The Project Gutenberg eBook of Portugal e Ilhas Adjacentes: Exposição Ethnografica Portugueza

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Title: Portugal e Ilhas Adjacentes: Exposição Ethnografica Portugueza

Author: Adolfo Coelho

Release date: May 13, 2007 [eBook #21429]
Most recently updated: January 2, 2021

Language: Portuguese

Original publication: Lisboa: Imprensa Nacional, 1896

Credits: Produced by Rita Farinha and the Online Distributed
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Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal)

*** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK PORTUGAL E ILHAS ADJACENTES: EXPOSIÇÃO ETHNOGRAFICA PORTUGUEZA ***

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CENTENARIO DO DESCOBRIMENTO DA INDIA

EXPOSIÇÃO ETHNOGRAPHICA PORTUGUEZA

PORTUGAL E ILHAS ADJACENTES

POR
F. ADOLPHO COELHO
PRESIDENTE DA SECÇÃO DE SCIENCIAS ETHNICAS DA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA, ETC.

LISBOA IMPRENSA NACIONAL 1896

AOS ESTIMAVEIS LEITORES

O auctor deste programma agradecerá muito quaesquer informações que sirvam para completá-lo ou corrigí-lo e que lhe podem ser enviadas para a *Sociedade de Geographia*—Lisboa.

OBSERVAÇÕES PREVIAS, IDEIA, E DIVISÕES PRINCIPAES DO PROGRAMMA

OBSERVAÇÕES PREVIAS

Apesar de existirem varias publicações que têem por objecto o estudo do povo português sob diversos aspectos, póde affirmar-se resolutamente que a nossa ethnographia se acha na infancia, já porque muitos desses aspectos, entre os quaes alguns da maior importancia, têem sido apenas levemente tocados, já porque a muitas daquellas publicações falta a precisão scientifica. Carecemos nós, sobretudo, de um trabalho de conjuncto sufficientemente completo, impossivel de organisar pela ausencia de numerosos dados que a diligencia dum só investigador ou até dum pequeno grupo de investigadores associados não teria capacidade de reunir.

O estudo do povo português sob o aspecto physico está apenas iniciado: o que falta fazer, ainda dentro dos limites do estrictamente indispensavel, é quasi tudo!

Não foi ainda realisada nenhuma investigação séria, baseada, portanto, sobre dados sufficientemente numerosos e seguros, acerca da alimentação das classes populares.

A habitação portuguesa, cujos typos são variados e interessantes, apesar da estreiteza do nosso territorio, é um objecto, por assim dizer intacto. A alfaia e o mobiliario domesticos esperam ainda um estudo que não seja um fragmento.

O vestuario das classes populares não foi ainda descripto e desenhado no seu conjuncto, comparativamente, na sua distribuição geographica: tem sido apenas objecto de notas destacadas, de reproducções de curiosos de momento. Algumas publicações destinadas a figurá-los pela estampa (photographia, gravura, aguarella, etc.) ficaram incompletas, e apenas nalgumas exposições, nalguns museus (industrial do Porto, agricola de Lisboa) figuram uns raros manequins representando exemplares avulsos.

Artigos de publicações periodicas, memorias e notas soltas, inqueritos agricolas e industriaes têem accumulado numerosas observações sobre o trabalho popular nas suas diversas fórmas; mas ainda quando tudo isso se conglobasse num só livro, ficaria muito incompleto e inconsistente. Carecemos de conhecer esse trabalho, sobretudo no que elle tem de caracteristico, de tradicional, em todas as suas minudencias, em todas suas as applicações, em todas as suas condições, para apreciação justa e completa do nosso povo.

Um capitulo do trabalho nacional, dos mais interessantes sem duvida, começou a ser estudado nos ultimos tempos com carinho—a pesca; mas apesar de valiosas publicações, entre as quaes avulta a do sr. Baldaque da Silva, não pouco resta ainda que fazer.

Os meios de transporte tradicionaes, carros, embarcações maritimas e fluviaes, etc., esperam ainda um estudo comprehensivo, assim como o commercio nas suas fórmas populares.

As bellas artes populares, propriamente ditas, salvo a poesia, não foram ainda estudadas a serio. A musica tem sido objecto de varias publicações destinadas, ao que parece, a darem della ideia falsissima.

Não é nessas publicações anti-scientificas, em que o genuinamente popular, transcripto sob o imperio de preoccupações pedantes, se envolve com composições de origem não popular evidente, não é nas rapsodias dos compositores que iremos estudar a musica do nosso povo, que espera ainda quem saiba fixá-la em notas veridicas e perscrutá-la na sua historia e correlações ethnicas. E que diremos da esculptura, da pintura popular, que não equivalha ao que enunciámos ao referirmo-nos á habitação portuguesa, que nos interessa por variados aspectos, e entre elles tambem pelo pensamento artistico?

É no dominio da poesia popular, dos contos, das superstições, dos jogos, das festas e outros actos solemnes do nosso povo que mais se tem feito; mas ainda assim bastante resta averiguar para conhecimento completo dessas tradições e de outras.

É mister estudar de modo mais serio do que se tem feito até hoje o temperamento, o typo moral e o caracter do nosso povo nas suas variantes; o conjuncto de sentimentos que nelle se revelam; as ideias que o agitam relativamente ao mundo sobrenatural, á natureza, á sociedade; fazer um inquerito completo ácerca do que elle sente, do que elle sabe, do que elle pensa e do modo por que elle sente, sabe e pensa e apreciar ainda sobre dados seguros o grau da sua energia volitiva, fazer emfim a sua psychologia ethnica (não receamos empregar essa expressão, embora objecto de ardentes criticas).

Para tornar possiveis esses estudos, cujo programma completo está sendo preparado, é necessario, entre outros elementos, o conhecimento cabal de todos os dados materiaes da vida do nosso povo, dos que lhe ministra immediatamente a natureza em cujo seio se move e dos que são producto da sua apropriação, do seu trabalho. A colleccionação desses dados é um primeiro e grande passo a dar para a realisação do estudo ethnologico do nosso povo. Dois meios se nos offerecem para a levar a effeito: a organisação de um museu de ethnographia nacional e as exposições. A existencia de um similhante museu está decretado; mas não torna inutil as exposições, onde poderão apparecer elementos de difficil acquisição que os estudiosos tenham, durante tempo sufficiente, ao seu alcance. De outro lado essas exposições facilitarão o enriquecimento do museu.

A antiga philosophia punha acima de todos os preceitos o expresso nas palavras [Grego: gnôthi seauton], conhece-te a ti mesmo. O pensamento moderno declarou que o objecto de estudo mais digno do homem é o proprio homem. Qual poderá, pois, ser o estudo mais digno de um povo senão o estudo de si proprio?

Se nelle ha evidentemente para nós aspectos profundamente desconsoladores, ha-os porventura tambem fortificantes.

Viajantes que têem percorrido o nosso territorio poseram em relevo as boas qualidades nativas do nosso povo em contraste com a corrupção das classes dirigentes e basearam sobre essas qualidades a esperança da nossa futura regeneração. Mas ao povo falta a fé, falta a firmeza da resolução que só nasce do espirito sufficientemente esclarecido ácerca dos seus deveres e dos seus direitos; falta-lhe portanto a vontade collectiva: elle agita-se apenas dentro do circulo dos interesses individuaes, familiaes e locaes; é a materia prima de um povo e não verdadeiramente um povo como a complexidade da vida moderna exige que seja. Dahi o indifferentismo pela politica, a venalidade do voto, a emigração, a falta da ideia nitida e do sentimento firme da patria e da humanidade, que um vago patriotismo não póde substituir.

No momento historico actual da nossa nacionalidade achâmo-nos numa alternativa que não póde prolongar-se muito tempo: ou continuâmos a acceitar o systema de governação espoliativa que levou o país ao fundo abysmo em que se acha, para favorecer individuos, ou tratâmos de elevar pela educação o povo á noção da vida collectiva, dos interesses geraes e ideaes, de salvar para uma vida historica um povo que mostrou pelos factos que vamos commemorar em 1897, ser digno de occupar logar proeminente no convivio das nações.

Que todos os que têem em si uma particula do fogo sagrado, que se chama dedicação pelas nobres causas, se reunam e dêem as mãos e consagrem á obra do renascimento nacional, pela educação do povo.

Estudar o povo é já eleval-o, é preparar o caminho para acudir ás suas necessidades moraes, intellectuaes, technicas e economicas.

Eis porque propomos como elemento da celebração do centenario da primeira viagem de Vasco da Gama á India, uma exposição ethnographica portuguesa cujo programma vamos esboçar.

IDEIA GERAL DA EXPOSIÇÃO ETHNOGRAPHICA PORTUGUESA

Esta exposição comprehenderá sobretudo objectos materiaes proprios para dar ideia da vida do povo português (Portugal e ilhas adjacentes) no que elle tem de proprio, de caracteristico e tradicional, embora resultado de assimilações realisadas ha mais ou menos tempo. Excluem-se em geral portanto todos os materiaes e productos de introducção ou imitação recente, todos os typos modernos de construcção, de vestuario, de ferramentas e machinismos.

Trata-se principalmente de fazer representar os elementos da vida do povo, das classes trabalhadoras, em especial das regiões ruraes.

Ao lado de objectos materiaes, taes como o povo os emprega, têem cabimento os modelos de dimensões reduzidas e as representações pelas artes graphicas, e não se excluem as descripções pela palavra, antes se deseja que a exposição comprehenda o maior numero possivel de obras, estudos, simples notas de que o povo português tenha sido objecto.

Não deve esquecer-se tambem o meio geographico, este bello Portugal, que em vão se quer culpar de vicios que só derivam dos homens, e os «paraisos desprezados» das ilhas adjacentes.

Emfim será o mais apreciavel ornamento da exposição uma serie de typos vivos, humanos, dos nossos diversos districtos, com as suas vestes caracteristicas, em construcções representando as suas casas, com o seu mobiliario, os instrumentos e productos de suas industrias—uma imagem, em resumo, do povo português.

*Divisões principaes do programma*

Um estudo completo do povo português comprehenderia os seguintes elementos:

I. A terra.
    1. A constituição geologica do solo.
    2. A riqueza mineralogica do solo.
    3. A geographia physica.
    4. A meteorologia.
    5. A flora.
    6. A fauna.

II. O homem.
    1. Caracteres somaticos.
    2. Caracteres psychicos.

III. A historia.
    1. Origens ethnicas (migrações, invasões, etc.)
    2. Influencias externas, sem mistura ethnica.
    3. Factos historicos reveladores do caracter do povo ou que
         sobre elle actuaram.

IV. A vida hodierna.
    A. Fórmas da vida pratica.
        1. Fórmas individuaes.
            a) A alimentação.
            b) A habitação.
            c) O vestuario e as armas.
            d) O trabalho (processos, productos, etc.)
        2. Fórmas individuo-sociaes.
            a) A organisação economica do trabalho.
            b) O commercio.
            c) Associações, companhias, confrarias, (antigas corporações
                 de officios, como appendice).
            d) A linguagem, os gestos, a escripta (tentativas,
                 independentes da graphia corrente, etc.)
            e) O decoro, o porte pessoal.
            f) As fórmas de polidez e de respeito (cumprimentos, saudações,
                 etc.)
            g) O jogo (passagem para as fórmas artisticas).
        3. Fórmas sociaes.
            a) A familia (casamento, criação e educação dos filhos,
                 organisação domestica, relações parentaes; em
                 especial vestigios de antigas fórmas de casamento,
                 etc.)
            b) Os laços da sociedade.
            c) Sentimento da communidade nacional e politica.
        4. Fórmas humanas.
            a) Sentimentos de humanidade em geral.
            b) A amizade.
            c) A hospitalidade.
            d) A beneficencia.
            e) Relações internacionaes.
    B. Fórmas da vida artistica (esthetica).
        1. Danças.
        2. Musica.
        3. Litteratura.
        4. Desenho, pintura.
        5. Esculptura.
        6. Architectura.
    C. Fórmas da vida religiosa.
        1. Crença no sobrenatural, em geral.
        2. Vestigios de crenças mythicas, de praticas que se referem
             aos cultos pagãos.
        3. A crença nos espiritos. Apparições.
        4. Superstições diversas.
        5. Conceito de Deus, dos anjos e dos santos.
        6. O diabo na crença popular.
        7. O céu na crença popular.
        8. O inferno.
        9. Orações.
       10. Offerendas.
       11. Festas religiosas.
       12. Objectos materiaes empregados no culto, nessas festas,
             ou que de qualquer modo se ligam ás crenças religiosas.
    D. Fórmas da vida especulativa (saber popular propriamente dito).
        1. Emquanto ás fontes.
            a) Observação, experiencia.
            b) Conversação, tradição.
            c) Reflexão.
        2. Emquanto ao objecto.
            a) A natureza.
            b) O homem.
            c) As causas ultimas.

Não é aqui o logar de defender essa classificação, naturalmente sujeita a criticas, nem de indicarmos como fomos levados a estabelelecê-la, o que tencionamos fazer noutra parte. Observaremos que, como noutras classificações, póde nessa um mesmo objecto entrar em mais de uma divisão, segundo o modo por que é considerado. As fórmas individuaes da vida, possiveis ao homem isolado, como a um Robinson na sua ilha, desenvolvem-se sob a acção social por certo e é dentro do meio social que aqui são introduzidas, mas a classificação não deixa por isso de ter base.

Muitas das divisões do programma não podem ser representadas na exposição senão por descripções, analyses, estudos, isto é, litterariamente, por não se referirem a objectos materiaes; das que o podem ser pelos proprios objectos materiaes ou modelos, entendemos que a exposição deve attender principalmente ás sub-divisões da classe IV, A vida hodierna, que estão nesse ultimo caso. O que entra nas divisões I a III, com excepção dos typos populares vivos, será representado sobretudo por livros, memorias, notas, impressos ou manuscriptos, e reproducções graphicas, mappas e objectos analogos.

No desenvolvimento que segue não nos cingimos com todo o rigor á classificação apresentada acima, por vantagem pratica.

DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMMA

Nas indicações que vamos apresentar não pretendemos de modo nenhum ser completos, mas sim dar ideia sufficientemente clara do que se deseja fazer. Ficamos longe de mencionar todos os objectos que podem figurar na exposição.

A terminologia popular reclama especial attenção. Os objectos de uso ou productos do povo devem trazer todos os seus nomes locaes, assim como indicados nelles proprios ou em desenho separado os termos que designam cada uma das suas partes, quando esses termos existam.

Nos exemplos que reunimos não indicamos em geral as localidades ou provincias em que os termos respectivos se empregam, por nos ser difficil fazê-lo sempre com rigor. Ouvimos, v. g. em Trás-os-Montes empregar carpins ou crepins pelo que noutras partes se chama piugas, miotes, pealhos, coturnos: podiamos ser inclinados a tomar tal termo como especial transmontano, mas ouvimos depois esse mesmo termo na bôca de beirões e hoje não sabemos ainda bem qual a sua extensão geographica. Em trabalhos dialectologicos temos visto dar como especiaes a uma certa provincia, até a uma certa localidade, termos que se encontram muito espalhados no país. A nossa exposição contribuirá consideravelmente para o conhecimento da terminologia popular.

*Grupo I*

A terra e o homem

Livros, memorias, artigos, simples notas, impressos ou manuscriptos, mappas, volumes contendo apenas partes, que se refiram aos seguintes assumptos:

I. 1. Geologia } 2. Minerographia } 3. Geographia } de Portugal e ilhas adjacentes. 4. Meteorologia } 5. Flora } 6. Fauna }

  II. 1. Caracteres somaticos } do povo português.
       2. Caracteres psychicos }

  III. 1. Origens ethnicas do povo português.
       2. Influencias externas sobre o seu caracter e desenvolvimento.
       3. Factos historicos reveladores desse caracter ou que actuaram
           sobre elle.

Poder-se-ha completar este grupo com o seguinte:

a) Uma collecão estratigraphica typica, como a que a commissão geologica apresentou na exposição nacional das industrias fabris de 1888;

b) Uma pequena collecção mineralogica typica;

c) Alguns modelos de herbarios de flora local.

*Grupo II*

A alimentação

1. Amostras de materias primas mais empregadas na alimentação popular, com a indicação da proveniencia, preço, uso, logares em que as empregam.

Plantas alimentares em herbario ou conservadas por outros processos.
Fructos[1].

2. Condimentos, especiarias de uso popular.

3. Pães de diversas fórmas e natureza, taes como pão de trigo, semea, pão chapado da raia, pão de calo, pão de bico ou de mamminhas, regueifas, cornichos, poias, padas, roscas, pão segundo, pão ralo ou minheiro, pão de leite, broa. Pães de uso particular em certas festas, como o santóro (pão de Todos-os-Santos da Beira). Vid. grupo X.

4. Carnes ensacadas (palaios, paios, farinheiras, bufeira da Beira, murcellas, linguiças, salchichas, etc.). Carnes de salmoura.

5. Conservas e preparados culinarios diversos que sejam susceptiveis de expor-se, taes como frigideiras de Braga, lampreia de Coimbra, mexilhão de Aveiro.

6. Lacticinios, taes como manteigas, queijos, requeijões, travia (requeijão com soro da Beira).

7. Doces caracteristicos de localidades, taes como arrufadas de Coimbra, biscoitos de Vallongo, biscoitos leves de Coimbra, bolo de folhas de Olhão, bolo podre do Alemtejo, celestes de Santarem, falachas (bolos de castanhas) da Beira, fructos doces de Coimbra, Elvas, Evora, etc., manjar branco de Cellas (Coimbra), marmelada de Odivellas, morgado de Beja e Faro, murcellas de Arouca, ovos molles de Aveiro, palitos e biscoitos de Oeiras, pão de ló de Margaride, pasteis de Coimbra, de Tentugal, etc., queijadas de Thomar, de Cintra, do Funchal, rolos de Olhão, suspiros e ais de Paços de Arcos, toicinho do céu de Murça, trutas de Olhão, pasteis de feijão de Torres Vedras, presunto de ovos do Alemtejo, areias de Cascaes, sardinhas de Vianna do Alemtejo, alcamonia de Lisboa, figos d'ovos de Portalegre, fartens de diversas localidades (Coimbra, etc.,) bolos de mel do Funchal, nabada de Semide.

Doces proprios de certas festividades: broas (Lisboa, etc.), rabanadas (Porto, etc.) do Natal, amendoas da semana santa, folares (com ou sem ovos) da Paschoa; figuras de farinha representando homens, animaes (o gallo com pennas tendo no ventre uma noz) do domingo de Paixão; fogaças de romaria. Vid. grupo X.

8. Bebidas mais usadas.

9. Litteratura da alimentação popular portuguesa, comprehendendo o estudo dos usos e superstições que se lhe ligam.

*Grupo III*

A habitação e em especial a habitação rural e suas dependencias

1. Planos topographicos de aldeias indicando:

a) A sua situação geographica, os accidentes do solo, ribeiros, rios, lagoas, pantanos, collinas, montes da vizinhança, caso os haja, etc.;

b) A posição dos pateos, saguões, estrumeiras (montureiras), curraes, cavallariças, ovis, estabulos, cabris, apriscos, bardos, furdas, abegoarias, arribanas, pocilgas (cortelhos), cortinhos, córtes, chiqueiros, enxurdeiros, pateos, quintans, quinteiros, cabanaes, ruas, eidos, hortas, quinchosos (quinchorros), enxidos, soutos, sequeiros (vardias);—direcção e frontaria de cada construcção, posição da igreja, capella ou ermida, dos moinhos, azenhas, caminhos, lameiros, devesas, etc.

Photographias ou desenhos de aldeias e outros logares pequenos.

2. Planos, photographias ou desenhos de granjas, casaes, herdades (montes), com todas as suas dependencias.

3. Plantas e alçados de casas rusticas e das populares em geral, com suas dependencias.

Modelos de casas feitos com a maxima fidelidade, de modo que se possam apreciar os processos de construcção—a fórma dos prumos, vigamentos, asnas (madres, fileiras, aguieiras, frechaes), varedo, telhado, algeroz, chaminé, lareiras, claraboias, paredes mestras, frontaes, tabiques, empenas, alicerces, sotãos, fumeiros, cunhaes, humbreiras, soleiras, vergas, peitoris, portas, janellas, taramellas, trancas, tranquetas, ferrolhos, argolas, trincos, fechaduras, rotulas, gelosias, empanadas das janellas, vidraças, balcão, sacadas, grades, pavimentos diversos, soalhos, forros, alçapões, escadas interiores e exteriores, corrimões, patins ou patamares, divisões interiores (salas, quartos, alcovas, cozinhas, dispensa, etc.); terraços, açoteas, alegretes; ramadas ou latadas encostadas ás casas.

Os modelos devem apresentar as fórmas typicas das diversas regiões e comprehender as construcções annexas ou proximas que existam como pateos, saguões, curraes, cavallariças, arribanas, celleiros, lagares, coelheiras, gallinheiros, muros, vallados, alpendres, etc.

Photographias ou desenhos dos mesmos objectos.

4. Modelos de simples choças, cabanas, choupanas, tugurios, enramadas, furdas, bardos, bargas, palhoças, palheiros, palhotes, palhaes, malhas, malhadas, casolas, barracas-de-so-chão.

Photographias ou desenhos desses mesmos objectos.

5. Ornamentos das empenas, beiraes, etc., taes como pombas de barro, cataventos (grempas, veletas), cabeças de animaes. Ornamentos das paredes. Azulejos.

6. Plantas e alçados, modelos, photographias ou desenhos de tabernas e estalagens de aldeia.

7. Taboletas de tabernas, estalagens e outros estabelecimentos aldeãos (originaes ou modelos).

8. Amostras de materiaes de construcção, empregados nas aldeias, (com a indicação exacta da sua proveniencia, preço, processo de extracção, fabrico e transporte), taes como madeiras, pedras, tijolos (de alvenaria, burro, meia, adobe, adobinho, lambaz, barrote, tabique, abobadilha), formigão, telha, cal, etc.

9. Litteratura da habitação popular portuguesa, comprehendendo os usos e superstições que se lhe ligam.

*Grupo IV*

Mobiliario e utensilios domesticos

Os proprios objectos ou modelos, ou, em ultimo caso, desenhos.

1. Biombos.

2. Armarios, arcas, bahus, caixas, bocetas, malas, cofres, burras; saccos, saccas, saccolas, bolsas, taleigas, surrão.

3. Estrados, taburnos, degraos, bancos, cadeiras, sophás, marquezas, camapés, escano ou preguiceiro, cadeiras de palmatoria, de tesoira, ripanço, tanhos, escabellos, tripós ou tripés, tripeços, trepeços, mochos, tamboretes, genuflexorios.

4. Capachos, esteiras, esteirões, tapetes, alcatifas.

5. Bancas, mesas, bancadas de dobradiça, contadores, mesas de costura, jardineiras, secretarias, donzellas, commodas, credencias, tremós.

6. Guarda-roupa; cabides.

7. Camas (leitos), tarimas, catres, rabecas, barras, berços (canastras).

Docel, sobrecéu, armação da cama.

Cortinas, bambinellas.

Almofadas, travesseirinhas (chemelas), travesseiros, enxergas, enxergões, colchões; lençoes, cobertores, cobertas, mantas, colchas.

8. Apparelhos para as creanças aprenderem a andar.

9. Carteiras, secretarias, tinteiros.

10. Ourinoes, bacios, comadres.

11. Prateleiras, consolos, baralhas, canniços, louceiro (galheiro).

12. Espelhos. Relogios de parede, de areia, do sol.

13. Redomas para peixes, etc.; gaiolas.

14. Veladores, candieiros, candeias, lanternas, lampiões, lamparinas, grisetas, palmatorias, tocheiros, castiçaes, placas, serpentinas; apagadores, espevitadores, arandellas.

15. Defumadores, esquentadores, brazeiros (bruxas).

16. Lavatorios, bacias, tijellão, jarros, regadores, baldes, toalhas de mãos, saboneteiras.

17. Bandejas, taboleiros, cestos, canastros, canastras, canistreis, balaios, gigas, gigos, cabazes, cabanejos, escrinhos, alcofas, golpelhas, ceiras, ceirões, condeças, açafates.

18. Sarilhos, dobadoiras (irgadilhos); rocas (com o siso), fusos.

19. Guarda-loiça. Aparadores.

20. Toalhas de mesa, guardanapos. Pratos (covos, ladeiros, lisos, de guardanapo ou de puchar), travessas, cochos, saladeiras, covilhetes, boiões, saleiros, mostardeiras, pimenteiras, azeitoneiras, malgas, molheiras, tijellas, pucaros, pucaras, pucharas, picheis, garrafas, gorgoletas, gumís, cangirões, copos, cornas, calices, cuias; chavenas, chicaras, bules, cafeteiras, chocolateiras, chaleiras, leiteiras, almotolia, vinagreira. Assucareiros.

Facas, garfos, colhéres, cocharras.

21. Frasqueira, fructeira.

22. Fogões, fogareiro, transfogueiro, trempes, grelhas, torradeiras, assadeiras, caldeiras, caldeiros, caldeirões, caldeiras para ferver na lareira (de Guimarães, etc.), marmitas, tachos, caços, caçarolas, caçoilas, pelas, frigideiras, palanganas, pingadeiras, alguidares, barrunchões (alguidares grandes da Beira), escudellas, cochos, gamellas, escalfadores, escumadeiras, lardeadeiras, funis, formas, taboleiros de ir ao forno, raladores, crivos, coadores, peneiros, peneiras, cutellos, cepos, espetos, machados, limpa-facas, vassouras, mandis, abanos, cinzeiros, tenazes, estufas, folles, almofarizes, graes. Pote, asado, cantaro, cantara, selhas, talhas, barris, botijas, canecos, canecas, cabaças, poial dos potes, talha das azeitonas, pia do azeite, moinho de mão, pás, carvoeira, ratoeira, pedra de lavar loiça (loisa), esfregão, rodilha, tábua, pia de lavar roupa, tanque, tijella da casa.

23. Litteratura do mobiliario e das alfaias populares, comprehendendo o estudo dos usos e superstições que se lhe ligam.

*Grupo V*

Vestuario e armas

1. Vestuario das creancinhas: cueiros, tiras umbilicaes, fachas, cintas, mantéus (mantilhas), papagaios, envoltas, vestidos, mandriões, batas, bibes, babadoiros, camisolas, calças, calções, meias, piugas (carpins, meotes, pealhos, coturnos, calcetas). Sapatos, botinhas (botinas), chinelos. Lenços de cabeça, etc. Toucas, barretes, garruço (carapuço), chapéus, bonnés, boinas, cachuchas. Fatos de baptisado.

2. Vestuario das creanças crescidas e de adultos. Trajos do sexo masculino, do sexo feminino, de viuvo, de viuva, ordinarios, domingueiros, de festa, de casamento, de lucto.

Vestuario do homem: Piugas (carpins, etc.), sapatos (ferrados, etc.), tamancos (samancos, sócos, chalocas), cloques, chiolas, abarcas (alpargatas ou alparcatas), botas, chinelas, chinelos. Polainas, safões. Calças (pantalonas), calças de bôca de sino e calções (de alçapão, etc.) ceroulas, bragas. Suspensorios (alças). Jaqueta, jaquetão, nisa, rabona, jaleco, colete, camisa, camisola, gabão (varino, gabinardo), capa, capote e em especial capote á alemtejana, capote de honras ou de honricas de Miranda, capa de palha (coroça), mantas, carapuça, carapuço, capucha, barrete, chapéu (desabado, braguez, etc.), gorro, bonné com chavelhos (S. Miguel). Lenços d'algibeira, do pescoço, cintas.

Vestuario do mulher: Meias, etc., ligas. Sapatos, chinelas, chinelinha, tamanquinhas, sócos. Calças, saias, anagoas e saiotes, coletes, roupinhas, chambres, casaveques, bajús, batas, algibeira (patrona). Lenço do peito, da cabeça, capas, capuchas, salpim (ou susalpim, capote de grande cabeção de S. Miguel), touca (coca). Lenços d'algibeira, véu, bioco, chapéu, penteador.

3. Ornamentos diversos, pela maior parte feminis: Anneis, xorcas, pulseiras, braceletes, manilhas, collares, gargantilhas (afogadores), alfinetes, broches, cordões, corações, cadeias, brincos das orelhas, arrecadas (ciganas, pendengues, cabaças), cintos. Pentes. Alamares.

4. Mortalhas.

5. Guarda-sol (barraca), sombrinha.

6. Varapau, pampilho, cajado, fingueira, cacheira, moca, cacete, bordão, cachamorra, ladra, bengala. Muletas.

Chuço, navalha, faca de mato, funda, clavina, bacamarte, arcabuz.

7. Caixas de rapé. Bolsas de tabaco.

8. Manequins com os vestuarios completos caracteristicos das diversas localidades.

9. Litteratura do vestuario popular português, comprehendendo os usos e superstições que se lhe ligam. Representações graphicas.

*Grupo VI*

O trabalho (industrias, commercio, occupações diversas)

1. Desenhos, pinturas ou photographias, que representem individuos isolados ou em grupos, nas industrias ou occupações que se têem em vista, com os trajos respectivos, suas ferramentas, utensilios, apparelhos, engenhos, machinas, no logar (campo, officina, etc.) em que trabalham. Representações graphicas de officinas aldeãs, casas e barracas de venda, feiras, mercados.

2. Exemplares, modelos ou reproducções graphicas, á parte, das ferramentas, utensilios, apparelhos, engenhos, machinas, etc., empregados nas differentes industrias ou occupações populares, com a nomenclatura exacta de cada uma das suas diversas partes, escripta nos proprios objectos ou em desenhos ou simples notas que os acompanhem, com a indicação do uso e proveniencia.

3. Desenhos, pinturas ou photographias dos animaes que auxiliam o homem nas suas diversas industrias e profissões ou cuja captação ou criação seja objecto dessas industria, com a indicação do uso e proveniencia.

Quando seja possivel, exemplares dos proprios animaes, vivos ou empalhados ou conservados por qualquer outro processo.

4. Amostras ou exemplares dos productos mais caracteristicos das differentes industrias (alem dos que entram nos grupos II, III, IV e V ou nos seguintes).

5. Noticias mais ou menos circumstanciadas acerca das diversas industrias, commercio e outras occupações populares, comprehendendo o estudo de sua historia, processos, ferramentas, utensilios, apparelhos, engenhos, machinas, etc., individuos que nellas se occupam, importancia economica, caracteristicas profissionaes, usos, costumes, superstições respectivas.

* * * * *

Damos uma lista, incompleta em verdade, das industrias e profissões populares, para auxiliar os colleccionadores:

Abridor.
Accendedor.
Adelo.
Aguadeiro.
Albardeiro.
Alcatroeiro.
Alfaiate.
Algebrista (endireita).
Algibebe.
Alvenel.
Almocreve.
Alqueireiro.
Alveitar.
Alviçareiro.
Amolador.
Andador d'irmandade.
Apicultor.
Apontador.
Apparelhador.
Arameiro.
Archoteiro.
Armador.
Armeiro.
Arqueiro.
Arraes.
Arrieiro.
Asphaltador.
Assadeira.
Assedadeira.
Assentador de carrís.
Azeiteiro.
Azulejador.
Bahuleiro.
Bainheiro.
Bandarilheiro (capinha).
Bandeireiro.
Barqueiro.
Bate-folha.
Belforinheiro (bofarinheiro).
Bengaleiro.
Benzedeira.
Betumeiro.
Boceteiro.
Boieiro.
Bolacheira.
Botequineiro.
Botoeiro.
Bonifrateiro.
Britador.
Brochante.
Brunidor.
Bunheiro.
Burriqueiro.
Cabelleireiro.
Cabreiro.
Cabresteiro.
Caçador.
Cadeireiro.
Caiador.
Caieiro.
Caixoteiro.
Calafate.
Calceteiro.
Caldeireiro.
Callista.
Camiseiro.
Camisoleiro.
Canastreiro.
Canteiro.
Cantoneiro.
Cantor ambulante.
Capacheiro.
Capador.
Capataz.
Capellista.
Cardador.
Cardeiro.
Carniceiro.
Carpinteiro (de machado, toscano, de branco, etc.).
Carregador.
Carreiro.
Carrejão.
Carroceiro.
Carteiro.
Cartonagens (fabricante de).
Carvoeiro.
Caseiro.
Casqueiro.
Castrador (capador).
Catraeiro.
Cavador (cavão).
Cavouqueiro.
Ceifeiro.
Cerieiro.
Cervejeiro.
Cesteiro.
Chamiceiro.
Chegador.
Chapeleiro.
Chineleiro.
Chocolateiro.
Cinzelador.
Clarificador.
Cobrador.
Cocheiro.
Colchoeiro.
Colhereiro.
Collador de papel.
Colmeeiro.
Compositor.
Concerta-loiça.
Confeiteiro.
Conductor de carros, etc.
Conserveiro.
Contrabandista.
Conteiro.
Copeiro.
Cordoeiro.
Corista.
Coronheiro.
Cortador.
Corticeiro.
Costureira.
Couteiro.
Coveiro.
Cozinheiro.
Cravador.
Criado.
Criador de gado.
Curandeiro.
Curtidor.
Cutelleiro.
Decorador.
Dentista.
Distillador.
Dobadeira.
Doceiro.
Doirador.
Embalsamador.
Embutidor.
Encerador.
Encadernador.
Engommadeira.
Entalhador.
Enxertador.
Escoveiro.
Esmerilador.
Estanceiro.
Esparteiro.
Espartilheira.
Espelheiro.
Espingardeiro.
Estafeta.
Estalajadeiro.
Estampador.
Estofador.
Estrumeiro.
Estucador.
Farinheiro.
Faroleiro.
Fazedor.
Faz-tudo.
Feitor.
Ferrador.
Ferreiro.
Fiadeira, fiandeira.
Florista.
Fogueiro.
Fogueteiro.
Forjador.
Formador.
Formeiro.
Forneiro.
Fosforeiro.
Fressureira.
Fructeiro.
Fullista.
Fundidor.
Funileiro.
Futriqueiro.
Furoeiro.
Gaioleiro.
Gaiteiro.
Gallinheiro.
Galocheiro.
Gamelleiro.
Gandaieiro.
Ganhão.
Gommeiro.
Gravador.
Gravateiro.
Guarda-matto.
Guarda-nocturno.
Guarda-soleiro.
Horticultor (hortelão).
Impressor.
Inculcador.
Instrumentista.
Jardineiro.
Joalheiro.
Lacaio.
Ladrilheiro.
Lagareiro.
Lampista.
Lapidario.
Lanificios (fabricante de).
Lapiseiro.
Latoeiro (de amarello, de branco).
Lavadeira (lavandeira).
Lavador.
Lavradeira.
Lavrador.
Lavrante.
Leiloeiro.
Leiteiro.
Licorista.
Linheira.
Limonadeira.
Limpa-chaminés.
Loiceiro.
Loiseiro.
Luvista.
Macarroeiro.
Machinista.
Maltez.
Manteigueiro.
Marceneiro.
Marchetador.
Marinheiro.
Marmoreiro.
Mécheiro.
Mellaceiro.
Melancieira.
Mercador.
Merceeiro.
Mergulhador.
Marnoteiro (marroteiro).
Mineiro.
Moço de recados, fretes, etc.
Modista.
Moeiro.
Moageiro.
Moiral.
Moldador.
Moleiro.
Molliceiro (sargaceiro).
Montante.
Musico ambulante.
Obreeiro.
Odreiro.
Oleeiro.
Oleiro.
Olheiro.
Ourives.
Ovelheiro.
Padeiro.
Palheireiro.
Palhoceiro.
Paliteiro.
Papeleiro.
Palmilhadeira.
Paramenteira.
Parteira.
Passarinheiro.
Pasteleiro.
Pastor.
Pedreiro.
Pegureiro.
Peixeiro.
Pelleiro.
Peneireiro.
Penteeiro.
Perfumista.
Pescador.
Picador.
Picheleiro.
Piloto.
Pinceleiro.
Pintor.
Pisoeiro.
Poceiro.
Podador.
Poleeiro.
Polidor.
Pregoeiro.
Prensista.
Queijadeira.
Queijeiro.
Quinteiro.
Ramalheteira.
Recortador.
Recoveiro.
Redes (fabricante de).
Refinador.
Regateira.
Relojoeiro.
Remador.
Remolar.
Rendeira.
Retrozeiro.
Rodeiro.
Rolheiro.
Roqueiro (fabricante de rocas).
Roupeiro (que faz, guarda roupa).
Roupeiro (pastor queijeiro).
Saboeiro.
Sachador.
Sacristão.
Salchicheiro.
Salgador.
Sangrador.
Santeiro.
Sapateiro.
Sardinheira.
Sebeiro.
Segador.
Segeiro.
Selleiro (correeiro).
Semblador.
Serigueiro (sirgueiro, passamaneiro).
Serrador.
Serralheiro.
Serzideira.
Sineiro.
Singeleiro.
Soldador.
Sombreireiro.
Sopeira.
Sota.
Sumagreiro.
Surrador.
Taberneiro.
Tabúa (fabricante de objectos de).
Tamborileiro.
Tamiceiro.
Tanoeiro.
Tecedeira.
Tecelão (de lã, de algodão, de ourelo, de fitas de elastico, etc.).
Telheiro.
Tendeiro.
Tintureiro.
Toicinheiro.
Toireiro.
Torneiro.
Toscano (carpinteiro).
Tosquiador.
Trabalhador.
Trapeiro.
Trintanario.
Tripeiro.
Trolha (codea).
Typographo.
Vallador.
Vaqueiro.
Varapoeiro.
Varredor.
Vassoireiro.
Védor.
Vendedor.
Vendeiro.
Vestimenteira.
Vidraceiro.
Vidreiro.
Vinagreiro.
Vindimeiro.
Violeiro.
Zagal, zageleto.

* * * * *

Deve attender-se em primeiro logar ás seguintes industrias:

1. Caça. 2. Pesca. 3. Pastoreio. 4. Agricultura, com todas as industrias que se lhe ligam. 5. Industrias do ferro. 6. Industrias da madeira. 7. Industrias da pedra. 8. Ceramica. 9. Industrias na sua phase simples, puramente caseira.

Vamos dar indicações relativas a essas e a outras industrias, sem pretender apresentar uma classificação dellas, por emquanto.

A. *Caça.*

Aboizes, inxozes, armadilhas, tombo, taralhoeira, alçapões, certilhas, caixão, castellão, caniços (naças), fios, laços, redes, costellas. Armelos. Ratoeiras. Visgo. Reclamo, apito. Fundas. Saccos de caça. Polvorinhos. Espingardas. Furoeiras. Tropheus de caça. Agachis (cabanas de matto para esperar a caça—Beira).

B. *Pesca.*

1. Planos, desenhos ou photographias de logares habitados por pescadores (grupo III), de portos de pesca.

2. Todos os elementos dos grupos II a V, que dêem ideia das condições de vida da classe piscatoria.

3. Photographias de typos de pescadores das diversas localidades.

4. Amostras de materiaes empregados na fabricação das redes.

Instrumentos usados na fabricação das redes: o muro ou malheiro, a agulha.

Materias primas empregadas na breagem ou tintura das redes.

Mó para moer a aroeira.

Casqueiro (tanque ou vasilha em que se tingem as redes).

Tendaes ou varaes em que se põem as redes a seccar.

5. Apparelhos de rede e outros (ou modelos) empregados[2]:

I. Na pesca longinqua.

II. Na pesca do alto:

                                   { permanentes ou de fundo.
             { de rede de emmalhar { fluctuantes ou de superficie.
  Apparelhos {
             { de anzol { muitos anzoes.
                        { um só (linha de pesca).

III. Na pesca costeira:

                                     { fixos.
                       { de emmalhar { volantes.
             { de rede {
             { { { fixos.
             { { envolventes { de cerco volante.
             { { de arrastar.
             { { de suspensão.
  Apparelhos {
             { de anzol { muitos anzoes.
             { { um só.
             {
             { de fisga.
             { de verga em fórma de ratoeira.

Bicheiro (especie de croque para apanhar o polvo); navalha (vara com caranguejo para o mesmo fim).

IV. Na pesca fluvial:

                                     { fixos.
                       { de emmalhar { volantes.
                       {
             { de rede { envolventes { fixos.
             { { { volantes.
             { { de estacada.
             {
  Apparelhos { de anzol { muitos anzoes.
             { { um só.
             { de fisga.
             { de verga ou arame em fórma de ratoeira.
             { automaticos.

Auxiliares da pesca: arame de longueirão, cavadeira (enxada), garrafas, rasco.

V. Na pesca lacustre:

             { de rede.
  Apparelhos { de anzol.
             { de fisga.

Carro ou polé para levantar as redes para os barcos.

Padiolas para transportar as redes.

6. Modelos, representações graphicas de embarcações de pesca maritima longinqua, do alto, costeira, fluvial e lacustre, com a indicação da terminologia.

Utensilios diversos usados a bordo dessas embarcações.

Instrumentos para puxar os barcos para terra (encalhar, varar), rolos, panaes, carrão, varas, muletas, etc.

7. Representações graphicas das diversas operações da pesca, saída e entrada do barco no porto, varar deste, lançar as redes, disposição destas, levantar das redes, com a indicação dos termos que designam cada um dos pescadores que trabalham de cada vez (boga) nessa operação, que são (na Ericeira): proa, contra, passeador, levadoira, empanas, coiceiro, contracoiceiro[3].

8. Copias de roteiros dos pescadores, isto é, das listas dos enfiamentos que os guiam ao procurar os mares de pesca.

9. Litteratura da pesca em Portugal. Noticias sobre os usos, costumes, psychologia do pescador portuguez.

C. *Pastoreio.*

Typos profissionaes: Pastor, pegureiro, zagal, zagala, zagaleto, zagalejo. Ajuda, maioral (moiral). Ovelheiro, boieiro, cabreiro, porqueiro, etc.

Armas e utensilios, etc.: Cajado (cachado), bordão, cachamorra, moca, cacheira.

Tarro, ferrado, asado, corna (colher de ponta de cabra), canado (S.
Miguel).

Colleiras de cães (com ou sem puas).

Carranca dos rafeiros.

Tendal (onde se tosquia).

Barbilho (barbeto) para os bois. Chocalhos.

Capador (instrumento musico), buzina, corneta.

Samarra (pellote), surrão.

Parruma (pão de farello para os cães).

Typos de cães de gado: Exemplares vivos, ou empalhados, representações graphicas.

D. *Agricultura e industrias connexas.*

1. Correcção do solo, irrigação. Modelos, plantas, desenhos de obras tendo por fim a correcção do solo, como desaguadoiros, margens, camalhões, vallas ou sanjas, gaivagem, drenagem.

Instrumentos e materiaes empregados nessas obras.

Amostras de materias primas empregadas na correcção physica e chimica do solo.

Modelos, plantas, desenhos de canaes, encanamentos, comportas, pontes, motas, quebramares, açudes, caleiras, noras, rodas de tirar agua, cegonhas (burras, Beira), bombas (fórmas antigas).

2. Cultura do solo e das plantas, colheita e conservação dos productos agricolas.

a) Representações graphicas (desenho, pintura, photographia) da lavra, sementeira, gradadura, ceifa, medas, debulha, joeiramento, etc.

b) Instrumentos, apparelhos, machinas diversas (ou modelos):

Alavancas.
Alvião.
Ancinho.
Arado (timão ou tomão, chavelha, teiró, pescazes, rabiça, aiveca,
  mexilho, ferro, coice).
Atacadores de vinha.
Bisarma para limpar arvoredo.
Boicheiro (alvião para arrancar boichas, mato, na Beira).
Carros diversos.
Ceitoira.
Cestos varios.
Charrua (partes: dente, relha, aiveca, apo, teirós, aravellas, rodado ou
  jogo dianteiro, rabiças, tempera).
Coleta.
Coleta de poda.
Coleta de enxertia.
Crivo.
Cutella.
Engaço.
Enxada.
Enxada rasa.
Enxada de ganchos.
Enxadão.
Enxertador.
Enxofradores.
Espantalhos para as aves.
Forcados.
Foice.
Foicinha.
Forquilha.
Gadanha.
Gadanha com safra e martello.
Grade.
Gravanço.
Joeira.
Machada.
Machado.
Maço para enxertia.
Malhadeiro.
Malho (vide Mangoal).
Mangoal (partes: carula, meã, mangueira, pirtigo ou prito).
Navalhas.
Padiolas.
Pás.
Pedra de afiar.
Picão.
Picareta.
Plantadores.
Podão.
Podoa.
Rachadeira (para enxertia da vide).
Raspadeiras.
Roçadeira de maça.
Roçadeiras ou roçadoiras.
Rodo.
Rojão.
Rolo.
Sacho.
Sacho de pá e bico.
Sachola.
Serras.
Serrote (para limpeza das arvores).
Tesoiras.
Trilho.

3. Vindima. Representação graphica da vindima.

Instrumentos e utensilios empregados.

Navalha podadora ou tesoira. Cestos chatos, cabazes para receber a uva ao passo que se corta. Cesto vindimo (recebe a uva dos cabazes). Dornas em carros de bois ou carros gargaleiros. Cubos (cestos vindimos grandes do Alemtejo). Carros com caixa (Alemtejo meridional). Estrados ou esteiras para estender a uva.

4. Lagaragem do vinho, etc. Modelos, planos, desenhos de lagares de vinho, adegas, frasqueiras.

Apparelhos, instrumentos e utensilios diversos (ou modelos desses objectos).

Desengaçador (ripadeira), tridente em barril, sarilho de tremonha.
Lagariça.

Recipientes para as fermentações: pia, lagariça (taboleiro de lagar), balseiros, dornas, dornachos. Cavanejo.

Engenhos de espremer (de vara e fuso, de fuso e peso, de tesoira); prensas de fuso movel ou de fuso fixo (de cincho, de gaiola, de aranha), de sarilho.

Vasos para transporte e baldeação dos mostos: almudes, cantaros. Outros meios para o mesmo fim (calhas, etc.).

Cisterna ou tina do Alemtejo. Talhas de barro, talhas pezgadas. Canecos.

Vasilhame para guardar o vinho: Toneis, cascos, pipas, cubas, bottas, talhas, quartos, quartolas. Canteiros para assentarem as vasilhas.

Batoques, torneiras. Chupeta (frade). Espicho. Argal (argáo). Tira-flor.
Bombas de transfega. Filtros. Batedores de colla. Mechas. Sulfuradores.

Garrafas. Rolhas.

Mãe-vinagreira.

Alambique (alquitara).

5. Preparação do azeite. Planos e modelos de tulhas, lagares e suas partes. Utensilios.

Moinho (tanque, pia), galga, eixo, fuso, mescia. Motor de agua: roda de cubos, roda de pás.

Ceiras.

Prensas: de vara (fuso, chave, peso, virgem, adufas); de parafuso (cabeça do parafuso, chave, adufa).

Tanques de baganha. Ancinhos para a separação da baganha. Canecos de colher.

Caldeiras. Fornalha.

Tarefa. Inferno. Pilão.

Talhas para a conservação do azeite. Odres para transporte.

6. Fabricação de lacticinios. Representações graphicas das operações. Utensilios, engenhos ou modelos. Vasadeiras. Ferrados. Asados. Coadeiras (sedaços). Terrinas para a formação da nata. Batedeiras vulgares da manteiga.

Gamella, usada para a coagulação do leite. Cintel. Moinho para desfazer a coalhada. Barrileira (francelho). Cinchos. Prateleiras para a secca dos queijos.

Picheiro.

7. Conservação dos cereaes, moagem, panificação. Modelos, representações graphicas das construcções, apparelhos, empregados nessas operações. Utensilios diversos. Vide n.^o 2.

Medas de colmo e cannas de milho.

Eiras.

Tulhas (silos, tulhas a monte padejado, tercenas, etc.). Espigueiros (canastros, cobertos). Cafuão (S. Miguel).

Moinhos:

a) Atafona: trave, porca, ferrão, pião, almanjarra, arrojadoira, emparamentos, dormentes, segurelha, alevadoiro, carrote, veio, cachorro, etc.

b) Azenha: roda de pás ou colheres ou roda de cubos (entrós, carrete, lanternim), pennas, poiso, corredeira, aguilhão, segurelha, lobeto, rela, vielas, quelha (calha, etc.).

c) Moinho de vento (fixo com chapéu, movel com leme ou cauda); arvore (eixo), asas (aspas, varas, mastros), vélas, cabaças, rodas, dentes, cercos, lanternas, canaes, pás, rodisios, tulha, tramoia (tremoia), tremonha (canoira), puxavante, pedras (mós—pé e andadora ou corredora), cambeiral, etc.

Padaria (fornos). Peneiros, masseira, banqueta (tendedeira). Forno: peitoril, bôca, porta, lar, lados, centro, abobada, capella, respiro, chaminé. Pá de esborralhar, de enformar, de tirar a cinza. Atiçador, rodo. Varredoura (enxovalho). Vistas.

8. Preparação do linho. Ripador (sedeiro de esbaganhar). Crivo, joeira para limpar as sementes. Águadoiros do linho. Pente. Maço e cepo. Pisão. Espadella. Sedeiro.

9. Criação das abelhas. Colmeia ou cortiço. Mascara do entroviscador (destroçador). Defumador. Sedaço e gamella (tacho) para receber o mel virgem. Coadores ou escumadores do segundo mel. Batedor do mel. Depurador da cera.

10. Criação do bicho de seda. Utensilios nella usados. Collecção sericola, com o bicho nas suas diversas phases de desenvolvimento, o casulo, etc.

11. Criação de gado. Modelos, desenhos de construcções para abrigo de gado, dos animaes que servem na lavoura. Vide grupo III.

Estabulo com palheiro, mangedoira, caixão de ração, armario para arreios, serrote ou corta-palha, baldes, etc. Cevadeira.

Chiqueiro (cortelho, córte, etc.), pias, gamellas.

Arribana dos bois.

Curral das vaccas.

Redil das ovelhas, etc. Tesoira de tosquiar.

E. *Industrias do ferro.*

Indicaremos, como exemplos, algumas ferramentas e utensilios usados pelos forjadores, serralheiros e torneiros de metaes (terminologia de Lisboa):

Alfeças.
Alicates.
Almotolias.
Assentadores.
Bancadas.
Bigorna (de chifre redondo e chifre quadrado).
Brocas.
Brocha.
Brunidor.
Buris.
Cabedaes (desempenos).
Caixas para limas, etc.
Cantoneiras para riscar escateis.
Cavalletes de forja (safra, chifre redondo, penna, assento).
Chanfrador.
Chaves de parafusos.
Chaves de porcas.
Chegadeiras.
Compassos direitos.
Compassos de corrediça.
Compassos de volta.
Compassos de sector.
Compassos de furos.
Compassos de mola.
Cassonetes.
Corta-frio.
Craveiras.
Degoladores.
Desandadores.
Desenchavetadeiras.
Embutideira.
Encalcadeira.
Engenho de furar (typo antigo).
Entre-dois.
Escantilhões diversos.
Escareador.
Escopro.
Esquadrias.
Espetões.
Espichas.
Ferramentaes.
Forja e folle (folle: tres tampos, ventaneiras nos dois inferiores,
  cabeça do folle, funil, tirante; forja: algaraviz, placa ou parede
  de trás, fogo, tina da agua, placas ou paredes dos lados e frente,
  cupula, chaminé).
Frautas.
Fusís para apertar tenazes.
Graminho.
Limas diversas.
Limatões.
Machos de rosca.
Maços.
Malhos.
Marretas.
Martellos diversos.
Massacotes.
Mó de amolar.
Moldes.
Mordentes.
Niveis.
Pás.
Palancas.
Pedra d'afiar.
Pentes para roscas.
Ponções.
Poncetas.
Preguiça.
Puchadora de rebite.
Rebeca para furar.
Reguas diversas.
Riscadores.
Roca.
Rompedeiras.
Safra.
Sutas.
Taes.
Talhadeiras.
Talha-frio (corta-frio).
Tarrachas.
Tenazes varias.
Tesoiras.
Tornos de bancada.
Tornos de mão.
Tornos de marcha.
Tufo.
Unheta.
Virador de chapa.

F. *Industrias da madeira.*

1. Serrador.

Cavallete ou vareiro (com dois espeques), serra de braços (com dois braços ou testinos, dois vanzos, folha, fusis). Cabedaes, cordel, pontaes.

2. Carpinteiro e marceneiro.

Almotolia.
Arcos de pua.
Bancos.
Barrilete.
Bedames.
Berbequim.
Bico de pato.
Bradaes (furadores).
Brocas.
Broxas para grude.
Burro.
Cabedaes.
Cabides para trados.
Caldeira para grude.
Cantís diversos.
Cavalletes.
Cepos diversos de moldar.
Cepos de colla.
Chaves de parafusos.
Cintel.
Colchete.
Compassos diversos.
Corta-chefe.
Corta-mão.
Debastadores.
Desandadores.
Enchós.
Escareador.
Escopro.
Esgaravatil.
Esquadros.
Estaleiros.
Ferramentaes.
Ferros de pua.
Filerete.
Fôrmas para folhar.
Formões diversos.
Garlopas.
Gastalhos.
Goivas diversas.
Govete (bovete).
Graminhos.
Grampos (de ferro, de madeira).
Grosas.
Guilhermes.
Gulas.
Junteiras.
Limas diversas.
Limatões.
Lixa.
Maços.
Machos (cepos).
Machos para tarrachas.
Martellos diversos.
Meia-canna.
Meias-esquadrias.
Mó de amolar.
Moços.
Niveis.
Parelhas de dois e mais fios.
Partilhas.
Pedra de assentar fio.
Plainas diversas.
Prensas (volantes ou de mão, etc).
Prumo.
Raspadores.
Rebotes.
Reguas diversas.
Replainos.
Repuxo (tufo).
Rincão.
Sargento (cingente).
Serras diversas.
Serrotes.
Sutas.
Tarrachas.
Tornos de grampos, etc.
Torno de marcha para madeira.
Torquezes.
Trados.
Travadeiras.
Trincha de aço.
Verrumas.
Viradores.

G. *Industrias da pedra.*

1. Instrumentos, apparelhos empregados na lavra das pedreiras.

2. Modelos de fornos de cal.

3. Ferramentas de canteiro.

4. Ferramentas e apparelhos de pedreiro.

Alavanca.
Andaime.
Calabre.
Camartello.
Ciranda.
Colhér.
Escoda.
Escopro.
Guindaste.
Maço.
Marra.
Mascoto.
Mó.
Moutão.
Onivel (nivel).
Picadeira.
Picão.
Picareta.
Polé.
Ponteiro.
Prumo.
Roldana.
Trolha.

H. *Industrias caseiras.*

Nesta secção alargam-se os limites em que geralmente devemos conter-nos relativamente ao caracter popular e tradicional dos objectos expostos.

Constará a secção de productos das pequenas industrias puramente familiares, destinados ao uso e consumo proprio, ainda que representem typos de introducção recente, imitações d'objectos modernos e estrangeiros e sejam provenientes de familias não propriamente populares, isto é, que não vivam do trabalho manual. O fim que se tem em vista é conhecer as condições do trabalho manual nas familias portuguesas, consideradas no seu conjuncto, para se poder apreciar o valor economico e esthetico desse trabalho.

A secção faz naturalmente concorrencia a outras pela natureza dos productos, mas legitima-se pelo seu fim especial.

1. Productos destinados á alimentação (alguns exemplares): salchicharia, culinaria, confeitaria, padaria caseira.

2. Trabalhos de carpinteria e marceneria, serralheria, torno de madeira e de metaes, marfim, osso, marchetaria.

3. Pintura propriamente dita e pintura decorativa em barro, madeira, faiança, porcelana, vidro, coiro, seda, folhas. Mosaico, ladrilhagem. Desenho decorativo. Modelos e padrões para objectos diversos das industrias familiares. Gravura.

4. Esculptura propriamente dita; modelação. Moldagem, formação.

Esculptura decorativa em madeira, pedra, barro, cortiça, etc.

Bonecos de panno, etc. (bonifrateria).

Flores e fructos artificiaes de panno, papel, cera, lã, pennas, coiro, escamas, conchas, cortiça, pita, fructos naturaes, massa de pão, madeira (aparas, etc.), miolo de figueira, cascas d'alhos, casulo de bicho de seda, canutilho, borracha, etc.

5. Tecidos de linho, lã, algodão, etc., palma, palha, vime, crina, cabello, corda, cordel e mixtos. Peças de farrapos, tomentos, oirelo, panno torcido, trapos e malha de meia. Meia, liga, frioleiras, ponto-lavrado, crochet, rede-nó, franjas, obras diversas de malha, macramé, etc.

6. Bordados a oiro, a prata, a escomilha, a cabello, a fio de seda, a branco, a pó de lã, a froco, a matiz, a crochet, a relevo, a missanga, a escama, a applicação, a ponto de espinha, a ponto russo, a ponto de cadeia, a ponto alto, a ponto de crivo, a ponto de renda, a ponto de marca, a chenille, a canutilho, a codornilho, a fitilha, em cera, em cartão, em vidro, em estofo, em palma, etc.

Rendas de bilro, de applicação, de crochet, etc.

Fitas. Tapeçarias.

7. Costura e alfaiataria. Modelos, padrões, etc. Remendagens, franzidos. Vieses. Botões.

8. Cartonagens.

9. Diversos.

I. *Industrias de transporte.*

1. Por terra.

Typos profissionaes: carreiro, carroceiro, guia, boieiro, candieiro (na
Madeira, guia da corsa ou corsão), liteireiro, moço de cadeirinha (no
Porto comicamente, burro sem rabo), almocreve, recoveiro, carrejão,
carregador, moço de fretes, etc.; cocheiro, conductor.

Meios de transporte: carro, carroça, carro de mão, carro-matto, galera (Extremadura), carrinha (Algarve), carreta, carroção, caleça, sege, coche, diligencia, liteira, cadeirinha. Zorra. Padiolas. Especiaes da ilha da Madeira: corsa, corsão, carro de monte, rede, palanquim, carro de campo.

Aduas (quadrilhas de carretas).

Terminologia do carro ordinario de bois:

Aguilhada.
Apeiro.
Arreata.
Arrelhada.
Brochas.
Cabeçalha.
Cadeias.
Caibros.
Cambão (savica).
Canga.
Canniços.
Canzis (cangalhos, pinhocas, pinholas).
Cavallete.
Chavelha.
Chazeiros.
Corneira.
Cubo.
Eixo.
Estadulho (fueiro, berjoeira).
Gatos do eixo.
Jugo.
Leito (aberto, fechado).
Meão.
Molhelha.
Ouca.
Pampilho.
Péga.
Pernas.
Piaços.
Pirtiga, pirtigo.
Porcimeira.
Raios das rodas.
Relhas.
Rodeiros.
Rodas.
Sogas.
Tamiça.
Tamiceiras.
Tiro.
Varal.
Xalmas (xaimas).

Terminologia do carro alemtejano:

Apeiro.
Arrasta.
Arreata.
Barrigueiro.
Burnil.
Canga.
Cangalho.
Canniço.
Chavelhão.
Castellos.
Espartões.
Ponte.
Suador.
Taleira.
Tendaes.
Tiradeira.
Toldo.

Terminologia do carro rural da ilha de S. Miguel:

O leito compõe-se de mesa e seve e é rodeado da cadeia (atrás) e dos sedeiros (aos lados); prolonga a sua parte central o cabeçalho. O jogo das rodas com o eixo é o rodeiro. Na roda ha tres partes, dois segmentos lateraes, cãimbas, a parte do meio, meião, as tres ligadas por duas relhas. As peças fixas no leito que assentam sobre o eixo e em que este volve são as meias; as peças lateraes dellas cocões. No eixo distinguem-se a parte grossa central, rolete, as partes mais delgadas que entram nas meias, cantadeiras, e as cabeças, que entram no furo da roda chamado alqueire.

Animaes de tiro e cavallaria. Cavallos, muares, burros, bois. Representações graphicas dos typos mais frequentes.

Cavallaria. Sella, albarda, albardão, enxalmo, cilha, retranca, atafal, almatrixa, estribos (de metal, de pau), cabeção, cabeçada, freio barbicacho, redeas, cabresto. Alforges. Trajos para cavallaria.

2. Transporte por agua.

Embarcações, jangadas.

Por exemplo:

No Douro, barcos rabellos (com apégada, espadella).

No Mondego, barcos serranos.

No Tejo: barcos de Alcochete, Azambuja, Salvaterra, de conduzir farinha do sul, do pinho da Amora, do sal de Alcochete, de carregar sal.

Bote de catraiar do Seixal, de Lisboa, de Cacilhas; de passageiros do
Barreiro, de Benavente, do Carregado; de carga da Amora, do rio de
Coina, d'Aldeia-Gallega;

Canoa de Benavente para passageiros, de fretes da Trafaria;

Falua d'Aldeia-Gallega, de Santarem, de Vallada.

Fragata de carga, de barra-fóra.

Lancha de Salvaterra, de Santarem, do rio de Santarem, do rio da
Cardiga.

Muleta de carregar de Alhandra.

Varino de carga, fragateiro de carga, de carga de agua acima, do rio de
Santarem, da Alhandra.

Em diversos portos da costa maritima:

Barcos de carregar pedra, de Cascaes.

Cahique de carga, de S. Martinho.

Canoa de carregar; de Cezimbra.

Carregador de Cezimbra.

Fragata de carga, de S. Martinho.

Hiate da Figueira da Foz, de Peniche.

Poveiro de Ovar.

Rasca da Figueira, etc.

*Grupo VII*

Relações diversas dos individuos

1. Estatutos, compromissos, historia, estatistica de associações, companhas, confrarias, antigas corporações de officios.

2. Estudos sobre o decoro, o porte pessoal, as fórmas de polidez e respeito entre o povo.

*Grupo VIII*

Jogos e bellas artes populares e infantis. A escripta.

1. Apparelhos e utensilios empregados nos jogos e dansas populares e infantis.

2. Descripção desses jogos e dansas, colleccionação de palavras ou versos nelles usados, musica correspondente.

Eis a lista dos jogos tradicionaes portugueses de que temos noticia:

A collinho.
Advinha quem te deu.
Agulhinhas.
A-la-una.
Alfinete.
Alguergue (Arriós).
Annel.
Apanha-gallegos.
Argolinha.
Barbeiro.
Barquinho (navio).
Barra.
Bicho.
Bilharda.
Bombarqueiro (Dom Barqueiro).
Bola.
Botão.
Burraca.
Busca-tres.
Cá, cá.
Cabra-cega.
Caçador-viajante.
Canastrinha.
Cannas.
Cantinhos.
Carreira.
Castellos.
Castellos de Chuchurumel.
Cavalheiritas.
Chapas.
Chica-la-fava.
Chiclopé.
Chinquilho.
Ciranda.
Conca.
Correia.
Corneta.
Corriola.
Covinha.
Cucarne.
Dados.
Dedaes.
Dedos (advinhar o numero).
Dona Maria Alonsa.
Eixo.
Esconde, esconde.
Escondidas.
Espeta.
Estopinhas.
Eu te rogo, barqueiro.
Farinha, farello.
Fito.
Florão.
Gallinhas.
Gallinha-cega.
Ganiços (cucarne).
Golfim e baleia.
Gralhas.
Grillo.
Guardinvão.
Homem.
João da Cadeneta.
La Condessa (Condessinha ou Embaixador).
Inferno e paraiso.
Laborinha.
Laranjinha.
Lencinho.
Lobo.
Luar.
Malha.
Malhão.
Martim Garvato.
Meadinha de oiro.
Minha ponte derreada (Ponte).
Moiro ou moiros.
Monte.
Mosquem-se.
Mudos.
Mulher.
Mun-chica.
Oca.
Officios.
Padre-cura (Abbade).
Pampolinha (Argolinha).
Paus mandados.
Par ou per-não.
Passaro voa.
Passarinho a olhar (ou á orelha).
Pé coxinho.
Pedrinha na bôca.
Pedrinhas.
Pela.
Penhor.
Petisca.
Papagaio.
Patinhas (Pombinhos).
Peloiros.
Pião.
Pino.
Pintainho.
Pitorra.
Ponte.
Porca.
Punho-punhete.
Pucarinha.
Queimado.
Quem-te-pesa.
Rabia.
Raminho.
Raposa.
Rapa.
Roda-dos-altos-coices.
Rosca.
Rou-rou.
Rua dos Salgados.
Saca-la-mano.
Sapatadinha.
Sapato (Sapatinho).
Sant'Anna ou Santa Batuta.
Sardinha.
Sarilho.
Segredos.
Semana.
Serra-madeira.
Sino (Vigenel).
Sisudo.
Talinhos.
Topa.
Vai-te a elle.
Tão-badalão.
Tocadilho.
Toque-in-boque.
Trabalhos.
Traquinote.
Trinca-cevada.
Truques.
Urso.
Vassoirinha.
Violar.
Viuvinha.
Xafarraz.

3. Photographias instantaneas representando as diversas phases dos jogos e dansas, os ranchos de romarias.

4. Pinturas, desenhos populares e infantis (ou suas reproducções) em papel, cartão, madeira, metal, nas paredes, armarios e outros moveis, em carros, barcos, bandeiras, oleados e retabulos.

5. Esculptura em barro, pedra, metal, madeira; figuras de trapos, etc.

6. Quaesquer construcções architectonicas que não entrem nos grupos III e IV ou sua representação graphica; p. ex., igrejas, capellas, ermidas, pontes e fontes rusticas.

7. Instrumentos musicos e especialmente: gaita de folle, tambores, tamboris, bombos, atabales, pandeiros (soalhas), adufes, ferrinhos, castanholas, sistros, marimbas, salteiros, berimbaus, sanfonas, guitarras, guitarreus, violas, bandurras, alaudes, machetes, cavaquinhos, rebecas, pifanos, flautas, gaitinhas, baixões, doçainas.

8. Elementos populares de escripta; ideographia popular. Signaes lagareiros de Alcobaça, etc. Mnemonica graphica. Tatuagens. Escriptos, na graphia usual, de pessoas indoutas que apenas aprenderam a escrever. Estudos dos gestos populares.

9. Litteratura popular: poesia lyrica e epica, dramatica; contos, proverbios, enigmas. Litteratura de cordel. Almanachs e folhinhas populares.

*Grupo IX*

Fórmas sociaes e humanas

1. Estudos sobre a familia popular. O conceito dos laços sociaes, sentimento de communidade social e politica entre o povo.

2. Estudos sobre os sentimentos de humanidade, a amizade, a hospitalidade, a beneficencia, os conceitos e proceder com relação a outros povos e raças.

*Grupo X*

Fórmas da vida religiosa

1. Estudos sobre o conceito do sobrenatural, os vestigios das crenças mythicas, das praticas de origem pagã, da crença nos espiritos e apparições, das superstições que melhor caibam neste grupo, do conceito de Deus, dos anjos e dos santos, do diabo, do céu, do inferno, e em geral do modo como o povo comprehende o christianismo.

2. Collecções de orações e lendas religiosas populares.

3. Descripção de festas religiosas ou ligadas a solemnidades religiosas, procissões, romarias, arraiaes, cirios e representações graphicas das mesmas.

Lembram-se especialmente as seguintes festas: Natal, Anno Novo, Reis, Carnaval, Cinzas, Serração da Velha, Semana Santa e Paschoa (enterro do bacalhau, etc.), Primeiro de maio, Quinta-feira de Ascensão (festa da espiga, etc.), Pentecostes (Imperador do Espirito Santo), S. João (fogueiras, dansas, apanha da agua santa, do feto real, orvalhadas, passagem dos quebrados pela arvore fendida, etc.) S. Pedro, enterro das sestas (setembro), magusto (1 de novembro).

4. Objectos que se referem ás crenças permittidas pela igreja (originaes, modelos ou desenhos).

a) Oratorios, nichos para imagens de santos. Imagens de santos, de arte popular; registos. Andores.

b) Cruzes, crucifixos.

c) Reliquias de santos; ossos, unhas, e outras partes do corpo de um santo. Fragmentos das vestes de um santo ou objectos que se dizem ter sido do uso do santo. Fragmentos do santo lenho. Outras quaesquer reliquias. Bentinhos, escapularios.

d) Rosarios e coroas.

e) Objectos bentos (palmas, vélas, peças do vestuario, etc.). Pão bento de Santa Quiteria de Meca, etc.

f) Medidas (de fita) do corpo de um santo ou de Jesus Christo, ou de uma parte do corpo, como braço, perna, cintura, circumferencia da cabeça, pescoço.

g) Offerendas diversas (principalmente por promessas): animaes, plantas, fructos. Vélas da altura do corpo do offerente ou do tamanho de uma parte doente (braço, perna). Medidas de fita, cordões nas mesmas condições. Outras peças de oiro ou prata (corôas, broches, pulseiras, gargantilhas, anneis, etc.), vestes offerecidas a santos e santas. Objectos representando o doente por que se faz a promessa ou uma parte doente; corpos de cera (representando creanças, adultos ou animaes), mãos, pés, pernas, peitos, cabeças, olhos, pernas, etc., de cera ou de metal. Ex-votos (quadros representando um milagre, com ou sem inscripção). Fogaças, etc. Telhas furtadas (para S. Pedro), etc.

5. Objectos que se referem ás festas tradicionaes, como:

a) Preparações culinarias e de confeitaria particulares ás festas do Natal aos Reis. Presepes. Cearas, cepo do Natal.

b) Pães de S. Gronçalo (10 de janeiro).

c) Pernas e braços doces para Santo Amaro (15 de janeiro).

d) Modelos de mascaras mais caracteristicas e tradicionaes e do cavalhinho fusco do Carnaval.

e) Modelo ou representação graphica do Morte-piela de Bragança, do anjo da Calhorra do Fundão (quarta feira de Cinza).

f) Bonecos de massa de S. Lazaro.

g) Amendoas, folares, ovos da Semana Santa e Paschoa. Modelos de Judas.

h) Modelos ou representação graphica de maios e maias. Ramos de maias (giestas).

i) Rolo de cera da festa do imperador do Espirito Santo. (Alemquer). Fofa (pãosinho do Espirito Santo, da ilha de S. Miguel).

j) Queijo da Ascensão.

k) Facho de lenha, ceira do azeite de S. João.

l) Offerendas particulares a S. Pedro.

6. Objectos empregados nos tres actos religiosos—baptismo, casamento, enterro.

a) Objectos de que se faz uso especial nos baptisados. Samagaio (pão do baptisado em Guimarães). Representações graphicas dos baptisados populares.

b) Modelos dos arcos (talanqueira T. M.) sob os quaes passam os noivos com os symbolos usados na occasião. Objectos que é costume atirar aos noivos. Representação graphica das festas dos casamentos populares.

c) Modelos de caixões de defuntos, tumbas, ataúdes, campas, objectos que se põem sobre a sepultura. Bandeira das almas. Alminhas. Representações graphicas de cerimonias e prestitos de enterros populares, de cemiterios ruraes. Modelos de cruzes que se põem em logares onde morreu alguem, fieis de Deus. Cruzeiros.

7. Amuletos.

*Grupo XI*

O saber popular

1. Estudos, notas sobre os conceitos do povo relativos á natureza, ao homem, á sociedade, ás causas ultimas; por exemplo, a explicação popular do movimento do mar pelo conceito de que elle é um folego vivo; o conceito da maldade ingenita da mulher expresso pela correlação de mulher, mula e muleta; as innumeras sentenças em que se manifesta o pessimismo popular ácerca do mundo e em especial da politica.

2. Astronomia popular.

3. Terminologia topographica popular.

4. Vocabularios de nomes populares de mineraes, vegetaes e animaes, com a summula dos conhecimentos do povo a respeito dellas.

5. Medicina humana e veterinaria populares. Amostras de medicamentos, apparelhos, etc., empregados numa e noutra.

*Grupo XII*

Collecções—Diversos

1. Collecções comprehendendo objectos dos diversos grupos, os quaes, pela sua importancia ou por desejo expresso dos expositores, sejam apresentadas no seu conjuncto.

2. Obras collectivas sobre a vida do povo, as tradições populares.

3. Collecções de periodicos em que haja numerosos artigos sobre a vida do povo, como O Panorama, O Archivo Pittoresco, O Occidente.

4. Exposição de typos vivos populares. Vide pag. 11.

5. Diversos.

* * * * *

*Observação final*

Os elementos deste programma derivam principalmente do nosso estudo e observação propria; devemos tambem bastante á informação de algumas pessoas por nós consultadas e aos escriptos dos folkloristas e dialectologos portuguezes, ao livro de Ferreira Lapa sobre Technologia rural; ao do sr. Baldaque da Silva sobre o Estado actual das pescas em Portugal, fomos buscar a classificação dos apparelhos de pesca. Diversas publicações estrangeiras deram-nos importantes indicações.

Notas:

[1] As plantas de raizes bulbosas, tuberosas, os fructos carnudos podem conservar-se em frascos de alcool. As plantas de folhas não gordas e raizes não dilatadas conservam-se bem em frascos em que se metteu um bocado de esponja ou de algodão embebido em alcool e se fecharam hermeticamente.

[2] Seguimos a classificação do sr. Baldaque da Silva.

[3] Inedito, como outras particularidades que reunimos ácerca das pescarias.

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