto lhe póde ser proveitoso». Li-o, e não aproveitei nada; nem ella, que o lêra tres vezes, aproveitára muito. Os livros nada ensinam na alçada do coração. A experiencia, sim; mas a lição vem tarde. Quem ensina tudo é a velhice. Ainda bem, se nos salva dos espectaculos do riso, e nos tira o pincel do bigode.

Henri de Weimar Basto, o filho primogenito, quando frequentava distinctamente a escola polytechnica e auxiliava o pai traduzindo o Times, morreu tisico aos dezoito annos de idade, nos arrabaldes de Lisboa.

Fez-se então o crepusculo da noite infinita na razão de Elisa Basto; a treva, todavia, condensou-se [22] vagarosamente, porque a intelligencia reagiu com as suas poderosas energias á paixão que a dementava.

Principiou a estudar o idioma germanico de tão phrenetico modo que ahi mesmo denunciava o desconcerto do seu espirito. Gonçalves Basto raras vezes a visitava. Depois da morte do ultimo filho, deslaçaram-se de todo os frouxos vinculos que os ligavam. Encontravam-se n'aquelle filho os dous amores dos corações divorciados; era de ambos aquelle sêr querido e disputado á competencia de caricias. Morreu o incentivo, apagou-se a luz que ainda lhes mostrava ao longe a saudade na penumbra do passado amor: a pedra que o cobriu abafou tudo o mais!--acabaram alli com elle todas as recordações e esperanças. D'ahi em diante, cada qual habitava sua casa; ella na Foz, e elle na rua 29 de Julho.

Entretanto, Elisa pernoitava sobre os lexicons allemães, e decifrava a traducção biblica de Luthero. D'este afanoso estudo tenho á vista a prova no fragmento d'uma carta que me ella escreveu por esse tempo. Eu tinha publicado um folhetim de má prosa ácerca dos Proverbios e Cantares. Dos Proverbios extrahira eu estes periodos dos capitulos XII, XIV e XV:


A mulher diligente é a corôa de seu marido; e a que obra cousas dignas de confusão far-lhe-ha apodrecer os ossos.

[23]

A saude do coração é a vida da carne, a inveja é a podridão dos ossos.

A luz dos olhos alegra a alma; a boa reputação engorda os ossos.


Isto, bom ou mau, está assim, em osso, nas versões biblicas portuguezas; porém, a illustrada e talvez religiosa dama, acudindo pelo siso do poeta hebreu, arguiu de muito paraphrastica e cavillosa a minha interpretação, e corrigiu-a nos seguintes termos:


...... La meilleure, la plus exacte, la plus élegante traduction de la Bible c'est la traduction allemande de Martin Luther. Or voici, mot pour mot, les versets que Mr. C. C. B. a cité:

La femme déligente est la couronne de son mari, la nonchalante est l'ulcère de son corps[6].

Un bon c[oe]ur est la vie de la complexion (constitution du corps); l'envie est l'ulcère des os.

Un c[oe]ur joyeux rend la vie agréable; mais une humeur sombre desséche le corps.

Une visage amicale rejouit le c[oe]ur, une bonne renommée engraisse le corps.

Le langage affectueux est du miel qui conforte l'âme et rafraichit le corps.


[24]

Na verdade, o monge augustiniano, vertendo para corpo o que os setenta ossificaram desgraçiadamente, expungiu dos versiculos a parte picaresca. Bom foi isso.

*

A demencia de Elisa Weimar manifestou-se n'um lance que, a não ter a irresponsabilidade da loucura, seria o maximo desdouro--uma catastrophe moral. Foi ella pessoalmente delatar á authoridade civil que seu marido e outras pessoas conjuravam contra a dynastia e elaboravam tramas sanguinolentos nos subterraneos da officina do Nacional. O magistrado, como se a respiração da mentecapta o contagiasse provisoriamente, lançou inculcas, adestrou espias, afuroou certas luras onde os conspiradores poderiam alapardar-se. Afinal relaxou-se um pouco, confiando a sorte da dynastia ás fatalidades indeclinaveis do destino.

D'outra vez, a deploravel senhora, quando o meu querido amigo José Cardoso Vieira de Castro era já fallecido em Loanda, denunciou ao administrador do bairro de Cedofeita que, em casa de seu marido, estava escondido Vieira de Castro, fugitivo de Angola, onde, de accordo com as authoridades, dera morto por si. Esta denuncia foi desprezada com bastante [25] admiração minha. Varias pessoas me disseram por esse tempo que Vieira de Castro passeava vivissimo na America ingleza; não seria, pois, absurdo fazel-o viajar até casa de Gonçalves Basto, na Ramada Alta.

N'esta visualidade de Elisa ha uma coincidencia memoravel. Na casa que ella indicára como escondrijo do condemnado, hospedára-se Vieira de Castro com sua senhora, quando chegaram a Portugal. Morava então alli seu irmão Antonio. No anno seguinte, foi habital-a Gonçalves Basto, attrahido pela belleza do sitio e prazeres da jardinagem em que se occupava todas as horas vagas dos seus labores de escrivão de fazenda.

Aqui viveu tres alegres annos o fatigado lidador do jornalismo, cultivando flôres, morangaes, parreiras, e fabricando elle mesmo, na qualidade de lagareiro, o seu vinho, com que, no estio, deliciava os hospedes.

N'esta innocencia de patriarcha, o assalteou um dia a esposa, ao cabo de nove annos de divorcio, intimando-lhe que sahisse d'aquella casa que era d'ella. O fleugmatico marido enfardelou alguns objectos de primeira necessidade e mudou-se, como quem foge. Tinha juizo. Aquella visão etherea de J. Janin, olorosa de violetas, recendia agora á polvora e phosphoro dos rewolvers, desde que o rapazio da Foz lhe pegou de apupar as abas amorphas e infinitas [26] de uns chapéos de palha mastreados de escumilhas variegadas.

Magôa-me verdadeiramente desfazer algum tanto na sentimentalidade com que, em alguns periodicos, se lastimou a miseria de Elisa Weimar. Vi escripto que a suicida experimentára as agonias da fome, da casa sem aconchego, do desamparo dos indigentes. Não é exacto isto. Ha de haver quatorze annos que ella foi a Paris instaurar um pleito sobre a herança de seu irmão. A acção intentada terminou por conciliação, lucrando a irmã de Loeve-Weimar uma pensão annual e vitalicia de 3:000 francos. Além d'isso, recebia 18$000 reis mensaes que lhe dava o marido. 750$000 reis bastariam ao decente passadio de uma senhora com regular entendimento para governar-se; porém, se os proprietarios dos predios que ella habitava recorriam ao expediente das penhoras, é porque M.me Elisa Weimar não pensava normalmente ácerca dos senhorios; ou, no estado informe das suas idéas embaralhadas, não podia conciliar as obrigações impostas pelo Codigo civil, no artigo 1608, que reza: O arrendatario é obrigado a satisfazer a renda, etc.

De mais a mais, esta senhora presumia-se muito rica e muito perseguida pelos jesuitas--talvez reminiscencias delirantes da familia do general Simon de E. Sue. Á volta do Porto, reputava propriedades suas, [27] rusticas e urbanas, as campinas mais ferteis e os chalets mais imbrincados. Afóra isto, dava-se como directa senhora e emphyteuta de terrenos na Foz e outros pontos convidativos a edificação. De modo que, se lia no Primeiro de Janeiro ou Commercio do Porto o annuncio d'uma propriedade á venda, no dia seguinte contra-annunciava que a propriedade era sua, ainda mesmo que a não tivesse arrolado no tombo imaginario dos seus haveres litigiosos. Aqui ha mezes, um padre que se dizia procurador do meu amigo Custodio Teixeira Pinto Basto, replicando a um desses contra-annuncios, allegou, na imprensa, que a snr.ª D. Elisa Loewe-Weimar estava enganada; pois que os predios, quintas e chãos que ella reputava seus, eram indisputavelmente do seu constituinte o snr. Pinto Basto. Em resultado d'este desmentido, assignado por um padre, me escreveu M.me Elisa confirmando-me na guerra que os jesuitas lhe moviam, confederados em espolial-a porque era protestante e estrangeira desprotegida das authoridades portuguezas. Em virtude do que me rogava que sahisse em sua defeza e lhe communicasse os alvitres a seguir mediante cartas que, a uma hora determinada, eu devia introduzir pela fresta d'uma das suas janellas ao rez do chão, visto que a sua correspondencia lhe era subtrahida no correio pela Companhia de Jesus.

[28]

Ás vezes, parava na rua, e detinha-se a examinar a frontaria d'um predio. A final, recordava-se que era um dos seus, entrava no pateo, sacudia rijamente a campainha, e fazia saber ao morador que estava alli a senhoria para vêr se eram precisas obras na sua casa. Era inoffensiva; mas não deixava de ser incommoda esta maneira de doudice.

Ha quatro annos ainda, vestia-se singularmente. Quando a saia era azul com requifes encarnados, o corpete era branco, e verde o filó do chapéo. Gostava muito do vestido de velludo preto e botinas brancas. Os transeuntes paravam descaridosamente a rir, e ella passava, triste e solemne como o symbolo da desgraça n'um baile de carnaval. N'estes dous annos derradeiros, trajava menos que modesta, pobremente, um capotilho côr de castanha, apresilhado na cintura, e um chapéo campestre de palha côr de bronze. Não erguia os olhos, nem correspondia aos cortejos, quando algum raro encontradiço com memoria e coração reconhecia, n'aquella mulher encanecida e trôpega, a esbelta e irrequieta franceza de ha trinta annos, e machinalmente se descobria como se faz a um esquife coberto de crepe e assignalado por uma cruz amarella.

*

[29]

José Joaquim Gonçalves Basto, no fim do anno passado, alegrou a minha mesa com a sua jovialidade, com as suas épicas faculdades digestivas. Estava comnosco Placido de Freitas Costa, um galhardo espirito com todas as graças petulantes dos rapazes de 1850. Não tem ainda trinta annos, e protesta contra o marasmo dos homens da sua geração--uma gente que tem o coração em modôrra e a alma anhelante no dominio de quatro inscripções.

Não havia ahi distinguir entre os dous na competencia de festivas rapazices. Alta noite, sahiram de braço dado, percorreram os theatros e passearam as ruas até ao romper da aurora. Gonçalves Basto perfizera setenta annos n'esse mez. Ao outro dia, Placido de Freitas dava um jantar ao decano da imprensa portuense no Hotel do Louvre. Os commensaes eram todos rapazes e alguns estrangeiros. Gonçalves Basto brindava-os nas suas linguas, e as risadas estrondeavam quando elle salgava os discursos com as facecias que se usam lá fóra nos lautos banquetes britannicos em que o corpo, mais debil que o espirito, resvala para debaixo da mesa, e todo homem se fica então parecendo com Horacio ou Numentano a resonar no triclinio.

Dous mezes depois, estando eu enfermo, disseram-me que José Joaquim Gonçalves Basto adoecera, pela primeira vez na sua vida. Ao outro dia, mandei [30] saber como passára a noite. Tinha morrido ás cinco horas da manhã.

*

A viuva, participando-me que seu marido era defunto, relatava o caso tão glacialmente como se historiasse o trespasse do seu quinto avô. Todavia, tinha magoados toques o seu estylo quando o arguia de haver deixado hypothecadas fraudulentamente as propriedades em beneficio de varias mancebas.

A falta do marido, que para ella representava quatro libras mensaes, verdadeiramente não authorisa a hypothese da pobreza. Os numerosos e extensos annuncios que publicava, em resalva das suas propriedades, eram pagos. Visitava as livrarias e comprava livros. Tinha uma casa decentemente trastejada, e servia-se com criados a quem pagava talvez, não os confundindo com os senhorios.

Quando o proprietario da casa lhe enviou mandado de despejo e sequestro no dia ultimo de setembro, Elisa Weimar fez trancar as avenidas. N'esse momento, a sua alma aterrada pelo estrondo dos esbirros que arrombavam as portas, estremeceu, e... acordou. Eis o momento da lucidez! Ao cabo de seis annos de demencia, relampagueou-lhe na razão o fulgor [31] d'um corisco; e então, vendo-se desgraçada e ridicula, matou-se.

*

Adeus, minha «formosa das violetas»! O teu Julio Janin, o teu cantor, quantos te amaram e admiraram são já mortos, desde Henri Heine até Philarète Chasles. Como devias ter morrido antes da velhice, a tua alma sempre juvenil desamparou-te; e emquanto ella gemia nos cyprestaes do Père-la-Chaise a cada sahimento dos teus amigos da mocidade, o teu corpo inerte e estupido immergia no pesadêlo das sonhadas riquezas! Ias ser baldeada aos apódos das turbas, e levada pela policia á caverna das doudas, quando a tua alma regressou nas suas azas de luz, radiou por sobre a área negra da tua suprema desgraça, e ahi te alumiou o suave reclinatorio da sepultura. Era a hora bemdita ou maldita da morte. Abraçaste-a. Descansas. Em uma das tuas cartas me escreveste ha vinte annos, estas palavras de Balzac: Cada suicida é um poema sublime de melancolia... Adeus! quando eu souber onde a caridade te sepultou, irei levar-te um ramo de violetas.


FIM

[1] Setembro de 1875.

[2] Outro biographo, peor informado, diz duque.

[3] O snr. visconde de Soveral.

[4] Fallecido no dia 2 d'abril de 1879.

[5] Julio Janin pintou-nol-o corpulento. Modos de vêr; mas M.me Elisa Loeve-Weimar disse-me que seu irmão era de baixa estatura.

[6] Traslada a versão de Luthero correspondente a cada verso.






End of the Project Gutenberg EBook of Suicida, by Camilo Castelo Branco

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK SUICIDA ***

***** This file should be named 24339-h.htm or 24339-h.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
        http://www.gutenberg.org/2/4/3/3/24339/

Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)


Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties.  Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark.  Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission.  If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy.  You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research.  They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks.  Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.



*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
http://gutenberg.org/license).


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH F3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at http://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
http://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
business@pglaf.org.  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at http://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit http://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including checks, online payments and credit card donations.
To donate, please visit: http://pglaf.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.


Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     http://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.