The Project Gutenberg EBook of Folhas cahidas, apanhadas na lama, by 
Camilo Castelo Branco

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org


Title: Folhas cahidas, apanhadas na lama
       por um antigo juiz das almas de Campanhan

Author: Camilo Castelo Branco

Release Date: November 15, 2007 [EBook #23486]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK FOLHAS CAHIDAS, APANHADAS NA LAMA ***




Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)







[1]

FOLHAS CAHIDAS,

APANHADAS NA LAMA,

POR

UM ANTIGO JUIZ DAS ALMAS DE CAMPANHAN,

E

SÓCIO ACTUAL DA ASSEMBLEA PORTUENSE,

COM EXERCICIO NO Palheiro.


OBRA DE QUATRO VINTENS,

E DE MUITA INSTRUCÇÃO,




PORTO:

TYPOGRAPHIA DE F. G. DA FONSECA,

Rua das Hortas n.º 152 e 153.


1854.

[3]

EU.

Saibam todos quantos virem
Este publico instrumento,
Que surgiu mais um poeta
Nos aloques do talento.
Não pertenço á mocidade,
Que fechou sem caridade
Da velhice a pobre tumba.
Não sei palavras d'estouro,
Nem descanto em lyra d'ouro:
Minha lyra é um zabumba.

Eu, sou eu. Juiz das Almas,
Nos bons tempos, que lá vão,
Conheci que tinha uma
Como poucas almas são...
Campanhan! terra dos saveis!
[4] Que doçuras inefaveis
Tens nos teus prados amenos!
Ai! Maria da Cancella!...
Cada vez que fallo n'ella,
Sou Petrarcha... em fralda, ao menos!

Dai logar á catarata
D'uma lagrima que rola
Pelas faces, como orvalho
A aljofrar uma papôla,
Respeitai a desynth'ria
Desta enferma poesia,
Que resiste á Revalenta!
Braz Tisana, esse que diga,
Em que estado anda a barriga
Da Musa, nos seus outenta!

Deixai que um velho recorde
Aureos sonhos infantis!..
Campanhan, mansão das fadas
Onde estão tuas houris?
Ledas brisas que brincaveis
Entre as pestanas dos saveis,
Lindos saveis de coral!
Onde estaes, em que paues
Murmuraes, auras tafues,
Vosso hymno angelical!
[5]
Raios palidos da lua
Alta noute, em ceo d'anil,
Já não são os que argentavam
Estes lagos de esmeril!
Nem é este o pulcro savel
Que me deu sorriso afavel
D'entre os verdes salgueiraes!
Nem aqui meu peito anceia
Os carinhos da lampreia
(E outras asneiras que taes).

Quando eu era o mago enlevo
Das fadas de Campanhan,
Apanhava a borboleta,
Que doudejava louçan.
E, por tardes d'almo estio,
Lá nas margens do meu rio
Vi delicias de encantar....
--Pyrilampos, suspirando,
Qual Camoens suspira arfando
Os estos do seu penar.

Ai! trovas da minha aldeia,
Que saudades me doeis!
Doçuras da minha vida,
Quando eu cantava os reis!
Viola d'Antonio Pinto,
[6] Onde estás, que inda cá sinto
O gemer dos teus bordoens!
Minhas chinelas côr d'ovo,
E meu par de sócos novo,
Tão rico d'inspiraçoens!

Lá vai tudo! E minha alma
Erma, esteril, sinto aqui....
Como o lyrio enruga o calix
A fronte calva pendi!
Poeta da lyra amarga,
Vérgo ao peso desta carga
De descrença e maldição!
Lacerado em meu orgulho,
Quero o sangue, o serrabulho
Desta infame geração!

E, depois que a minha lousa
Parta d'um raio a centelha,
Hão-de ouvir ranger meus ossos
Como carruagem velha.
E a mortalha ensanguentada
Como a tunica manchada
Do Cesar de Campanhan,
Ha-de ser mostrada ao povo,
Ha-de ouvir-se um grito novo
Nas praias do Gengis-kan!
[7]

AOS BAROENS.

Amigos! sinceridade!
Não sejamos todos tolos;
Deixai vêr os vossos rôlos
De brasoens.
Ninguem disse ainda ao certo
Onde vão, donde vieram
Os baroens.

Dizem velhos alfarrabios
Que os baroens da idade d'ouro
Davam tapona de mouro,
Fanfarroens!
Nesse tempo eram crusados,
Hoje fogem dos cruseiros,
Os baroens.

Os de então na Palestina
Eram rijos e potentes;
Mas os d'hoje são valentes
Nos certoens.
Quem domina as vastas tribus
Dessas plagas africanas?
Os baroens.
[8]
Quem envia, mar em fora,
As esquadras dos Trajanos,
D'archejantes e ufanos
Galeoens?
Quem envia Guerra aos barbaros,
E lhe algema os pulsos livres?
Os baroens.

Digam lá o que disserem
Contra os crusados da moda,
Sois os grandes deste reino,
Meus baroens!.. sabeil-a toda!

«Carne humana!! escravaria!!!
Crime atroz!!!!» são palavroens.
Chia a imprensa? ha-de calar-se...
Sabeil-a toda, baroens!

Vossos pais quando vieram
De Figueiró para aqui,
Quem diria... vendo vil-os
Como eu chegal-os vi!..
[9]
Era assim: via-se um mono
De jaqueta de cotim,
E calças de estopa grossa
E pernas côr do carmim.

Trazia sócos ferrados,
Em que pés!.. Deus nos accuda!..
Lenço vermelho amarrado
Na cabeça ponteaguda.

Vosso avô vinha com elle,
E gemia derreado
Sob um saco de batatas
Do patrão mimo adorado.

Vossa avó, de pé descalço,
Traz canastra com toucinho,
Pão de broa corpulenta,
Borracha de verde vinho.

Inda hontem eu vi isto!..
E vossês sus patuscoens,
Devem espantar-se comigo
De serem hoje baroens!
[10]
Querem de graça um conselho?
Não fallem, que faz tristeza,
Vêr o raso da toleima
A que desceu a nobreza!

Burros ficam sempre burros,
Embora tragam selim,
Cravado de diamantes
E estofado de setim.

O brilhar dessas commendas
Não vos muda a condição.
O instincto vos arrasta
Para o covado e balcão.
[11]

HYMNO
AO HECKER SALOIO.

Senhor Fontes Pereira de Mello,
Que sois Pitt, e pitada tambem,
Já que tudo metteis n'um chinelo
A cantar-vos a banza aqui vem!

Senhor Fontes! Sois de Lysia
O que ninguem inda foi!
Quem dissera que tão perto
D'um Sangrado existe um heroi!

Longo tempo o cultor da batata,
Senhor Pitt, por vós suspirou.
As abob'ras meninas murcharam,
E a mesquinha cebola grelou!

Mas creaste um ministerio
D'agricultura, ó portento!
Era um gosto vêr o grêlo
Sob o imperio do Fomento!
[12]
E o repôlho, a cinôra, o coentro
Espontaneos brotavam nos montes;
E nas folhas da côve tronxuda
Viu-se escripto: «Gloria ao Sôr Fontes!»

Senhor Fontes! vosso nome
Pelas hortas se dilata!
Como o Cesar é na Fabia,
Sois salvador da batata!

Carangueijos os lusos viviam
Desterrados n'um solo infeliz!..
E, comvosco, quebrar inda esperam
Nos caminhos de ferro o nariz.

Senhor Fontes! este povo
Vossa gloria proclama,
Quando viaja enterrado
Té ao pescoço na lama.

Era triste esse tempo d'outr'ora
Em que um homem quebrava um quadril,
Nessas quinas d'estrada de pedra
Onde agora fumega um carril!

Á vista disto, Sôr Fontes,
(Á parte censuras tolas)
O paiz quer-vos na fronte
Uma restea de cebolas.
[13]
Quando o Porto vos deu quatro patos,
E de forno o arroz competente,
Quiz mostrar-vos que a gloria é um sonho,
Quando o ventre não anda contente.

E comestes, senhor Fontes,
E fizestes muito bem;
Colbert, Necker, e Pitt
Comiam patos tambem.

Quem nas polkas mostrou mais donaire?
Quem nas walsas mais quebra a cintura?
Quem melhor joga a tibia flexivel?
Quem compete comvosco em tesura?

Senhor Fontes, dous instinctos
A natura em vós relata;
A não serdes o Fomento,
Devieis ser acrobata.

Beatus venter qui te portavit,
Diz a patria na sua expansão!
Desde o Vistula ao Douro retumbam
Algazarras de rouca ovação!

Gloria, gloria ao rasgado
Fomentador immortal!
Modelo dos bons bigodes,
Permanente carnaval!
[14]

O DROPP.

Aranha de pau de pinho
Caranguejola, que és?
És o dropp; ora o dropp,
É uma cousa (diz Pop)
Sem ter cabeça nem pés.

Visto isso; temos dropp;
Ninguem tenha á barra medo.
A asneira não é tão calva;
A gente sempre se salva;

De que modo? isso é segredo,

Os praguentos já resmungam
Contra aquelle immenso trem;
Dizem que é força acabar,
Não só nas furias do mar
Mas nas do dropp tambem.
[15]
Este dropp é um segredo,
As finanças um mysterio.
Vêdes n'aquella gaiola,
Uma parva cabriola,
Imagem do ministerio?

Navegantes! acautelem-se!
Em posição desastrada
Empreguem maior cuidado
Que lhe não venha ao costado
Uma tremenda caibrada.

Aquelles paus são synistros
Como o cavallo de Troya;
Tudo aquillo é muito serio;
Tem não sei que de funereo
Dos carroçoens do Lagoia!

Tanta tabua consummida
Nessa funeraria asneira!..
Não 'stava ahi um sujeito
Com tanto dropp já feito,
Manoel José d'Oliveira?
[16]
Economia! sarcasmo
Deste ministerio-dropp,
Que cravou no calcanhar
A espora que faz andar
As finanças a galope!

Sou de voto que se dê
Ao dropp um uso real:
--Seja a estufa, com recatos,
P'ra guardar os cinco catos
Do ministerio actual.
[17]

O SEU A SEU DONO.

A Cesar o que é de Cesar,
Aos velhos o que é dos velhos!
Quem da crytica se encarga,
Deve andar estrada larga
E não metter-se por quelhos.

Sou assim! E mais sou velho
Mas a verdade é tambem,
Custe embora a quem custar,
A verdade hei-de-a fallar
Seja em mal, ou seja em bem.

Epaminondas Tebano,
A Concordia e o Nacional,
Nem a rir disseram petas:
Eu tambem como as gazetas,
Sou da honra o pedestal.
[18]
Não consinto que se diga,
Que só lavra a corrupção
Nas entranhas dos mancebos.
Eu conheço muitos gebos
Corruptos de profissão

Quem quizer venha ao Palheiro
Desta nossa Assemblea,
Ha-de vêr linguas farpadas
Em bocas já desdentadas
Maculando a honra alheia.

Ha-de vêr velhos devassos
Como em lubrica orgia,
Já vergados nas cernelhas,
Memorando infamias velhas
Com satanica alegria.

Ha-de vêr o extincto frade,
C'o a bochecha rubra e gorda,
Acerando o epygramma,
Nem se quer poupando a ama,
Que lhe faz em casa a sôrda.
[19]
Ha-de vêr o millionario
Brazileiro, com mil tretas,
A contar, com sujas cores,
As lendas dos seus amores
Com as suas trinta pretas.

Estes taes são os que infamam
A mocidade infeliz!
São estes em cuja tez
O oleo da estupidez
É da vergonha o verniz.

A mocidade não pode
Vencêl-os, não pode, não!
Dominam, são respeitados,
Representam vinculados
Os tempos da corrucção.

Nascidos, quando por terra
Os homens lançaram Deus;
Tem só fé no sensualismo,
E escarnecem com cynismo,
As crenças filhas dos ceus.
[20]
Gangrenado o corpo e alma,
Sem saber, e sem piedade,
São authomatos de barro,
Que resistem ao catharro
Pr'a vexar a humanidade.

Onde existe a virgem pobre,
Que de maguas vive cheia,
Lá vai ter uma mensagem
Da senil libertinagem,
Que o pudor lhe regateia.

Perguntai nesses alcouces
De miseria e compaixão,
Quantas victimas da fome
A deshonra ahi consomme,
E de quem victimas são.

Heis d'ouvir factos nojentos
Destes velhos que se arrastam
Sobre a lama das torpezas,
Das luxurias e villezas
Em que, cynicos, repastam.
[21]
Velho sou, bem alto o disse;
Mas deshonro-me de ser
Desta geração de velhos,
Em que os moços tem espelhos
Onde infamias possam ver!

Mocidade generosa!
Os teus crimes, tem nobreza;
Quando falla a consciencia,
Nem negaes a Providencia,
Nem manchaes a natureza.

Elles não; sempre atufados
Em nojentos tremedaes,
Crêem só no seu dinheiro,
No cavaco do palheiro,
Na barriga, e nada mais.

A Cesar o que é de Cesar,
Aos velhos o que é dos velhos!
Quem da crytica se encarga,
Deve andar estrada larga,
E não metter-se por quelhos.
[22]

CONTO MORAL.

Um attaché, que vivera
Em Pariz uns quatro mezes,
Voltando á patria mesquinha,
Não roubou nem palavrinha
Aos seus amigos francezes.

Quando entrou nos patrios lares,
Já não era o mesmo filho;
Sua mãe dobando estava,
E o attaché perguntava
Que nome tinha o sarilho?

Desceu á loja onde estava
O honrado pai ao balcão.
E mal dera ainda um passo,
Quando viu que estava um engaço
Estendido alli no chão.
[23]
Ora, o engaço tinha uns dentes,
Onde o tolo põe um pé,
Quando ao pai enthusiasmado,
Perguntou todo anafado:
Este engarilho que é?

Vai o cabo levantou-se,
Que assim era de suppor;
Vem direito ao infeliz
Quebra a ponta do nariz,
Do futuro embaixador!

MORAL.

Não venham fazer-se finos
Á patria os attachés,
Quem vai tolo tolo volta,
Inda que traga uma escolta
De anedoctas dos Cafés.
[24]

EPYSTOLA

AO EXCM.o VISCONDE DE ATHOGUIA EM DUAS VIDAS; MINISTRO DA MARINHA DOS TRES BRIGUES, E DOS NEGOCIOS ESTRANGEIROS... AO SENSO COMMUM.

Illustre paspalhão, pasmo dos orbes,
Nata da estupidez, alcool dos parvos,
De Campanhan o bardo te sauda!

Eu nunca fui sentar-me á tua porta,
Mendigando mercês; nunca os meus cantos,
Fedendo ao macassar da vil lisonja,
As nedeas ventas incensar te foram!
É livre a minha voz: creiam-me os povos!
Nobre feudo pagar aos grandes parvos
É do bardo a missão. A minha é esta.
[25]
Ha muito que eu de ti pasmado andava,
Contando á minha Antonia, e aos pequenos,
O nome que no peito escripto tinha.
Em casa do Francisco da Thomasia
Os teus discursos li, Visconde incrivel!
N'aquellas chatas caras que me ouviam,
Vi faiscas saltar de enthusiasmo.

Bebêmos-te á saude, a rego cheio!
E, no excesso do goso, os teus amigos
Não podiam lamber-se... eram uns cachos!

Tu, mais novo que o neto, ousado Gorgias,
Ha pouco trituraste os cabralistas
No rijo almofariz do craneo ôco.
Salvaste Roma, ó ganço!.. se não grasnas
Piravam-se os taes páos[1] e a Lusitania,
Viuva dos seus páos, ia-se á mingua!
És o Curcio das lonas, que remiste[2]
[26]
Do jogo infame da Albion perversa
A patria dos Affonsos e Affonsinhos!
A divida fatal, chamada externa,
Saldaste-a c'o producto dessas chapas,
Em que fica chapada a crassa asneira,
Eterna viscondessa d'Athoguia!

Do Conde de Thomar se intitulava
O patacho fatal, terror dos povos!
Fulminaste o patacho! A Europa accesa,
Pedira-te energia audaciosa.
Passaste heroica esponja sobre o nome,
E fizeste callar a voz da Europa!

Ó Jervis! tu nem sabes quanto vales!
Que o diga Campanhan, Valbom, S. Cosme,
Onde eu pude chegar, e a minha Antonia.

A machado e eixó, de páo castanho,
Um busto construí: era o teu busto.
Teu nome eternisei, nome que teve
Um u, maldito u, que tantas febres
Na mente escandecida te abrazára!
[27]
Não sei se diga mais, palavra d'honra!
Com esta não te enfado mais, visconde.
Não desdenhes vaidoso a offerta humilde,
Que mesquinho reptil aos pés te arrasta.
Recebe dusia e meia de lampreias,
Cosinhadas por mim; são de escabeche...
A proposito, amigo, ha quanto tempo
Conservas de escabeche a intelligencia?

[1] S. exc.a mandou vender os páos, porque deu na melgueira d'uns empregados, que os regeneravam á surelfa, com grave detrimento da marinha portugueza.

[2] S. exc.a vendeu umas lonas, cujo producto fez subir os fundos em Londres, e permittiu a construcção de trinta navios de guerra, com que s. exc.a espera «sulcar as salsas ondas d'Amphitrite,» segundo a gravissima opinião do snr. J. M. Grande.

[28]

O MINISTRO E O JORNALISTA.
(Dealogo).

MINISTRO
Eu vim chamado ao leito desta patria
Matava-a a corrupção, e eu salvei-a!
Se prostrada jazia, ou talvez morta,
Qual Lazaro da campa, alevantei-a!
JORNALISTA
De certo levantou Vossa Excellencia!
Que brade embora a vil opposição...
Esquálidos vestigios de gangrena
Bem profundos deixou a corrupção. [29]
MINISTRO
Se crê nessas doutrinas luminosas,
E quer ser prestadio a Portugal,
Acceite a empreza honrosa, augusta, e nobre,
D'expol-as, sustental-as n'um jornal.
JORNALISTA
Empreza honrosa é; della me ufano!
Irei apostolar o credo novo;
Direi ás multidoens verdades francas,
Será o meu jornal jornal do povo.
MINISTRO
Bem sei que da defeza é árdua a luta...
Odeia-me, sem causa, esta nação...
Embora! na grandeza dos serviços
Compete ao defensor môr galardão.
JORNALISTA
Bem sei quantas calumnias forja a intriga...
Já dellas foi manchado o grande Decio.
Quizeram macular Vossa Excellencia
Chamando-lhe espião, rival de Mecio! [30]
MINISTRO

(Commovido, e esfregando os olhos com cebola).

Bemdito seja Deus! só elle sabe
As nobres intençoens de tal acção!
Por honra, por nobreza, e por caracter,
De certo fui, meu caro, um espião!
JORNALISTA
Não é lá grande feito de virtude;
Mas cumpre que eu me saiba haver na luta.
Convém negar o facto, ou confirmal-o?
Bem sabe que é de crêr haja disputa.
MINISTRO

(Limpando os oculos).

Eu lhe digo, senhor, a patria exige
Medidas uteis, providencias, factos.
Accusaçoens banaes, não lhes responda;
A pedra é livre em mãos desses gaiatos. [31]
JORNALISTA
Pois bem! sou desse voto, ei-de julgal-as;
Accusaçoens banaes, pretr'idas, nullas;
Mas dado o caso infausto de citarem
Não sei que transacçoens com certas bullas?
MINISTRO

(Enternecido).

Responda-lhe que eu fui proscripto, errante...
E quando ao ninho caro alfim tornei,
Não só não tinha um pinto pr'a despezas,
Mas nem a livraria, em casa achei.
JORNALISTA
Pois bem, triumphará Vossa Excellencia...
Agora, se lhe apraz... sim... cada qual
Emprega neste mundo, como pode,
O seu... ou pouco ou muito cabedal...
MINISTRO
Intendo... quer dizer que não dispensa
Além do beneficio, uma pensão...
É justa, a quem trabalha a recompensa...
Quer cincoenta mil reis? pagos, serão. [32]
Cinco mezes depois.
JORNALISTA

(Escrevendo).

Senhor ministro, eu não posso
Este jornal sustentar
Tenho esp'rado, em vão tres mezes,
Não me acabam de pagar.

Vossa Excellencia me disse,
A vinte e tres de Janeiro,
Que no Governo Civil
Recebesse o meu dinheiro,

Nem um chavo! e os assignantes
Abandonam-me o jornal,
Porque defendo um governo
Vergonha de Portugal.

Se não manda, quanto antes,
Senhor ministro, as mesadas,
Com pesar vou abraçar-me
Ás outras crenças passadas. [33]
MINISTRO

().

Á vista disto, não ha mais fugir-lhe...
Pouco me serve... mas é pobre moço!..
Fazem-me pena quando assim os vejo...
Não ha remedio senão dar-lhe um osso. [34]

A D. EUSEBIA DA ASSUMPÇÃO,

ALMA DE VACA.

Noitebó que esvoaçaste
No meu ceo d'alva illusão;
E na chaminé pousaste
Deste ardente coração;
Que mal te fiz, pulga d'alma,
Que mordes, sem compaixão?

Dona Eusebia, gança amada,
Que picaste a minha flor,
Tão do intimo orvalhada
Pelos prantos desta dôr,
Dona Eusebia não me piques
Esta alcachofra d'amor!
[35]
Gata brava, não me bufes
Esta luz d'aspiração;
Por quem és, tu não me atufes
Dona Eusebia d'Assumpção,
Nos abysmos insondaveis
D'assanhada ingratidão!

Tu chamaste-me pangaio,
Quando eu quiz um riso teu!
Fulminou-me um impio raio,
Minha aspiração morreu!
Ai! Natercia de chinelos,
Serei eu pangaio? eu!!

Tens no peito ingrata, um chato
Coração de melancia.
Tanto tempo fui teu gato,
Gato d'amor e poesia!
Dona Eusebia, alma de vaca,
Morras tu de hydropesia!
[36]

AS LITTERATAS.

Paes de familia, hybridos caturras,
Escrevo para vós! Se tendes filhas
Com sestro massador de fazer versos,
Dai-lhes p'ra baixo, como eu dou nas minhas!

Eu vejo serigaitas, mal lavadas
Do almiscar infantil de seus cueiros,
Fazerem relaçoens c'os raios pallidos,
Da estrella matinal, do lago lympido,
Das auras ciciantes, e da aragem,
E d'outras semelhantes trampolinas,
Que vós não entendeis, nem eu, nem ellas.
[37]
Espevitam-se todas estas gaitas
Da musa melancolica das noutes.
Mal sabem onde tem a mão direita,
Não viram do nariz um palmo adiante,
E fallam de paixoens intimas d'alma,
De crenças desbotadas, e de flores
Fanadas ao soprar da leda infancia.

Acaso comprehendeis, paes de familia,
Da nova geração destas piegas
A triste chiadeira que nos fazem?
Dai-lhes p'ra baixo como eu dou nas minhas!

Não tendes uns fundilhos nas cilouras?
Não tendes roto o calcanhar da piuga?
Não tendes uma estriga, um fuso, e roca?
Mandai-as trabalhar; dai-lhe a sciencia
Precisa para o rol da roupa suja.
Se lhe virdes romance, ou essas cousas
Chamadas folhetins, sobre a toilette,
(A toilette, meu Deus! por causa d'ellas
Perverteu-se a dicção do nosso Barros!)
Dai-lhes p'ra baixo como eu dou nas minhas!

Quem é o parvo que espozar-se queira
Com litterata alambicada e chocha?
[38] Sentada n'um sophá, sapho saloia,
Em languida postura requebrada,
Se eu visse a minha Antonia! ai que panasio,
Que revez de careca eu lhe pregava!

Paes de familia! não achaes bem triste
Entrar um cidadão em sua casa,
Cansado de lavrar o pão da vida,
E vêr sua mulher repotreada
Na othomana gentil, lendo romances?
Pobre marido quer fallar d'uns frangos
Que baratos comprou, e a litterata
Pergunta-lhe se leu Kossuth e os hungaros!
O parvo franze a testa aborrecido,
Procura entre os lençoes um refrigerio;
Mas, no excesso da dôr, rasga as cilouras,
E no mundo não tem mulher ou anjo
Que lh'as saiba coser!.. ai do mesquinho!

Onze horas já são. O bom do homem
Tres vezes já pediu café com leite,
Apertam-no negocios; mas em balde
Pediu com desespero o tardo almoço.

A litterata esposa inda ressona,
Pois vira despontar a estrella d'alva
[39] Nos rubros arreboes dos horisontes,
E, inspirada, fizera quatro quadras,
Ardentes de ideal romantecismo.

«Café com leite!» brada em vão tres vezes,
O bode expiatorio dos romances...
«Café com leite» os eccos lhe respondem,
Que a Stael d'agua doce inda ressona!

Maridos imbecis! eu vos lamento!
A culpa não foi vossa! Aos pais a imputo.

Madame Podestá dizem que ensina
Grammatica, rethorica, hidraulica,
Mecanica, gymnastica, estetica,
E chymica, e botanica, e plastica,
O arabe, o sanskrit, a geographia,
A prosodia, a syntaxe, industria e canones,
E muitas cousas mais, como th'rapeutica.

Será tudo mui bom; mas eu aposto
Que o remate de tantas luzes juntas
É capaz de fazer perfeitas tolas
As muitas que lá vão com seu Juizo!
[40] Paes de familia! tendes filhas d'estas?
Dai-lhes p'ra baixo, como eu dou nas minhas!

Um pai eu conheci, que nunca soube
O seu nome escrever sem quatro asneiras,
E mandou ensinar francez á filha.
A filha conseguiu, passados annos,
Uma cousa fallar mui duvidosa
Que os francezes, talvez, diriam tartaro!
Mas seria francez, o caso é este:

Um dia estava o pai, e ella, e um outro
Janota almiscarado, conversando.
De improviso a menina a lingua solta
Em barbaros grasnidos que atarantam
A cabeça do velho. O «petimetre»
Responde em algarvia semelhante.
O pai, no centro delles, era um parvo
Gemendo sob o peso do ridiculo...
Mas lá vai o peor do caso infausto!
Ao dar da meia noute desse dia
Cumpria-se a promessa contratada
Na presença d'um pai, que bem podera
[41] Embargos de terceiro inda intentar
Se fosse em portuguez organisada
A injusta petição do supplicante.

Pais de familia, vossas filhas fallam
Italiano, francez, gallego, ou turco?
Dai-lhes p'ra baixo como eu dou nas minhas.
[42]

UM JANTAR DE BAROENS.

INVOCAÇÃO.

Musa da sopa e do cosido, inspira-me!
Pandega musa, que sorris ao vate
Em môlho d'açafrão, e de tomate,
Um cego adorador... achaste em mim.
Transforma o estro meu em lombo assado,
Da minha inspiração faz um podim.

Tu filha dos baroens, musa do unto,
Nasceste na cosinha entre caçôlas;
Saudaram-te no berço alhos, cebôlas,
Do cominho tiveste uma ovação.
Depois, trajando gallas de toucinho,
Eu vi-te nas bochechas d'um barão.
[43]
Namorado de ti, fiz-te meiguices,
Por de traz d'um pirum, e tu de lá
Sorriste-me atravez da nedea pá
De vitella gentil, rica de arroz!
Ai! era!.. e nem eu sei se foi mais linda
Aquella gorda pata... que te poz!

Tu fizeste de mim novo Claudio,
Inspiraste-me fé no rodavalho.
Traguei indigestoens, arrotos d'alho,
Bernardas na barriga supportei.
Tomei chá de marcella... e, em premio d'isto.
O teu auxilio, ó musa, não terei?!

I

Dentro e fóra illuminado
O palacio d'um barão,
Fulgurante representa
Um enorme lampião.
Jorram lympidas vidraças
[44] Sobre as populosas praças
Ondas tremulas de luzes.
Vai lá dentro grande goso,
Nesse alcaçar radioso
Do barão dos Alcatruzes.

D'Alcatruzes é chamado,
Porque, sendo ainda moço,
Muitos baldes d'agua fresca
Dizem que tirou d'um poço.
Nenhum outro mais destreza
Revellou na ardua empreza.
De puchar acima um balde.
Um que seja tão robusto
Ha-de vir mui tarde e a custo,
Do concelho de Ramalde.

É barão; não vale a pena
Discutir-lhe os nobres feitos.
É barão dos Alcatruzes
Já tem pagos os direitos.
Inda é mais; pois além d'isto
É commendador de Christo
Com bastante indiscripção.
Mal diria Christo outr'ora,
Que seria posto agora
No peito d'um vendilhão!
[45]
E mais elle, que os tocava
Com terrivel azorrague!..
Mas os Judas vendem Christo,
Ponto é haver quem pague.
E o barão dos Alcatruzes
Neste seculo das luzes
Tambem fez de farizeu:
E, tambem, se é necessario,
Representa de Calvario,
Onde a cruz se suspendeu.

II.

N'um salão vasto, opulento,
Um banquete se vai dar;
Nos christaes reflecte o ouro,
A fulgir, a scintillar.
Os rubis, e a côr da opala
Transfiguram esta sala
Em olympicas mansoens.
Mas a alma cae por terra,
Quando vê que alli se encerra
Duzia e meia de baroens.
[46]
Da terrina a caudal sopa
Em silencio é devorada.
Só então fingiram d'homens,
Porque não disseram nada.
Mas venceu a natureza!
Um barão por sobre a mesa
Estendendo o prato, diz:
«Ó compadre! isto é qu'é bô!
Venha sopa, e acabô!
Cá de mim, torno á matriz!»

O barão de Cogumelos
Junto estando á baroneza,
Que se diz dos Sacatrapos,
Quiz fazer-lhe uma fineza.
Arrastou p'ra junto d'ella
Um pirum, e a cabidela
No prato lhe despejou.
E lhe diz: «cá isto é nosso;
Cousa que não tenha osso
É p'ró estamago, e arrimou!»

Outro diz á gorda esposa,
Que bem perto de si tem:
«Bai-lhe bebendo po'riba,
Ó mulher, come-lhe bem!»
Este pede ao seu visinho:
[47] «Que lh'atice bem no binho
Qu'é da belha companhia.»
Diz aquelle ao seu fronteiro:
«Que lhe chegue um frango inteiro
E biba a sancta alegria!»

III.

As saudes já começam.
É um gosto agora vêl-os.
Estas caras representam
Tomates de cotovêlos.
E, a travez do escarlate
Do legitimo tomate,
Transsuda um oleo que brilha,
Cada qual tem as orelhas
Encarniçadas, vermelhas
Como as azas d'uma bilha.

Pega no copo, e exclama
O barão das Pimpinelas:
«Vito serio! um home fala
Sem preamblos nem aquellas!
Á saude e alegria
[48] Desta bella companhia
E com toda a estifação!
P'ra que todos cá binhamos
Estifeitos como bamos
De casa do sôr barão!»

E os hurras retumbaram
Pela sala do festim.
Balthazar nos seus banquetes
Não ouviu gritar assim!
Sobre a mesa deram murros,
Saudaram com grandes urros
O barão dos Alcatruzes;
Mas alguns com magua sua,
Já cuidavam ver a lua,
Não podendo vêr as luzes.

Mas, entre elles, um existe,
Litterato em seu conceito.
A palavra pede, e reina
Um silencio de respeito.
Elle diz: «Risonhas gallas
Que refrangem n'estas salas
Repercutem, symbolisam
Acrimónias insoluveis,
Nos acrósticos voluveis
D'epopeas que eternisam.
[49] Pandemonios exhauriveis
D'indeleveis congruencias.
Requintados se escurecem
Nos imporios das sciencias
E liberrimos se escudam
Nas façanhas que transsudam
Em fantasiosas luzes.
E, por tanto, a mais alludo,
Quando, fervido, saudo
O barão dos Alcatruzes!»

Succedeu o grito ao pasmo!
Nunca se viu cousa assim!
O orador foi abraçado
Com furor, com frenezim!
«Isto é qu'é!» dizia um,
Convertido em rubro atum,
Betarraba até não mais.
«Viva Cissro!» outro dizia,
Despejando a malvazia,
Com grasnidos infernaes.

IV.

E a pandega findou. Mas alta noute,
Disseram-nos fieis informaçoens;
[50] Que grande movimento ouve de tripas,
E grande salto deram as torneiras
Das pipas convertidas em baroens
Ou antes dos baroens tornados pipas.
[51]

ELOGIO FUNEBRE

A uma dama, prodigio de fecundidade, que dá á luz tres romances, por semana, nos jornaes do Porto.

Atafona de romances,
És um carril a vapor!
Romantisas quanto achas,
E nos folhetins encaixas
Com satanico furor.

Cornocopia da toleima!
Nós fizemos-te algum mal?
Tu não sabes, escriptora,
Como zombam lá por fóra
Das lettras de Portugal?
[52]
Não lucrara mais a patria,
E lucráras tu tambem,
Se fiasses n'uma roca.
Com primor, a massaroca,
Que desprezas, com desdem?

Não te fôra mais airoso
Bispontar bem uns fundilhos
Para em tempo competente
Um remendo pôr decente
Nas cuecas de teus filhos?

Mal tu sabes que sciencia
Tem da meia o calcanhar!
Talvez penses que o romance
É mister de mais alcance
Que nas meias pontos dar!..

Eu por mim antes quizera
Nunca ter lido Camoens,
Nem romances d'uma tola,
Que vestir rôta a ciroula,
Ou camisa sem botoens.
[53]
Accredito seja um dia
A mulher emancipada;
Ha-de então ser regedora,
Escrivan, e contadora,
Eleitora, e deputada.

Nesse tempo, se existisses,
Tendo em vista essa pericia
Com que ostentas teu saber,
Que logar podias ter?
Eras cabo de policia.

Tenho pena, quando penso
Que serás formosa e meiga,
E encontro os teus escriptos
Nos embrulhos dos palitos
Do toucinho, e da manteiga!

Faz-me dó, pois tu bem podes
Bordar lenços de cambraia
Com bonito petit-point;
E, não sendo aqui ninguem,
Podes, ser tudo na Maia.
[54]

EPISTOLA

AO VISCONDE DE QUEBRANTOENS.

Instrumento do ceo, desceste ao Porto,
Corajoso mancebo, que desandas
Nos borlistas fataes sopapo ingente!

Oppresso longo tempo, ahi gemera
Nas entalas crueis d'um camarote
O misero assignante! Amargo calix
Em silencio tragava, ouvindo os passos
Do acerbo massador, impio borlista!
As notas de Rossini eram-lhe espinhos,
As fusas de Bellini eram-lhe fusos
Que o intimo das visceras lhe espetam!
E os duetos em do Machbet
Eram-lhe cantos de raivosas górgonas!
[55]
O ferro fez-lhe vêr visoens do inferno!
A propria Jeny-Lind se cantasse,
Nesse palco, talvez, aos olhos d'elle
Não fosse mais gentil, que a Cholera-morbus[3]
É que a larva immortal do pesadello,
A sombra do borlista ergue-se impavida,
Synistra, nos umbraes do camarote!

Derreado e servil no corpo e alma,
Arrasta-se o borlista em cortesias,
Gagueja cumprimentos requentados,
Recebe em cada noute affrontas novas,
E, cynico, sorri, graceja sempre!

Mas cerram-se ao borlista os horisontes,
Apenas surges tu, Pedro-Eremita,
E aos povos um pregão de guerra envias!
De toda a parte bellicosa ferve
Raivosa indignação contra os Bernardos.[4]
Aqui batata pôdre o povo ajunta,
Além prendem-se em páos bexigas tumidas,
E cebola grelada em grande escala
De Freixo de Numão o Porto importa.
[56]
Se no livro fatal d'altos destinos
Proscripta a extincção foi do borlista
Da borla a abolição a ti se deve,
De ti, visconde emana o nobre impulso!

Em nome dos sensiveis assignantes,
Recebe o galardão que o Porto envia
Ao caro filho seu que a patria salva
Do typho mais cruel--typho-borlista!

[3] É uma cegonha, cousa duvidosa entre a forôa, e a giboia, que canta entre as coristas.

[4] Quem não conhece o sr. Bernardo, digno Achiles do Barriense?

[57]

IMPRESSOENS

D'UM PASSEIO, NO JARDIM DE S. LAZARO.

Que delicias não encerra
Esta bem fadada terra
N'um domingo, em mez d'Abril!
Nem eu sei se a natureza
Deu mais pompas a Veneza,
Que no mar reina gentil.

Não na ha terra mais linda
Nem sonhal-a eu pude ainda
Nos meus sonhos da manhan.
Uma só os dons lhe abate,
És só tu, patria do vate,
Donairosa Campanhan!
[58]
Mas, aqui, terra das auras,
Espontaneas brotam Lauras
Por entre sacas d'arroz.
E, quaes ferteis cogomelos,
Nascem Dantes de chinelos,
E Petrarcas d'albornoz.

Tudo vai do ceo formoso,
Que derrama ondas de goso
Nestas almas d'alfinim.
Ouem não viu anjos de saia,
Serafins d'alva cambraia
No fantastico jardim?

Inda, ha pouco, eu vi delicias
Invejei doces caricias,
Que lá vi... oxalá não!
Entre tantas a mais bella,
A rainha... ai! era ella...
D. Eusebia d'Assumpção!

Ella sempre!.. espectro! larva
Por quem fiz esta alma parva,
Por quem dei cavaco até!
E tão linda!.. impia cegonha,
Tão folhuda!.. era uma fronha,
Um travesseiro de pé!
[59]
E, tão tolo, eu quiz fallar-lhe
Quiz mysterios revelar-lhe
Deste amor, desta agonia;
Quiz dizer-lhe em voz terrivel,
Com rancor inconcebivel:
«Passou bem? que bello dia!»

Não me ouviu, virou-me a cara,
E eu jurei vingança avara,
E a vingança... oh! eide-a ter!
Não te rias, lagarticha,
Eide atirar-te uma bicha,
Eide vêr-te a fralda a arder.

Feito o horrivel juramento,
N'aquelle acerbo momento
Dona Eusebia me esqueceu!..
Procurei entre outras flores
Nova fé, novos amores...
Poderia achal-os eu?

Dona Eustaquia era formosa,
Tinha os dentes côr de rosa,
Meigos olhos de marfim;
Tinha o collo verde-gaio,
Lindos braços cor de paio,
Lindas mãos de marroquim.
[60]
Mas Eustaquia não podia,
Conceber-me esta poesia,
Que me escalda o coração!
Ao pé d'ella estava um grulha,
Um rival, um gêta, um pulha,
Um palerma, um pelitrão.

A pretexto de meiguices,
Vomitorio de sandices
Era o tal... que eu não direi...
O que eu fiz foi pôr-me ao largo,
Pois luctar é sempre amargo
Contra um estupido de lei.

Outra vi; julguei-a vaga;
Era Dona Saramaga,
D'olhos garços de matar.
De cabello em grande rôlo,
Sua testa era um rebôlo,
Mas rebôlo de encantar!

Esta sim: ouviu-me as fallas,
Conheceu que estava em tallas
Meu dorido coração.
Deu me affectos desvellados,
Deu-me quatro rebuçados
Com sensivel emoção!
[61]
Perguntou-me se a Geordano
Ficaria para o anno,
Ou iria p'ra Pariz.
Respondi-lhe que a cantora,
Por em quanto, era senhora
Da garganta e do nariz.

Dito isto (e não é pouco)
Retirei-me quasi louco
De paixão, que é de matar.
Mas palpita-me que um dia,
Consummida esta poesia,
Pés de burro eide apanhar!
[62]

P. S.

O auctor desta obra é uma pessoa honesta, que reconhece Deus no ceo, e o ridiculo na terra. Não crê no representante de Deus entre os homens, por que não quer ultrajar a divindade; mas confessa que o demonio tem um representante em cada freguezia, sem attribuiçoens no codigo administractivo, mas funccionario muito superior aos regedores e juizes eleitos. O auctor accredita que o diabo não é tão feio como o pintam, e reputa-o, nas suas elevadissimas intuiçoens, como um espirito que se ri desentoadamente das muito parvas evoluçoens da humanidade. O auctor ousa declarar-se commissionado provisoriamente desse espirito do sarcasmo, e não poderá d'hora em diante irrogar injuria a quem lhe chamar «alma do diabo.» Conscio da missão que lhe é delegada, o auctor intenta uma publicação semanal, que será uma pagina que o Lucifer do seculo XX receberá da mão do Lucifer do seculo XIX. A geração, que vai levantar-se sobre os tumulos da geração que se esconde na grande valla d'uma epocha, virá estudar a nossa biographia nessa obra que o auctor intenta. Quem quizer assignar para ella fará um serviço aos seus netos.

[63]

PROSPECTO.

UM BICO DE GAZ.

JORNAL SEMANAL.

Assignatura por mez: 160 réis. O jornal é distribuido aos sabbados; e assigna-se

No Porto--em todas as lojas onde se vende este folheto; Lisboa, Coimbra, Vizeu, Lamego, Vianna, e Braga.

Admittem-se correspondencias que attinjam a missão rasgadamente civilisadora deste jornal. É preciso que a luz da intelligencia humana deixe de ser alimentada por azeite de purgueira. O espirito reclama um bico de gaz. E o auctor tem a vaidade de reputar-se o Hislop do mundo espiritual.






End of the Project Gutenberg EBook of Folhas cahidas, apanhadas na lama, by 
Camilo Castelo Branco

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK FOLHAS CAHIDAS, APANHADAS NA LAMA ***

***** This file should be named 23486-h.htm or 23486-h.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
        https://www.gutenberg.org/2/3/4/8/23486/

Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
of public domain material from Google Book Search)


Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties.  Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark.  Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission.  If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy.  You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research.  They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks.  Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.



*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
https://gutenberg.org/license).


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH F3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
https://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
business@pglaf.org.  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at https://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit https://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including including checks, online payments and credit card
donations.  To donate, please visit: https://pglaf.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.


Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     https://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.